Maluquice e indignação

A indignação dos torcedores do Grêmio dá bem a dimensão do tamanho do jogaço desta quarta, um dos melhores do ano, no Engenhão. Afinal, o tricolor gaúcho não quer mais nada com o campeonato, vem de um ano decepcionante e enfrentou um Fluminense que, a rigor, ainda briga com o rival Inter por um lugar na próxima Libertadores. E mesmo com todos esses atenuantes, a derrota de 5 a 4 foi pessimamente recebida.

Desta vez, o coro não é contra Celso Roth ou Paulo Odone, mas principalmente com a arbitragem (sobrou até para o narrador Roby Porto, que de fato é um tanto bairrista - quase chorou quando o Vasco foi rebaixado, em 2008). De fato, o alagoano Francisco Carlos Nascimento prejudicou o Grêmio. No 2º gol, Fred estava levemente impedido; no 4º, o pênalti é bastante discutível; mas no 5º sim é que não há contestação: Brandão sofre falta no começo da jogada que resultou na puxeta de Fred. Reclamou e ainda foi expulso. Os jogadores ameaçaram deixar o campo.

Arbitragem e transmissão à parte, foi um jogaço onde fica até difícil realizar análise mais criteriosa sobre tática ou decisões dos treinadores. O primeiro tempo do Grêmio foi melhor, e a vitória parcial de 2 a 1 foi merecida. O Flu chegou a ameaçar virar após conseguir o empate, mas logo o time de Roth começou a dominar o jogo e perder chances. Brandão ensaiou seu gol com um cabeceio na trave. Marquinhos, de falta, no fim do primeiro tempo, é que fez o 2 a 1 (foi igualzinho no primeiro turno, lembram?).

Mais que tática, Fluminense 5 x 4 Grêmio foi um jogo onde o ânimo e o emocional pesaram. Tanto que não houve grande mexida no Flu na volta para o segundo tempo, a não ser pela postura de encurralar o time gaúcho em sua defesa. Fred empatou de novo, Sobis virou (seu primeiro contra o Grêmio na carreira), mas Brandão conseguiu o empate e, logo a seguir, Adilson fez seu segundo gol como profissional, um chute maravilhoso. Veio o pênalti polêmico, novo empate, e o 5 a 4 a seguir. Tudo no "vamo que vamo".

O resultado é vital para o Fluminense, que ainda está longe do título por causa da vitória do Corinthians, mas abre quatro pontos para a entrada do G-5, praticamente assegurando lugar na Libertadores. Já o Grêmio foi ao menos honrado. Ninguém poderá dizer que perdeu de propósito ou fez pouco caso do jogo. É precipitado dizer que a defesa é um desastre porque levou cinco gols (embora seja fraca) e o ataque tenha melhorado porque marcou quatro. Foi um jogo maluco e aleatório. Como aquele 4 a 4 de 2006, mas com vencedor - ainda que contestável.

Nada de entrega-entrega
Mesmo fraco, o Palmeiras fez de tudo para derrotar o Vasco. Quase conseguiu. Saiu perdendo logo de cara, gol de Dedé (sempre ele), mas se recuperou no segundo tempo. Empatou e poderia ter virado, ou levado o 2 a 1. Os palmeirenses vibraram com o gol de Luan, cantaram em favor do time, mesmo que o resultado ajudasse o Corinthians. Mais do que a rodada de clássicos no final, as posturas do Palmeiras e do Grêmio nesta quarta é que afastam o fantasma do "entrega-entrega" que se abateu sobre os dois últimos campeonatos.

Mas é preciso salientar que o Corinthians se ajudou. Venceu o jogo dificílimo que tinha contra um Ceará desesperado no caldeirão do Presidente Vargas e aproveitou o tropeço vascaíno. A tabela corintiana é mais fácil, mas hoje era o Vasco quem tinha a tarefa mais dócil. E quem sai da 35ª rodada como líder é o Timão. Um passo decisivo para o título.

