Grêmio Novorizontino, o Imortal Aurinegro
Pessoalmente falando, eu tenho um problema com esses times paulistas que colocam "Grêmio" no nome. Não apenas pelo ciúme de ver a palavra que virou símbolo da minha paixão futebolística transformada em epíteto para outros times por aí - mas também porque, geralmente, essa associação acontece em circunstâncias que diferem muito do que eu considero correto dentro do futebol. Taí esse Grêmio Prudente, que alguns chamam de Grêmio-SP (punhalada na alma), que antes era Grêmio Barueri e que nunca abandona o nome inicial que o remete ao aparentado gaúcho. Time cigano que muda de cidade em nome da prefeitura que oferece mais e deixa a torcida (pequena, mas torcida) órfã... Me perdoem, mas esse tipo de coisa não consigo engolir. E, é claro, o jamais esquecido Grêmio Novorizontino, que resolveu brincar de Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e foi dar umas voltinhas na Europa...
Hoje em dia, a história está quase totalmente esquecida - mesmo na internet, terreno sempre fértil para todo o tipo de conteúdo imaginável, é quase impossível encontrar qualquer referência ao acontecido. Era 1994, e o Novorizontino vivia um tempo de mudanças depois do período mais glorioso de sua história. Surgido humildemente como equipe dos trabalhadores de uma fábrica de calçados, o clube de Novo Horizonte foi crescendo até alcançar conquistas significativas, como o campeonato paulista de juniores em 1988 e o até hoje histórico vice-campeonato paulista de 1990, quando perdeu a decisão para o igualmente interiorano Bragantino. Era um bom time aquele, como se vê na foto acima: nomes como Márcio Santos, Paulo Sérgio (ambos integrantes da seleção que ganhou a Copa de 1994), Odair e Luiz Carlos Goiano faziam parte da equipe, conduzida por Nelsinho Baptista.
No ano em que o Novorizontino resolveu dar um passeio na Europa, fazia pouco mais de ano que o clube tinha sido arrendado para a família Chedid, depois de anos nas mãos de Jorge Ismael de Biasi, até hoje lembrado com carinho pelos torcedores do clube. A mudança, logo de início, deu frutos – o time paulista venceria a Série C do Brasileirão daquele ano, além de levantar pela segunda vez o caneco do Paulistão de juniores. Mas o time vivia situação financeira periclitante – e a coisa não melhorou nas abastadas mãos de Marquinhos e Nabi Abib Chedid, pelo contrário. A dupla desmontou as categorias de base (outrora grande orgulho do clube e celeiro que revelou vários bons atletas) e conduziu o Novorizontino de maneira altamente especulativa, mais interessado em fazer caixa rapidamente do que em montar de fato boas equipes de futebol. E é aí que a excursãozinha pelo Velho Continente entra.
Quando surgiu a possibilidade do Novorizontino fazer uns jogos em território italiano, os irmãos Chedid não pensaram duas vezes. De olho no cachê e na possibilidade de oferecer jovens atletas para equipes de divisões inferiores do futebol italiano, trataram imediatamente de acertar os detalhes para a viagem. Mas o nome do Novorizontino não tinha, digamos, o valor de mercado necessário para garantir a presença em algum pequenos torneios que o time disputaria em solo italiano. Foi quando um dos Chedid olhou para o nome completo do clube – Grêmio Esportivo Novorizontino – e viu alguns cifrões se materializando diante dos seus olhos...
Em alguns jornais da época, era possível ver claramente a maracutaia. Escalações divulgadas em jornais do interior italiano divulgavam que o clube local jogaria contra o garboso Grêmio de Porto Alegre, campeão do mundo, e listavam orgulhosos a presença de figuras como Nildo, Pingo, Agnaldo e Danrlei. No dia seguinte, porém, a notícia mudava de figura, e a crônica dos jogos trazia os nomes desconhecidos de jogadores de base do Novorizontino... Alguém denunciou a confusão para a diretoria gremista, que acionou os dirigentes do Novorizontino para esclarecimentos. Daí para as manchetes de jornais brasileiros foi um pulo. Lembro que a Zero Hora deu pelo menos meia página para a palhaçada – que os Chedid descartaram como sendo má-fé dos agenciadores italianos, que queriam aumentar o público nos jogos já agendados e incentivavam os jornais locais a cometer esse “pequeno” engano. Seja como for, houve quem dissesse até que os atletas do Tigre vestiram de fato as cores do Grêmio gaúcho durante as partidas – mas isso acabou não se confirmando, até porque seria indigno demais para eles. A história foi resolvida nos gabinetes, sem muito alarde na mídia – mas ficou a memória dos tempos em que um clube interiorano pediu emprestado o nome do Grêmio para brincar de time grande na Europa...
