Copeirismo à carioca

Tem algo errado com o futebol brasileiro. Afinal, depois de testemunhar o Grêmio obtendo uma das vitórias mais esdrúxulas da temporada, os incautos que ousaram permanecer diante da televisão tiveram a chance de assistir outras duas partidas que, cada uma a seu modo, desafiam as leis da física futebolística. De um lado, o Fluminense incorporando o espírito de Cláudio Duarte em uma exuberante retranca estilo pega-ratão; do outro, um Vasco da Gama que jogou com reservas, tomou sufoco o jogo todo e mesmo assim saiu vencedor. E com um placar dos mais dilatados. Ou seja, dois triunfantes clubes cariocas, jogando o mais belo e eficiente futebol de resultados. Vá entender.
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No Serra Dourada, o Fluminense ganhou fora de casa do Atlético Goianiense, mesmo jogando muito pouco - e apostando, durante boa parte da segunda etapa, em uma retranca impressionante, daquelas que faria orgulho no Ta-Guá ou no Aymoré. Quando o Pó-de-Arroz não estava com a bola, nenhum de seus jogadores permanecia no campo ofensivo - e como o Fluminense quase nunca dominava o esférico, resulta daí que o segundo tempo quase todo foi o Dragão tentando cuspir fogo enquanto os cariocas jogavam-lhe baldes e baldes de água fria goela abaixo. O placar final de 1 a 0, gol marcado por Leandro Eusébio em uma chocha porém efetiva jogada de bola ensaiada, acabou passando a ponta dos dedos no rosto de Dona Justiça, ainda que sem conseguir pegá-la de jeito. Vitória que soma importantes pontos no carnê do tricolor carioca, que segue aguardando a chegada de Abel Braga sob o olhar de inveja de milhões de colorados mundo afora.
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Já o Vasco da Gama vai surpreendendo os que previam fogo e enxofre para o alvinegro. No encerramento da rodada, conquistou um mui digno 3 a 0 sobre o America-MG. Detalhe: jogando com reservas. Não se pense, porém, que o jogo foi um passeio: na verdade, o Coelho teve a iniciativa, como sói ocorrer em se tratando de um leporídeo varão, mas falhou miseravelmente em todas as 45.897 chances que teve de marcar. O cruzmaltino, por sua vez, adotou uma postura de recatada prudência, esperando que os espaços surgissem para fustigar sem piedade. Foi assim que fez o dilatado placar: no erro do adversário, segurando atrás do jeito que dava e contando com a velocidade de seus jogadores de frente. Não deu show, longe disso aliás. Mas ganhou com folgas. E com os reservas, vale repetir. Quem achava que o Vasco ia ser um dos sacos de pancada do Brasileirão, precisa rever seus conceitos com certa urgência, se é que ainda não o fez. Porque trata-se de um time que, mais do que jogar bem, está ganhando sempre.

Comentários

Vicente Fonseca disse…
Para mim, o Vasco é candidato a uma vaga na Libertadores. Se não pela Copa do Brasil, pelo Brasileirão. Bom time e belo trabalho do Ricardo Gomes.