Sobre a vontade de largar de mão



"Larguei de mão". Li ou ouvi essas palavras (ou outras de resultado muito parecido) de pelo menos cinco pessoas distintas na ultima terça-feira, após a confirmação de Wanderley Luxemburgo como novo treinador gremista, o quinto em menos de um ano. Sentença sempre proferida, é claro, por torcedores do Grêmio, não apenas insatisfeitos com a contratação, mas também desarvorados com a série quase interminável de desgraças e fracassos que se abateu sobre o clube nos últimos 11 anos, pelo menos. É uma leitura tão clara que vai muito além das entrelinhas: o torcedor gremista cansou de apanhar. E para muitos deles, Luxa no Grêmio é o golpe final, motivo mais que suficiente para jogar a toalha de vez.

Pessoalmente, compreendo muitíssimo bem essa posição de boa parcela da torcida gremista. Afinal, eu mesmo me sinto tentado a adota-la como nunca antes na minha vida. Wanderley Luxemburgo no Grêmio, de certa forma, escancara uma série de coisas que desanimam até o mais empedernido gremista. Deixa claro, por exemplo, que não existe nenhum tipo de plano no trabalho de Paulo Odone e Paulo Pelaipe - nada que vá além da tentativa desesperada de ganhar uma vaga para a Libertadores em 2013, ano da inauguração da Arena. Deixa explícito que se contrata aos baldes, gastando dinheiro que provavelmente nem existe, sem nenhuma ideia do tipo de time que vai se formar. Mostra que o papo odonístico / pelaipístico de time aguerrido, jogadores que comam grama e tenham a cara do Grêmio é, simplesmente, conversa para boi dormir - uma vez que se gasta uma fortuna com um treinador que faz tudo, menos montar equipes marcadas pela dedicação e espírito de luta. Revela que o canto de sereia de Luxa ainda convence os incautos, pessoas (e dirigentes) incapazes de fazer uma breve pesquisa e constatar que um dos "melhores treinadores do Brasil" deixou-se ultrapassar e nada ganha há quase uma década - apenas os gordos salários, claro. Em resumo, Luxa no Grêmio mostra, com clareza cristalina, que a nau está sem comandante e indo de forma convicta rumo aos icebergs.

Fico pensando na enorme quantidade de coisas que deixo de fazer por causa do Grêmio e no tempo livre que eu teria se simplesmente seguisse o conselho de amigos e largasse tudo de mão. Teria mais tempo para a literatura, por exemplo - poderia ler mais e escrever mais, me dedicando mais intensamente a alguns projetos ja por demais adiados. Poderia atacar a imensa pilha de filmes e seriados que não assisto nunca, e que se amplia interminavelmente a partir da minha inércia. No momento estou solteiro mas, caso estivesse namorando ou conquistasse uma companheira nos próximos meses, poderia dedicar horários estratégicos nos sábados à tarde e nas noites de quarta-feira a sempre agradáveis atividades de casal. Poderia deitar mais cedo, acordar mais cedo, poderia estudar, ouvir música, catalogar minha coleção de CDs e LPs. Tantas coisas se beneficiariam de umas horas livres na semana que, admito, a tentação se ergue dentro de mim e, por instantes, cogito fortemente largar tudo de mão, mandar o Grêmio para o quinto dos infernos e viver uma vida mais ativa, mais agradável, mais saudável e mais rica culturalmente - bem longe do futebol. É uma tentação bem grande, admito para vocês.

Mas não tem jeito. Não sou capaz de largar o Grêmio de mão.

E não pensem que decido isso movido apenas pelo gremismo galopante, pela fé na mística do clube de espírito imortal que vai contra tudo e todos em busca do que parece impossível etc etc. Nada disso. Minha principal motivação para seguir acompanhando o Grêmio mesmo no pior cenário é outra: a convicção de que qualquer chance de mudança de cenário passa pela manutenção do mínimo de pensamento critico dentro da torcida gremista. Percebo que, dos que me afirmam que estão largando de mão, quase todos são justamente os gremistas que não deveriam largar de mão, que fazem diferença, que contribuem com o clube muito além dos gritos incessantes na beira do gramado. Se todas essas pessoas - entre as quais tenho a ousadia pretensiosa de me incluir - largarem o clube de mão, tudo será definitivamente contaminado por dirigentes pouco confiáveis, empresários inescrupulosos e jogadores (ou treinadores) sem nenhuma ambição, preocupados apenas com os polpudos salários no fim do mês. Tudo acalentado por uma torcida fiel ao próprio autismo, apoiando todo e qualquer parasita que envergue a tricolor, capaz de transformar pernas-de-pau em ídolos graças a um gol no finalzinho de um jogo que deveria, nas condições normais de temperatura e pressão, ser vencido com um pé nas costas. Uma torcida que acha que entoar palavras mágicas como raça e imortalidade será suficiente para transformar uma montanha de erros em um grande acerto assim, num piscar de olhos. Um bando de gente que fica com os dedos cruzados, enrolados na bandeira, cheio de boas intenções mal direcionadas, fazendo muita fé que apesar de tudo a coisa vai funcionar, que vai dar certo, que agora vai. Não vai. E alguém tem que ser chato para dizer isso.

Assim sendo, manterei minha dedicação ao Grêmio quase inalterada. Porém, com uma mudança fundamental: serei o maior corneteiro que for capaz de ser. Imagino eu, na minha ignorância, que Caio Jr (longe de ser o melhor treinador do Cosmos, ok) foi demitido porque os resultados estavam demorando a chegar, mesmo que ainda falte quase um mês para a estreia na Copa do Brasil e a primeira fase do Gauchão nos valha absolutamente nada. Ou seja, se Odone e Pelaipe têm pressa, eu também posso ter - ainda mais depois de contratarem um treinador caríssimo e badalado sob o discurso de que "esse arruma time". Então que arrume, imediatamente - e não, não quero nem saber de dar tempo para o cara trabalhar. Cobrarei coerência antes de tudo: quero resultados imediatos, exatamente os mesmos que se cobrou de Caio Jr. Faço uma trégua no Gre-Nal de hoje, dirigido por Roger, que afinal de contas tem pouca ou nenhuma culpa nessa história. Depois disso, quero que Luxa, Odone e Pelaipe mostrem serviço imediato. E vou ser chato. Podem acreditar. Não larguei o Grêmio de mão, mas segurarei a corneta para não largar tão cedo.

Comentários

Vicente Fonseca disse…
O Olímpico precisa de ti e da tua corneta, Igor!

:)
Milton Ribeiro disse…
Mesmo colorado, fico puto com Odone e o Conselho Bovino que ele mantém. E desconfio muito de todos esses gastos. Muito, apesar de não ter comprovações nenhumas.
Anônimo disse…
É muito engraçado, mas o Grêmio não precisa do atual estilo de gestão, precisa de uma administração efetiva e de um plano coerente para voltar a ganhar prêmios.

Mas Gremistas, não cotem em Odone para nenhuma vaga de Deputado ou qualquer outra vaga, pois chega para esta turma.
Anônimo disse…
É muito engraçado, mas o Grêmio não precisa do atual estilo de gestão, precisa de uma administração efetiva e de um plano coerente para voltar a ganhar prêmios.

Mas Gremistas, não votem em Odone para nenhuma vaga de Deputado ou qualquer outra vaga, pois chega para esta turma.

Gente, quem vive de passado é Museu, temos que voltar a ganhar prêmios, mostrar uma forma adequada e respeitosa de Gestão, pois a forma atual não está funcionando.