Igualdade entre desiguais

A diferença entre Internacional e Caxias é muito maior que a apresentada em campo. São realidades totalmente distintas, tanto em termos de orçamento, como qualidade técnica, preparo físico, objetivos, tamanho, tudo. Isso tudo é um elogio ao time grená, que se superou e quase saiu do Beira-Rio com a taça.

Enquanto teve pernas, o Caxias foi melhor. Isso durou 45 minutos, ou todo o primeiro tempo. A equipe de Mauro Ovelha parecia destinada a conquistar o título. A defesa neutralizava Oscar, Dátolo e Leandro Damião com primazia, vencendo todas as divididas. O meio era sólido e ao mesmo demonstrava qualidade para abastecer o setor de frente, o qual envolveu a defesa colorada durante toda a etapa inicial. Wangler (19 anos, vale à pena investir nesse talento), Caion e Vanderlei eram envolventes como todos esperavam que fossem os jogadores de frente do Inter. Enlouqueciam zagueiros e laterais colorados.

O gol de Michel veio num escanteio, o velho problema da bola aérea defensiva que tirou o Internacional da Libertadores na última quinta. Mas refletia com perfeição o que era o jogo. E o Caxias não parou por aí: seguiu em cima, consciente de que ainda tinha pernas e de um segundo gol praticamente lhe daria a taça, pois o Colorado teria de fazer três gols, devido ao saldo qualificado. Os contra-ataques ficavam cada vez mais perigosos, mas o gol não veio. O 1 a 0 podia ser até comemorado, mas era pouco ainda para a pressão que ocorreria no segundo.

Na etapa final, Dorival Júnior colocou D'Alessandro e Dagoberto nos lugares de Tinga e Dátolo. Apesar da má atuação dos dois substituídos e da boa partida dos substitutos, não foi por aí que o Inter virou a partida. Foi no melhor preparo físico. Não é à toa o Caxias ter virado os dois intervalos à frente do placar e cedido no segundo tempo dos dois jogos. O Inter foi para o abafa, adiantou sua linha defensiva e esmagou o Caxias. A pressão era muito difícil de ser suportada. Paulo Sérgio fez três milagres, um deles em pênalti pessimamente batido por Nei.

Sandro Silva empatou o jogo. Recebeu na área, numa jogada normal, o que dá a dimensão da pressão - afinal, é um jogador que dificilmente sobe tão longe. Ainda na empolgação, Damião virou o jogo. Era o gol do título, talvez os próprios jogadores do Caxias, no fundo, sabiam disso. No entanto, o time grená ainda achou forças para esboçar uma pressão no final. Wangler obrigou Muriel a um milagre, aos 44 minutos. Foi o último suspiro do Caxias.

Mais difícil que vencer o Inter no Beira-Rio é a tarefa do clube serrano para o segundo semestre: manter a base do time vice-campeão gaúcho para tentar o título da Série C. Com a atual equipe, é possível. Segurar Wangler, Vanderlei, Paulo Sérgio, entre outros, é básico. Até porque, mesmo sem taça, é um time que já entrou na história, por ter encarado tão bem um adversário muito mais forte.

O Inter chega ao 11º ano consecutivo levantando taça, a maior sequência da história do clube. Espetacular, mas não dá para se enganar. Em 180 minutos contra o Caxias, o Colorado só esteve à frente do placar nos últimos 18. Venceu basicamente por conta de seu preparo físico superior, e não por demonstrar um futebol melhor que seu organizado adversário - que o dominou na primeira etapa, e no Beira-Rio. Muita coisa precisa ser revista para que o Campeonato Brasileiro seja uma ambição. Retirar um dos volantes e colocar mais um meia-atacante, como fez Dorival no segundo tempo de hoje, é algo tentador, mas longe está de ser boa ideia. Contra o Caxias, precisando evitar um fiasco, é aceitável. Contra equipes mais fortes, o time fica vulnerável, e isso já foi provado várias vezes em 2012.

Em tempo:
- Público de 23 mil torcedores foi o maior do Gauchão, mas o pior de uma partida final do Gauchão desde o interminável estadual de 1994. Fiasco de público. Mais um dos intermináveis motivos para diminuir a extensão dos estaduais no calendário do futebol brasileiro.

- Em um dos lances mais lindos da final, Wangler quase encobriu Muriel, tal qual Montillo em um Universidad de Chile x Flamengo, na Libertadores de 2010. Espetacular defesa do goleiro colorado.

Campeonato Gaúcho 2012 - Final - 2º Jogo
13/maio/2012
INTERNACIONAL 2 x CAXIAS 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Márcio Chagas da Silva
Público: 23.028
Renda: R$ 587.160,00
Gols: Michel 26 do 1º; Sandro Silva 22 e Leandro Damião 27 do 2º
Cartão amarelo: Nei, Rodrigo Moledo, Guiñazu, D'Alessandro, Lacerda, Alisson, Mateus e Rafael Santiago
INTERNACIONAL: Muriel (7), Nei (4,5), Rodrigo Moledo (5), Índio (5,5) e Fabrício (4,5); Sandro Silva (6,5), Guiñazu (5,5), Tinga (4,5) (D'Alessandro, intervalo - 6,5), Dátolo (4) (Dagoberto, intervalo - 6) e Oscar (5); Leandro Damião (6). Técnico: Dorival Júnior
CAXIAS: Paulo Sérgio (8), Michel (6), Lacerda (5,5), Jean (6) e Fabinho (5,5); Umberto (5) (Marcos Paulo, 39 do 2º - sem nota), Mateus (6), Paraná (5,5) (Alisson, 12 do 2º - 5) e Wangler (7); Caion (6,5) e Vanderlei (6) (Rafael Santiago, 33 do 2º - sem nota). Técnico: Mauro Ovelha


Comentários

Anônimo disse…
Lamento pelo Caxias, mas sera muito dificil segurar o Wangler, trata-se de um meia talentosíssimo, muito promissor mesmo, nao sei o que Gremio e Inter esperam para contratar esse cara.
Sancho disse…
Se o Inter classifica contra o Flu, o público só não seria o dobro porque não cabe no estádio. Dá um desconto.
Vicente Fonseca disse…
É verdade, este desconto precisa ser dado. Mas não acho que seria tanta gente mais - afinal, teríamos Inter x Boca nesta quarta, no Beira-Rio, e as pessoas costumam escolher entre um jogo e outro para ir.