Eu não quero vaga na Libertadores

Posso imaginar que várias pessoas ficarão meio chocadas com a frase que intitula esse humilde artigo, representação plena e personalíssima da minha exclusiva opinião pessoal. Mas é sério: eu não quero, de forma alguma, que o Grêmio conquiste vaga para a Libertadores da América 2012. Não ficarei furioso caso isso ocorra, claro, mas abro mão, sem dor na consciência, de disputar a competição máxima do futebol sul-americano no ano que vem. E não pensem que é por simples medo de não conseguir vencê-la: na verdade, eu acredito que a vaga na Liber acaba sendo mais um fardo do que uma conquista, mais um peso do que uma perspectiva positiva para o futuro imediato. Pelo simples e desagradável motivo de que o Grêmio não tem conseguido se preparar adequadamente para disputá-la - e infelizmente não dá sinais de que será capaz de fazer isso a tempo, caso entre na Libertadores já no ano que vem.
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Não é de agora que a Libertadores é um tarefa na qual o Grêmio se engaja sem condições reais de dar conta. O avanço até as fases decisivas tem se dado ou na base da fragilidade alheia (tipo 2009) ou motivado por uma série de jornadas da mais pura superação (2007). Em 2011, como vimos, nem isso se deu. Ao invés de pensar calmamente uma competição continental que é nosso sonho permanente, nos vemos forçados a investir em cima da hora, sob o impacto emocional de classificações sempre difíceis e/ou surpreendentes. Movidos pelo imediatismo, como qualquer torcedor, comemoramos de forma empolgada toda e qualquer vaguinha na Liber, achando que vai dar, mesmo que na marra - embora saibamos de antemão que não, não vai dar coisa nenhuma, que toda superação e toda boa vontade encontrarão seu fim no primeiro adversário realmente qualificado e eficiente. Mas é compreensível, já que planejamento não é uma obrigação para torcedores e sim para dirigentes - os quais, no caso gremista, andam falhando desgraçadamente nesse sentido.
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Encaremos os fatos: o Grêmio 2011 não tem um time titular fechado, que dirá um plantel capaz de encarar o Brasileirão em condições minimamente adequadas. Não é algo que nos proíba de vencer, é claro, mas também não dá para adotar pensamento mágico em tudo nessa vida. Se eu tivesse R$ 1 milhão na mão, eu não apostaria essa grana em um título gremista, e tenho certeza que você também não. Faltam peças em todos os setores, e o primeiro semestre gremista não deixa sequer uma espinha dorsal sobre a qual montar um time de futebol. Jogadores tipo Clementino e Gílson, que nada acrescentam em relação aos moleques saídos da base gremista, incham o elenco e impedem que jogadores novos sejam testados de forma mais adequada. Carlos Alberto veio e se foi sem deixar saudades, enquanto outros nomes dos quais se esperava muito - tipo Borges e Rodolfo - estão em séria dívida com a torcida. Incontestáveis, nesse plantel, são pouquíssimos. E aí, como se lida com essa realidade? Apostando no "desta vez vai dar" ou tentando uma abordagem mais estratégica e realista?
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Acho que chegou o momento em que o Grêmio precisa admitir que, por mais boa vontade, dedicação e entrega que tenhamos, não estamos prontos para disputar uma Libertadores. Queremos estar lá, no topo da escada, mas não dá para simplesmente pular do chão em direção ao andar de cima: vamos ter que ter humildade e entender que será preciso subir os degraus. Talvez seja o momento de fazer uma limpeza no plantel, eliminando todos os excessos e inutilidades, testando vários jogadores das categorias de base, contratando de forma pontual e preparando um time não para o Brasileirão 2011, mas para a Copa do Brasil 2012. Talvez seja positivo disputar a sério a Copa Sul-Americana no ano que vem, competição menosprezada de forma incompreensível por multidões de gremistas, que geralmente não a querem pelo esdrúxulo motivo de que o Inter a ganhou primeiro. Não esqueçam que o Grêmio de 1995, sempre usado como argumento pelos que insistem que planejamento não vale nada, já sabia que disputaria a Libertadores desde a metade de agosto do ano anterior - teve, portanto, quase um semestre inteiro para medir suas carências e pensar o que queria para disputar a competição prioritária do ano seguinte. Já com a vaga na mão.
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O nefasto hábito de confiar mais na mística do que no futebol contaminou nosso planejamento a médio prazo - e só rompendo com isso seremos capazes de voltar a vencer algo mais que um Gauchão aqui e ali. Não é oportunismo dizer que o Grêmio está mal - isso é dito desde os primeiros jogos do Gauchão, no já distante janeiro. Não é oportunismo dizer que o planejamento virou conceito esotérico no Olímpico, sempre invocado e nunca aplicado - pelo menos desde 2009 se faz as coisas com pressa, investindo fortunas em contratações sem critério e disputando competições com times invariavelmente carentes em algumas posições. E não é coitadismo dizer que nos falta cacife para encarar com força uma Libertadores no ano que vem - os exemplos dos últimos anos são eloquentes nesse sentido. Depois de uma década de triste secura (nossa última taça foi, vejam só, a Copa do Brasil de 2001), é óbvia a necessidade de títulos para revigorar o cada vez mais combalido coração gremista. Que tal mirar no alvo mais próximo, ao invés de dar tiros em direção à Lua? Não é vergonha, de forma alguma - o time vermelho, lá da beira do Guaíba, fez isso. E hoje comemora uma década inteira na qual conquistou ao menos uma taça por ano. Queremos a Copa, é claro - mas uma ou duas taças antes disso não seria nada mal.