Depois da lambança, o Grêmio Esportivo Novorizontino só afundou. Antecipando em mais de uma década a desgraçada sanha dos clubes-empresa do interior do Brasil, o Tigre tornou-se uma equipe cigana, sediando jogo em cidades como Mirassol e Catanduva, tudo em nome de alguns trocados das prefeituras locais. Preocupado mais em lucrar do que em investir, o clube acabou desmontando as categorias de base – e as dívidas se multiplicaram ao ponto de forçar o time a fechar as portas, no triste ano de 1999, depois de abandonar a Série B do Paulistão por falta de condições financeiras para disputá-la.
Hoje, felizmente, o Novorizontino está voltando – sem usar seu nome original, já que os Chedid deixaram uma herança de dívidas e qualquer utilização da antiga marca pode ressuscitar esses fantasmas em forma de cheque voador. Hoje Grêmio Novorizontino, sem o Esportivo no meio, o Tigre participou garbosamente de torneios amadores e pleiteia a inclusão na quarta divisão paulista em 2011. Seria uma maneira interessante de dar um final feliz para a história de um clube que transitou entre os grandes, mas acabou consumido pela má administração de alguns especuladores que pouco ou nada sabiam de futebol. Que seja bem-vindo, portanto. Desde que, é claro, o Novorizontino seja sempre Novorizontino, e deixe o Grêmio de seu nome apenas como uma homenagem ao time gaúcho – como, aliás, era para ser desde o início.
Hoje em dia, a história está quase totalmente esquecida - mesmo na internet, terreno sempre fértil para todo o tipo de conteúdo imaginável, é quase impossível encontrar qualquer referência ao acontecido. Era 1994, e o Novorizontino vivia um tempo de mudanças depois do período mais glorioso de sua história. Surgido humildemente como equipe dos trabalhadores de uma fábrica de calçados, o clube de Novo Horizonte foi crescendo até alcançar conquistas significativas, como o campeonato paulista de juniores em 1988 e o até hoje histórico vice-campeonato paulista de 1990, quando perdeu a decisão para o igualmente interiorano Bragantino. Era um bom time aquele, como se vê na foto acima: nomes como Márcio Santos, Paulo Sérgio (ambos integrantes da seleção que ganhou a Copa de 1994), Odair e Luiz Carlos Goiano faziam parte da equipe, conduzida por Nelsinho Baptista.
No ano em que o Novorizontino resolveu dar um passeio na Europa, fazia pouco mais de ano que o clube tinha sido arrendado para a família Chedid, depois de anos nas mãos de Jorge Ismael de Biasi, até hoje lembrado com carinho pelos torcedores do clube. A mudança, logo de início, deu frutos – o time paulista venceria a Série C do Brasileirão daquele ano, além de levantar pela segunda vez o caneco do Paulistão de juniores. Mas o time vivia situação financeira periclitante – e a coisa não melhorou nas abastadas mãos de Marquinhos e Nabi Abib Chedid, pelo contrário. A dupla desmontou as categorias de base (outrora grande orgulho do clube e celeiro que revelou vários bons atletas) e conduziu o Novorizontino de maneira altamente especulativa, mais interessado em fazer caixa rapidamente do que em montar de fato boas equipes de futebol. E é aí que a excursãozinha pelo Velho Continente entra.
Quando surgiu a possibilidade do Novorizontino fazer uns jogos em território italiano, os irmãos Chedid não pensaram duas vezes. De olho no cachê e na possibilidade de oferecer jovens atletas para equipes de divisões inferiores do futebol italiano, trataram imediatamente de acertar os detalhes para a viagem. Mas o nome do Novorizontino não tinha, digamos, o valor de mercado necessário para garantir a presença em algum pequenos torneios que o time disputaria em solo italiano. Foi quando um dos Chedid olhou para o nome completo do clube – Grêmio Esportivo Novorizontino – e viu alguns cifrões se materializando diante dos seus olhos...
