Ganhou o meio-campo, ganhou o jogo

Celso Roth é um técnico conhecido por alterar a escalação de seu time em cima da hora, minutos antes dos Gre-Nais, o que normalmente compromete as chances de vitória de seus comandados. No caso do clássico desta tarde, o time gremista que entrou em campo surpreendeu por algumas escolhas (Escudero, Saimon) e saídas (Leandro, Gilberto Silva), mas seguramente foi a equipe dos treinos fechados. E o esquema 4-5-1 (ou 4-2-3-1, como preferirem) proposto pelo comandante tricolor foi a grande explicação para a vitória num clássico onde o Internacional pintava como favorito.

O Grêmio foi melhor que o Inter quase que a tarde toda. A primeira boa chegada, aos 5 minutos, exemplificou o que seria uma constante no jogo: as boas chegadas pela esquerda, onde Júlio César fez boa estreia, tabelando com quem caísse por ali - Marquinhos, Escudero e Douglas. O trio de meias, por sinal, fez boa partida e foi a grande razão para a vitória azul: o Tricolor, com cinco homens móveis e combativos, dominou o meio-campo baixo do Colorado. Marquinhos começa aos poucos a se firmar: além de mais um gol, teve boa atuação.

O primeiro gol, por ironia, saiu pela direita: Mário Fernandes, um dos craques do jogo, recebeu passe perfeito de Douglas e cruzou para o carrinho decisivo de Marquinhos. Ficavam ainda mais escancaradas as razões pelas quais D'Alessandro é titularíssimo: sua ausência tira o dinamismo do meio-campo. O gol de Índio (mais um), aos 26, foi um lance isolado, da única forma em que o Inter podia chegar: bola alçada na área. Mesmo assim, foi uma das únicas vezes em que o time vermelho levou vantagem por cima. Nas restantes, Saimon e Vilson tiraram todas.

O gol do Inter, em vez de trazer fantasmas de um passado recente, não alterou o panorama de domínio gremista. No minuto seguinte ao gol, Saimon sofreu pênalti em chegada de Índio, não marcado pela arbitragem. Houve ainda outras três boas chegadas, sempre pela esquerda. Vale lembrar: o contestado Nei não atuou. Glaydson o substituiu, mas esteve sempre vendido entre dois gremistas, ao menos. Faltou cobertura por parte de Elton e Tinga.

O segundo tempo começou em ritmo mais baixo, mas logo o Grêmio passou a atacar mais. Na melhor chance, Muriel derrubou Mário Fernandes após grande jogada de Escudero. Houve o toque, ainda que o lateral gremista estivesse caindo antes do choque. No Inter, a entrada de Jô no lugar do inoperante Dellatorre no intervalo tinha o intuito de dar a Leandro Damião um companheiro para tabelamentos. Não adiantou. Saimon seguiu anulando o melhor centroavante brasileiro. Jô não fez absolutamente nada.

O segundo gol veio em um pênalti de Índio sobre Escudero, aos 33, muito bem batido por Douglas. Fez justiça ao que foi o jogo, mas surgiu no único momento de leve superioridade colorada na partida. Dos 20 aos 30 minutos da etapa final, o Grêmio parecia sem objetividade e força para buscar o segundo gol, enquanto o time de Dorival Júnior aos poucos jogava mais dentro do campo adversário. Foi o momento que coincidiu com a única boa fase de Oscar na partida. Mesmo assim, não houve chances de gol capazes de ameaçar Victor. Como não haveria após o 2 a 1.

Leandro Damião só conseguiu duas conclusões a tarde toda: um chute de fora da área que Victor defendeu e uma cabeçada, igualmente segura pelo arqueiro gremista. O mérito disso é do sistema defensivo proposto por Roth, que teve em Saimon um gigante. Mário Fernandes foi igualmente perfeito, tanto no apoio como na marcação. No meio, Fernando justificou, finalmente, o bom futebol das seleções de base. Marcou bem e distribuiu o jogo com qualidade. Douglas não foi brilhante, mas decisivo, participando de dois gols. Escudero, por sua vez, foi o melhor nome do segundo tempo. Liso e imparável, deixou Mário Fernandes na cara do gol, sofreu o pênalti e driblou repetidas vezes a marcação. Poderia jogar sempre assim. Na medíocre atuação do Inter, um dos poucos que se salvou foi Kleber, mais pelo aspecto defensivo que pelo ofensivo.

A vitória afasta um pouco o Grêmio da zona perigosa mas, mais que isso, pode significar, enfim, a afirmação do time no Campeonato Brasileiro. Celso Roth parece ter finalmente achado um sistema tático equilibrado e que funciona, com três meias que foram participativos. Nem mesmo André Lima pode se queixar de isolamento. Deu trabalho no primeiro tempo, mas sumiu um tanto no segundo. No caso do Inter, um resultado ruim, uma atuação pior ainda, e a distância do G-4 aumenta. Dorival Júnior terá bastante trabalho pela frente. O título da Recopa, dizíamos após a vitória sobre o Independiente, não poderia ocultar problemas que teimam em não ter solução no Beira-Rio.