Comentários

Anônimo disse…
Está na hora de inverter os papeis! O Inter sempre foi tachado de imitão, que sempre correr atrás daquilo tudo que o Grêmio já conseguiu.
Está na hora do Grêmio imitar o planejamento do inter. Copiar aquilo que deu certo no Beira-Rio e aplicar no Olímpico!
Anônimo disse…
Ta aí algo que falta ao Grêmio. PLANEJAMENTO. Não adianta nada ficar nesse imediatismo, tem que ter planejamento e médio e longo prazo. Tem que preparar um time pra ser campeão, sim, mas acima de tudo precisamos que o clube se prepare para isso também.
A verdade é que o Grêmio precisa de dirigentes novos, que entendam de futebol e tenham ideias boas e inovadoras. Chega de olhar pro passado glorioso, tem que se olhar pra frente, projetar um futuro vitorioso, mesmo que se tenha de abrir mão de algo no momento.
Anônimo disse…
Na teoria, é mais fácil ganhar Copa do Brasil e Sul-Americana. No caso do Grêmio, ainda falando de teoria, é possível vencer as competições menores e impossível vencer a Libertadores. Pelo menos é o que a realidade atual mostra.

Em 2007, quando o Grêmio fechou o time para a disputa da Libertadores, eu imaginei que com aquele elenco, teriamos vencido facilmente a Copa do Brasil e a Sul-Americana para então ter mais força para a disputa da Libertadores 2008.

Entretanto, não se pode dizer que o Grêmio de 2010 não tenha entrado focado na competição nacional, e o resultado foi tão ruim quanto o da Libertadores de 2011. O clube não pode pensar 2012 achando que não haverão times mais fortes. Toda competição exige planejamento, se a diretoria gremista enxergar isso, podemos montar um time competitivo para vencer a Libertadores que, convenhamos, não é algo tão impossível assim.
guilherme disse…
também acho que o inter não tem time um time em melhores condições... tiveram sorte, sem sombra de dúvidas, pois ganharam um campeonato na loteria: pênaltis.... não foi por bom futebol ou superioridade

o único problema é que a 'imortalidade' trocou de lado... nós torcedores, estamos sendo taxados de ridículos toda vez que tentamos honrar um time que custa a nos dar alegrias... e quando dá, é momentânea, com alguma vitória suada ou mesmo na raça, exatamente como mencionado nas batalhas das Libertadores anteriores...
Vicente Fonseca disse…
É claro que o título do texto é muito mais simbólico que uma verdade. Disputar a Libertadores sempre é bom. No entanto, o que tem acontecido com o Grêmio é que justamente o modo de encarar essa competição tem sido errado.

Se o Grêmio conseguir se classificar à Libertadores de 2012, tanto melhor. Mas isso deve ser uma consequência natural de um trabalho a longo prazo, pensado, sem contratações imediatistas, sem operação tapa-buracos. O Inter, em 2003, quase se classificou à Libertadores do ano seguinte. Não seria ruim se a tivesse disputado. Ruim mesmo seria abandonar o planejamento para se jogar de cabeça numa briga por um título. É arriscar em demasia fazer isso - para não dizer burrice.
Anônimo disse…
Parabéns pelo Post. Sou colorado e concordo com o que disse para ambos os clubes. Planejamento a médio e curto prazo é muito importante.

