Recuerdos de los años 70

PERU 4 x 1 VENEZUELA
Talvez alguns possam argumentar que o placar final seja meio exagerado, dadas as circunstâncias da partida. Afinal de contas, dois dos gols peruanos saíram no apagar das luzes do segundo tempo, e antes deles a blanquirroja tomava considerável sufoco da Venezuela, que jogava com um atleta a menos desde a expulsão de Rincón. Não estarão de todo errados, na minha visão. Porém, não me parece possível negar que o Peru mostrou-se não só mais time que a Venezuela, mas também uma seleção de futebol bastante digna e respeitável, merecendo com sobras o terceiro lugar nessa Copa América.
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O primeiro gol peruano, assinalado por Chiroque, dá bem a noção do que diferenciou o Peru e a Venezuela na partida de hoje. Até ali, a seleção vinotinto vinha razoavelmente bem - atacava com intensidade, especialmente por meio de boas movimentações de Fedor e Maldonado, e tinha claramente mais iniciativa que seu adversário, ainda que pecasse invariavelmente na conclusão. O gol do Peru foi do modo que poderia ter sido: por meio de um contra-ataque feroz, rápido e incisivo. Chiroque recebeu a bola, avançou e tocou para Guerreiro, dois peruanos contra três defensivos venezuelanos. Ingenuamente, todos os marcadores foram correndo para cima de Guerreiro - ignorando que bastava ao atacante devolver a bola para que Chiroque ficasse completamente livre para marcar. Erro primário, que pôs a nu uma seleção corajosa, com potencial, mas que peca pela afobação e até por certa ingenuidade no momento decisivo.
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De ingênuos, por outro lado, os peruanos não têm nada. Ainda que altamente disciplinados atrás, chegam sempre forte no contragolpe, movidos pela impetuosidade do excelente Guerreiro - um dos bons nomes da Copa América, aliás. Podem não fazer o jogo ofensivo que nós brasileiros costumamos tratar como sinônimo de bons times, mas os peruanos formam uma equipe que conhece a si mesma e que não dá um passo maior que a perna. Espera o jogo e sabe surpreender com a bola no pé - veneno que a vinotinto experimentou especialmente no fim do jogo, tomando dois gols quando tentava reagir e tendo que sorver o fel de uma salobra goleada. Time bem pensado e bem armado por Sergio Markarián, não é à toa que o Peru chegou tão longe.
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Levando em conta o serviço mal feito de favoritos como Argentina, Brasil e até mesmo Chile, dá para dizer sem medo que o terceiro lugar ficou em boas mãos. A Venezuela, como dissemos, ainda precisa dosar sua saudável valentia com um pouco mais de controle, sobre os nervos e sobre o aspecto tático de uma partida de futebol. Para a vinotinto, chegar em quarto lugar já é uma vitória - e pode ser o começo de algo maior, caso os responsáveis pela seleção saibam fazer a leitura correta do desempenho de seus jogadores. De qualquer modo, a posição alcançada pelos dois times demonstra que podemos ter eliminatórias das mais interessantes na América do Sul - sem o Brasil, óbvio, mas talvez até por isso com potencial para ótimas disputas. O Peru, por exemplo, pode não estar entre os favoritos pela vaga, mas tem boas condições de brigar por ela. Foi melhor que muito time badalado nesta Copa América, e conquistou o terceiro lugar com muito merecimento. Será que os anos 70 estão voltando para a blanquirroja? Veremos.
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