Em alguns jornais da época, era possível ver claramente a maracutaia. Escalações divulgadas em jornais do interior italiano divulgavam que o clube local jogaria contra o garboso Grêmio de Porto Alegre, campeão do mundo, e listavam orgulhosos a presença de figuras como Nildo, Pingo, Agnaldo e Danrlei. No dia seguinte, porém, a notícia mudava de figura, e a crônica dos jogos trazia os nomes desconhecidos de jogadores de base do Novorizontino... Alguém denunciou a confusão para a diretoria gremista, que acionou os dirigentes do Novorizontino para esclarecimentos. Daí para as manchetes de jornais brasileiros foi um pulo. Lembro que a Zero Hora deu pelo menos meia página para a palhaçada – que os Chedid descartaram como sendo má-fé dos agenciadores italianos, que queriam aumentar o público nos jogos já agendados e incentivavam os jornais locais a cometer esse “pequeno” engano. Seja como for, houve quem dissesse até que os atletas do Tigre vestiram de fato as cores do Grêmio gaúcho durante as partidas – mas isso acabou não se confirmando, até porque seria indigno demais para eles. A história foi resolvida nos gabinetes, sem muito alarde na mídia – mas ficou a memória dos tempos em que um clube interiorano pediu emprestado o nome do Grêmio para brincar de time grande na Europa...
Depois da lambança, o Grêmio Esportivo Novorizontino só afundou. Antecipando em mais de uma década a desgraçada sanha dos clubes-empresa do interior do Brasil, o Tigre tornou-se uma equipe cigana, sediando jogo em cidades como Mirassol e Catanduva, tudo em nome de alguns trocados das prefeituras locais. Preocupado mais em lucrar do que em investir, o clube acabou desmontando as categorias de base – e as dívidas se multiplicaram ao ponto de forçar o time a fechar as portas, no triste ano de 1999, depois de abandonar a Série B do Paulistão por falta de condições financeiras para disputá-la.
Hoje, felizmente, o Novorizontino está voltando – sem usar seu nome original, já que os Chedid deixaram uma herança de dívidas e qualquer utilização da antiga marca pode ressuscitar esses fantasmas em forma de cheque voador. Hoje Grêmio Novorizontino, sem o Esportivo no meio, o Tigre participou garbosamente de torneios amadores e pleiteia a inclusão na quarta divisão paulista em 2011. Seria uma maneira interessante de dar um final feliz para a história de um clube que transitou entre os grandes, mas acabou consumido pela má administração de alguns especuladores que pouco ou nada sabiam de futebol. Que seja bem-vindo, portanto. Desde que, é claro, o Novorizontino seja sempre Novorizontino, e deixe o Grêmio de seu nome apenas como uma homenagem ao time gaúcho – como, aliás, era para ser desde o início.
Foto: Novorizontino vice-campeão paulista de 1990 (divulgação)
Comentários
Aliás, gosto da idéia de torcer para um clube cujo nome é clube. Parece que não existe nenhum outro. Deveria ser melhor explorado isso.
P.S: O nome completo é Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Sem o "de".
O Mauro Cezar costuma chamar o Prudente de Grêmio Itinerante. Genial.
Essa final Bragantino x Novorizontino me marcou muito. Foi a primeira decisão de Paulistão que vi. Achava que eram dois times grandes. Muito mais digna que o São Caetano x Paulista de 2004.
O Bragantino foi vice brasileiro em 1991, com o jogo decisivo no M. Stefani.
Eu gosto demais dos clubes do interior.
Lembrando que aquela final de 1991 entre Bragantino x São Paulo foi a de menor público da história do Campeonato Brasileiro: 12 mil torcedores, em virtude da baixa capacidade do saudoso Marcelo Stefani - estádio que, entre outras gentis lembranças, foi onde o Bragantino eliminou o Inter em 1996 com um gol do ESQUERDINHA.
Aliás, como boa parte das informações contidas no artigo vieram das profundezas da minha (boa, mas falível) memória, aceito qualquer ajuda extra que possa receber. Se alguém achar algo mais concreto sobre o assunto, talvez algum conteúdo direto dos jornais da época, ficaremos todos muito agradecidos!