Mas também vi comentários acima que só se preocuparam em falar que o Inter não é tão bom. Está na hora de cada time se preocupar com o seu e não em ser somente melhor que o rival.
Prestes disse…
Já passou da hora de o Grêmio conseguir fazer uma boa sul-americana, passando para a fase realmente sul-americana.
Samir disse…
Vale lembrar q o projeto do Inter de ser campeão da Libertadores, começou com a disputa das competições de segunda linha. Duas eliminações pro Boca deram o know-how necessário para chegarem em 2006 e faturarem aquela disputa.
felipesfranke disse…
Desde 2007 o Grêmio (bem como todos os gremistas) está completamente mordido para voltar a ficar na frente do Inter em títulos, e se largou a isso de forma desesperada para voltar a ganhar a Libertadores.
polidori disse…
Se eu lesse somente o título, discordaria...

Eu acho que ter perdido o gauchão não foi tão ruim por ideia semelhante. Acho que ter perdido pressiona o pessoal a trabalhar mais seriamente e parar de enrolação.

Mais fácil acreditar que agora teremos planejamento. Pra pelo menos ter 1 time. Temos goleiro, um ou 2 volantes, 1 ou 2 atacantes, 1 meia, quem sabe 1 lateral...

Se continuar assim, não forma um time. Vamos ver o GREMIO jogando como se não tivesse entrado em campo jogo sim, jogo não. Não inspira aquele sentimento na torcida, que tínhamos, da certeza de ver um GREMIO forte, que sempre ganhava, e quando se fechava atrás, ninguém fazia gol e gostávamos daquela retranca favorável. Que tinha conjunto acima de nomes individuais.

Quanto a esta estória que surgiu de imitar o planejamento... Qualquer time que se respeite precisa de planejamento. Não é requisito deste ou daquele time. Quem não tem, se comporta como time pequeno.
Marcelo disse…
Concordo com os principais argumentos. O problema é que a torcida não aceita que o time não faça contratações. A torcida do Grêmio anda muito chata, e isso faz com que a direção gaste um caminhão de dinheiro com jogadores inúteis (Carlos Alberto, Leandro, Souza, etc). Mas concordo que esse é o caminho, apostar na gurizada da base, alguns bons jogadores que temos, e somar com contratações pontuais de jogadores meia boca (Jeovânio, Pereira, Paulão, jogadores baratos que suam sangue e correm atrás da bola como um prato de comida).
Outro problema, é que a Libertadores rende muito mais dinheiro que a Copa do Brasil. Isso acaba restringindo as possibilidades que reforço e até mesmo manutenção de jogadores no plantel.
Prestes disse…
Se há uma questão em que o Grêmio precisa copiar o Inter a meu ver a primordial é a busca de jogadores jovens e já SEMI-PRONTOS.

Percebam: os últimos jogadores de sucesso no Colorado foram buscados com 18, 19 anos, já jogando entre profissionais. São os casos do Giuliano, do Oscar e do Leandro Demonhão. Neste sentido, a contratação do Viçosa foi uma tentativa parecida. Como o Inter faz agora com o Gilberto do Santa Cruz, que já tem 21 anos.

Agora, o Grêmio tem um problema adicional: não pode depositar tudo nestes garotos. No Inter, por exemplo, Oscar joga mais solto, porque tem Andrezinho e Dalessandro para receberem as cobranças.
Vicente Fonseca disse…
Realmente, não pode se jogar tudo nas costas dos guris. Mas o Grêmio tem jogadores experientes de qualidade no time titular, que podem facilitar esta transição: Douglas, Fábio Rochemback, André Lima, Gabriel. Já é bem melhor que começar do zero.

Por isso que eu acho o Anderson um cara fora de série: jogou demais num time fraquíssimo, sem companhia. O Lucas ainda teve o Sandro Goiano e o Jeovânio como "adaptadores".
André Kruse disse…
Eu não discordo da essência do texto. Esse raciocinio de que pra quem está se afogando, é mais recomendando deixar a correnteza te levar e sair mais na frente do que tentar nadar contra a maré.

Eu só não acho que deixar de jogar a Libertadores seja a solução. E também não parece que a Copa seja algo tao inatingivel assim (chegamos muito perto em 2007 e 2009).

Eu não sou contrário a organização e planejeamento, mas me incomoda esse mito de que as taças são justas recompensas para clubes estruturados (Flamengo de 2009 e Fluminense de 2010 que o digam)

E não sei se o Inter serve de paradigma. Pode até servir, mas essa de uma "década de uma taça por ano" é peça de "propaganda" criada olhando de trás pra frente. Não me parece que a recopa e a sula eram as metas do inter em 2007 e 2008 (bem como os Gauchoes nos outros anos). Da mesma forma, a Libertadores de 2010 não foi conquistado com grande convicacção e planejamento (Troca de técnico, contratações/janela)

