Na briga sim, senhor

Guiñazu luta contra três corintianos

Inter 3 x 2 Corinthians foi um dos jogos de 2010, e não será injustiça ou exagero receber votos no Carta na Mesa de fim de ano, quando realizarmos esta votação. Um resultado que deixa o Colorado ainda vivo na luta pelo título, e não apenas por colocá-lo a seis pontos do Timão e sete-que-podem-ser-quatro do Flu, mas pelo modo como foi obtida.

Em primeiro lugar, o Inter não venceu um time qualquer. Derrotou o ainda líder por aproveitamento, que vem em grande fase. Entretanto, foi um time que se ressentiu de melhores atuações Bruno César e Iarley, apagados. Muito também pela marcação firme que Glaydson (que tem ido melhor que Wilson Matias, por sinal) e Guiñazu impuseram à frente da área. Conseguiram isolar ambos de Elias, neste 4-3-3 disfarçado de 4-5-1 e 4-4-2 que Adilson implanta a la Mano Menezes no Corinthians.

O jogo foi extremamente truncado no primeiro tempo. D’Alessandro começou desta vez na esquerda, mas anulado por Alessandro, um bom duelo, ríspido às vezes. Aliás, nenhuma bronca do articulador colorado com William, seu rival na final da Copa do Brasil de 2009. D’Ale saiu de posição e veio para a direita para entrar no jogo. Seguiu jogando pouco, mas o suficiente para deixar Tinga na cara do gol e abrir o placar.

O segundo tempo foi completamente diferente, e aí sim justificou todos os adjetivos que listei no primeiro parágrafo. O Corinthians veio para cima na imposição de Jucilei e Elias, uma das melhores duplas do Brasileirão, mas deu espaços ao Inter. Edu substituiu Tinga muito bem, e sempre foi peça importante em contra-ataques e lances de definição. O Timão empatou na qualidade de Jorge Henrique, sofreu o 2 a 1 do reabilitado Alecsandro. E aí vieram os cinco minutos finais, que foram de Nei imitando Luisito Suárez e Andrezinho voltando aos bons tempos de 2009, quando sempre decidia jogos na bola parada.

Era o jogo para entrar na briga, e o Inter conseguiu. Para pegar o Palmeiras, Celso Roth não terá Tinga, nem D’Alessandro. Talvez sirva para a implantação do 4-4-2 novamente. Mesmo assim, a exemplo do jogo no Morumbi, o Inter fez 3 gols com apenas um atacante em campo (ainda que Edu seja um na prática, muitas vezes). A explicação talvez esteja menos no esquema, mais na atitude: o Colorado cresce contra times grandes. E pena contra os menores, o que pode sinalizar, dentre outros motivos, porque não está mais à frente na classificação.

Sete Lagoas

O Grêmio complicou um jogo que era muito fácil. Fez 2 a 0 no Atlético/MG em 14 minutos na base de sua maior organização, com uma postura extremamente adequada: marcou lá na frente, não deixou o Galo respirar e instaurou o terror na Arena do Jacaré. O gol a um minuto, de Jonas, facilitou muito, claro. Mas era justamente o que mandava a cartilha.

Aí veio o problema da quarta-feira: não matou o jogo com o Flamengo, não matou hoje de novo. Podia ter aberto 4 a 0 em 21 minutos, não seria exagero. Mas recuou, viu o crescimento de Daniel Carvalho e do Galo. Sofreu um gol, mas resistiu. No primeiro tempo, por conta da afobação mineira; no segundo, por méritos próprios: o Grêmio se defendeu muito bem o tempo todo. Só faltou levar mais perigo, o que só passou a conseguir nos 15 minutos finais, após a entrada de Roberson. Desta vez, pelo menos, não cedeu o empate no fim.

Renato Portaluppi exibe números significativos: 21 pontos em 12 jogos, seis vitórias, três empates, três derrotas, 58,3% de aproveitamento. Fora de casa, são 11 pontos em 18, 61,1%. O Grêmio não vencia três seguidas longe do Olímpico pelo Brasileiro desde 2008, quando bateu o Figueirense (7 a 1), o Coritiba (1 a 0) e o próprio Galo (4 a 0). É o líder do returno. Há oito rodadas não habita o Z-4. Há 19 não fechava entre os 10 primeiros.

Isso tudo são méritos dele. Primeiro, tranquilizou o ambiente; depois, organizou o time. Estancou as derrotas para iniciar as vitórias, algo que eu sempre defendi aqui e entendo que é o correto a se proceder em momentos de crise. O Grêmio ainda peca por irregularidade, mas exibe padrão de jogo. Hoje, mesmo sem ser brilhante, vários foram destaques. Victor, pelas defesas; Gabriel, pelo gol e qualidade na frente e atrás; a dupla de zaga, firme por cima e por baixo, vem crescendo muito; Fábio Rochemback, o melhor de todos, limpando os trilhos com extrema eficiência; Douglas, de rara inteligência e qualidade novamente; e a dupla de ataque, que já fora bem com o Mengão, se destacou mais uma vez.

O crescimento do Grêmio é real e sólido. Falar em Libertadores, contudo, é ainda irreal e precipitado. Por isso, até o discurso anda coerente e afinado no vestiário: ponto por ponto, jogo por jogo, esta deve ser a tônica. E vencer em casa, afinal, o Olímpico há tempos anda merecendo uma atuação similar àquelas que os gremistas têm visto pela televisão.

Briga de cima

Rodada excelente para o Fluminense: ganhou bem do Vitória, fora de casa, e viu Corinthians e Cruzeiro perderem. Outra boa nova para os tricolores foi o Botafogo empatar com o Atlético/PR em casa, resultado que não mata o Furacão da briga de posição com o Fogão. Mesmo assim, é bom lembrar: por aproveitamento, o Timão ainda é líder. E já passou por três de seus adversários diretos.

Briga de baixo

A goleada do Avaí impressiona, põe o Ceará próximo à degola e complica muito a vida de dois grandes: Flamengo, o primeiro que não cairia, e Atlético/MG, que está sete pontos atrás do 16º lugar, em situação periclitante. Na briga contra o rebaixamento, há oito times que correm riscos e dois em situação falimentar. Do Vitória para baixo, a disputa será intensa e dramática, mas nem mesmo o Guarani, que tem a pontuação do Grêmio, mas plantel inferior, pode se considerar salvo.

Foto: Lucas Uebel.