Renato Portaluppi quer ir embora

É exatamente isso aí que vocês leram no título. Sei que para alguns pode ser uma coisa meio chocante, mas peço que leiam a frase, releiam se for necessário, e aceitem o que é uma mera representação da mais pura realidade. É fato, amigos/as: Renato Portaluppi está contando os minutos para ir-se embora do Estádio Olímpico. Um sentimento que se manifestou de forma clara na fiasquenta atuação contra o Oriente Petrolero, mas que não é recente e já vem atrapalhando faz algum tempo o desempenho do treinador e do Grêmio como um todo. Mais do que querer partir, Renato está abrindo caminho para o próprio adeus - é cada vez menos um treinador, e resvala com despudor crescente no limo esverdeado da autossabotagem.
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O Grêmio contava com algumas ausências na partida contra o Oriente Petrolero, é verdade. A mais sensível e inesperada era a ausência de Douglas, supostamente vitimado por uma desagradável gripe. Algumas opções para lidar com a ausência foram ventiladas - entre elas, a escalação de Vinicius Pacheco e até de Escudero mais recuado, como um meia-atacante. A insólita opção, porém, foi deslocar Gabriel da lateral para o meio-campo, escalando Mário Fernandes - ele próprio uma improvisação institucionalizada - no lado direito da defesa. Ao invés de uma reposição simples, optou-se por mexer em mais de um setor do time, deslocando jogadores e mudando até mesmo o formato tático do Grêmio, que passou a jogar quase como um 4-4-2 clássico, em duas linhas. O resultado, bem, a gente teve oportunidade de ver.
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Quando teve a chance de corrigir o erro da escalação, a partir da infeliz lesão de Bruno Collaço, Renato deixou o cavalo passar encilhado. Ao invés de colocar Vinicius Pacheco em campo - longe de ser solução, mas uma peça adequada para suprir a carência do meio-campo - ou mesmo Neuton, que já jogou na esquerda, o treinador gremista investiu em Fernando, que é bom jogador, mas não anda jogando bem. A partir daí, com o recuo de Lúcio para a lateral e o estabelecimento de três volantes, o deslocado e confuso Gabriel passou a ser o único responsável direto por armar jogadas no Grêmio. Ou seja, ao invés de receber apoio para cumprir função que não é natural para si, o atleta foi abandonado sozinho à própria sorte. O resultado, de novo, a gente viu.
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Circunstâncias do jogo, eventos específicos de uma jornada trágica na Bolívia? Não creio. Lembremos, por exemplo, da insistência maníaca em escalar Gilson como lateral esquerdo, jogador que nunca demonstrou qualidade suficiente para fardar a tricolor. Lembremos de uma segunda insistência de Renato, escalando Carlos Alberto mesmo que as suas atuações inconsistentes resultassem em seguidas substituições ainda no primeiro tempo dos jogos. Lembremos dos problemas da zaga, das dificuldades táticas, da inconsistência ofensiva. Lembremos da última vez que o Grêmio enfrentou um adversário qualificado, dentro ou fora de casa, e o venceu com imposição, com consistência, sem margem para contestações. Lembremos, em especial, da última boa sequência de jogos por parte do Grêmio, da última vez que o tricolor deu pinta de ser confiável como time de futebol. Sim, é bem isso que o leitor/a lembrou: a última vez que chegamos perto de algo assim foi no ano passado. Lembremos agora das últimas declarações de Renato Portaluppi, das repetidas vezes em que declarou estar saudoso do Rio de Janeiro, da família e da praia, de como o treinador gremista gosta de frisar a todo instante que não tem paz em Porto Alegre, que precisa viver praticamente trancado no hotel...
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Aceitemos os fatos. Mais do que faltar convicção pessoal para sua permanência, Renato nunca demonstrou sequer vontade verdadeira de permanecer no Rio Grande do Sul. É gremista, ama o clube, seria incapaz de dizer não em um momento difícil da instituição. Mas vive seus dias com a cabeça em outro lugar. A insistência em ir jogar futevôlei nas areias cariocas, que gerou recente polêmica no Olímpico, é prova incontestável de sua atual disposição de espírito. E a falta de empolgação com Porto Alegre tem sido nefasta para o treinador Renato Portaluppi, cada vez mais confuso, cada vez menos disposto a encontrar soluções, cada vez mais inclinado a lavar as mãos e atribuir os problemas a outras pessoas.
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Autossabotagem, frisemos, não é algo necessariamente consciente, pelo contrário. Não acredito que Renato esteja cometendo falhas de forma intencional, prejudicando o Grêmio para livrar-se de um contrato que não deseja mais cumprir. Mas me parece evidente que Renato Portaluppi não faz questão alguma de seguir treinador do Grêmio - o que tem reflexos evidentes no seu trabalho. Sem foco no futebol, fica difícil encontrar soluções, buscar alternativas, montar um time que tenha não apenas disposição, mas condições de vencer. O Grêmio que era, ao final de 2010, uma equipe muitíssimo promissora, tornou-se um arremedo com sérias dificuldades técnicas e táticas, um time que não encaixa nunca, que arrasta-se temporada adentro sem ganhar consistência e sem dar esperanças para a torcida. E não me venham com devoção: boa parte da culpa disso é sim do treinador.
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Sinceramente? Acho que é momento de começarmos a cogitar dar a Renato Portaluppi o que ele deseja. Libertá-lo. Permitir que ele volte para o Rio de Janeiro, para a companhia das pessoas e das coisas que o fazem verdadeiramente feliz. Não digo isso com amargura ou como provocação: penso não apenas no bem de um ídolo gremista, mas também no do próprio Grêmio. Porque Renato Gaúcho encaminha-se para afundar o Grêmio. Quanto mais cedo o primeiro semestre estiver encerrado para o Grêmio, mais cedo Renato pode pleitear uma rescisão. E, se pensarmos em Libertadores, não são necessários mais do que dois jogos.
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Obrigado por tudo, Renato Portaluppi. Obrigado por recuperar o Grêmio como equipe capaz de propor o jogo de forma positiva, por dar ao Grêmio uma perspectiva de romper com as correntes coperas y peleadoras e buscar vencer como um time de futebol deve vencer - com raça sim, mas especialmente com bom futebol. Obrigado pelas ótimas atuações do final de 2010, as melhores e mais convictas que vi do Grêmio em vários anos. Obrigado, de coração, por tudo isso. Se for a sua vontade continuar fazendo essas coisas, todos ficaremos felizes. Mas, se o que tu realmente queres é voltar para casa, então vá de uma vez, antes de colocar todas essas belas conquistas a perder.
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Foto: R7

