Sexteto afinado

Nada melhor para estancar um princípio de crise e encerrar a instabilidade por conta de uma eliminação do que uma atuação como a que o Grêmio teve hoje. Fora de casa, o Tricolor passou por cima do Cruzeiro. Dominou o jogo inteiro, atuou com sabedoria, superioridade técnica e tática e só não goleou por conta de um pênalti no último minuto do jogo.

A melhor notícia da tarde foi Elano, e que a vitória tenha vindo com ele. A formação que Luxemburgo pôs hoje em campo é tecnicamente a melhor possível: Fernando, Souza, Elano, Zé Roberto, Kleber e Marcelo Moreno formam um dos melhores sextetos de meio-ataque do futebol brasileiro atual. Foi precisamente no primeiro jogo deles juntos que o time gremista teve sua melhor atuação no Campeonato Brasileiro.

O Cruzeiro começou perigoso, embalado por uma animada torcida, mas o Grêmio desde o início mostrava sua melhor qualidade no meio de campo. Fernando e Souza se revezavam no combate a Montillo, único meia mineiro, e anularam o argentino. O ataque cruzeirense, com dois centroavantes, incomodou pouco a segura zaga comandada pelo soberano Gilberto Silva. Ainda assim, Borges quase abriu placar aos 17. Marcelo Grohe fez um milagre que só ocorreu porque ele próprio saiu muito mal do gol. Um risco desnecessário, embora isolado.

Logo o time gaúcho descobriu que o caminho das pedras era pelo lado esquerdo da defesa mineira, com o fraco Everton (que quase veio para o Grêmio em 2011) sendo envolvido. Primeiro, Kleber descobriu Elano às costas do lateral, o meia cruzou como nenhum ala fez no Olímpico ainda este ano e Marcelo Moreno abriu o placar. Depois, Tony ganhou com facilidade na corrida de Everton, cruzou rasteiro, Moreno recuou e Kleber ampliou. O Gladiador quebrava um jejum de quatro meses (12 jogos) sem marcar e comemorou muito, ao contrário do boliviano, idolatrado pelos cruzeirenses.

O Grêmio continuou melhor, mesmo após a injusta expulsão de Werley. O Cruzeiro não soube tomar vantagem do homem que tinha a mais. Roth tentou corrigir o isolamento de Montillo na criação com Souza, mas não funcionou. Mais perigoso, o time gaúcho contra-atacava e matou o jogo com uma ótima jogada de Souza, concluída por Marcelo Moreno. As boas atuações do primeiro tempo se multiplicavam. Souza marcava e armava com imensa categoria, e Zé Roberto, mesmo aos 38 anos e no segundo tempo, com seu time com 10, esbanjava fôlego e ditava o ritmo do meio. Partidaça.

A vitória recoloca o Grêmio nos eixos e, mais do que isso, autoriza a todos no Olímpico pensarem alto. A participação de Elano e Zé Roberto deu outra mobilidade ao meio (para quem tinha medo que o tivesse ficasse lento é um alívio), trouxe alto nível técnico, experiência e parceria para os atacantes. Todos jogaram mais a partir deles. Pará e Tony, por exemplo, cumpriram muito bem seus papéis nas alas. O sexteto de meio e frente, muito promissor no papel, cumpriu as melhores expectativas hoje à tarde. Uma vitória para alavancar a campanha tricolor no Brasileirão.

Já o Cruzeiro terá que repensar algumas coisas. Celso Roth, com um a mais, ousou pouco e pensou pequeno. Trocar um centroavante por outro quando o time perdia em casa por 3 a 0 é um convite às vaias. Os apupos a Wellington Paulista na hora de bater o pênalti e mesmo após ter marcado o gol de honra evidenciam o clima pesado na Toca da Raposa. Já são três derrotas consecutivas. Que colocam o mediano time estrelado no lugar onde este time deveria estar, por sua qualidade. Pontear a tabela é que era ilusório.

Em tempo:
- Mais uma atuação fraquíssima da arbitragem, pelo menos a sexta que vejo nos últimos 30 dias no futebol brasileiro. Grêmio, mais uma vez, prejudicado por algumas decisões. Hoje, conseguiu passar por cima disso.

Campeonato Brasileiro 2012 - 9ª rodada
15/julho/2012
CRUZEIRO 1 x GRÊMIO 3
Local: Independência, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Marcelo Aparecido de Souza (SP)
Público: 15.523
Renda: R$ 437.659,00
Gols: Marcelo Moreno 25 e Kleber 28 do 1º; Marcelo Moreno 20 e Wellington Paulista (pênalti) 47 do 2º
Cartão amarelo: Léo, Mateus, Souza (CRU), Borges, Marcelo Grohe, Gilberto Silva, Marquinhos e Zé Roberto
Expulsão: Werley 43 do 2º
CRUZEIRO: Fábio (5), Diego Renan (5) (Fabinho, 7 do 2º - 4,5), Léo (4), Mateus (4,5) e Everton (3) (Souza, intervalo - 5,5); Leandro Guerreiro (4,5), Marcelo Oliveira (4,5), Tinga (4,5) e Montillo (5); Borges (5) (Anselmo Ramon, 24 do 2º - 4,5) e Wellington Paulista (5). Técnico: Celso Roth
GRÊMIO: Marcelo Grohe (7), Tony (6,5), Werley (5), Gilberto Silva (7) e Pará (6); Fernando (6,5), Souza (8), Elano (7) (Marquinhos, 25 do 2º - 4) e Zé Roberto (7,5); Kleber (7) (Vilson, intervalo - 6,5) e Marcelo Moreno (8) (André Lima, 25 do 2º - 5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo

Comentários

Lique disse…
é impressao minha ou a rotaçao de jogadores entre times brasileiros está demasiada nesse ano? daqui a pouco, nenhum jogador vai poder comemorar gol.

no grêmio, apenas kléber e moreno, do cruzeiro. no cruzeiro, léo, tinga, borges, souza e ainda teria william magrao.

fora os técnicos.

no mais, elano uma das melhores estreias de jogadores que já vi com a camisa do gremio. muita classe. e zé roberto um animal, presente em todo campo.
Lique disse…
respondendo a mim mesmo: isso acho que deve-se ao grêmio mudar o time inteiro todo ano. todo time contra quem joga tem no mínimo dois ex-gremistas.
Vicente Fonseca disse…
O Grêmio troca mesmo de time todos os anos, mas a rotação está maior sim. Acho que devido ao maior poder de compra dos clubes brasileiros. Este ano tá difícil de acompanhar a janela, de tantas transferências que são. O mercado tá movimentado o ano todo.
Igor Natusch disse…
Li em algum lugar (acho que no Globoesporte) alguém dizer que o Zé Roberto não foi bem ontem. Uma opinião totalmente despropositada: foi um dos melhores, um gigante. A dupla Zé Roberto / Elano, aliás, estreou de forma muitíssimo promissora.

Não dá para se empolgar, porém. O Grêmio fez ótima partida, mas vai ter que manter uma sequência. A defesa ontem foi bem, especialmente com a proteção qualificada de Souza (que ontem foi primeiro homem, aliás, e jogou muito) e Fernando, mas ainda há problemas nas laterais. Tony merece continuidade, pode crescer, mas ainda está bastante cru. E Pará se esforça, mas sua perna esquerda é horrenda e ele nunca tenta sequer um passe com ela, que dirá um cruzamento. Nesse setor ainda estamos em falta. Se bem que PICO ETERNO está voltando...
arbo disse…
perfeita a resenha.
a arbitragem foi patética, a pior q vejo em mto tempo.