Irregularidade e derrota

Rodolfo no entrevero da pequena área em Barranquilla
O resultado de 2 a 1 para o Atlético Júnior fica de bom tamanho pelo que foi o jogo, se considerarmos o que aconteceu no primeiro tempo, quando os colombianos dominaram a partida e poderiam ter feito mais gols do que fizeram. No entanto, o curioso é que a vitória foi definida mesmo na etapa final, quando o Grêmio é quem dominou. Por isso, fica a sensação de que foi algo incorreto o placar, quando é preciso considerar o que houve nos 45 minutos iniciais antes que tratemos o resultado de Barranquilla desta forma.

O Grêmio começou muito bem. Era o time de Renato de 2010 e o que vinha aparecendo nesses últimos jogos de 2011. Marcação adiantada, toque de bola de alta velocidade, grande qualidade e um ótimo poder de definição. O gol de Borges surgiu de um magnífico passe infiltrado de Douglas. O gol cedo era perfeito, pois esfriava um estádio lotado e empolgado com o confronto contra o favorito da chave.

No entanto, o Grêmio aos poucos parou e cedeu espaço para o crescimento do Júnior, notadamente o habilidoso articulador Gio Hernández. O camisa 10 colombiano tinha sempre um espaço imenso para criar perigo. Era marcado à distância, raramente dispunha de menos de um raio de cinco metros para tramar as jogadas do time. E todas, simplesmente, passavam por ele. Hernández buscava o jogo junto aos zagueiros, aparecia em todos os lados do campo. Lançava, passava, armava, chutava. Inteligente, descobriu rapidamente que as costas de Gílson eram o espaço perfeito para buscar a virada. Cansou de lançar companheiros entre o lateral e o seguro zagueiro Rodolfo. Marcou o gol de empate por ali, inclusive.

O Atlético Júnior é um bom time, um dos que podem trabalho fora brasileiros e argentinos. Bem armado e organizado, pode ir longe na Libertadores. No entanto, quando se tranquilizou na etapa final, o Grêmio se impôs com naturalidade de quem tem superioridade técnica e controlou o jogo. A etapa inicial gremista também explica o domínio colombiano das ações. Carlos Alberto errava tudo e ainda se mostrava nervoso. Adilson, perdido, não marcava ninguém e errava passes - ou os dava sempre curtos, na fogueira. Gabriel apareceu pouco no apoio, no que André Lima sucumbiu, sem chance de participar do jogo aéreo. O Grêmio não tinha nenhuma retenção, não trocava passes, não marcava o adversário à frente da linha da bola. Em suma, depois que fez seu gol, abdicou da partida.

O segundo tempo foi bem melhor devido a uma mexida de Renato aos 35 minutos da etapa inicial. Bruno Collaço teve boa atuação na meia, fazendo as vezes de Lúcio, e ainda auxiliou Gílson na marcação. Nunca mais o Júnior teve a avenida pelo lado canhoto da zaga gaúcha depois de sua entrada. Melhor ainda que sua entrada foi a saída de Carlos Alberto, que vinha mal no jogo e podia ter sido expulso. No entanto, apesar do domínio territorial, foram poucas as conclusões. A de Rodolfo, de 70 metros de distância, seria um gol antológico. Simbolizava o bom momento gremista no jogo. A seguir, gol do Júnior. Lance isolado, de pura desatenção. Em Libertadores, é fatal.

Não foi uma má atuação de todo, mas o Grêmio podia e precisava ter mostrado mais. Não custa lembrar que, em dois jogos fora de casa (Liverpool e Júnior), não houve vitórias ainda. No entanto, o resultado não é alarmante a ponto de pedir revisões dentro do trabalho que está sendo feito. O time tem espaço para seguir crescendo. O resultado, porém, obriga a uma vitória sobre o Júnior em Porto Alegre, para evitar uma perda de liderança da chave, o que facilitaria as chances de um jogo complicado logo nas oitavas de final.

Em tempo:
- Má arbitragem do experiente mexicano Marco Rodríguez, árbitro de Copa do Mundo. Caseiro, foi conivente com a cera do Júnior e ainda sonegou um pênalti para o Grêmio, influindo diretamente no resultado da partida. 90 segundos de acréscimo na etapa complementar também foi muito pouco. Foi confuso nos critérios de marcação de falta e distribuição de cartões.

