Uma aula em catalão

Muricy errou, sim. O esquema com três zagueiros raramente foi posto em prática nestes meses desde a conquista da Libertadores. No máximo, quando Durval era lateral esquerdo, mas aí não havia dois alas, como ocorreu. Seu time ficou num 3-5-2 com meio-campo absolutamente vazio. Léo e Danilo não foram laterais meio-campistas, mas defensores. Foi um 5-3-2, fechado e com meio dado de graça ao adversário.

Mesmo assim, não foi por isso que o Santos não jogou. Esta é uma decisão que independe do Santos. É prerrogativa exclusivamente do Barcelona, o time que mais marca e mais joga no futebol mundial. Um time que não teve um centroavante, mas que possibilita até mesmo ao pequenino Xavi fazer o papel de camisa 9, como no segundo dos quatro gols ocorridos neste domingo.

Não se trata de um simples Messi x Neymar, ou que o argentino é melhor que o brasileiro (e é mesmo) porue seu time venceu. É muito mais que isso. O Barcelona tem muito mais conjunto que o time organizado pelo melhor técnico do Brasil na atualidade. A diferença coletiva entre Barça e Santos é muito maior que a individual entre os jogadores dos dois times - embora uma equipe com Messi, Xavi e Iniesta seja, de fato, próxima do imbatível neste aspecto também. Fica ainda mais evidente que Muricy falou bobagem ao dizer que Guardiola não é nota 10 porque não foi campeão no Brasileirão.

Quanto ao jogo em si, foi de um time só sempre. O primeiro gol, de Messi, já foi uma pintura, a começar pelo calcanhar maravilhoso utilizado por Xavi para dominar a bola e a conclusão com extrema categoria do argentino. O quarto gol, também de Messi, foi a pá de cal em qualquer discussão. Entrou com bola e tudo numa final de Mundial. Já fez três gols em finais de Mundial. Um mito, que a cada ano cresce.

Foi Neymar, na juventude de seus 19 anos, quem melhor resumiu a partida: "aprendemos hoje a jogar futebol". O Barcelona, de fato, deu uma aula de futebol moderno. Pena que muitos dos comentaristas de televisão relembrem da seleção de 1982 e falem que o futebol arte, "a essência do futebol brasileiro", pode dar certo. Entenderam o que ocorreu neste histórico 18 de dezembro de 2011 muito menos que Neymar.

Virada europeia
Os europeus chegam a 26 títulos mundiais, contra 25 dos sul-americanos. Desde 1960, quando o Real Madrid conquistou o primeiro título mundial da história, isto não ocorria. Os cinco títulos seguidos da Europa igualam a sequência entre 1995 e 1999 do Velho Continente, mas não igualam os sete titulos consecutivos da América do Sul entre 1977 e 1984.

Terceiro lugar
E Jorge Fossati conseguiu: levou o modestíssimo Al Sadd, tecnicamente só superior ao neo-zelandês Auckland City, ao terceiro lugar no Mundial Interclubes. O bronze veio nos pênaltis, após empate sem gols no tempo normal com os donos da casa do Kashiwa Reysol. Grande trabalho do uruguaio no Oriente Médio.

Foto: AFP.

Comentários

Lourenço disse…
Também acho que o Santos não foi bem, mas enfim, o Barcelona é o melhor time que já vi jogar, não classifico como fiasco. É óbvio que, em um jogo, poderia o Santos ir melhor e até ganhar, mas não há nenhum time sul-americano, quiça mundial, que possa dizer que jamais perderia para o Barcelona por 4 a 0. Quando o Barcelona joga mal e o adversário bem, pode haver um crime. Quando o Barcelona joga bem, vence. Quando o Barcelona joga bem e o adversário mal, acontece isso.

O Santos não foi em nenhum momento em 2011 o supertime de 2010, com Neymar, Ganso, Robinho e André. Hoje, sem Robinho e André, com Ganso mal(não diziam aqui no Sul que era melhor que Neymar?) e Elano também, o Santos não é um supertime, é um time bom com um superjogador.

O compacto não vai mostrar, só o VT do jogo mostra: Xavi recebe e distribui a bola na sua intermediária defensiva e sai correndo para receber na meia-lua para fazer o segundo gol. Que jogador.
Vicente Fonseca disse…
Lembrando: o Real Madrid levou 5 a 0 ano passado. E 6 a 2 em 2009.
Igor Natusch disse…
Perder para o Barcelona não tem nenhum problema. É quase natural, na verdade. O Santos levar 4 a 0 (mesmo placar que o Al-Sadd sofreu, lembre-se) não é fiasco em si mesmo. Mas acho a atuação do Santos hoje bastante questionável. Errou em quase tudo e entrou com o espírito totalmente errado para enfrentar o melhor time do planeta - marcando de longe, não dando combate quase nunca, praticamente sem fazer faltas durante o jogo e ajudando o adversário a levantar em cada lance. Para o Barcelona, pode até ter sido um jogo comum; para o Santos, tinha que ser a decisão de uma vida, caso quisesse tentar vencer. Não foi, em momento algum. Por isso, acho que dá sim para qualificar como um fiasco a POSTURA do Santos - e de Muricy Ramalho, que jamais deu qualquer sinal de que esperava ou mesmo sonhava com a vitória.

