Doutor, eu não me engano!

Nada mais simbólico para os corintianos do que comemorar mais um título brasileiro justamente no dia da morte de um dos principais (senão o principal) jogadores de sua história centenária. No 0 a 0 com o Palmeiras, resultado suficiente para alcançar a quinta conquista do Brasileirão em 21 anos, o Corinthians foi o mesmo time de todo o campeonato: não brilhou, mas fez o resultado que devia e saiu com a taça.

O Palmeiras foi bravo, incomodou, esteve perto de vencer, mas não conseguiu. Mesmo que alcançasse a vitória, apenas carimbaria as faixas corintianas, pois o Vasco não conseguiu derrotar o Flamengo. Não foi só o Palmeiras, porém: dos times que entraram na rodada com o único propósito de atrapalhar a vida do arquirrival, só Avaí e Fluminense o conseguiram. Além do Palmeiras, Grêmio, Atlético Mineiro e Santos fracassaram - uns  menos, outros bem mais.

O título é absolutamente merecido. Líder em 27 das 38 rodadas, o Corinthians foi sempre consistente, e nunca deixou as três primeiras posições da tabela. Palmas para os jogadores, mas principalmente para Tite. Num time sem grandes destaques individuais (quem foi o craque corintiano no campeonato, o condutor, como Conca ano passado?), sobrou organização coletiva. Depois de anos difíceis, Adenor Bacchi volta a comemorar um título nacional, algo que não obtinha desde 2001, com a Copa do Brasil pelo Grêmio. Fez um grande trabalho e provou que está, sim, entre os principais técnicos do país.

E nunca é demais lembrar: Andrés Sánchez pode ser um fanfarrão, ser o queridinho de Ricardo Teixeira (o que longe está de ser um elogio), mas é muito competente. Foi ele, aliás, quem bancou a permanência de Tite no começo do ano, após a vexatória eliminação na pré-Libertadores para o Tolima. Não se deixou levar pela pressão da Fiel, apostou no treinador e o manteve. Colheu no final do ano o título brasileiro, plantado pela semente da continuidade lá atrás, em fevereiro.

Inter e Flamengo na Libertadores
As duas últimas vagas à Libertadores 2012 ficaram com o Flamengo, que conseguiu também impedir a conquista vascaína no 1 a 1 do Engenhão, e com o Internacional, que venceu o Grêmio por 1 a 0 num clássico equilibrado e sem grandes destaques individuais. Fábio Rochemback fez a diferença: com uma atuação bisonha, errou todos os passes que pôde e cometeu um pênalti desnecessário em Oscar, puramente  precipitado, típico de alguém que não joga há meses e está sem ritmo de jogo - o que não é o caso.

Apesar da má campanha na Libertadores, o Inter fecha 2011 com saldo positivo: um título gaúcho conquistado em pleno Olímpico, o bi da Recopa e uma vaga na principal competição do continente. D'Alessandro teve boa atuação e fez mais uma vez o gol da vitória, embora, desta vez, Victor não possa ser apontado como culpado, pois foi boa figura do jogo. No Grêmio, Fernando fez excelente partida e foi o melhor jogador do clássico, apesar da derrota de seu time. Leandro Damião e Douglas decepcionaram.

Para o Grêmio, a grande notícia é que 2011 está finalmente acabando. Um ano onde tudo foi feito de forma equivocada, o pior desde a volta do clube à Série A, disparado. Tão ruim que o time até venceu mais Gre-Nais que o rival (3 a 2), mas perdeu justamente os dois decisivos.

Seis lagoas
O Atlético Mineiro tinha a grande chance de vingar-se de todas as humilhações sofridas pelos cruzeirenses nos últimos anos e rebaixar o rival à Segunda Divisão. Em 33 minutos, já perdia por 3 a 0. Acabou 6 a 1. Foi a pior humilhação imposta ao Galo de todas, disparado: pior que o rebaixamento em 2005, pior que os 5 a 0 de 2008 e 2009. O trauma atleticano em clássicos vai piorar ainda mais. No fim das contas, tanto Atlético quanto Cruzeiro não caíram e não jogam a Sul-Americana. Foram os dois da zona do limbo, 15º e 16º colocados. Somando isso ao rebaixamento do América, temos um ano para lá de lamentável no futebol de Minas Gerais. E explicá-lo pela ausência do Mineirão é tapar o sol com a peneira.