A sabedoria de Nei
"Não olho mais para a tabela. Prefiro pensar em cada jogo sem me preocupar com colocação", destacou o lateral Nei. Está mais que certo. Sempre que teve a chance de entrar no G-4, o Inter vacilou. É melhor, mesmo, manter-se alheio, embora isso seja praticamente impossível. O 1 a 0 contra o Bahia foi construído cheio de dificuldades: gol cedo de Gilberto (boa atuação, só pior que D'Alessandro), momentos de pressão do adversário e futebol pobre. Com 54 pontos, o Colorado volta para o seu "amado" sétimo lugar, a um pontinho do Botafogo, que encerra o G-5. Volta ao páreo. Mas lembremos: Botafogo e Flamengo, no Rio, são os próximos adversários. Dificílimo, mas, se vencidos, serão ultrapassados pelo Inter. Duas verdadeiras decisões, mais o tinhoso Gre-Nal da última rodada.

Aliás, Flamengo x Figueirense, nesta quinta, é imperdível. Para o Inter, um empate cairia bem.

Tudo embolado lá embaixo. Menos para o Avaí...
O Avaí ainda não está matematicamente rebaixado, mas teve sua morte cerebral decretada. O empate em 0 a 0 com o Cruzeiro deixa os catarinenses a 8 pontos do 16º lugar, que é ocupado pelo próprio time mineiro. De resto, só indefinição. A vitória do Atlético/PR sobre o São Paulo aproxima o Furacão da salvação e afasta o tricolor da Libertadores. O América/MG, que fez 2 a 1 no Botafogo, está a 4 pontinhos do Cruzeiro. Em ascensão, segue vivo. Talvez até mais que o Ceará, que tem um ponto a mais (35 a 34), mas vem em crise profunda e perdeu jogo decisivo em casa para o Corinthians.

Grupo da morte
Com a definição de Ucrânia, Polônia, Espanha e Holanda como cabeças de chave, já se projeta um grupo da morte para a Euro 2012. Ele poderia reunir Espanha, Alemanha, Portugal e França. Ou, então, substituam os alemães pela Itália ou Inglaterra. Ou, quem sabe, espanhóis por holandeses. Seja como for, com dois cabeças de chave fracos (os dois países-sede), podemos ter dois grupos muito fortes e dois grupos muito fracos. Ossos do regulamento.


Comentários

zeh nascimento disse…
"levemente impedido" RISOS
Vicente Fonseca disse…
É, tá certo: impedido é impedido. Mas foi por pouco, é absolvível. Minha crítica ao árbitro é favorecer o Fluminense em todos os lances duvidosos (o da falta sobre o Brandão no quinto gol nem duvidoso foi). Não estou dizendo que foi comprado, mas no mínimo é muito caseiro.
vine disse…
Se o Palmeiras conseguiu segurar o Vasco, segura-rá o Corinthians...
Lourenço disse…
De todos os lances, para mim os que o Grêmio pode reclamar mesmo foram 2: o pênalti não marcado na mão do Marquinho e o pênalti marcado contra o Grêmio. No segundo gol, não tive certeza do impedimento e, no quinto gol, vendo o jogo ontem (não vi replay, vt, câmera mais etc.), não vi irregularidade alguma.

O que me preocupou ontem foi o Grêmio tomar 5 gols (9 nos últimos 3 jogos). Tô começando a desistir do Gilberto Silva...
Adilson não faz gol nunca, mas põe os dois gols dele em um dvd de 1 minuto e será vendido como "melhor que Júlio Baptista".
Lourenço disse…
E só um comentário: que coisa lamentável o Palmeiras não entregar para o Vasco.
Vicente Fonseca disse…
Para mim, o Brandão sofreu falta no lance do quinto gol.

No mais, Lourenço, concordo que o Gilberto Silva deu uma caída. Começou muito bem como zagueiro, protegido, mas no mano-a-mano é de uma lentidão comprometedora.

Adilson não faz gol nunca, mas põe os dois gols dele em um dvd de 1 minuto e será vendido como "melhor que Júlio Baptista".

Ainda estão de pé aqueles 6 milhões do Olympique?
Samir disse…
Pra mim, falta clara no Brandão no quinto gol do Flu.

Um belo jogo, como não temos mais o que fazer, nem me irritei com os erros do juiz, mas gostei do espírito da equipe.

E o que rolou com o Bob Porto?
Vicente Fonseca disse…
Se esganiçava a cada gol do Fluminense como se não houvesse amanhã. Não é novidade ele puxar pro lado dos times do Rio. Quase chorou ao vivo quando o Vasco caiu, em 2008.