A cada um, o seu quinhão


ATLÉTICO-GO 1 x 0 GRÊMIO
Cai sob a nação gremista uma tristeza monstruosa. É uma dor espessa, palpável, pesada como a certeza do luto iminente. Mais do que uma derrota, o tropeço diante do Atlético-GO tem o peso do desastre e a qualidade cinzenta do mau agouro. Não ousamos pronunciar a palavra proibida, o adjetivo doloroso que duas vezes já vestimos como um manto pobre para cobrir a vergonha de nossa nudez futebolística. Tentamos espantar o conceito maldito com um sacudir de cabeça, mas ele segue lá, tornando-se mais e mais concreto a cada rodada que passa. Um time que perde do jeito que perdeu para o Ceará, e depois repete a dose diante do Atlético-GO, é um time que se deixa seduzir de forma mórbida pela tentação de, uma vez mais, afundar na segunda divisão.
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Tomados de vergonha e indignação, a vontade é soltar o verbo e xingar todos os responsáveis pela situação deplorável que o Grêmio vive. Mas há que se buscar algum equilíbrio, para que nossa raiva seja mais eficiente, para que possamos apontar na cara de cada um dos responsáveis e dizer, com firmeza: a culpa também é tua. A cada um, o seu quinhão.
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Por menos que eu aprecie a figura de Celso Roth, sou forçado a dizer que a ele cabe a menor parcela nesse bolo embatumado, em cima do qual estão prestes a acender a terceira velinha do fiasco. Seu pecado é o mesmo que sempre o caracterizou: a mentalidade pouco confiante, a opção pela cautela a qualquer custo, mesmo que ela implique na renúncia a qualquer ambição de vencer. O Grêmio foi isso na derrota diante do Atlético-GO: um time que controlou a bola, teve certa supremacia até, mas se omitia de tentar o gol sempre que isso implicasse em risco, mínimo que fosse, de um contra-ataque. Para não perder, abriu mão de ganhar; justamente por isso, foi derrotado. E isso é culpa de Celso Roth.
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A falta de padrão tático, a falta de disposição de vários jogadores, as carências do plantel e a falta de rumo em quase todos os setores... Bom, aí nada cai na conta de Celso Roth. O ano começou com Renato Portaluppi no comando do vestiário e alegres e sucessivos rachões no gramado suplementar do Olímpico. Não se iludam e não se esqueçam: o time vinha mal, muito mal sob comando de Portaluppi. Nâo melhorou nada sobre o breve comando de Julinho Camargo, e segue mal nas mãos de Celso Roth. Sinal de que o problema não é só de treinador, certo - mas também indicativos de que Renato Portaluppi não deixou nenhum legado, nenhuma herança tática sobre a qual os novos treinadores pudessem trabalhar. "É metade do campeonato, e o time não tem padrão de jogo", disse Celso Roth na coletiva de hoje. E nisso ele tem toda a razão.
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O grupo de jogadores não consegue dar conta do recado. Pelo menos três jogadores - Diego Clementino, Lins e Rafael Marques - foram dados como dispensáveis só para voltar ao time logo em seguida. Atletas se arrastam em campo, e os relatos são de um vestiário perdido e carente de lideranças positivas, pessoas que chamem a responsabilidade no momento difícil. Setores como a zaga, a armação e o ataque sofrem com carências crônicas e aparentemente insolúveis. Tudo isso deve cair na conta da direção gremistas, das pessoas que deveriam dar rumo ao clube e que, ao invés disso, parecem incapazes de evitar que o Grêmio fique à deriva.
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Paulo Pelaipe chegou para dar um choque, e ainda não conseguiu. Celso Roth chegou para dar um choque, e nada. Fracassam, até aqui, por um simples motivo: não é de choques que o Grêmio precisa. O que falta ao clube (e tem faltado ao menos desde a saída de Rodrigo Caetano, em 2008) é justamente o contrário: trabalho sério, sistemático e longe dos holofotes. Uma fórmula que, desde 2009, caiu em desuso para os lados do Olímpico. A desgraça que o time tem perpetrado em campo é puro reflexo do clima nos gabinetes, muito mais preocupado com dividendos políticos do que com futebol em si. Haverá jeito de arrumar tanta bagunça a curto prazo? Como acredito em Deus, me ponho a rezar para que haja uma solução - aos gremistas ateus, sinceramente, não sei o que recomendar.
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Comentários

Vicente Fonseca disse…
Na verdade, acho que a falta de chances de gol não representam um medo rothiano de ser feliz. O Grêmio tem o pior ataque do campeonato, menos de 1 gol por jogo. É um problema que vem se arrastando desde antes dele. Lembram do 1 a 0 contra o Atlético/PR? Teve que o zagueiro deles fazer o gol, porque os atacantes não conseguiam.

Ainda acho que não cai, pensando racionalmente. Como torcedor desesperado, já me preparo para o Grêmio x ICASA em maio de 2012.
vine disse…
Tu falou tudo: o problema do Grêmio neste século 21 é a politicagem. Básico como os problemas do nosso país: os líderes se preocupam mais consigo do que com o todo. Eis o resultado.

Mas concordo com o Vicente. O Grêmio não cai. Mais pelo maior esforço de outros times (Avaí, América e Atlético-PR) do que pela tragédia.
Sancho disse…
O clube rachou com o sucesso de Odone. Pelaipe caiu porque ninguém o agüentava mais além do presidente. Foi só os resultados piorarem para que ele fosse mandado embora. E o presidente só não caiu porque isso não é possível. Foi perder a eleição logo em seguida.

Votei no Duda porque achei que ele pudesse freiar a turma que estava a fim de dar o troco. Estava errado. O ano de 2009 foi todo pautado em acabar com tudo que pudesse lembrar Odone no clube. Tivemos sorte em 2010. Nada além.

Odone voltou porque a turma que apoiou Duda foi corretamente rechaçada pelos sócios, e não tinha outro para assumir. E ele está tentando refazer a fórmula que deu certo entre 2006-2008, mas sem Rodrigo Caetano e sem Mano Menezes. E revelando o fato de que Pelaipe e Roth não estavam juntos no clube naquela época. Parece que ele está juntado tudo que estava ERRADO naqueles tempos.

Como torcedores, só nos resta esperar. Como sócio, não vejo ninguém capaz de ser nosso Miranda...
Vicente Fonseca disse…
Para mim, o cara é o Renato Moreira, vice de futebol em 2005/06. Cara novo, pra oxigenar os ares do Olímpico, e mostrou bom trabalho. Mas desde lá não se envolveu mais com a política do clube.
Sancho disse…
Acima, é "relevando", por favor.

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Mas isso é o que eu digo: ninguém quer assumir essa função. Até porque não conseguiria o apoio de ninguém. Teremos que afundar um pouco mais para que isso seja possível. Infelizmente.

Aliás, esse era o sentimento em 2004. Total resignação, muitos acreditando que cair era o melhor que poderia acontecer.