- A sina colombiana do Grêmio segue. Em nove jogos no país por competições internacionais, foi a sétima derrota, contra uma vitória e um empate. Em 17 partidas no total contra times da Colômbia, são sete derrotas, seis vitórias e quatro empates.

Taça Libertadores da América 2011 - Fase de Grupos - Grupo 2 - 2ª rodada
24/fevereiro/2011
ATLÉTICO JÚNIOR 2 x GRÊMIO 1
Local: Metropolitano, Barranquilla (COL)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Público: 20.348
Gols: Borges 4 e Hernández 27 do 1º; Viáfara 28 do 2º
Cartão amarelo: Cortés, García, Adilson, Carlos Alberto e André Lima
ATLÉTICO JÚNIOR: Rodríguez (5), Gómez (6), Almeida (5,5), Macías (5) e Fawcett (5,5); García (5,5), Viáfara (6,5), Hernández (7,5) e Cortés (5) (Cárdenas, 15 do 2º - 6) (Barrona, 41 do 2º - sem nota); Bacca (4,5) e Páez (5,5) (Valencia, 33 do 2º - sem nota). Técnico: Oscar Quintabani (6)
GRÊMIO: Victor (6), Gabriel (5), Paulão (6), Rodolfo (6) e Gílson (4,5) (Vinícius Pacheco, 42 do 2º - sem nota); Fábio Rochemback (6), Adilson (4,5), Carlos Alberto (3,5) (Bruno Collaço, 35 do 1º - 6) e Douglas (5,5); Borges (6,5) e André Lima (4,5) (Júnior Viçosa, 32 do 2º - sem nota). Técnico: Renato Portaluppi (6)

Foto: EFE.

Comentários

Lique disse…
os melhores do gremio pra mim foram roca, paulao e rodolfo. e nao achei o adilson tao ruim assim.

o jogo foi agradavel, franco, gramado bom. o junior tem um toque de bola interessante, botou o gremio no terror total no primeiro tempo. mas foi bonito de ver a resistencia do gremio, se nao tivesse vazado aquele golzinho (nao fosse a intervençao do roca, victor espalmaria fácil o tiro).

em plena libertadores, ter que lançar mao de viçosa e collaço (que foi bem) pra mudar o jogo, é duro.

enfim, nao dá pra reclamar muito do destino do jogo. foi o que foi e foi justo, a meu ver. qualquer um poderia ter ganho.
Igor Natusch disse…
Também achei muito dura a nota para o Adilson. No segundo tempo, ele praticamente não errou. Certamente jogou bem mais que Gilson e André Lima. Eu daria ao menos um ponto percentual a mais.

A derrota fez sentido, dentro do jogo. A primeira etapa gremista foi simplesmente lastimável. Fica claro que o sonho agradável de um 4-4-2 com dois meias ofensivos e dois centroavantes não consegue atender as necessidades de uma Libertadores - e que um jogador como Gílson não consegue atender as necessidades do Grêmio, independente da competição. A titularidade de Bruno Collaço ainda estar em dúvida, na atual conjuntura, é algo que me surpreende. E do mesmo modo que acertou ao tirar ainda no primeiro tempo o Carlos Alberto (jogando nada e à beira da expulsão), Renato deveria ter colocado Vinicius Pacheco em campo ao menos uns 15mins antes do que fez.

Espero que seja uma daquelas derrotas que FORJAM CARÁTER. Não foi uma vergonha nem um fiasco, mas deu para perder um pouco o rebolado. Que seja para o bem.

Colômbia é o GOIÁS da América do Sul.
Fim.
Vicente Fonseca disse…
Amigos, repito que achei o Adilson muito perdido no primeiro tempo, errando demais. No segundo corrigiu alguns defeitos, mas não vi tão boa atuação dele assim. Uma pena, pois acho que deveria ser titular.

Não vejo grandes problemas nesta derrota. Só esperava melhor atuação. Algo como os minutos iniciais do jogo, que era o que o time vem fazendo há alguns meses sob o comando do Renato.
Vicente Fonseca disse…
http://blogs.lancenet.com.br/maurobeting/2011/02/25/copa-uniao-1987-e-clube-dos-13-a-linha-do-tempo-e-do-dinheiro/
Joel disse…
Excelente parecer sobre o jogo, lendo aqui o cara nem precisa ver o video tape. O Adilson parecia estar com medo de dar o passe forte demais e assim largava a bola enforcada (inclusive no primeiro gol, no passe para Douglas). Colombianos sempre apresentam um futebol ousado, e se der espaços eles aproveitam mesmo. Minha projeção antes do início da Libertadores eram 15 pontos para nós (contava derrota nesse confronto). Derrota nunca é bom se for a favor, mas essa de ontem está longe de ser chamada de vergonhosa.
Vicente Fonseca disse…
Obrigado pelos elogios, Joel!

