Low profile

Os conspiracionistas farão de imediato a relação: a Ucrânia foi prejudicada e a Inglaterra favorecida pela arbitragem e, na base da "roubalheira", os ingleses passaram. Nada mais simplista: nem a Inglaterra só passou por causa da bola que de fato entrou, mas a arbitragem não deu gol, como também o próprio lance polêmico nem deveria ter existido, afinal, havia impedimento ucraniano no começo da jogada, que deveria ter sido anulada ali mesmo.

Mas uma coisa é certa: a Inglaterra não jogou bem, e a Ucrânia poderia, pelo desempenho em campo, ter tido melhor sorte. Era metade do primeiro tempo e os donos da casa acumulavam 64% da posse de bola e sete chutes a gol, contra nenhum britânico. Mas faltava uma grande chance, um lance claro de gol. Sinal de que a Inglaterra, mais uma vez, se defendia muito bem.

Shevchenko fez falta, claro. Sem condições de jogar a partida toda, o artilheiro só entraria na metade do segundo tempo. Mas Konoplyanka tomava as rédeas da criação com qualidade. Ele e Garmash iniciavam as jogadas de perigo, que tinham o lateral Gusev e o atacante Milevskiy como definidores. Mas quase sempre de fora da área: dentro dela, um dos melhores zagueiros desta Euro até agora, John Terry, assessorado por Lescott e escoltado pelo excepcional Gerrard, não deixava nada entrar. Se isso ocorresse, ainda havia Hart, goleiro seguro, mas não tão exigido.

Talvez a diferença do jogo tenha sido mesmo os centroavantes. Se Shevchenko só jogou 20 minutos, Rooney finalmente estreou na Euro. E fez o gol da vitória, no início do segundo tempo. O gol marcado cedo e a derrota da França mantiveram a Inglaterra com postura defensiva na segunda etapa. O time criou pouco, mas venceu de novo. Tem sido assim desde que a Euro começou.

A Inglaterra repete 1990. É um time low profile, "na dele", sem badalação. Chegou pouco cotada, desacreditada, mas mobilizada e unida para dar a volta por cima. Ainda falta muito para se falar em título, mas poucos imaginavam que ela chegaria à liderança da chave, bem à frente da França, e sem ter seu principal jogador nas duas primeiras partidas. Agora, enfrenta a Itália, outra equipe que busca melhores ares após tempos de crise. Jogo sem favoritos. Será curioso ver quem tomará a iniciativa, pois são duas equipes grandes, mas que têm jogado de forma humilde, sem se expor muito.

A Ucrânia fez uma boa Eurocopa, dentro do que as possibilidades permitem. Foi superior à outra anfitriã, Polônia, vencendo uma partida e por pouco não passando de fase.

A digna Suécia
A Suécia tinha time para ir mais longe na Euro. Não há nada de excepcional (exceto Ibrahimovic), mas a vitória de hoje sobre a França prova que há certa qualidade. A equipe esteve na frente do placar em todos os seus jogos nesta Eurocopa, mas entregou em dois. Os franceses pagam pela sua preguiça um enfrentamento com a atual campeã do mundo, no próximo sábado. E aí não será possível mais ter desempenhos decepcionantes.

Em tempo:
- Donetsk localiza-se numa região da Ucrânia onde o russo é o idioma falado. Talvez por isso a seleção nacional se dê tão mal por lá. Hoje foi a sétima vez que a Ucrânia atuou em Donetsk. Ainda não venceu.

Eurocopa 2012 - Grupo D - 3ª rodada
19/junho/2012
INGLATERRA 1 x UCRÂNIA 0
Local: Donbass Arena, Donetsk (UCR)
Árbitro: Viktor Kassai (HUN)
Público: 48.700
Gol: Rooney 2 do 2º
Cartão amarelo: Gerrard, Ashley Cole, Tymoshchuk e Shevchenko
INGLATERRA: Hart (5,5), Johnson (6), Terry (7,5), Lescott (7) e Ashley Cole (5); Gerrard (7,5), Parker (6), Milner (4,5) (Walcott, 24 do 2º - 5) e Young (5,5); Welbeck (5) (Carroll, 37 do 2º - sem nota) e Rooney (6,5) (Chamberlain, 42 do 2º - sem nota). Técnico: Roy Hodgson
UCRÂNIA: Piatov (4), Gusev (6), Khacheridi (5,5), Rakitskiy (5,5) e Selin (6,5); Yarmolenko (6), Tymoshchuk (5), Konoplyanka (7) e Garmash (6) (Nazarenko, 32 do 2º - sem nota); Devic (5,5) (Shevchenko, 25 do 2º - 4,5) e Milevskiy (5,5) (Butko, 32 do 2º - sem nota). Técnico: Oleg Blokhin


Comentários

Diogo Terra disse…
"Os conspiracionistas farão de imediato a relação: a Ucrânia foi prejudicada e a Inglaterra favorecida pela arbitragem e, na base da "roubalheira", os ingleses passaram"

Parece chororô de brasileiro na Libertadores...

Pena que a próxima edição da Euro vai ser inchada. Politicagem barata dando as cartas como sempre.
Diogo Terra disse…
Ah, e o Shakhtar Donetsk tem uma história complicada: era um time de mineiros (Shakhtar em ucraniano) que nunca soube desafiar a hegemonia do Dinamo de Kyiv. Sempre entregava a rapadura na hora H.

Isso até o Akhmetov assumir, em circunstâncias tão nebulosas quanto sua fortuna (ele era assessor do ex-presidente que, ligado ao crime organizado, foi morto num atentado dentro da cabine VIP do antigo estádio (não no atual, a Donbass Arena).
Vicente Fonseca disse…
Verdade, Diogo.

Hoje vi um contraponto interessantes em relação a história dos 24 times: não entrarão timecos como Luxemburgo, Armênia, Lituânia, etc., mas sim times como Bélgica, Bulgária, Turquia e Romênia. Mas ainda acho que 16 é melhor, e 24 na Copa do Mundo.
Sancho disse…
São 14 vagas na Copa do Mundo. O campeonato europeu não poderia ter apenas 16.

Aumenta o número de times e pessoas na festa, sem que a qualidade despenque (natural que caia um pouco). Acho válida a mudança.

Eis quem seriam os 20 classificados diretos se fosse aplicada a regra para esta edição:

Polônia, Ucrânia, Alemanha, Turquia, Rússia, Irlanda, Itália, Estônia, França, Bósnia, Holanda, Suécia, Grécia, Croácia, Inglaterra, Montenegro, Dinamarca, Portugal, Espanha e Tcheca.

Os 8 da Repescagem sairiam desta lista (um sobraria): Bélgica, Armênia, Sérvia, Romênia, Hungria, Israel, Suiça, Noruega e Escócia.
Vine disse…
Posso estar completamente errado, mas o Blokhin, como treinador, é péssimo. Queria entender por que ele começou a partida sem o Nazarenko (um dos melhores jogadores desse time), além de não tem colocado o Voronin, que é melhor atacante do que os que começaram o jogo.
No final, ele ficou só com o Shevchenko como atacante. A Ucrânia atuou como time pequeno no fim. Jogando em casa, não custava ir pro tudo ou nada. Faltou vontade de vencer.

E a arbitragem só erra de forma decisiva a favor da Espanha =]
Vicente Fonseca disse…
Não conheço muito o trabalho do Blokhin como técnico. Só o que ouvi falar é que a Ucrânia passou a jogar um pouco melhor com ele. Também acho que ele podia ter arriscado um pouco mais, mas é que falta bola a este time. Talvez ele não quisesse correr o risco de abrir e ser goleado.