O fim do Inter B

Não foi apenas Enderson Moreira que bailou. Com ele, irão alguns jogadores e o próprio projeto, tão exaltado no Beira-Rio a cada título de categorias inferiores que era conquistado: o Inter B não existe mais.

É mais uma prova da importância dos estaduais, ou ao menos de seu poder destrutivo em caso de derrota. Se o Gauchão é tão insignificante a ponto de um clube disputá-lo com seu elenco sub-23, porque dissolver todo um projeto de anos quando o fracasso nesta competição menor ocorre?

A resposta é que, finalmente, o Internacional (e muitíssimos de nós) se deu conta de que é um absurdo manter gastos de R$ 800 mil mensais para manter dezenas de jogadores jovens e encostados, sendo que dois ou três apenas terão chances no time principal. No ano passado, o Inter foi até bem com seu time B no começo do Gauchão, e apenas Walter e Leandro Damião foram realmente aproveitados - e como reservas na maior parte da temporada.

O Inter repetiu o erro de 2007, e isso sim já falávamos há tempos. Colocou um time que não é o seu verdadeiro para iniciar a temporada, não deu ritmo de jogo aos intocáveis titulares, foi mal no Gauchão. Demite-se um técnico que fez ótimo trabalho na base, quando este talvez pudesse ser aproveitado de outra forma no clube daqui para a frente. Enquanto isso, um dos mentores da ideia de criar uma redoma para o time principal é preservado. Não é mera coincidência que sua conduta seja a mesma sempre, tanto nos tempos de Grêmio como, inclusive, no Brasileirão do ano passado.

Roberto Siegmann errou ao adotar a estratégia proposta por Roth, fadada ao fracasso. Mas acerta ao mudar radicalmente o rumo deste planejamento desprovido de sentido, tanto ao desinchar o monstrengo de 70 atletas que virou o elenco colorado como, e principalmente, ao enfatizar que o grupo principal retoma os trabalhos no Gauchão na Taça Farroupilha. Não faz sentido que reservas como Glaydson, Andrezinho ou Rodrigo não joguem nem no Gauchão, nem na Libertadores. Resta saber se a medida ainda está a tempo de evitar o provável bicampeonato gremista. E, Libertadores à parte, isto importa - ou então não veríamos esta pequena revolução que está sendo promovida desde o fim da tarde de sábado no Beira-Rio.

Comentários

André Kruse disse…
O erro em 2011 parece ter sido bem pontual. Não ter reforçado o time nessa quarta de final. Quem não jogou contra o Emelec quarta, poderia ter traquilamente jogado contra o cruzeiro.

Antes disso o Inter B cumpriu o seu papel. Venceu os jogos no Beira-Rio, ganhou alguns pontos fora de casa e colocou o time principal em condições de se classificar.
Vicente Fonseca disse…
Concordo que não foi apenas pelo Inter B que o time foi desclassificado. Isto, aliás, depõe ainda mais contra Celso Roth.

Porém, me parece errado preservar os titulares em demasia. Esta bolha em que eles ficam não ajuda em nada, e lhes tira ritmo de competição.

Em 2010, o time B atuou nas 3 primeiras rodadas e os titulares assumiram a seguir. Achei já arriscado, mas foi muito mais razoável. Não houve um abandono da competição, como agora.
Vicente Fonseca disse…
Tinha ouvido em R$ 800 mil, mas agora leio na ZH que o custo do Inter B seria de R$ 1,7 MILHÃO. Mais que a folha do Grêmio vice brasileiro de 2008...
Lourenço disse…
A comparação com 2010 fica prejudica por causa do Mundial, férias e tal. O que não tem nenhum sentido é essa volta do time B, com o Ênderson, quando o time A já está em atividade e jogou.
Vicente Fonseca disse…
Aí é que eu me pergunto: e aqueles dias de férias em junho de 2010, durante a Copa? Não poderiam os titulares ter voltado antes às atividades?

Essa volta do B não tem muito sentido mesmo.
Gustavo Levin disse…
Em meio ao fim do Inter B e aos quase dois milhões que serão poupados para outras coisas, saiu a notícia de que o Inter finalmente rescindiu com Edu, Ilan, Danny e outros que estavam só encostados. Essa atitude do Siegmann eu parabenizo, pena que tenha sido meio tarde...
Vicente Fonseca disse…
Bem lembrado, Gustavo. Faltou o BUSTOS, que inacreditavelmente não será dispensado, mas sim posto em disponibilidade para empréstimo. Dinheiro posto fora.
Lourenço disse…
Sobre as férias na Copa, isso já foi levantado há algum tempo e ninguém explicou bem por que se deu 30 dias agora de férias.

