A velha Grécia

Jogando no contra-ataque, mesmo precisando vencer, a Grécia reeditou suas jornadas épicas de 2004, quando foi campeã europeia no torneio disputado em Portugal. A vitória por 1 a 0 sobre a Rússia, gol de um dos heróis daquele ano, combinada ao 1 a 0 aplicado pela República Tcheca sobre a Polônia, classificou tchecos e gregos às quartas de final. E eliminou os anfitriões poloneses e os favoritos russos.

Vi mais o jogo da Breslávia. Tinha maior potencial dramático. A Polônia começou com postura de quem era mandante do torneio e queria a vaga. Pressionava a República Tcheca, mas não na base de uma marcação adiantada ou grande qualidade técnica, e sim na atitude. Boenisch, Obraniak, Lewandowski, todos se empenhavam demais. Disputavam todas as divididas como se fosse a última.

Mas quando decidiu deixar de lado a covardia e jogar sua bola, a República Tcheca melhorou e passou a controlar o jogo. E aí ficaram claras as limitações da Polônia: basta um adversário começar a trocar passes que a equipe se perde. A Grécia, que é bem inferior aos tchecos tecnicamente, fez isso no primeiro jogo da Euro. E só não ganhou porque Tyton defendeu um pênalti.

O 0 a 0 classificava russos e tchecos, mas o gol de Karagounis, maior jogador grego em todos os tempos, no finzinho do primeiro tempo em Varsóvia mudava tudo. A Rússia seguia passando, mas agora a Grécia também. Isso obrigava a República Tcheca a sair para o jogo na Breslávia. A Polônia continuava precisando ganhar. Ambos morriam abraçados.

No segundo tempo, o fato solitário foi o gol da classificação tcheca, aos 26, de Jiracek. Estava claro que a Polônia ficaria de fora e a República Tcheca passaria. Os poloneses fizeram um segundo tempo nulo. Conseguiram alguns lances perigosos na base do abafa, nos minutos finais. Mas o gol de Jiracek tirava os russos. E não adiantou pressionar a Grécia: lembrando os velhos tempos do ferrolho de 2004, os helênicos comemoram a passagem para as quartas de final, onde devem pegar a poderosa Alemanha.

É uma pena para a Eurocopa que a Rússia fique de fora, fruto de um critério injusto e propício a arranjamentos como esse do confronto direto. Mas regulamento é regulamento, e a Grécia não tem nada com isso. Se sobrou futebol na estreia, faltou brio no jogo decisivo aos russos, que após a ótima Euro 2008 fracassaram nas Eliminatórias de 2010 e caíram em um grupo apenas mediano nesta Euro.

Seja contra Holanda ou Portugal, a República Tcheca não entra com qualquer favoritismo nas quartas de final, mesmo sendo líder e grupo. A Dinamarca sim, faria um confronto equilibrado com os tchecos, repetindo as quartas da Euro 2004. Aos gregos, resta sonhar que tantas coincidências com aquele ano glorioso prevaleçam. Porque, na bola, a Alemanha é tão maior que a Grécia quanto a Rússia é superior ao Vaticano em território.


Comentários

Gelso Job disse…
E a amanhã a Grécia tem mais uma vez a oportunidade de fazer história. Desta vez, enterrando o euro.
Vine disse…
É bom pra auto-estima do país a seleção se classificar. Acho que ninguém ficou triste com isso (eu, pra variar, fiquei muito contente ao saber da classificação). Mas tua comparação com a qualidade do próximo adversário foi bem feita, e é provável que a Alemanha, se não marcar um golzinho no início e matar o jogo, eventualmente conseguirá chegar à meta. Mas só a classificação já vale muito, ainda mais ganhando da Rússia...