Colombianos são um trauma pro Grêmio mesmo, 1995 fora. Talvez porque apresentem justamente esse futebol de velocidade, já que o estilo gaúcho privilegia times mais pesados. Qualquer semelhança com equipes goianas não devem ser coincidência...
Prestes disse…
O Grêmio ontem foi q nem o Inter do segundo semestre de 2010, ou os times mexicanos: não chuta em gol, quer entrar com bola e tudo.
Vicente Fonseca disse…
Não tinha pensado por esse lado, Prestes. Acho que tu tem boa dose de razão. Durante o jogo, senti muito mais a falta de um último passe qualificado do que propriamente demora ou preciosismo nas conclusões.
Zezinho disse…
Bueno, Professor, pra variar, tua crônica foi a mais sensata.

Engraçado, né? O cara declaradamente gremista - ou colorado - escreve muito melhor e vê o jogo sem sensacionalismo ou paixonite pré-adolescente do que os "isentos".

Mas voltando à vaca fria...

Não gosto de comentar a arbitragem. Por pior que tenha sido, não creio que a derrota do Grêmio tenha passado necessariamente por ela. Prefiro corrigir os defeitos do Grêmio - que depende somente dele - do que ficar maldizendo um sujeito de apito na boca, provavelmente egresso das entranhas de uma progenitora promíscua.

Posto isto, vamos às colocações pontuais desse escriba:

1) O Grêmio recuou demasiadamente após fazer o seu gol e muitos creditam isso ao empate do Junior. De fato, o Grêmio aceitou passivamente a pressão colombiana, mas diversas vezes ano passado o Grêmio abriu o placar e recuou, dando espaços ao adversário: Atlético/GO, São Paulo, Vitória, Goiás, Atlético/PR, Botafogo, Corinthians.
É uma estratégia arriscada. Mas se poupar, tirar os nervos do adversário, cansá-lo e matar o jogo no segundo tempo mostrou-se favorável em 2010. No jogo de ontem, foi letal. Contra o Grêmio.

2) A substituição de Carlos Alberto foi acertada. Jogador estava mal no ataque e se via obrigado a fazer a cobertura de Gabriel. Mas questiono quem o substituiu.
Nada contra Bruno Collaço, que fez seu papel honestamente, contudo eu colocaria Vinícius Pacheco. Adílson faria a cobertura de Gabriel e Pacheco dividiria a armação com Douglas.
Com Collaço, Douglas ficou sobrecarregado, foi duramente marcado e sucumbiu no jogo.

3) Discordo das críticas veementes a Paulão, Adílson e Gílson (sim, ele também!).

Paulão: não comprometeu. Ao contrário, fez boas recuperações, inclusive dentro da área. Verdade que, em uma de suas arrancadas, o Junior armou um contra-ataque e quase virou. Mas isso é da natureza do jogador. Errou o sistema defensico, que não cobriu seu espaço decentemente;

Adílson: num campo ruim, quem tem dificuldade no passe, se complica ainda mais. Mas no segundo tempo ele melhorou e não comprometeu. Além disso, exerce importante função na bola aérea (é um dos mais altos do time);

Gílson: não achei o jogador uma nulidade completa. Aliás, a torcida do Grêmio está extremamente chata com seus laterais. Fábio Santos, ano passado; Gilson, esse ano.
Na vontade de mandar meia-dúzia se abraçar com Wellington e Helder e se jogar de uma ponte. Tchê, o cabra não é nenhuma sumidade. Está melhorando aos poucos. E ainda lhe falta a cobertura necessária. Quem acompanhou o jogo com atenção, viu que Gabriel deu tantos espaços às suas costas que Gílson. E olha que o Gabriel foi nulo no apoio.

Portanto, menos. Bem menos.

