Só camisa?

O Boca Juniors cumpriu direitinho a cartilha: aproveitou o fato de jogar a partida de ida para abrir uma ótima vantagem sobre a Universidad de Chile, sem sofrer gols, o que praticamente lhe garante a vaga se marcar um golzinho em Santiago.

Quem aponta os xeneizes como possíveis finalistas da Libertadores apenas por causa da camisa, da tradição ou da Bombonera simplifica as coisas e comete uma grande injustiça. O Boca, além de uma defesa muito sólida (levou só 6 gols no último Campeonato Argentino e ontem não perdeu sequer uma por cima), tem agora força ofensiva. Erviti dá velocidade, Riquelme cadencia. Mouche se desloca, Santiago Silva guarda - e nos momentos decisivos. Ontem, o time que deu show de toque de bola foi o argentino, e não o chileno.

A Bombonera, claro, ainda faz pressão. A Universidad de Chile, ótimo time, não sentiu tanto. Joga assim em casa ou fora: marca a saída de bola, tenta impor seu toque de bola, sempre de forma vertical e destemida. Mas o Boca é sábio, frio: faz do jogo do adversário o modo de impor o seu ritmo. Não há time que jogue de acordo com o adversário como o Boca - e isso não vem de hoje. Assim, os espaços abertos pelos chilenos eram aproveitados com muita eficiência. A Bombonera pulsa, mas o time não tem pressa de atacar. Nunca fica ansioso.

Santiago Silva, num desses espaços, fez 1 a 0 logo aos 14 minutos - um pesadelo para quem visita La Boca. Mas o time de Sampaoli não se intimidou, e seguiu em cima. Explorando sua maior velocidade, a equipe chilena ameaçou Orión no primeiro tempo. Lorenzetti foi discreto, o que representou o maior problema do time o jogo todo. Mas os volantes Aránguiz e Díaz puxavam o time para a frente. Fernandes dava trabalho com suas escapadas. Um duro primeiro tempo.

Os planos da equipe chilena foram arruinados com o gol de Sánchez Miño, ótimo volante, ontem de lateral esquerdo, no começo do segundo tempo. Um gol originado de uma troca de passes rápida e maravilhosa, que prova a qualidade do Boca. O gol matou La U, que não conseguiu articular quase nada dali em diante. As chances no segundo tempo foram do Boca, mas não foi possível ampliar a vantagem.

Não está decidido, mas encaminhado. A Universidad de Chile tem plenas condições de devolver os 2 a 0 em Santiago, onde é fortíssima. Mas uma coisa é impor este resultado naturalmente; outra é buscar o resultado contra um time experiente, que sabe jogar com o resultado a seu favor e é muito seguro fora de casa. Todas as classificações do Boca no mata-mata ocorreram fora de casa. Na final, caso lá chegue, a equipe de Falcioni decidirá no Brasil, seja contra Santos ou Corinthians. Os paulistas que se cuidem.

Em tempo:
- Já muito criticamos, agora há que se elogiar: maravilhosa a cobertura do site da Conmebol e seu "match-centre" das semifinais da Libertadores. Nível UEFA, como sempre pedimos.

Taça Libertadores da América 2012 - Semifinal - Jogo de ida
14/junho/2012
BOCA JUNIORS 2 x UNIVERSIDAD DE CHILE 0
Local: Bombonera, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Público: não divulgado
Gols: Silva 14 do 1º; Sánchez Miño 9 do 2º
Cartão amarelo: Roncaglia, Insaurralde, Somoza e González
BOCA JUNIORS: Orión (5,5), Roncaglia (6), Schiavi (6,5), Insaurralde (6,5) e Sánchez Miño (6,5); Somoza (5,5), Ledesma (6) (Chávez, 33 do 2º - sem nota), Erviti (6,5) e Riquelme (7); Mouche (7) (Cvitanich, 35 do 2º - sem nota) e Silva (7). Técnico: Julio César Falcioni
UNIVERSIDAD DE CHILE: Herrera (4), González (4,5), Acevedo (5) e Rojas (5); Rodríguez (5,5)(Magalhaes, 11 do 2º - 4,5), Aránguiz (5,5), Díaz (6), Lorenzetti (4,5) (Ruidíaz, 36 do 2º - sem nota) e Mena (5,5); Henríquez (4,5) (Ubilla, 27 do 2º - 4,5) e Fernandes (5,5). Técnico: Jorge Sampaoli


Comentários

Diogo Terra disse…
Repito o que comentei no Impedimento:

Quando o Sampaoli disse que era fã do Bielsa e que La U iria pra cima do Boca, pensei: “O Boca pode até ganhar, mas vai levar um ou dois”.

Atitude elogiável da U, ao contrário dos times pequenos argentinos que por pouco não botam o roupeiro embaixo do gol.

Mas a defesa é fraca. Aliás, estou sendo generoso para falar de três zagueiros que deixaram o Tanque Silva girar e chutar no canto. E para deixar o Mouche fazer o salseiro que fez.
Vicente Fonseca disse…
Também achei que La U iria ao menos fazer um golzinho ontem. Mas o Boca é muito sólido. Leva poucos gols.

Eu não achava esta defesa dos chilenos fraca no ano passado, quando ganharam a Sul-Americana. Mas nesta Libertadores já levou 4 do Deportivo Quito, por exemplo. Acho que ela joga desprotegida, na verdade. Ontem, até pela falta de um articulador mais ativo, os volantes foram obrigados a sair pra armar o jogo e deixavam o cobertor curto. Contra Riquelme, Mouche, Erviti e Silva complica.
Vine disse…
Era o que pensava: a defesa dos chilenos deixa muito espaço e às vezes se enrola com a posse da bola. Um time como o Boca ia se aproveitar muito bem disso.

Porém, alguma coisa muda quando La U joga em casa. E não é a atitude. Mas com certeza alguma coisa tem, pois não há como ter placares de 1 x 4 e 6 x 0 com exatamente o mesmo comportamento dos dois times.

Ainda acho que o Boca consegue passar bem. Resta torcer contra o Corinthians...