Comentários

Vicente Fonseca disse…
Não acredito que Renato esteja cometendo falhas de forma intencional, prejudicando o Grêmio para livrar-se de um contrato que não deseja mais cumprir.

Eu ia discordar totalmente do tom do texto até ler esta frase. Porque tudo isso é realmente verdade, e Renato seguramente não está botando tudo a perder de forma consciente, pois não é burro.

Aliás, Igor, fizeste boa leitura tática dessa mexida do Collaço pelo Fernando.
Zezinho disse…
Lembremos que o Renato forçar sua saída do Rio Grande para fora dos pagos não vêm de agora.

Ainda nos tempos de jogador do Grêmio não foram poucas as vezes que Renato forçou sua saída, seja por declarações polêmicas, confusões extra-campo, renovações complicadas de contrato ou expulsões infantis em campo - especialmente em Grenais.

A própria ZH após o título mundial trazia uma matéria em tom de despedida em relação a Renato.

É o jogador mais importante do clube e essas lembranças jamais serão esquecidas.

Seu período no Grêmio, como treinador, talvez tenha mostrado seu ápice, em 2010, quanto às suas qualificações. Se não teve as glórias do Flu entre 2007 e 2008, mostrou uma equipe mais consistente do que a do tricolor carioca.

É uma escolha natural do sujeito. Renato não nasceu para ficar preso à uma padaria de Bento, ao Lami, ao Tia Carmen ou ao Tatata Pimentel no Café TV Com. Renato nasceu para tomar chopp na Barra, sair com as mais belas atrizes da Globo, dar entrevista ao Jornal Hoje e à Angélica. É lá que ele poderá participar do Metropolitano, Estadual, Rio-SP, Brasileiro, Continental e Mundial de futevôlei.

Assim como vários gaúchos desbravaram SC, PR, MS, MT, GO, RO, entre outros estados, e não mais voltaram, Renato, há tempos, é do RJ. Uma cidade linda, que já abrigou gaúchos como Getúlio e Brizola.

Que seja feliz lá e deixe a casamata para alguém como foco exclusivamente no tricolor.

PS.: Como bem já escrevera o Natusch, essa coisa do Renato dizer que 'não posso sair do hotel' é de uma falácia extrema. Porto Alegre é provinciana demais para tratar seus ídolos como se eles fossem um ex-Beatle
Milton Ribeiro disse…
Roth is free and easy, boys.