Um Flu travado

Bem controlado pelos uruguaios, Conca pouco jogou
O Fluminense ainda não conseguiu assumir o protagonismo de ser o campeão brasileiro nesta Libertadores. Em duas partidas até agora, ambas no Rio, seus adversários conseguiram segurá-lo, de um modo ou de outro. Ontem, contra o Nacional, o time de Muricy Ramalho repetiu a ansiedade da estreia, diante do Argentinos Juniors (2 a 2). Por sorte, os uruguaios não tiveram a precisão no arremate que tiveram os hermanos; por azar, a defesa do Bolso foi imensamente competente.

Houve uma pressão em grande parte do segundo tempo, mas, passando a régua, vê-se que o resultado de 0 a 0 foi correto: embora o Flu tenha arrematado dezenas de vezes ao gol de Burián, poucas realmente levaram perigo. O Nacional, ao contrário, chegou poucas vezes, mas sempre com relevância. Fossem os uruguaios um pouco mais ousados e poderiam ter saído com a vitória do Engenhão - ou com a derrota, diz o mandamento do cobertor curto. Pois bastava um contra-ataque bem articulado para a defesa carioca, tão segura em 2010, fazer água, como tem feito diversas vezes neste começo de 2011.

É claro que pesaram os desfalques, que não foram poucos nem fáceis de resolver: Émerson, Deco, Fred. Some-se isso a um Conca inoperante, carecendo de ritmo após a cirurgia, e viu-se um Fluminense com poucas alternativas de criação e quase nenhuma imaginação. Muricy se esgoelava pedindo toque de bola a seu time na beira do campo, mas o máximo que se via eram escapadas de Mariano, o melhor carioca da noite, pela direita. Muitas vezes, porém, ele parava na eficiente marcação de Nuñez. Foi um dos duelos do jogo.

Eis então o retrato da partida: um Fluminense ansioso e sem poder de criação contra um Nacional muito fechado e bem organizado defensivamente. Embora Carrasco tenha anunciado o time com três atacantes, foi na prática um 4-5-1: Viudez e Vigneri voltavam tanto para marcar que eram quase meias, dando o primeiro combate aos laterais do Flu. Carlinhos sucumbiu, mas Mariano conseguia evoluir. Capenga por um dos lados do campo (o canhoto), o time de Muricy apelava para a ligação direta ou para arremates de longe. Rafael Moura lutou muito contra a zaga, mas sofreu com a falta de abastecimento.

O Fluminense tropeça pela segunda vez. Devido a duas bizarrices do regulamento, vive situação angustiante. A primeira é o fato de ter jogado duas em casa e nenhuma fora, uma distorção criada gratuitamente pela Conmebol. Para se classificar num grupo complicado como este, precisará vencer como visitante. Conseguir, por baixo, mais 8 pontos nos 4 jogos que restam, sendo que 3 são fora do Rio. A segunda é o absurdo novo critério de escolha dos grupos, que permite que uma chave reúna equipes inexpressivas e outra tenha América/MEX, Nacional e Argentinos Juniors contra o campeão brasileiro.

Para o Nacional, muito bom resultado. Tem só 1 pontinho menos que o Flu, mas ainda tem 3 jogos a fazer em Montevidéu. O ponto de hoje é daqueles que conta no fim da fase de grupos como um diferencial. Confirmando o fator local como costumeiramente faz, o time uruguaio tem tudo para lutar com força por uma das vagas às oitavas de final.

Em tempo:
- Público fraquíssimo no Engenhão. Ao menos, quem foi apoiou bastante - exceto pelas vaias ao indolente Carlinhos.

- Facundo Piriz, volante tentado pela Dupla Gre-Nal no começo do ano, mostrou bom poder de marcação.

