Era só o que faltava. Mesmo

Em 2007, Vanderlei Luxemburgo treinava o Santos. Ao ser eliminado pela enésima vez em sua carreira pelo Grêmio, na Libertadores, o treinador declarou que preferia manter seu estilo de privilegiar o jogo bonito (embora aquele Peixe passasse longe de ser brilhante) e que não abriria mão disso para ganhar o principal torneio continental, a principal ausência em seu currículo recheado de grandes conquistas.

Cinco anos depois, o Grêmio traz o representante maior do pensamento exatamente oposto ao que prega seu ideário, sintetizado no parágrafo acima. Nos anos 90, Luxemburgo foi o grande rival de Felipão quando este treinava o Tricolor. Era o fácil duelo dos estereótipos "futebol arte" contra "futebol força". Luxemburgo era sempre o inimigo. Seu super Palmeiras, seu Flamengo do ataque dos sonhos, seu Corinthians milionário, sempre foram rivais do Grêmio. Seu discurso era fortemente rejeitado pelos gremistas, que sempre o receberam com vaias e provocações fortes quando vinha ao Olímpico.

Vanderlei Luxemburgo treinar o Grêmio sempre foi algo que nunca passou pela cabeça dos gremistas e de ninguém, porque era simplesmente impossível, por tudo o que Grêmio e Luxemburgo representam. Mas pode dar certo: é juntar a fome de títulos do Grêmio com a vontade dele de voltar a ser um técnico vitorioso - caso ele realmente queira isso, claro. O Grêmio não ganha um título importante desde 2001. Vanderlei Luxemburgo não ganha nenhum título importante desde 2004.

São dois gigantes adormecidos: um clube campeão do mundo e o técnico recordista em títulos brasileiros. Ambos de currículo invejável, mas que estão há anos devendo. Em 1977, um técnico que sempre pregou um jogo exatamente oposto ao que pregam até as minhocas da grama do Olímpico chegou e interrompeu o octa do Inter. Foi Telê Santana, outro que se envolveu em rusgas pelo estilo viril que o Grêmio adotaria nos anos 90, quando era técnico do São Paulo.

O problema de tudo é a falta de convicção. Paulo Odone sempre foi um pregador do futebol de pegada, de marcação, "solidário", como ele costuma dizer. Luxemburgo tem um estilo muito diferente de tudo isso. Ou Odone sempre pregou algo que não acredita (por seu histórico como dirigente do Grêmio, é pouco provável), ou aposta que a experiência neste momento é mais importante do que um time aguerrido. O Grêmio de 2012 tem mesmo um perfil um pouco diferente: jogadores caros, cobras criadas. Luxemburgo sabe lidar com elencos caros. Ou sabia, até algum tempo atrás, já que saiu do Flamengo justamente por isso.

A rejeição será imensa, e por isso mesmo, a pressão por resultados também. Luxemburgo é experiente para lidar com isso e habilidoso com as palavras para reverter o quadro. Mas precisa mostrar serviço, muito serviço. Desde o Brasileirão de 2004, mostrou bons trabalhos no Santos (2006/07), Palmeiras (2008) e, menos, no Flamengo (2010/11). Fracassou no Santos (2009) e no Atlético/MG (2010). Teve passagem razoável pelo Real Madrid (2005). Não ganhou títulos de expressão. É pouco.

Fato é que o Grêmio já tentou de tudo nestes 11 anos para voltar às grandes conquistas. Até mesmo contratar Vanderlei Luxemburgo. Essa eu pago para ver.

Em tempo:
- Ponto positivo: a manutenção da comissão técnica permanente, inclusive Roger e Paulo Paixão.

Comentários

Chico disse…
Desgraça, desgraça, desgraça...
Igor Natusch disse…
Serei o mais implacável corneteiro gremista nos próximos meses. Afinal, de treinador caro e com grife me sinto no direito de, sim, cobrar resultados imediatos. Estejam avisados desde já.