Gre-Nal para quem joga Gre-Nal

Ganhou o Gre-Nal o time mais equilibrado e o que jogou melhor na maior parte do tempo. O Internacional pode ter vindo com vários desfalques, mas nem precisou fazer uma grande partida para suplantar um Grêmio fragilizado no meio-campo por conta de opções equivocadas de Vanderlei Luxemburgo. E assume, agora, o favoritismo para conquistar o bicampeonato estadual na decisão com o Caxias.

Luxemburgo fez mistério, mas escolheu mal o time que entrou em campo. A opção com três atacantes funcionou em alguns poucos jogos diante de times fracos do interior, mas nunca poderia ter começado um jogo desta magnitude. O 4-4-2 em losango, vitorioso no Gre-Nal de fevereiro com Roger, sempre deu os melhores resultados. Mesmo errando muitos passes (Dátolo, autor do primeiro gol, foi um dos piores neste fundamento), o Inter teve cinco jogadores na meia-cancha no primeiro tempo, uma superioridade absoluta. Ainda por cima, os atacantes foram bem marcados. A colocação de Jackson, zagueiro de ofício, na lateral direita, ajudou a anular Bertoglio, por exemplo.

A diferença de gols até o intervalo só não foi maior por incompetência do próprio Inter. Diante de um Grêmio frágil, que não deu um único chute a gol (mais atacantes é sinônimo de mais ofensividade?), o Colorado poderia ter aberto um escore maior se estivesse completo. Leandro Damião, que poderia desequilibrar, jogou muito pouco o Gre-Nal todo. Mas preocupa sempre a zaga: no lance do gol de Dátolo, havia quatro gremistas nele, e nenhum no argentino, que entrou livre e venceu Victor com um chute cruzado. Tinga, por sua vez, foi um dos melhores. Buscava a bola com os volantes, distribuía o jogo, marcava. Um grande pulmão para quem conta 34 anos. Jajá foi outro de fôlego invejável, e só não foi um dos melhores porque errou demais na hora do passe final.

A melhora gremista no segundo tempo não foi mérito de Luxemburgo, que colocou Marquinhos e Marcelo Moreno nos lugares dos apagados Miralles e André Lima: era este o time que deveria ter começado o clássico. Foi a colocação, com 45 minutos de atraso, do time óbvio. O Grêmio, então, dominou os minutos iniciais e empatou. Poderia ter virado, pois jogava melhor. Pará passou a cortar para a linha de fundo em vez de puxar para dentro, como sempre faz por ser destro. Em mais de uma oportunidade, surpreendeu a marcação e quase virou o jogo. Gabriel, por outro lado, foi um desastre completo: deu o "passe" para Dátolo no gol colorado e errou quase sempre que tentou apoiar.

Aí veio outro erro grave de Luxemburgo, o de xingar o gandula na hora de um escanteio para o Inter. Se tem razão ou não na reclamação, é outra história. Fato é que ele foi expulso com justiça e deixou o Grêmio com André Lima de técnico. E, coincidência ou não, o Inter retomou o controle do jogo justamente após este lance. Fez 2 a 1 com Fabrício, de cabeça, um gol que estava se ensaiando desde o primeiro tempo, quando a zaga gremista assistiu a colorados subindo livre e parando em Victor. E confirmou a vitória com justiça, pois foi mesmo melhor time.

O resultado não traz grandes consequências na vida do Internacional, fora decidir o Gauchão. O time que jogou é muito diferente do titular. Talvez um fato tenha sido confirmado: Sandro Silva merece a titularidade de forma definitiva. Com ele, Guiñazu e Tinga, o meio colorado ganha consistência. Solidez que faltou, por exemplo, no Gre-Nal anterior, vencido pelo Grêmio. Dagoberto, Dátolo, Leandro Damião, D'Alessandro e Oscar: destes cinco, só três deveriam ter lugar de titular no time. É menos brilhante, mas é mais consistente. Não se escalariam os melhores, mas haveria opções de sobra no banco para mudar a partida.