4) A bola aérea defensiva tem sido falha. Rochemback não pode disputar bola pelo alto no meio da área. Tem que ser jogador de primeiro pau ou rebote. Quem marca no meio da área é Rodolfo, Paulão e André Lima, que são altos; Adílson, Borges e Gabriel, que têm boa impulsão e colocação. Erro de posicionamento. E grave!

5) André Lima deveria ter substituído muito antes. A priore por Escudero, que, inexplicavelmente, ficou em Porto Alegre. Entretanto, sua substituição depois da virada, quando o Grêmio foi pro abafa na bola aérea, foi equivocada.
E alguém, por favor, aconselhe o cabra a parar de agir como uma menina xiliquenta!

Desculpe pelo post gigantesco. E bem que o excelente Lédio Carmona poderia ter tido menos má vontade com André Lima e Cazalbé, né?
Sancho disse…
Zezinho,

1) Grêmio recuou, mas seguiu aberto. Não tinha mais a bola, e se defendia mal. Até a entrada do Collaço, o time estava completamente perdido.

2) A entrada de Pacheco deixaria o time com a mesma formação que não estava funcionando. E o problema não era só o Cazalbé.

3) As críticas podem ser exageradas, mas o Gílson jogou mal ontem. Sentiu fala de uma referência na frente dele. A presença do Collaço corrigiu isso.

4) A bola área é um problema que se repete, e não é novo. Isso é problema de treino. E treino é de responsabilidade de quem, mesmo?

5) Escudero está pisado, por isso ficou. Foram todos os jogadores em condições, a exceção do 3º goleiro (que eu teria levado também). Ao invés do Cazalbé, poderia ter saído o A. Lima. Com isso, ele jogaria mais adiantado e não faria as faltas bobas que estava fazendo.

Mas entende-se a saída do 22. Como entendo o Renato. Sai Andre Lima e entra quem? Viçosa?! Clementino? O time não melhorou nada depois da troca.

Abraço.
Zezinho disse…
Bueno, Sancho, concordamos em alguns aspectos.

1) Quanto ao recuo do time, quero deixar claro que eu não gosto. É uma estratégia de jogo, deu certo ano passado, pero no me gusta. E por ter sido mal executada (time demasiadamente aberto), sofremos o empate;

2) Eu digo que colocaria o Pacheco - ou como tu sugeriste, adiantar o Cazalbé - para não sobrecarregar o Douglas na armação. Depois do gol, ele sumiu. Collaço foi bem, mas não é a válvula de escape que é o Lúcio;

3) Assisti a vários jogos do Gilson na cancha, ano passado. Quando me perguntavam quem eu indicaria do time do Paraná, citava três nomes: Gílson, João Paulo (2º volante que está no Japão) e Toscano (atacante que está em Portugal). Desses três, achava que só o João Paulo brigaria por titularidade.

Ele fez uma Série B muito boa. Sabe qual foi o último jogo do Renato pelo Bahia? Bahia 2x1 Paraná, com o Gilson fazendo gol. Por essas e por outras que ele veio.

Está bem? Não. Precisa melhorar? Sim. Só que tem jogador que jogou tão mal quanto ele, mas é isento de críticas. Ao meu ver, o Gabriel foi um deles;

3)b) Há torcedores que reclamam do chutões do Paulão. De fato, ele exagera às vezes. Mas pensem pelo outro lado. Por que ele faz isso?Porque o time está sem saída de jogo.

E ele não perde uma bola pelo alto.

E quanto ao Junior em si, é uma boa equipe. Organizada, que tem rápido contra-ataque.

O Grêmio não perdeu para si mesmo. Fez uma partida comum, mas fora da sua normalidade. Isso sim foi estranho. Mas como colocou o Natusch, é a chamada derrota "que forja caráter".

Quem diz que o grupo do Grêmio é uma baba não viu o toque de bola do Oriente Petrolero, nem do Junior. O León é o mais fraco, mas tem o melhor estádio.

Tem cara por aí que comenta o jogo como se fosse CM
Vicente Fonseca disse…
Valeu pelos elogios, Zezinho.

Também acho que o Grêmio não perdeu para si mesmo, mas para o Junior. É um resultado "normal", possível.

Sobre Gílson e Gabriel, a questão é que pelo lado do Gabriel o Júnior foi muito menos efetivo. Pelo lado Gílson, chegava sempre com perigo, até fez o gol. Isso só melhorou após a entrada do Collaço.

Gostei do Paulão também.

Abraço.