O Getafe venceu o Barcelona esses dias. Claro que foi um raio que não cairá duas vezes no mesmo lugar - mas tenho certeza, mesmo sem ter visto o jogo, que o Getafe se preparou bem para enfrentar o Barça e aproveitar as chances de vencer, caso surgissem. Justamente isso é o que o Santos não fez. O time brasileiro praticamente abdicou de vencer, desde o início. Até o Al-Sadd teve mais sangue e ambição diante do Barça. E falo muito sério. Dizer que o Barcelona é uma coisa de outro planeta é muitíssimo correto, mas não dá para usar isso como modo de relativizar o mau papel que o Santos fez hoje.
Pedro Heberle disse…
Tô só aprendendo aqui. Depois do texto do Vicente e dos comentários do Lourenço e do Igor eu não tenho nada a acrescentar.
Vicente Fonseca disse…
O cara acertou o 4 a 0 na bucha e vem bancar o humilde. Menos, Pedro.

hehe
Lourenço disse…
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2011/12/ex-arbitro-djalma-beltrami-e-preso-em-operacao-policial-no-rio-3601289.html

Desde 26 de novembro de 2005 eu sabia que não era coisa boa...
Franke disse…
Achei meio extremada demais a postura do Neymar, do Santos e de muitos comentaristas, dizendo que o Santos "aprendeu a jogar bola". O Barcelona não ensinou como se joga, mas apenas um modo de se jogar bola. Eu fico boquiaberto com o Barça; vi o jogo três vezes ontem, é como ver e rever um filme bom e com ótimas cenas e roteiro. Mas não é o único modo de jogar bola. Não precisamos, do mesmo modo, idolatrar. Ainda é um esporte, e Mourinho mostrou, no ano passado, que é possível ganhar, e com um esquema diferente. O desafio, eu penso, não é imitar o estilo do Barça, mas desenvolver um próprio que supere o catalão - que é, claro, magistral, contra o qual é impossível torcer.
Franke disse…
Em tempo: fiquei decepcionado com a postura do Santos. Após um Brasileiro muito irregular, fez uma apresentação ridícula frente ao Barça. Foi o melhor da Libertadores, mas não é, nem de longe, a melhor equipe do momento da América do Sul. Fôssemos lá com Vasco ou La U, estaríamos melhor representados.
André Kruse disse…
Eu sinceramente esperava mais do Santos. Ficou só olhando.

Intervalo com 3x0 pro Barça e o nº de faltas era Barcelona 7x5 Santos. O Pique perdeu uma bola e deu na orelha do Neymar. O Messi adiantou uma bola no ataque e entrou de sola no Durval. O Messi marcou mais que Ganso e Borges.

É obvio que só fazer falta, só dar porrada, não resolve. Tem que jogar. Só que o Santos ficou esperando que o Barcelona o deixasse jogar.
Chico disse…
Fazia tempo que eu não via um time já entrar derrotado em campo. Santos completamente cagado e apático. Parecia um time da 3ª série enfrentando um da 8ª.

Mesmo após uma lavada, o Muricy não sai do trono. Muita petulância.

Teria sido melhor assistir o filme do Pelé.

Quem é melhor? Messi ou Neymar? Hhahahahhahahhahahhahhahahhahhah
Pedro Heberle disse…
Vicente, eu só sirvo pra acertar resultado. A análise é com vocês... heheh

Mas o Franke tocou num ponto interessante, embora eu ache impossível não idolatrar, reverenciar, babar ovo, etc.: desenvolver um esquema de jogo como o do Barça é impossível, até porque não é todo dia que se conta com um Xavi, um Iniesta e um Daniel Alves; não estou nem falando em Messi. Para parar o que mais se viu de parecido com esse Barcelona, que foi o Barcelona de 2006 (embora sabidamente inferior), o Inter do Abelão fez uma quase retranca que teve de contar com um dia inspirado de Ceará, Clemer, F. Eller, W. Monteiro e Iarley. Isso é meio time. E o time inteiro, evidentemente, marcou muito (com a exceção de Pato, talvez).

Uma das maiores bobagens que eu ouvi hoje: “esse time do Barcelona joga naturalmente, sem esforço”. PORRA. Disciplina e qualidade não podem andar juntas? Todos ali, sem exceção, são abnegados, jogadores que cumprem sua função com mais energia que o Arouca, o Durval e o Edu Dracena juntos.

Concordo com o André: La U com certeza representaria a América do Sul muito melhor. Acho que o Corinthians, por exemplo, com aquela dupla de volantes bastante competente, faria um enfrentamento bem mais digno.
Vicente Fonseca disse…
Que bom que vocês sabem que imitar o estilo do Barcelona não é a melhor alternativa, pois é quase impossível chegar nesse nível de perfeição. A transmissão da Globo após o jogo só falava nisso: que o Barça é o futebol brasileiro em essência (pura arrogância essa afirmativa), que isso seria um redescobrimento de nosso futebol, que a seleção de 1982 (claaaaaaro) é um exemplo a ser seguido.

Quando o Casagrande falou que o Barcelona 2011 tem muitas coisas parecidas com o Corinthians de 1982 eu desliguei a TV.

Parecia um time da 3ª série enfrentando um da 8ª.

Chico, resumiste o jogo nesta frase.