Chega de amadorismo!

Gutemberg de Paula Fonseca nunca foi um bom árbitro tecnicamente, até por pertencer à pavônica escola carioca, de distribuir cartões como forma de disfarçar a falta de autoridade (e qualidade) dos juízes. Pode, porém, ter dado nesta sexta uma contribuição ao futebol brasileiro bem maior que a de vários apitadores consagrados. Excluído do quadro da FIFA, denunciou o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa, por corrupção. As acusações ainda são rasas, embora ele diga ter provas. Abrir investigações é mais do que necessário, ainda mais num país onde tivemos ao menos dois grandes escândalos nos últimos 15 anos (Ivens Mendes, em 1997, e o Caso Edílson, em 2005).

Uma frase da bombástica entrevista dada por Gutemberg à Rádio Jovem Pan é que merece destaque, por ser o cerne de todo o problema da arbitragem brasileira: é quando ele insinua que Sérgio Corrêa não o escalaria mais para apitar caso o Corinthians não vencesse um jogo contra o Goiás, comandado pelo carioca, em 2010 (deu Timão, 5 a 1). Ora, se os árbitros fossem profissionais, isto jamais aconteceria - ou, ao menos, ocorreria em bem menor escala.

Um árbitro com salário fixo por mês não se preocuparia em estar na escala o tempo todo. Hoje, juiz de futebol é bico. Dia desses, vi matéria com o paulista Guilherme Cereta de Lima, que além de árbitro é modelo, empresário e, pasmem, treinador de futebol (dos que reclamam com o juiz, segundo ele). Árbitro tem que ser árbitro por profissão, não algo para aumentar a renda de um cidadão ao lado de outros empregos. A profissionalização permitirá aos árbitros maior dedicação ao seu trabalho, o que tende a elevar o nível técnico das atuações deles em campo.

Isto fora o fator financeiro: juiz precisa apitar para receber hoje no Brasil. Insinuar que tal time deve vencer uma partida é ameaçar o árbitro de não trabalhar caso isto não ocorra - e não receber. Trata-se da maior das crueldades, uma chantagem absurda, que, agora escancarada por Gutemberg, infelizmente parece acontecer. Juízes não deveriam estar o tempo todo apitando para receber. Pelo contrário: quanto mais apita, mais se cansa o juiz. Quanto mais cansado, mais difícil é apitar um jogo, e pior tende a ser a atuação do árbitro. Juízes FIFA, que estão apitando o tempo todo (três a quatro jogos por mês, em média), erram demais também por isso.

Chega de amadorismo na arbitragem. Cobra-se, e com razão, que os árbitros tenham atuações em alto nível, para não comprometer o resultado das partidas, mas ao mesmo tempo não se oferecem condições razoáveis para que isto aconteça. É muito fácil criticar um juiz por um erro, mas também é preciso pensar além do "a arbitragem é ruim no Brasil". Sim, é ruim, mas perguntemos por que é ruim. Não dá mais para vermos clubes e jogadores movimentando milhões de reais e milhares de pessoas nos estádios e deixarmos decisões importantes de partidas nas mãos de amadores. Que a denúncia de Gutemberg sirva para extirpar, além dos mal intencionados, o amadorismo da arbitragem brasileira.

Comentários

Lourenço disse…
Eu sou contra a profissionalização da arbitragem. Pelo menos, como forma de resolver esse problema. Mesmo que houvesse salário fixo, que o árbitro não recebesse por jogo, ele ainda estaria suscetível à pressão. Primeiro, por uma constatação óbvia: o fato de ser profissional e receber fixo não significa que ele tenha estabilidade. Continuará podendo ser demitido, afastado, colocado em jogos de segunda linha ou na geladeira, a critério da Comissão de Arbitragem. Inclusive, um árbitro profissional, que tem todo seu sustento da arbitragem, tem muito mais a temer com uma perseguição do que aquele que apenas complementa a renda e tem outro emprego.

O que tem que melhorar é o treinamento, a capacitação, a estrutura da arbitragem. A profissionalização, por si só, até pode ajudar um pouco na capacitação dos árbitros, que se dedicarão com maior intensidade no aprimoramento, mas não evita nem diminui esses desvios.
Vicente Fonseca disse…
Ponto de vista interessante, Lourenço. Mesmo assim, acho que o futebol tende a ganhar com a profissionalização da arbitragem. Concordo que a pressão continuará sendo sempre forte, mas profissionalizar é um adicional de seriedade. Acho que situações como as descritas pelo Gutemberg tendem a diminuir, até porque a fiscalização tende a ser maior.
Lourenço disse…
Como sempre, és um lorde no debate. Mais do que eu, que esqueci de dizer que o texto é muito oportuno e de importante leitura, apesar de eu não concordar com a idéia central.
Prestes disse…
Concordo contigo, Lourenço, que a profissionalização não resolve o assédio pra cima dos árbitros e talvez até os deixe mais vulneráveis.