Em tempo:
- Arbitragem fraca do fraco Marcelo de Lima Henrique. O Grêmio foi prejudicado, mas saiu com a vitória mesmo assim. Resultado tão merecido que até mesmo Dorival Júnior (boa leitura pós-jogo, aliás) reconheceu em sua coletiva.

- Celso Roth não vencia Gre-Nal desde outubro de 2000. Primeiro triunfo seu no clássico sem bigode.

Campeonato Brasileiro 2011 - 19ª rodada
28/agosto/2011
GRÊMIO 2 x INTERNACIONAL 1
Local: Olímpico, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (RJ)
Público: 26.694
Renda: R$ 502.259,50
Gols: Marquinhos 15 e Índio 26 do 1º; Douglas (pênalti) 33 do 2º
Cartão amarelo: Fábio Rochemback, Mário Fernandes, Dellatorre, Índio, Jô, Elton e Bolívar
GRÊMIO: Victor (6), Mário Fernandes (7), Saimon (7,5), Vilson (6) e Júlio César (6); Fábio Rochemback (6), Fernando (6), Douglas (6,5), Marquinhos (6,5) (Leandro, 29 do 2º - 6) e Escudero (7) (Willian Magrão, 38 do 2º - sem nota) (Edcarlos, 44 do 2º - sem nota); André Lima (5). Técnico: Celso Roth (6,5)
INTERNACIONAL: Muriel (5,5), Glaydson (4,5), Bolívar (4,5), Índio (6) e Kleber (5,5) (Juan, 24 do 2º - 5); Elton (5,5), Tinga (5) (Ilsinho, 36 do 2º - sem nota), Oscar (5) e Andrezinho (5); Dellatorre (4) (Jô, intervalo - 4) e Leandro Damião (4,5). Técnico: Dorival Júnior (4,5)

Comentários

Mário disse…
Como joga o Mário Fernandes!

Quanto ao lance do pênalti do Muriel no Mário, queria saber qual jogador vai deixar a perna reta pra se chocar com um adversário. Seria um suicídio, lógico: se tu prevê o choque (como era óbvio naquela jogada), tu tira o peso da perna com a flexão da mesma pra não te quebrar. E isso é muito diferente de uma queda precoce simulada.

Mas, enfim, não só por isso a arbitragem foi ruim: Índio não tomou o 2o cartão no pênalti que fez e o Bolívar, como de praxe, passou o jogo inteiro dando mijada no árbitro pra tomar um cartão só aos 45 do 2o tempo.
Igor Natusch disse…
Sou um crítico contumaz de Celso Roth, mas a vitória de hoje é toda dele. Durante a semana, eu dizia que o Grêmio deveria jogar para tentar vencer, e temia que Roth jogasse para não perder - pois bem, me enganei. A atuação do trio de armadores foi brilhante, em especial Escudero, um verdadeiro demônio no segundo tempo. Glaydson sofreu o jogo todo, enquanto Oscar, Damião e Andrezinho não viram a cor da bola. Méritos totais para Celso Roth.

Juiz terrível. Os três lances foram pênaltis. Dizer que o Mário se jogou no lance é um erro violento - talvez fosse mais convincente se ele ignorasse que ia ser abalroado pelo Muriel e seguisse correndo, enfiando as travas da chuteira na cara do goleiro colorado...

No mais, acho que foi a justa vitória de quem mais quis ganhar. O Grêmio sabia que a partida valia a vida e ainda mais; o Inter, poucos dias depois da Recopa, entrou em campo sem tesão. Graças a isso, o dono da casa venceu, e com sobras. Não muda tanto assim em termos de tabela e de campanha, mas é um NITRO importantíssimo para o Grêmio nesse momento.
vine disse…
Lauro Quadros, em veio a testemunhos claros de que deveria se aposentar, comentou, no lance do primeiro pênalti, que houve falta no Muriel antes. Se isso realmente aconteceu, exime-se ao menos um dos TRÊS erros cabais do árbitro.
Adorno disse…
Também vi falta no Muriel no primeiro pênalti reclamado. Os outros dois foram, sim.
Vicente Fonseca disse…
Vocês têm razão, houve realmente carga no Muriel no primeiro dos três pênaltis. Dizem ter havido impedimento também, mas não cheguei a olhar com calma. Houve um lance no segundo tempo onde o Marquinhos recebeu em condição legal e o Altemir Haussmann marcou impedimento equivocadamente. O gol do Vilson foi bem anulado.

Esse Marcelo de Lima Henrique é péssimo. Sempre foi.
Chico disse…
Imortal!!!
Chico disse…
Quem manda é o GRÊMIO!!!
Chico disse…
Onde está, ninguém o viu.. é o leandro damião.

Roth anulou damião todo o ano passado, alguém pensou que ele não conseguiria fazer isso de novo?

Dizem que damião não foi ao match, pois quebrou sua bici no caminho para o Monumental.
vine disse…
Chico EM CHAMAS (FONSECA, Vicente; NATUSCH, Igor, ano indisponível).