Taça Libertadores da América 2011 - Fase de Grupos - Grupo 3 - 2ª rodada
23/fevereiro/2011
FLUMINENSE 0 x NACIONAL 0
Local: Engenhão, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR)
Público: 10.017
Renda: R$ 429.020,00
Cartão amarelo: Conca, Rafael Moura, Leandro Euzébio, Fornaroli, Cabrera, Piriz e García
FLUMINENSE: Ricardo Berna (6), Gum (5,5), Leandro Euzébio (5) e Digão (5,5) (Araújo, 28 do 2º - 5,5); Mariano (6,5), Valencia (5,5) (Tartá, 15 do 2º - 5), Diguinho (4,5), Marquinho (5) (Souza, 36 do 2º - 5,5), Conca (4,5) e Carlinhos (4,5); Rafael Moura (5,5). Técnico: Muricy Ramalho (5)
NACIONAL: Burián (6), Gabriel Marques (5,5), Lembo (5,5), Coates (6) e Nuñez (6); Pereyra (6), Piriz (6) e Cabrera (5,5) (Calzada, 11 do 2º - 6); Viudez (5), Fornaroli (6) (García, 16 do 2º - 5,5) e Vigneri (4,5). Técnico: Juan Ramón Carrasco (6)

Foto: Wallace Teixeira.

Comentários

Lique disse…
um público de 10 mil em jogo de libertadores contra uma equipe tricampea mundial, merece um resultado desses. fosse no olimpico, MÍNIMO aceitável era trinta mil, especialmente precisando de resultado.
Lourenço disse…
Fluminense claramente se credenciando para passar em 16° e fuder um brasileiro que se matou para conseguir 18 pontos.
Sancho disse…
Os ingressos estão fora da realidade. O torcedor responde ficando em casa.

Acho que os cartolas não perceberam que a equação é: a maior renda possível com o estádio lotado. Mas para saber qual é essa renda tem que lotar o estádio primeiro!
Lique disse…
ah, tem razao nisso tambem, sancho. o preço das coisas no brasil tem crescido geometricamente sem sentido algum. há uma classe média com um certo poder aquisitivo que adora ostentar e fomenta esse tipo de coisa.
Vicente Fonseca disse…
Público ridículo, mas o preço mínimo era 60 mangos.

Lourenço, tenho exatamente a mesma impressão! Cruzeiro x Flu nas oitavas.
É claro que pesaram os desfalques, que não foram poucos nem fáceis de resolver: Émerson, Deco, Fred. Some-se isso a um Conca inoperante, carecendo de ritmo após a cirurgia, e viu-se um Fluminense com poucas alternativas de criação e quase nenhuma imaginação. Muricy se esgoelava pedindo toque de bola a seu time na beira do campo, mas o máximo que se via eram escapadas de Mariano, o melhor carioca da noite, pela direita. Muitas vezes, porém, ele parava na eficiente marcação de Nuñez. Foi um dos duelos do jogo.

Grifem esse trecho pois isso foi o jogo. Nem mais, nem menos.

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Do jogo discordo apenas da diferenciação entre apoio e as vaias a Carlinhos. Ali tinha apoio ao time, era um claro pedido para que o técnico tirasse o Soneca, ou que ele acordasse.
A saber: as vaias para ele foram pelo que não fez nesse jogo. Elas não são frequentes o que descaracterizaria uma perseguição.

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Quanto à divisão dos grupos e da ordem da tabela, se for feita de forma meio caótica, eu gosto. Se for arrumada para isso, desgosto.
Todavia reconheço que é desequilibrado. Mas pelo menos garante o que falarmos.
Vicente Fonseca disse…
Valeu, Victor.

Bom tu explicar essa do Carlinhos. E até estranhei as vaias, pois não me lembro de ele ter sido perseguido no ano passado. Acho que para quem está no estádio esses movimentos da torcida ficam muito mais claros do que quem vê pela TV.


Uma coisa que pouca gente lembra é que nos anos 80 e 90, com o regulamento antigo, havia times que jogavam as primeiras três partidas em casa e outros fora de casa. Distorção bem maior, que só não causava grandes estragos porque 3 dos 4 de cada grupo passavam de fase.