Rothina

Não deixa de ser impressionante a sensação de deja-vu provocada pelo inesperado empate do Internacional com o Emelec, 1 a 1 na estreia colorada na Libertadores. Não apenas pelo gol no fim do jogo, que remete a alguns dos resultados mais desagradáveis do passado recente colorado. Mas especialmente pela tendência de repetir os mesmos erros - de escalação, de trocas equivocadas, de má leitura de jogo e de incapacidade de entender os próprios erros. Todas remetendo ao mesmo personagem: Celso Roth, um dos mais obcecados praticantes da auto-sabotagem que o futebol gaúcho já viu.
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Desde os primeiros movimentos, era difícil entender qual era para ser, no fim das contas, o desenho do meio-campo colorado. Uma espécie de losango de cinco vértices e três volantes, com Wilson Mathias fincado atrás, Guinazu correndo para lá e para cá sem um próposito muito claro e Zé Roberto como uma espécie de meia-atacante-que-vira-atacante. Sejamos justos, até que funcionou durante boa parte do jogo - especialmente pela fragilidade do Emelec, que não conseguiu organizar nenhuma jogada minimamente coerente durante o jogo inteiro. A maior efetividade foi na primeira metade do segundo tempo, quando o Inter de fato mandou no jogo e amassou o time equatoriano contra o próprio campo. Mas é estranho contratar Bolatti para substituir Sandro e preferir deixar Wilson Mathias como âncora do meio, e é estranho colocar três atletas de cacoete defensivo em uma formatação de meio que, aparentemente, precisa de movimentação intensa para funcionar. Mesmo que Tinga talvez não pudesse atuar (há quem diga que podia), não parece que essa escalação fosse a mais adequada.
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De qualquer modo, dentro das circunstâncias, a coisa funcionou. Tanto que o Inter pressionou muito no segundo tempo, chegando a fazer gol em belo cabeceio do estreante e eficientíssimo Bolatti. Mas aí o Internacional repetiu-se no que tem feito de pior ultimamente. Celso Roth trocou muito mal, de novo - tirou Bolatti, que era a melhor peça da meia-cancha colorada, e colocou o zagueiro Rodrigo, retrancando o time. Desgastado, o time gaúcho parou em campo - e o Emelec começou a chegar, de forma pouco qualificada, mas sempre com perigo. A equipe que dominava o jogo até minutos antes, acabou a partida acuada atrás, espanando a bola como dava - e sofreu o castigo no final, em uma falta boba de Guinazu que resultou em um chuveirinho dos mais manjados e um gol de nuca de Gimenez. Placar acidental, sim, dentro do que foi o jogo - mas nem um pouco surpreendente, dentro do que o Inter tem se permitido ser.
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Como dito acima, a estreia não foi exatamente ruim. Além de Bolatti, tivemos destaques em Leandro Damião (titular indiscutível, está jogando demais) e D'Alessandro, interessadíssimo e sempre pedindo a bola. Zé Roberto também atuou bem, e o próprio Guinazu, apesar de improdutivo às vezes, foi sempre voluntarioso. Não é, de modo algum, caso para terra arrasada. Mas não dá para concordar com Roberto Siegmann quando ele diz que foi uma boa estreia do Internacional. Foi um começo frustrante, no qual o Inter deixou escapar uma vitória justa pelos dedos e demonstrou sinais dos mesmos defeitos que minaram outros tantos objetivos colorados nos últimos anos. Nada que seja impossível remediar, pelo contrário. Mas a casamata, infelizmente, não parece estar enxergando as dificuldades do time dentro de campo. O grupo colorado é relativamente fácil, de forma que o Inter tem tempo para aparar as arestas e mudar de postura. Basta querer. A questão é: quer?
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Em tempo: péssima jornada do árbitro Néstor Pitana. Disciplinarmente, foi simplesmente horrível, deixando de marcar algumas centenas de faltas - entre elas, um pênalti para o Internacional. OK, deixar o jogo correr é sempre muito bom, mas também não se deve resvalar para a permissividade.
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Taça Libertadores da América 2011
Fase de Grupos
EMELEC 1 X 1 INTERNACIONAL
Local: Estádio George Capwell, Guayaquil (EQU)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Auxiliares: Gustavo Esquivel e Ariel Bustos (ARG)
Público e renda: não divulgados
Gols: Bolatti (INT), aos 34mins, e Gimenez (EME), aos 49mins do segundo tempo
Cartões amarelos: Zé Roberto, D'Alessandro e Bolatti (INT); Méndez, Fleitas e Quiñónez (EME).
EMELEC: Javier Klimowicz (6); Marcelo Fleitas (5,5) (Carlos Quiñónez, 5), Gabriel Achilier (4,5) e Oscar Baguí (5); Angel Mena (5,5), Pedro Quiñónez (4,5) (Polo Wila, 5), David Quiroz (5,5) (Leandro Torres, 6), Édison Méndez (5,5) e Fernando Gimenez (6,5); Cristian Menéndez (4) e Eial Strahman (4,5). Técnico: Omar Asad (5,5).
INTERNACIONAL: Lauro (4,5); Nei (5), Índio (5), Sorondo (5,5) e Kleber (5,5); Wilson Matias (5,5), Bolatti (7) (Rodrigo Baldasso, 5), Guiñazu (5,5) e D'Alessandro (6,5); Zé Roberto (6) (Cavenaghi, 5) e Leandro Damião (6,5). Técnico: Celso Roth (4)
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Foto: Dolores Ochoa/AP