Volto a questionar o que tinha dito em outro post: quão verdadeira é essa economia pelo simples fim do Inter B. Ele é conseqüência - e não causa - de um inchaço na folha, ele foi inventado justamente porque o clube tem muitos jogadores parados. Com o fim do Inter B, eles continuam lá, recebendo sem jogar ou, em outros casos, vão embora com uma rescisão que geralmente é onerosa ao clube.
Vicente Fonseca disse…
Acredito que em muitas rescisões há um acordo do atleta com o clube. A multa paga pode ser menor que a manutenção do jogador no elenco pelo prazo todo do contrato.
Sancho disse…
Sobre um possível racha nos direitos de transmissão, a verdade é que a venda pode terminar não sendo em um único bloco, separando as equipes em diferentes emissoras. Ora, para Grêmio, Inter e Atlético Mineiro (o Cruzeiro está com Corinthians e Flamengo e fica de fora do argumento) a exposição na TV aberta, pela Globo, é ridícula. Passam nunca, e quando passam, é regionalizado. O risco de retaliação pela Globo existe, mas vale lembrar que quando esses jogam com exclusividade pela Copa do Brasil e Libertadores, a emissora puxa jogos do Paulista, Carioca ou Brasileiro para o meio-de-semana e ninguém vê esses times fora das praças de praxe. Nesse sentido, para esses clubes irem para a Record por mais dinheiro faz todo o sentido do mundo!

Se houver um racha, e o direito de transmissão de alguns clubes competir a Globo e outros a Record, a composição ficaria mais ou menos assim:

Globo (8) – Botafogo, Flamengo, Vasco, Corinthians, Santos, Palmeiras, Coritiba e Cruzeiro.
Record (7) – Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Fluminense, Grêmio, Internacional e São Paulo.

Estão na série A, mas não são do C13: Avaí, Figueirense, Atlético-GO, América e Ceará. Esses, eu não faço idéia do que aconteceria com eles. Provavelmente, esses negociariam com ambas as emissoras para permitir que jogos seus sejam transmitidos por qualquer uma delas, dependendo do adversário.

Do C13, estão na Série B: Guarani, Goiás, Portuguesa, Sport e Vitória. Tampouco faço idéia de como isso os afetaria.

P.S.: Não sou contrário a um racha nesses termos, não…
Prestes disse…
Acho q os números são importantes neste caso. R$ 800 mil mensais, dá R$ 9,6 mi por ano. Algo recuperável com a venda de um ou dois jovens.

Se custa R$ 1,7 mi por mês aí já fica caro mesmo.
Prestes disse…
Em geral, o melhor para um clube hj é poder ter esse inchaço da folha e não perder jogadores. Quem tem lastro, tem que fazer isso. Não sei se o Inter tem tanto lastro, e é sempre bom dar uma enxugada. Mas em geral a política de contratos longos é a melhor.

É melhor ter jogadores encostados, mas poder fazer vendas boas e ter continuidade no grupo de jogadores temporada após temporada.
Joel disse…
Supomos que fossem "apenas" os 800 mil mensais o custo do inter b, essa folha é maior do que qualquer time do gauchão (com excessão do Grêmio), portanto a atitude da direção colorada, embora me entristeça, foi correta. Infelizmente o Aod Cunha foi parar no beira rio e tá começando a fazer uma limpa...gostaria de ver mais um ou dois anos de ufanismo pelos lados ribeirinhos para ver onde as finanças iriam parar.
Samir disse…
O Inter B não é uma furada, mas a forma como foi executada, sim, certamente destruiu o projeto.

1) Não pode ter uma folha salarial de 1,7 milhão. Pelos motivos já elencados pelos amigos

2) Não pode ter, em seu plantel, jogadores que, comprovadamente não deram em nada para o time. Guto tem 24 anos, não vai nos surpreender a essa altura, bem como o uso de alguns veteranos que, originariamente não pertenciam ao Inter B

3) Não pode esse time tomar o lugar dos profissionais. Se o "Inter a" está aí, treinando, tem q ser posto. O time B serve para torneios menores ou jogos de menor importância, não decisões, mesmo q contra times fracos, como é o caso do Cruzeiro.


Agora, ter um time B, como jogadores jovens, disputando torneios da FGF q não seja o gauchão,para dar ritmo, dar cancha, vale. E como o Prestes falou, se o valor gasto fosse 800 mil, q é alto ainda, mas vamos lá, facilmente seria pago com Walter, e ainda tem o Damião, q vai por mais. Então, creio q a ideia de um time B não é ruim, mas sim a forma como o Inter acabou usando.


