Mais um ídolo que cai

Em um período de 16 meses, o Internacional demitiu dois dos maiores ídolos de sua história: Paulo Roberto Falcão, em julho do ano passado, e Fernandão, há cerca de uma hora. As circunstâncias que envolvem cada uma delas, no entanto, são bem diferentes.

Ao contrário da demissão de Falcão, a de Fernandão é plenamente justificada. Para começar, o capitão do Mundial nunca foi treinador. Foi uma aposta da diretoria colorada: colocar um ídolo na casamata para apaziguar um ambiente que não era dos melhores com Dorival Júnior. Foi um pensamento mágico, um "vamo que vamo" para chacoalhar um time visivelmente acomodado. Falcão, por sua vez, já havia sido treinador, embora estivesse há algum tempo afastado da profissão. Caiu mais por implicância de Giovanni Luigi que por seu desempenho - que não era extraordinário, mas melhor que o de Fernandão.

O aproveitamento de Fernandão no Internacional é de 44,9%. Com este desempenho, estaria em 11º no Campeonato Brasileiro, junto do Flamengo. Os números são inegavelmente ruins. Fernandão desceu do gabinete de diretor executivo e vestiu o abrigo de treinador com um discurso de que seu time marcaria adiantado, pressionaria os adversários. Na prática, atuou quase sempre com três volantes, mesmo contra adversários que não exigiam postura tão resguardada. Foi goleado pelo Náutico, perdeu para Atlético-GO, Figueirense e Ponte Preta, quase perdeu em casa para o Sport. Dos nove últimos colocados do campeonato, nada menos que seis ganharam do Inter com Fernandão na casamata. Só para o Palmeiras a equipe não perdeu pontos. Ele nunca se justificou. E por isso a demissão é correta.

Mesmo assim, é possível ver um legado deixado por ele. Não falo só de Fred, que foi uma aposta correta sua desde sempre, mas do que foi dito aos microfones. As entrevistas fortes derrubaram Fernandão, mas foram o que de mais útil ele deu ao Inter. Ao falar em zona de conforto, entrou em atrito com o elenco; ao denunciar o corpo mole de Bolívar, caiu de vez. Fernandão teve coragem de falar o que nenhum outro técnico que passou pelo Beira-Rio nos últimos dois anos conseguiu: o vestiário colorado é acomodado, preguiçoso, e precisa de mudanças urgentemente. Isso implica não apenas a saída do técnico ou do vice de futebol, mas de vários jogadores que já deveriam ter seu ciclo encerrado no histórico fiasco contra o Mazembe. Alguns deles passaram 2012 muito mais de chinelinhos que de chuteiras. Fernandão é o quarto técnico a sair do Inter em 20 meses, mas a zona de conforto segue firme e forte. Seu alerta via microfones é o maior legado que deixa ao clube que tanto ama.

Portanto, é claro que a saída era mais que necessária, pois Fernandão nunca se mostrou preparado para assumir um time do tamanho do Internacional. Mas a mudança não pode parar por aí. O Inter, já falo há dois anos, precisa urgentemente renovar seu grupo de jogadores. Não é à toa que Giuliano, Leandro Damião e Fred tenham sido os melhores nomes da equipe em cada uma das últimas três temporadas. Em 2012, só Tinga saiu. Bolívar, enfim, deixará o clube em janeiro. Mas D'Alessandro, Kleber e outros tantos seguem intocáveis, todos mais pela mística que pela bola que vêm jogando. Vamos ver se a passagem de Fernandão serviu, ao menos, para deixar tudo isso muito claro. Se não, repetiremos este mesmo texto em 2013. E talvez com Dunga, mais um ídolo pronto para ser fritado no azeite quente do vestiário do Internacional.

Em tempo:
- Alguém ainda acha que Fernandão era o técnico de fato do Inter em 2006?

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