Comentários

samir disse…
Morri no título.

O que chama atenção é q qse toda imprensa diz q foi um bom jogo do time colorado. Discordo deles e concordo contigo, professor. Nas vezes em q chegou, foi pela qualidade dos jogadores ofensivos. Damião do nada fez leite, o mesmo valendo para Dále. A formatação com 3 volantes sendo q, nenhum deles, tv o Bolatti, tem uma chegada fácil na frente, é de uma estupidez.

Rothina, morri!
Vicente Fonseca disse…
Não vi o jogo, mas sim o do Cruzeiro (post à tarde). Somente os dois minutos finais, com o gol do Emelec.

Afinal de contas, o Inter jogou bem ou não? Por enquanto, creio que 50% das pessoas gostaram da atuação do time, e 50% acharam ruim.
samir disse…
Só corrigindo, concordo contigo, Igor. Mas tb vale o adjetivo de professor!!
Vicente Fonseca disse…
Samir, esse texto foi do Igor...
Vicente Fonseca disse…
Ae! Comentários simultâneos. hehe
Mário disse…
A arbitragem sul-americana vem se perdendo ao querer se notabilizar mais pelas faltas que não marcam do que pelas que marcam. Desejam mostrar que veem o jogo mais do que de fato veem. Isso em todos os jogos. Lamentável.
Mário disse…
Mais comentários:

- Zé Roberto contratado para ser o Taison versão 2011. Não tem metade da velocidade necessária pra isso.

- Quando um juiz vai perceber que o Guiñazu passa o jogo inteiro batendo e se atirando pra cavar faltas?
Zezinho disse…
Bah, 'Rothina' e 'Mostrillo'. Se o Grêmio vencer o Oriente Petrolero hoje, já prevejo um 'Tricolor Patrolero'.

Eu discordo um pouco das críticas demasiadas a Roth. Talvez porque eu gosto do Juarez - é sério -, mas as críticas a ele, como disse o André Kruse no Twitter, são muito desproporcionais em relação a outros técnicos - Muricy e Mano, por exemplo.

Não diria que o Inter chamou o Emelec pra cima. Era natural que os equatorianos viessem pra cima do Inter, passando a alçar bolas na área. O que faltou foi maior perícia na hora de matar o jogo por parte do Colorado.

Vejo muitas pessoas passando a mão por cima do erro infantil do Guiñazu. O time adversário está perdendo. O que ele mais quer? Falta próxima à área. E o que o Guiñazu fez, ao invés de cercar? Falta.

Quem teve Patrício no time sabe do que estou falando. Ô cara que adorava fazer aquelas faltinhas do lado da área depois dos 40 minutos, tchê!

O Damião, diversas vezes, cabeceou em direção ao chão. EU, SIMPLESMENTE, ODEIO CENTROAVANTE QUE CABECEIA PRO CHÃO E QUEM DIZ QUE ISSO É O CORRETO.

Jardel foi o maior cabeceador que vi e ele sempre cabeceava em direção ao gol, procurando o ângulo ou desviando do goleiro, de forma veloz, e não perdendo velocidade ao cabeceá-la em direção ao chão
Lourenço disse…
Eu acho que a falta foi do Cavenaghi, não?