E o Sigmann começa a, de fato, mandar no vestiário colorado. E parece ser um cara com perfil pra isso.
Vicente Fonseca disse…
Tudo bem, Prestes, concordo na teoria. Mas as vendas do Inter raramente são de jogadores do Inter B. O Giuliano chegou a passar por lá? Acho que não...

Há jogadores que nunca sobem, estão há anos lá, e ficam longe da vitrine. Qual o sentido de manter esse Guto que o Samir falou se o cara nunca tem chances? Bustos e Bolaños, que já não são guris e dificilmente darão algum retorno que compense o investimento, tiveram seus contratos renovados recentemente.

A ideia é boa, mas precisava de um enxugamento sim, a meu ver.
Igor Natusch disse…
O problema é que o planejamento colorado ou não existe, ou muda sem constrangimento ao sabor do vento. Não existe planejamento em recolocar o time B em campo, depois do time A ter voltado de férias e já estar atuando, e não existe planejamento em colocar o time titular para jogar apenas às vésperas da estreia na competição prioritária do ano, não interessa o quanto tentem nos convencer do contrário. Não houve planejamento em escalar time misto durante o Brasileirão inteiro, e não houve planejamento na hora de contratar jogadores sem conseguir inscrevê-los para o Mundial de Clubes. O tal "planejamento" colorado tem sido, basicamente, a direção de futebol cedendo aos caprichos de Celso Roth - que deve ser uma pessoa de incrível magnetismo pessoal no dia a dia, já que consegue convencer dirigentes de todos os costados a dar carta branca para suas equivocadas iniciativas.

Demitir Enderson Moreira é uma iniciativa que, vista de fora, faz pouco sentido. Deixo em aberto a possibilidade de que algum comportamento nos bastidores justifique a demissão. Por si só, é simplesmente uma desculpa esfarrapada para o fracasso de todo um projeto. E a proteção do grupo titular tem que ser revista imediatamente, de fato. Poucas vezes na história se viu grupo de jogadores tão mimado quanto o atual plantel principal do Inter. Mesmo com a desgastante viagem ao Equador, alguns que não entraram em campo contra o Emelec poderiam ter engrossado o time B na disputa com o Cruzeiro. O resultado do brilhante "planejamento": um time estelar, um plantel de rara qualidade, mas que raramente joga. E os fracassos se empilham, enquanto Celso Roth acumula salários.
Vicente Fonseca disse…
Nada a acrescentar em relação ao teu comentário, Igor.
samir disse…
Eu só não acredito que isso tudo saia da cabeça do Roth, Igor. Pq, realmente, fica mto difícil de entender como alguém pode ceder aos "encantos" do Roth conhecendo minimamente sua história. O Sigmann mostrou q pensa diferente, agora, o Carvalho acho q pensa da mesma forma q o Roth.
Vicente Fonseca disse…
É que o Roth consegue isso em quase todos os clubes porque passa, Samir. Olha o Grêmio do início de 2009.
Igor Natusch disse…
Não diria que o Roth planeja tudo de forma estrategicamente maquiavélica, pensando em ser demitido mais adiante e acumular multas rescisórias (embora essa fosse uma boa explicação, quem sabe). Mas me parece claro que a vontade dele tem mais peso do que deveria, para dizer o mínimo. Não há dúvida de que, abraçada pelos dirigentes ou não, a ideia de proteger os titulares como se fossem vestais intocáveis é da cachola de Roth - que, em iniciativa inédita na história do futebol, comemorou a desclassificação do próprio clube na maior competição do calendário brasileiro. Essa preservação exagerada do time é que motivou o Inter B, que de ideia útil passou a ser um obeso mórbido no plantel colorado.

E Samir, o encanto de Roth é inexplicável mesmo, embora pareça ser real. Até o bigode ele tirou, e continua seduzindo incautos dirigentes Brasil afora...
Vicente Fonseca disse…
Sobre o encanto, basta lembrar que ele suportou às derrotas para Juventude e Atlético/GO em 2008 e Mazembe em 2010...
Fernanda Prestes disse…
Há um mau uso do Inter B. Deveria ter sido utilizado até o time A começar a temporada. Aí o time A deveria ser reforçado por jogadores que se destacaram, como o Ricardo Goulart.
Prestes disse…
Aí em cima fui eu, logado como minha irmã.
Vicente Fonseca disse…
Sim, Prestes. Imaginei que este seria o uso, inclusive.