Para o Grêmio, fica claro que a melhor formação é a proposta por Roger no clássico da Taça Piratini. A ausência de Léo Gago pesou bastante no ajustamento defensivo da equipe, mas a solução proposta por Luxa fracassou. O Gauchão vale pouco, mas a pressão pela Copa do Brasil aumenta ainda mais. Até porque, mesmo valendo menos que qualquer outra competição, é péssimo sinal o time ter ficado fora da final de um estadual tão fraco. O Grêmio não fez uma má Taça Farroupilha, não precisa de terra-arrasada alguma, mas jogará mais pressionado de agora em diante.

Campeonato Gaúcho 2012 - Taça Farroupilha - Final
29/abril/2012
INTERNACIONAL 2 x GRÊMIO 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Márcio Chagas da Silva
Público: 22.239
Renda: R$ 561.140,00
Gols: Dátolo 36 do 1º; Werley 10 e Fabrício 31 do 2º
Cartão amarelo: Sandro Silva, Leandro Damião, Jackson, Rodrigo Moledo, Pará, Bertoglio, Gilberto Silva e Werley
INTERNACIONAL: Muriel (5,5), Jackson (5,5), Rodrigo Moledo (5), Índio (6) e Fabrício (6); Sandro Silva (6), Guiñazu (6), Tinga (6,5), Dátolo (5,5) (Jô, 28 do 2º - 5,5) e Jajá (6) (Bolatti, 40 do 2º - sem nota); Leandro Damião (5). Técnico: Dorival Júnior
GRÊMIO: Victor (6), Gabriel (4), Werley (5,5), Gilberto Silva (6) e Pará (6); Fernando (6), Souza (4,5) e Marco Antônio (4,5); Miralles (4,5) (Marquinhos, intervalo - 5,5), André Lima (4,5) (Marcelo Moreno, intervalo - 5,5) e Bertoglio (5) (Leandro, 29 do 2º - 4,5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo

Comentários

Sancho disse…
O Gauchão não vale pouco. Basta ver as conseqüências do jogo de hoje para ambos os times: a pressão sobre o restante do ano gremista subiu para o limite do insuportável; o Inter segue para o Rio esbanjando tranqüilidade e segurança.

Se isso é pouco...

P.S.: Nenhum campeonato é tão duro de perder quanto o estadual. Talvez seja por isso que seja tão desmerecido.
Concordo nos dois pontos da partida que definiram a vitória pro Inter: a escalação inicial e a palhaçada do Luxemburgo.

A primeira é óbvia: escalar três atacantes num clássico é suicídio. Não deu certo anteriormente numa partida do Gauchão (não lembro qual agora), por que daria agora? Ainda acho que o Vilson ali na esquerda seria a melhor opção. Depois, estuda a partida e faz a substituição necessária para levar o jogo.

Quando arrumou a escalação no segundo tempo, arrumando o meio campo, veio a história do gandula. Ok, pode reclamar tranquilamente sobre o fato, mas pelamordedeus, NÃO ENTRA NO CAMPO!!! até as COIFAS das gramíneas do Beira-Rio sabem que, se elas forem pisadas pelo sapato de um técnico em uma partida em andamento, ele será expulso. Pra que fazer aquilo? Determinou a perda do comandante na beira do campo. e o time ficar acéfalo até o fim.

Como dito, não se pode fazer terra arrasada (o time estava bem até aqui), mas há de se prestar atenção nesses erros: conter Luxemburgo e não sair dessa opção dos 3 marcadores no meio (até porque parece que o Marco Antonio só sabe jogar assim). Problema é saber se duraremos até o fim da Copa do Brasil assim...
Sancho disse…
Não gosto do Luxa, pelo que posso estar sendo tendencioso, mas o a derrota de hoje me para ter passado TODA por ele.

Já morri de vergonha com a ausência de escalação, com a entrada de todos os jogadores em campo e com a súmula sendo assinada em campo. Depois disso, o resto que ele fez nem surpreende.

Ele estava ENCAGAÇADO! Única explicação.
Anônimo disse…
O Gauchão não vale nada. De que adianta levar um título estadual e ser eliminado na Libertadores ou na Copa do Brasil? Quando se fala no jejum de títulos do Grêmio ninguém leva em conta os títulos estaduais, porque eles deixaram de ter importância faz tempo. Ou por acaso o Atlético-MG esbanja confiança estando na final do Mineiro e tendo levado 2x0 do Goiás no jogo de ida da CB?

Ganhar o Gauchão seria muito mais importante para o Caxias do que para o Inter, mas sinceramente eu não acredito que isso vá acontecer. Ainda mais em dois jogos, sendo o 2º no Beira-Rio.

