Os 15 minutos finais

Quem viu Cerâmica x Grêmio estranha o título deste texto. Afinal, o jogo não se decidiu no fim, como se supõe a uma primeira vista. Mas o que de mais importante o Tricolor vai de levar de Gravataí ocorreu justamente no terço final do segundo tempo: Facundo Bertoglio. Ele não fez gol, não fez piruetas, nada disso. Mas mostrou, neste pouquíssimo tempo, que veio para resolver a articulação gremista, um problema crônico do time neste começo de temporada.

Desta vez, é bom salientar, Marquinhos e Marco Antônio funcionaram. Fizeram suas melhores atuações neste ano. O calorão de Gravataí minou o ritmo do primeiro tempo. Hélio Vieira, um dos bons técnicos interioranos, achou por bem marcar Kleber de cima. Destacou Robson para isso e Djair na sobra. Esqueceu que o Gladiador, no mano a mano que o 3-5-2 pressupõe, se dá muito melhor que por zona. E esqueceu, especialmente, dos meias gremistas, que jogaram soltos. O primeiro gol foi um lançamento primoroso de um Marco Antônio livre para um Marquinhos mal marcado. Pênalti, convertido por Kleber.

O Cerâmica, apesar destas falhas atrás, fez um bom jogo. Partiu para cima no começo, teve atitude, nunca temeu o Grêmio. Forçou em cima da lentidão da zaga gremista, principalmente em Naldo, que quase sempre para os lances com falta, o que proporciona levantamentos perigosos para a área. A estratégia se acentuou no segundo tempo com Zeferino, este mais em cima de Gilberto Silva, às costas de Gabriel.

A diferença no segundo tempo foi que, com Marcelo Moreno, o Grêmio prendeu muito mais a bola no campo de frente. Foi dele a jogada do segundo tempo: passou para o "centroavante" Gabriel, outro que vem muito bem, e deste para Marco Antônio. O Cerâmica descontou com Zeferino, seguiu fazendo um bom jogo, mas o Grêmio mostra aos poucos mais maturidade. Segurou o resultado sem grandes sustos, com o controle do jogo. Poderia até ter ampliado nos minutos finais.

A entrada de Bertoglio foi a grande novidade. Substituiu Marquinhos com vantagem de desempenho: interessado, liso, driblador e dinâmico, participou sempre bem do jogo. Mostrou inteligência ao dar passe perfeito que deixou Kleber em condições de marcar, foi incisivo nos dribles e o principal: não se escondeu do jogo, algo comum em jogadores estrangeiros que iniciam sua trajetória no Brasil, especialmente os jovens. Sua diferença de temperamento para Miralles, por exemplo, é gritante. Em 15 minutos, mostrou futebol suficiente para ser titular. É questão de muito pouco tempo para que isso aconteça, assim como foi com Souza.

O Grêmio começa bem a Taça Farroupilha. Não foi brilhante, mas teve uma atuação consistente. O problema segue sendo a defesa. Não passa um jogo sem sofrer gol. Em 2012, somente uma vez, contra o São Luiz, isto ocorreu. Já jogou 11 vezes, vale lembrar. O time cresce em qualidade coletiva, notadamente desde a saída de Caio Júnior. Mas, sem ter consistência defensiva, não chegará a lugar algum.

Campeonato Gaúcho 2012 - Taça Farroupilha - Primeira Fase - Grupo 2 - 2ª rodada
4/março/2012
CERÂMICA 1 x GRÊMIO 2
Local: Antônio Vieira Ramos, Gravataí (RS)
Árbitro: Márcio Chagas da Silva (RS)
Público e renda: não divulgados
Gols: Kleber (pênalti) 13 do 1º; Marco Antônio 5 e Zeferino 15 do 2º
Cartão amarelo: Saraiva, Maurinho, Léo Mineiro, Dinei, Rogerinho, Naldo e Marquinhos
CERÂMICA: César Luz (6), Djair (5), Fábio Silva (5) e Robson (4,5); Saraiva (4,5), Maurinho (6), Rafael Carvalho (5,5) (Léo Mineiro, 17 do 2º - 5,5), Cidinho (6) e Pedro (5) (Marcão, 17 do 2º - 5,5); Dinei (5,5) (Zeferino, intervalo - 6,5) e Rogerinho (5,5). Técnico: Hélio Vieira (5)
GRÊMIO: Victor (6), Gabriel (6,5), Gilberto Silva (5), Naldo (5) e Júlio César (5,5); Fernando (5,5), Léo Gago (5,5) (Pará, intervalo - 5), Marco Antônio (6,5) e Marquinhos (6,5) (Bertoglio, 30 do 2º - 6,5); Kleber (6,5) e André Lima (4,5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo (6)


Comentários

Igor Natusch disse…
A única ressalva que eu faria ao Bertoglio (e faço isso agora, com 15mins de amostra, para depois não me chamarem de "oportunista" caso a coisa se confirme) é que ele se ofereceu demais para a falta. Não que isso seja um demérito monstruoso, mas achei que ele às vezes prendia a bola esperando o marcador chegar. Espero que seja só uma má leitura minha, porque de resto ele foi de fato bastante bem na estreia.

Acho que o Marco Antônio jogou mais no Gre-Nal, mas de fato teve muito boa atuação hoje. Se conseguir manter esse nivel, será titular ao lado de Bertoglio - não que Marquinhos esteja mal, mas jogador que NUNCA joga 90mins não dá.

Falta um bom zagueiro, ou pelo menos uma formação que os proteja um pouco mais. O losango do Luxa me pareceu expor um pouco demais os zagueiros, que precisam muito desse primeiro combate. Acredito que a volta de Souza melhorará o panorama, mas acho que prefiro ele e Fernando em linha, em um quadrado, guardando mais posição. Veremos.
Chico disse…
Timeco que tem nome de piso é feito pra ser pisado.

Quando o Tricolor vai trazer um zagueiro de verdade?
Lourenço disse…
Também acho que Bertoglio deve ser titular em breve, mas nem tanto pelos 15 minutos, mas porque Marco Antônio e Marquinhos não podem jogar juntos (quiça separadamente, se pensarmos no ano inteiro). Gostei do argentino, parece que não vai sentir adaptação, mas é muito pouco. Tenho esperança pelo que vi dele antes de ser contratado, hoje foi bem, mas só.

Ah, não achei que foi pênalti no Marquinhos.

Não sei, mas prefiro cornetear nas vitórias.