Acho que a solução do Vicente me parece mais adequada. Não deixar que a Libertadores altere tanto o planejamento/orçamento. Me parece que foi isso que o Grêmio tentou fazer esse ano, não tendo feito nenhuma grande extravagância em nome da Libertadores.
Vicente Fonseca disse…
Concordo plenamente contigo, André.
Joel disse…
Lembro-me muito bem da entrevista do saudoso Mano Menezes após nossa derrota na Libertadores de 2007. Nela, entre outras coisas, Mano disse que o GRÊMIO queimou etapas. Qua esta final deveria ter acontecido em 2008, 2009 ou quem sabe até mesmo 2010, pois aí sim, já teríamos uma estrutura melhor para alcançar o título. Suas palavras foram tão marcantes que, passados 4 anos ainda as tenho vivas em minha memória. Mano estava repleto de razão. Acontece que o fator batalha dos aflitos nos deixou sedentos por dar um troco ao rival pelo ocorrido em 2006 e fomos levando as classificações no grito, literalmente. No Olímpico, o único time que resistiu foi o Boca Juniors, isso contando o fato de terem vindo pra cá com 3x0 na conta e um grupo vencedor e experiente. Todos os demais sucumbiram aqui. Times muito melhores que o nosso tecnicamente, mas que literalmente enlouqueceram em meio à loucura das arquibancadas.

Posso ser utópico, mas prefiro unir o útil ao agradável. Planejamento + reformulação + títulos.

O triste, é que não temos nenhum dos 3, e sem o 1° fator, o 3° torna-se mais difícil.
Lourenço disse…
Eu discordo mais que concordo com o texto. 2007 e 2009 o Grêmio chegou perto. Quando não disputou a Libertadores, o Grêmio disputou a Copa do Brasil, e teve resultados piores ainda. Ou seja, a idéia de "vamos ganhar uma Copa do Brasil primeiro" não é tão simples.
Em 2007, o Grêmio ganhou o Campeonato Gaúcho, sendo provavelmente o ano em que mais apostamos na Libertadores - ou seja, o argumento de que a "obsessão" prejudica também não é inteiramente verdade.
Também discordo com a idéia de que "o Grêmio não está pronto" para vencê-la. Claro que com time e estrutura é mais fácil, mas este Grêmio chegou em 2° e 3° em 2007 e 2009, outros times piores já venceram.
Enfim, acho que o problema do Grêmio se manifesta em não ganhar títulos importantes em geral. Quem tem que ver por que não ganha uma Libertadores é o Santos, o Cruzeiro. Quem tem que ver por que não ganha um Brasileirão é o Inter. O Grêmio tem que procurar se preparar para ganhar títulos e ponto.
Zezinho disse…
Sou até mais radical que o Igor nesse ponto, até porque os pontos que tangem ao que ocorre dentro de campo já foram explanados aqui.

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Assim como penso que o Brasil não será um país plenamente desenvolvido enquanto não julgar e condenar todos os crimes cometidos durante a Ditadura Militar, penso que o Grêmio não voltará a ser plenamente grande em quando não exorcizar alguns de seus fantasmas.

Não dá pra conceber a permanência de José Alberto 'Não vendemos craques' Guerreiro/ISL no Conselho Deliberativo ou no Conselho Consultivo do Grêmio. Isso só para citar o mais conhecidos dos energúmenos.

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Ontem, quando o Samir citou no Carta na Mesa a conversa que tivemos a respeito do clube, coloquei 2008 como o ano da parada da reconstrução tricolor pois a partir dali praticamente se parou de tocar no assunto que mais assombra o Grêmio: a ISL.

Claro que parte do caso, agora, só cabe à Justiça julgar - o Lourenço pode falar mais, eu não bulhufas sobre a parte burocrática -, mas o próprio Grêmio, que poderia fazer um julgamento interno, não mais o fez.

Além disso, no referido ano, o então Presidente Paulo Odone - o qual eu não transformo em Geni, ao contrário de muitos colegas - errou feio ao lançar a pré-candidatura de Antônio Britto à presidência do Grêmio.

Aquilo rachou ainda mais o clube - que já encontrara algumas fissuras quando Paulo Pelaipe caiu e André Krieger, da oposição, assumiu em seu lugar. O resultado foi uma eleição turbulenta justamente quando o time era o 1º colocado do Brasileiro, algo que há 12 anos não via - e o final acabou sendo melancólico para nós, tanto dentro quanto fora da cancha.

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No final de 2004, a torcida gremista conseguiu fazer, em parte, suas "Diretas Já", ao decidir, ainda que somente no Segundo Turno, quem seria seu presidente.