Já para o Grêmio, que pelo menos esse Grenal sirva de lição de como NÂO atuar na quinta contra o Fortaleza.

Tiago

P.S.: eu também ia reclamar da escalação inicial e da briga do Luxemburgo com o gandula, mas depois que eu soube que jogaram sal grosso no banco do Grêmio eu acho que ninguém tem moral para falar de ninguém quanto a atitudes ridículas nesse Grenal.
Vicente Fonseca disse…
Também sou da teoria que o Gauchão pode influenciar parte do resto do ano. Em 2011, muito do Campeonato Brasileiro do Grêmio ter sido fraquíssimo veio da derrota traumática no Gre-Nal final. Mas o Inter, em 2010, perdeu o Gauchão e ganhou a Libertadores - e, ao contrário de 2006, não foi por ter se dado conta de que o time que jogou o estadual não iria a lugar algum.

Quando digo que o Gauchão vale pouco, é por seu valor intrínseco como campeonato. Mas dá pra se tirar lições dele. A mais clara de todas, para o Grêmio, é a respeito da escalação e do esquema tático. O time que jogou ontem não pode atuar contra equipes do mesmo porte do Grêmio, como ocorrerá em todo o Campeonato Brasileiro, por exemplo.

Acho, mesmo, que o Luxemburgo vinha fazendo um bom trabalho. Mas mudar o que vem dando certo antes de um Gre-Nal, se fosse aquele técnico que sempre é cotado, contratado e demitido pelos grandes da capital, seria caso de polícia. Ou não?
Samir disse…
Luxemburgo quis ser o personagem do Grenal. Ao escalar o time com tres atacantes, quis botar o "dedo" nele em uma possível vitória... só isso faz sentido! A escalação era sabidamente ruim, errada. Não temos um volantes com as características de Léo Gago, paciência, mas coloque alguém com o mesmo potencial de marcação... fosse Vilson na volancia, ou mesmo escalando Edilson na lateral e adiantando o Pará... seria melhor.

Sobre a expulsão dele, algo ridículo. O lance n estava valendo, e foi em um momento que o Grêmio estava melhor. Agora, a maior das ironias foi ter feito aquele carnaval por conta de um escanteio cobrado rapidamente e, logo depois, ter tomado gol de escanteio, mesmo sendo cobrado da forma "correta", com tempo suficiente para que TODOS jogadores do INTER estivessem marcados!
luís felipe disse…
Fred e demais,

O Luxa explicou que queria os três atacantes para pressionar diretamente o Jackson e o Fabrício, por serem reservas. Pesou contra a escalação o fato que os dois foram muito bem - o Fabrício, inclusive, para mim tornou-se titular do Inter.

A questão é que no primeiro tempo, já estava claro que a alternativa tinha dado errado. Tirar um dos atacantes - especialmente o Miralles, que não jogou bosta nenhuma - e colocar o Marquinhos seria a melhor solução, a meu ver.
Igor Natusch disse…
Luxemburgo escalou mal o time inicial, com direito a um carnaval ridículo e inútil para esconder a escalação - entrar com reservas e titulares misturados NÃO EXISTE, aliás -, podia ter mexido já na primeira etapa, manteve o ridículo Gabriel em campo o tempo todo e, depois de conseguir equilibrar o jogo dentro de campo, conseguiu estragar tudo com um chilique sem sentido em uma questão superdimensionada e de importância próxima do zero no que tange à partida em si. Vou até usar caps aqui: E DAÍ QUE COBRAM RÁPIDO O MALDITO ESCANTEIO? Todo mundo sabia que assim seria; preparem-se para isso e deixem o choro para outra hora.

Venceu o melhor time em campo, sem dúvida alguma. Mesmo assim a derrota gremista passa por Luxemburgo, seja por onde ela for analisada.

A conta do Grêmio agora é essa: jogou duas partidas fortes no ano (os dois Gre-Nais). Ganhou uma, com o interino; perdeu a outra de forma esdrúxula, com Luxa na casamata. Não é um cálculo muito animador.
Marcelo disse…
Com a ruindade do Gabriel e a venda do Mário Fernandes, só tenho uma coisa a dizer: VOLTA PATRÍCIO!