O porquê da rodada fria

No ano passado, tivemos a primeira edição do Brasileirão por pontos corridos com a rodada de clássicos fechando a competição. Foi a estratégia que a CBF encontrou para acabar com as suspeitas de "entrega-entrega" nas últimas partidas, onde rivais supostamente facilitariam a vida das equipes que brigavam por posição na tabela com seus inimigos históricos.

Era o tempero que faltava para deixar o equilibradíssimo Brasileirão ainda mais empolgante. Nada menos que 19 das 20 equipes (95,0%) entraram na 38ª rodada brigando por algo no Brasileirão. Quem não brigava por título, Libertadores, Sul-Americana ou rebaixamento queria, ao menos, atrapalhar a vida do rival. Só o América-MG, já rebaixado, e que enfrentava o Atlético-GO, não tinha o que fazer (isso se não considerarmos que talvez tenha recebido mala branca de algum concorrente do Dragão pela Sul-Americana, claro).

Mas aquela situação não foi provocada apenas pela rodada de clássicos, mas por toda a situação do campeonato do ano passado, que apresentava disputas mais equilibradas que a da atual temporada. Se não tivéssemos jogos entre rivais na última rodada, 15 equipes entrariam com interesse do mesmo modo. Só Santos, Grêmio, Palmeiras, América-MG e Avaí não tinham mais o que fazer em termos de tabela. Neste ano, somente cinco dos 20 times têm interesse direto na tabela até dezembro: Grêmio, Atlético-MG, Bahia, Portuguesa e Sport. Mas por que isso ocorreu em 2012?

Principalmente, pela situação de tabela do campeonato. Ao contrário das últimas temporadas, onde o equilíbrio era tamanho que nenhum líder disparava, em 2012 tivemos três equipes que desgarraram dos demais: Fluminense, Grêmio e Atlético-MG. O Flu manteve ritmo tão forte que livrou diferença inclusive para gaúchos e mineiros. A briga pelo G-4, portanto, ficou restrita a uma vaga. E o São Paulo cresceu, contando com quedas de Botafogo, Vasco, Cruzeiro e Inter, disparando também deles. Lá atrás, Figueirense, Atlético-GO e Palmeiras fizeram campanhas tão horrorosas que o rebaixamento seria antecipado qualquer que fosse a última rodada ou a fórmula de disputa. Foi um campeonato de extremos: times muito fortes e extremamente competitivos de um lado, times fraquíssimos de outro. Por isso a falta de emoção em algumas brigas. Não houve o perde-ganha habitual, que é onde se deposita a grande emoção do Brasileirão.

Outro problema para a falta de objetivos é o novo critério de classificação à Copa Sul-Americana. Só saberemos quem jogará a segunda competição do continente no ano que vem. Serão os quatro melhores do atual Brasileiro que não jogaram a Libertadores e serão eliminados antes das oitavas da Copa do Brasil. Ou seja: alguns rebaixados poderão disputá-la. A classificação pelo Campeonato Brasileiro dá só uma preferência na hora de entrar nesta fila. Equipes como Ponte Preta e Náutico enxergaram isso de primeira e buscaram pontuar mesmo sem grandes riscos de cair. Mas a briga é invisível, e por isso esfria. Pelo regulamento do ano passado, teríamos Ponte Preta, Náutico e Coritiba precisando de pontos na última rodada. Seriam três times a mais interessados.

A rodada de clássicos é sempre um risco. Em um ano de equilíbrio, ela se torna fantástica; mas em um ano de menos equilíbrio, esvazia os grandes confrontos regionais. Ainda assim, não fosse por ela, teríamos apenas cinco times com motivação direta no campeonato nesta rodada final. Com ela, o número sobe para oito. Isso sem falar nos quesitos "estragar a preparação do meu rival para o Mundial", "terminar a temporada ganhando do meu arqui-inimigo", "bater recorde de pontos no Brasileirão com 20 clubes", entre outros.

Aqui elencamos os times com algum interesse direto no campeonato, fora os elencados entre aspas na frase acima. Eles compreendem briga por tabela ou estragar o objetivo do rival.

Grêmio e Atlético-MG: brigam pelo vice-campeonato, que dá vaga direta à fase de grupos da Libertadores.

Bahia, Portuguesa e Sport: lutam contra o rebaixamento. Um deles cairá para a Série B.

Internacional, Cruzeiro e Náutico: brigarão para frustrar o rival. Inter e Náutico ainda têm a motivação de jogarem a última partida do Olímpico e dos Aflitos.

Números de equipes que chegaram com interesse à última rodada
2003: 16/24 (66,7%)
2004: 11/24 (45,8%)
2005: 12/22 (54,5%
2006: 5/20 (25,0%)
2007: 13/20 (65,0%)
2008: 11/20 (55,0%)
2009: 13/20 (65,0%)
2010: 11/20 (55,0%)
2011: 19/20 (95,0%)
2012: 8/20 (40,0%)

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