No entanto, ainda convivemos com a Cláusula de Barreira, instrumento esse usado pelo grupo que ficou de fora do Conselho nas últimas eleições, ironicamente.

Se é bom o fato de vermos parte do Conselho renovado por "populares" de boa índole e boas ideias - caso do nosso companheiro André Kruse -, ainda temos senhores feudais poderosos e numerosos que dão as cartas no Clube como se fossem donos dele.

E, atualmente, o movimento mais "popular" do Grêmio é o Grêmio do Prata, cujas ideias parecem ser saídas de algum grupo pré-adolescente, tamanha a inconsistência e até xenofobia em suas ideias.

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Eu lembro muito bem da virada que o Grêmio deu em 2005, após anos de comando por gente da pior espécie, mas depois dessa pequena revolução o Clube novamente se tornou refém dos seus fantasmas não-exorcizados quando se deveria.
Igor Natusch disse…
Fecho muito com as ideias do Zezinho. É gritante a necessidade de "arejar" o Grêmio, abrir a porta, deixar a corrente de ar tirar o cheiro rançoso e bolorento que tomou conta dos gabinetes.

Certo que times mais fracos ou igualmente despreparados já venceram competições importantes em outras ocasiões, mas raramente isso ocorre em um clube TOTALMENTE desorganizado como o Grêmio. O Inter do ano passado, na boa, não serve como comparação - OK, demitiu treinador no meio do caminho, falhou em vários pontos, mas estamos falando de um time que há anos fecha balancetes sem prejuízo, que desenvolveu um bom mercado para seus jogadores, que trabalhou muito para montar um plantel consistente. É mais ou menos o que acontece ainda hoje com o São Paulo, que se estruturou de tal maneira que consegue compensar oscilações e ganhar competições mesmo sem brilhantismo. O Grêmio, convenhamos, ainda está bem longe de tal patamar.

Claro que o Flamengo de 2009 não foi um exemplo de trabalho sério e abnegado, mas acho que é a típica exceção que confirma a validade da regra. Insisto: times desorganizados ganham títulos aqui e ali, mas a maior parte do quinhão fica para os clubes estruturados e que trabalham de forma estratégica em busca de um objetivo. O Flamengo ganhou o Brasil, mas lembremos do fiasco que cometeu na Libertadores logo em seguida.

Vejo o não jogar Libertadores como uma espécie de terapia de choque. Uma chance de reajustar o foco e definir o que queremos, e nesse ponto eu fecho com o Lourenço: queremos a Copa, mas acima de tudo queremos ALGUMA Copa. Talvez o Vicente Martins já esteja de certo modo andando na direção que defendo como correta, ainda que eu tenha dúvidas sobre quanto vai nos custar o Cazalbér por ex. Mas acho, sinceramente, que começar o Brasileirão pensando em vaga na Libertadores seria a fórmula do fracasso. Precisamos, como bem apontou o Zezinho, retomar o rumo que se perdeu lá por 2008, que apontava um crescimento gradual do plantel e um fôlego crescente do ponto de vista administrativo. Lembro que eu comentava com o Vicente, lá por 2009, que levantar uma taça era pura questão de tempo, que estávamos andando nessa direção. Não tenho mais essa impressão. Gostaria de recuperá-la.
Vicente Fonseca disse…
Acho que TOTALMENTE desorganizado é um exagero. O Grêmio está bem melhor que há alguns anos, por exemplo. Mas carece mesmo de um rumo mais concreto, de um planejamento menos imeadista e mais projetado.
Igor Natusch disse…
Não temam a ÊNFASE, meus amigos! =PPP
Zezinho disse…
Entendo a HIPÉRBOLE utilizada pelo Natusch. E para ajudar o argumento do Professor, temos alguns dados interessantes que mostram que, apesar de tudo, o Grêmio tem evoluído como clube de futebol:

- Desde 2004 o clube não atrasa um único mês de salário;

- Desde 2009 o Grêmio começa a pré-temporada com um time completo, sem precisa reconstrui-lo do zero ao final do ano anterior;

- Desde 2008, praticamente metade do plantel principal é formado por pratas-da-casa

Falta, sobretudo, uma ideia de futebol. Fato que pudemos comprovar na Gestão Duda, em que tivemos 4 treinadores efetivos e 1 treinador interino de estilos e escolas bem diferentes entre si.

Se compararmos com o Inter, talvez a diferença resida no fato de que o Inter passou por uma revolução mais profunda (relatório Medina, Inter 2000, renúncia de Jarbas Lima) e soube se reconstruir sem atingir o fundo do poço (quase rebaixamento em 2002), algo que o Grêmio escapou em 2003, mas atingiu no ano seguinte - além, é claro, da I$L