Mas tu defendes uma melhor capacitação e aí eu pergunto: Como estar bem preparado para uma atividade que é tua atividade secundária? A dimensão que o futebol profissional de alto nível tem hoje não permite aquele tomas as decisões dentro do campo seja advogado, modelo, delegado, ou sei lá o quê, no meio da semana.
Prestes disse…
Quanto à preocupação central do texto, que é a possibilidade de influência nos resultados de jogos, creio que uma alternativa deve ser a descentralização na chefia da arbitragem. Colocar um juiz na geladeira, por exemplo, deve ser a escolha de um colegiado formado por representantes dos clubes, das federações, dos torcedores (por quê não?), do STJD, um comitê técnico de ex-árbitros, e por aí vai.
André Kruse disse…
Profissionalização resolveria parte dos problemas. Hoje ficamos perguntando: Como um árbitro se prepara fisicamente? Como se prepara tecnicamente? Com que frequencia ele se reune com colegas e/ou superiores para discutir as regras, lances, interpretações?

Outra questão é essa da centralização apontada pelo Prestes, a isto é possível somar a total falta de comunicação e clareza do comanda da arbitragem. Quais os criterios para um arbitro ter escudo Fifa? Qual o criterio da escala para o sorteio? Quando é que um arbitro é suspenso? O que é considerado certo e errado pela comissão de arbitragem?

Ainda, no Brasil (ou na imprensa brasileira) há um enorme desconforto em se falar de arbitragem. Parece ser muito mais comodo taxar tudo de chororo.
Vicente Fonseca disse…
Lorde é ótimo, Lourenço. Mas quero deixar claro que não acho que a profissionalização resolverá todos os problemas da arbitragem brasileira. Ela é um primeiro e importantíssimo passo, que precisa ser dado de uma vez por todas.

Concordo contigo, Prestes. A descentralização é fundamental. É preciso que haja fiscalização, que se saiba os critérios que levam um árbitro a ser escalado (ou ir para o horrendo sorteio), além das questões que o André colocou.

Aliás, André, eu sou um dos que raramente fala em arbitragem, porque sempre se leva as coisas para o lado clubístico. Por isso, prefiro me abster de debater lances isolados ou situações específicas em uma competição (tal clube foi mais favorecido que outro), em favor de textos que pensem um pouco mais a fundo a questão, como tentei fazer com este.
Lourenço disse…
Eu concordo com boa parte das necessidades apontadas por vocês. Inclusive, a pergunta do Prestes tinha sido ressalvada por mim, dizendo que a profissionalização até poderia ajudar na capacitação. OK.

Os problemas de centralização e falta de transparência nas decisões apontados pelo André são bem importantes, se relacionam com a denúncia que estamos comentando, e não se resolvem fazendo o árbitro se tornar empregado.

Essa maior capacitação que viria da exclusividade da atividade de árbitro (de novo, não acho que valha a pena) nada alteraria esse tipo de situação que supostamente ocorreu com o Gutemberg.

E também é de se olhar a questão em outros países, para ver se a profissionalização é necessária ou suficiente. Na Inglaterra, em que a arbitragem é referência, nem o Howard Webb é exclusivamente juiz de futebol.
Prestes disse…
Foi mal, Lourenço, me passou batido q tu disseste: "A profissionalização, por si só, até pode ajudar um pouco na capacitação dos árbitros, que se dedicarão com maior intensidade no aprimoramento"
Samir disse…
Mas isso não é um debate, é uma troca de receitas de senhoras du grupo de evangelização da terceira idade da igreja batista.

Ninguém ofende ninguém, diz q a ideia do outro é estúpida?

Não se fazem mais blogues como antigamente.

E, só para manter minha coerência, todas as ideias apresentadas por aqui são ridículas. É evidente que a única salvação para o futebol é a regra que mantém a ordem na várzea: PEDIU, PAROU!
Vicente Fonseca disse…
Vai tomá no cu, Samir.

sahsdhsdahsda
Samir disse…
Obrigado, professor. Agora sim este blog tá com cara de macho! huehuehuhue