O Paraná ri e chora
Muito se dizia em Curitiba: é impossível que o Atlético Paranaense escape da Segunda Divisão e o Coritiba vá à Libertadores. Um dos dois conseguirá, os dois juntos nem pensar. Pois nenhum dos dois conseguiu nada. A goleada do Cruzeiro no primeiro tempo rebaixou com mais de 45 minutos de antecedência Atlético Paranaense e Ceará para a Série B. Restou ao Furacão acabar com o sonho do Coxa de ir à Libertadores. Conseguiu: 1 a 0. As duas torcidas estão tristes, mas com motivos para rir da cara dos arquirrivais.

Série A 2012
Atlético Goianiense, Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Náutico, Palmeiras, Ponte Preta, Portuguesa, Santos, São Paulo, Sport e Vasco

Série B 2012
ABC, América Mineiro, América de Natal, Americana, ASA, Atlético Paranaense, Avaí, Barueri, Boa Esporte, Bragantino, Ceará, CRB, Criciúma, Goiás, Guarani, Ipatinga, Joinville, Paraná, São Caetano e Vitória

Campeões
O Nacional é campeão do Torneio Apertura uruguaio. Com um gol de Recoba, aos 33 do 2º tempo, o Bolso derrotou o Liverpool por 1 a 0 e impediu o título do Danubio, que se desenhava com o empate. Na Argentina, o Boca Juniors confirmou o favoritismo e ganhou com duas rodadas de antecipação: 3 a 0 no Banfield e festa na Bombonera.


Comentários

Lourenço disse…
Detalhe: é mais ou menos a quarta rodada em que todos os resultados que eu não queria aconteceram.
luís felipe disse…
Tite é um bom técnico que perdeu inúmeros trabalhos por ceder demais às pressões. Se perdeu no Inter, p.ex, quando começou a escalar o time do Wianey e do Benfica, e não o dele.

No Corinthians, não cedeu às pressões e foi campeão, colocando até mesmo Alex e Adriano no banco.

Mas as entrevistas dele continuam sendo um porre.
Vicente Fonseca disse…
Curioso é que ele cedia às pressões mesmo muito respaldado. No Inter, Fernando Carvalho o bancou até não poder mais. Agora, no Corinthians, idem.
luís felipe disse…
no mais, lamento muito perder a escolha dos melhores do Brasileiro do Carta na Mesa, a única escolha relevante possível.
Vicente Fonseca disse…
Será quinta-feira, Luís. Corre que dá tempo!
Marcelo disse…
Deveria ser inluído no regulamento um artigo prevendo o rebaixamento automático de um time que tenha a possibilidade de rebaixar o rival e seja goleado.
Merecem sofrer bullying eterno.
Outra coisa triste foi a torcida não poder testemunhar esse fiasco. Que coisa bem ridicula um clássico com torcida única. Que um absurdo desses nunca aconteça por aqui.

No fim, tudo errado com essa rodada. Não rolou o título do Vasco com gol do Alecsandro, nem a classificação do coritiba com gol do Tcheco.
Marcelo disse…
A única coisa boa da rodada foi o Grêmio começando bem 2012 eliminandoo Inter de duas competições.
Lourenço disse…
Favoreceu o Tite o fato de, em São Paulo, não ter uma oposição sistemática por ser "gremista".
luís felipe disse…
reducionismo: a gente vê por aqui.
Vicente Fonseca disse…
Mas muito da antipatia por ele no Beira-Rio tinha o fato de ser gremista como um dos motivos, Luís. Não só isso, mas também isso.
luís felipe disse…
Em 2008, no início, talvez. Mas ele ficou um ano no Inter. Foi campeão da Copa Sul-Americana, depois fez um esquema que deu certo por um tempo, mas depois isolou o ataque do Inter sem remédio. Aí, escalou os times dos comentaristas. Ele errou bastante no Inter. Dizer que foi perseguição é puro reducionismo.