Renovar não renovando

Celso Roth não foi demitido, nem se demitiu: só não quis renovar o contrato, que termina em 31 de dezembro. É a segunda vez que cumpre contrato até o fim com o tricolor: a outra foi em 2000, também passagem curta, de quatro meses, como agora. Sai do Grêmio pelas pressões que sofre de grande parte da torcida. Desta vez, em vez de esperar o momento onde sua permanência é insustentável (ocorreu em 1999, 2008 e 2009, só para ficar com os exemplos gremistas), preferiu sair antes. A direção era simpática à sua permanência, mas seus motivos prevaleceram. Melhor assim: Roth é competente e formador de times, mas é muito melhor começar o ano com um clima positivo do que tenso - desde que o substituto seja também um bom treinador.

Roth não admite que seu trabalho tenha sido insuficiente, por mais que esta tenha sido sua pior passagem no comando tricolor. Veio para salvar o time do rebaixamento e deixá-lo onde desse. Pegou o time no 15º lugar e o deixou em 12º, apenas três posições à frente. Ou seja: fez sua obrigação mínima, mas nada mais que isso. O elenco não é fraco, mas é o pior desde a volta à Série A, o clima em sua chegada era péssima, o aproveitamento era de 33% e o seu foi de 47%. Os números não são ruins, mas o time poderia ter rendido mais. Seu trabalho foi bom até o momento em que o time deixou de ter chances de Libertadores. Após o decepcionante empate com o América Mineiro, só a vitória contra o Flamengo de Ronaldinho veio. A impressão que fica é a última, e ela é péssima. Total desmobilização, embora não reflita todo o seu mediano trabalho.

Certamente um dia ele voltará, tanto para o Grêmio como para o Inter. Se já retornou outras vezes, com saída bem mais traumática, agora, deixando as portas abertas como deixou, não será diferente. Muitos bradavam, citando o histórico de bons começos e maus términos de suas campanhas, que o certo era o Grêmio contratá-lo na situação de emergência em que estava, mas não renovar para o ano que vem. Pois bem, foi o que ocorreu. Vida que segue, para o Grêmio e para Celso Roth.

Desde que a notícia de que ele anunciaria sua saída estourou, citou-se o nome de pelo menos 10 técnicos que poderão treinar o Grêmio ano que vem. Os mais ousados falam em Vanderlei Luxemburgo (não seria tão caro e não exigiria comissão técnica própria), mas a realidade aponta mesmo na direção de Caio Júnior e, correndo por fora, Adílson Batista. O próprio empresário de Caio, Baidek, já anunciou que ele tem interesse em treinar o Grêmio. Não é de perfil disciplinador e sanguíneo, como gostam Odone e Pelaipe, mas é dito que mesmo assim conta com a admiração dos dirigentes no Olímpico. Organiza times e tem bons trabalhos no currículo (Paraná 2006, Palmeiras 2007, Flamengo 2008, Botafogo 2011), onde levou as equipes à Libertadores ou chegou próximo disso. Seria uma interessante alternativa para renovar os ares e iniciar a temporada com um bom planejamento.

Copeira como sempre
A LDU chegou de novo. Depois do título da Libertadores, Recopa e Sul-Americana nos últimos três anos, está na decisão da Copa Sul-Americana novamente. Venceu o Vélez duas vezes: após o 2 a 0 da semana passada, uma novidade: nova vitória, fora de casa, o que não é seu costume. Não se intimidou com o Fortín de Liniers e ganhou por 1 a 0, gol do ótimo Barcos. Vasco e Universidad de Chile decidem o outro finalista hoje à noite. E qualquer favoritismo que se atribua a eles na decisão contra a Liga de Quito será, no mínimo, precipitação. Trata-se do time mais copeiro do continente nos últimos anos, ao lado do Internacional.

Comentários

Igor Natusch disse…
O título do artigo é excelente.

Da minha parte, recebo como boa notícia. Como todo mundo sabe, sou crítico de Celso Roth e de sua capacidade de formar equipes vencedoras. Para mim, iniciar 2012 com ele na casamata era, basicamente, iniciar 2012 pensando em 2013. Vejo muitas críticas a Caio Júnior, e tento não atribuí-las ao puro preconceito contra "treinador carioca", mas os trabalhos recentes dele não justificam (antes refutam) essa desconfiança. O trabalho dele no Botafogo este ano, por ex, foi muito bom - muito melhor do que o de um treinador que pegou o Grêmio em 15º e largou em 12º, que venceu apenas dois dos últimos 10 jogos, que tem aproveitamento abaixo de 50% e ainda tem gente que diz que fez um "ótimo" trabalho (não tu, Vicente) =P

Ou então, pessoas que criticam "apostas" como Jorginho, que fez ótimo trabalho no Palmeiras e confirmou na Portuguesa, mas acham que um timoneiro que assume a barca pela quinta vez é a solução de todos os males.
Lourenço disse…
Eu confesso que quando pedi Celso Roth fora tinha esquecido que Adilson Batista estava no mercado.
Anônimo disse…
Contrata-se o Celso Roth por questões políticas: mandá-lo embora e jogar toda a culpa nele é fácil. E os dirigentes saem do foco das críticas da mídia, e o torcedor é feito de bobo.

Uma conjuntura típica de políticos como o Odone. Que não reforçou o time de Renato Gaúcho por temor à estrela deste, e não por eventuais dificuldades financeiras. Minha vó dizia: só há um rei por trono...
Anônimo disse…
Outra coisa: dizer que o campeonato brasileiro é difícil até faz sentido, é longo e tal, mas a comparar com ligas europeias, mesmo as decadentes, é coisa de editoria de Globo Esporte.
Vicente Fonseca disse…
Será que o Barcelona e o Real Madrid fariam 90 e tantos pontos e mais de 100 gols no Campeonato Brasileiro? Certamente não.

Será que os Campeonatos Português e Francês (ligas europeias decadente) têm times melhores que o Brasileirão? Certamente não.

O Campeonato Brasileiro é sim mais difícil que qualquer um deles. Mas claro, aí concordo contigo, essa dificuldade não pode servir de desculpa para más campanhas. Justamente por ser difícil, é preciso preparar-se muito bem.
Anônimo disse…
Lembre-se de outro fator: esses campeonatos não se nutrem com tantas promessas como o nosso. Daí eles têm uma desculpa, admito, não muito consistente.