Uma derrota de quatro anos, prorrogável por igual período
Algumas derrotas duram minutos e não deixam marcas. Outras doem um pouco mais, mas é possível se recuperar. Esta do Brasil diante da Holanda hoje à tardinha de Port Elizabeth não se enquadra em nenhum destes dois casos. É muito mais grave. Vai durar quatro anos, ou mais. Porque o brasileiro não sabe perder uma Copa sem fazer terra-arrasada, uma péssima mania que nos acompanha há décadas. E para o Mundial de 2014, aqui mesmo, se tentará fazer exatamente o oposto, jogando todo um trabalho excelente de quatro anos pelo ralo. Voltará o festerê, o ofensivismo irresponsável, o “futebol brasileiro”, termo do qual os ofensivistas retrógrados se apoderaram, infelizmente.
Se houve um erro de Dunga foi a convocação de Felipe Melo, sempre questionada, não apenas agora, após a eliminação. Sua expulsão de hoje foi pedra cantada por todo mundo antes mesmo de a Copa começar. Mas tudo nestes quatro anos foi feito tão certinho, tão milimétrico, tão como manda o figurino, que ele mesmo, Felipe Melo, deu um passe maravilhoso para Robinho abrir o placar. Um primeiro tempo de total superioridade canarinha. A Holanda, excelente equipe, simplesmente não conseguia jogar. O Brasil roubava bolas no campo de ataque, e com a Jabulani nos pés jogava muito. Robinho, além do golaço, fez extraordinária jogada e deu a Kaká, mas Stekelenburg fez a defesa da Copa, de mão trocada. Só Robben incomodava, cavava faltas e cartões. Só era parado na falta. Sneijder era muito bem controlado por Gilberto Silva, e Maicon fazia um dos duelos da Copa com Kuyt.
Quem disser que saiu para o intervalo pensando em outra coisa que não a classificação do Brasil estará mentindo. A seleção tornou o jogo fácil nos 45 minutos iniciais, foi seu melhor momento na Copa 2010. Jogou com autoridade e segurança assustadores para seus adversários, mostrou-se a mais séria candidata ao título. Mas aí veio o segundo tempo, e por isso as Copas são fascinantes. Tudo ocorria dentro da normalidade, mas a Holanda achou o gol. Tudo ia tão bem que um acidente (e o gol holandês foi mesmo acidental) destes acabou sendo capaz de fazer o time desmoronar. O mais sólido time da Copa, não o mais brilhante, começou a ruir.
A Holanda, por outro lado, cresceu. Seus excelentes jogadores começaram a jogar o que sabem, aproveitavam os espaços que aos poucos surgiam. Sentiram o nervosismo do Brasil e não só equilibraram como passaram a dominar o jogo. E o segundo gol, de Sneijder, o da eliminação definitiva dos pentacampeões, veio também em bola aérea, como o primeiro. Justo por cima, onde o Brasil se destacou muito nos últimos quatro anos. Após a expulsão de Felipe Melo, Dunga poderia ter colocado Nilmar no lugar de alguém mais recuado, mas isso não tornaria o time mais ofensivo. Apenas o exporia mais aos contra-golpes holandeses.
O Brasil cai diante de uma excelente seleção. É preciso entender isso, mas obviamente opiniões sensatas não são levadas em conta nesta hora. Ao contrário da última eliminação, em 2006, desta vez não é preciso fazer uma revolução na seleção para a próxima Copa. Entretanto, sou pessimista. Imagino que tudo o que Dunga fez será posto em xeque, quando, na verdade, muita coisa foi feita com correção e deveria servir de modelo para os próximos trabalhos de um treinador da seleção. E aí só posso visualizar a volta de quadrados mágicos, da valorização dos dribles improdutivos e da crucificação dos cabeças-de-área. Mas tudo bem, 2018 é logo ali.
Foto: Júlio César e Felipe Melo se desentendem, no fatídico lance que mudou a história do jogo (Reinaldo Marques/Terra).
Comentários
A Holanda achou o gol - mais um q eles acham nessa Copa. Mas é um time foda, consegue ganhar de qqr jeito. Agora, esse Robben é uma farsa, hoje ficou claro q só tem uma jogada e não sabe direito o que faz com a bola quando marcado.
Já o Sneijder, esse é craque!
E o Julio Cesar?
Juan joga demais mesmo, Rodrigo.
Concordo contigo, Felipe, só não acho a convocação do Josué um absurdo.
Fico triste mesmo, duplamente. Por ser brasileiro mas por especialmente acreditar nessa seleção. Não estou desiludido com o Dunga ou algo assim, só que sei que um ciclo explica o outro. Dunga precisava vencer, precisava tirar o discurso do futebol-arte. Toda a força do Dunga estava em fazer um time que vencesse, antes de tudo. E não venceu. Estranhamente, pois é a seleção antítese, o sentimento deve ser parecido com 1982. Sou fã do time, mas uns descuidos numa partida e acabou.
Infelizmente, concordo muito com a tua análise, Vicente. E não preciso ir longe: saindo do restaurante onde vi o jogo, já ouvi alguns iluminados dizendo coisas tipo "não chamou o Ganso", "seleção de volantes", "jogamos o segundo tempo na retranca" e bobagens do tipo. Teve um que me viu comentando (em voz baixa, para não apanhar) que o Brasil tinha feito uma boa Copa e retrucou na hora, impávido: "nossa seleção é tática demais, tem que ser que nem a Argentina, dar liberdade para quem sabe jogar".
Não vislumbro esperança, se o quadro for esse. Passaremos quatro anos insistindo em um 4-2-4 insano, empilhando jogadores de frente, clamando pela convocação imediata de qualquer um que faça um gol bonito ou ensaie embaixadas na frente de um zagueiro. Todo o bom trabalho do Dunga vai ser resumido ao retranqueiro cabeça-dura que xingava jornalista e escalava o Felipe Melo. E iremos assim, serelepes e faceiros, rumo ao fracasso em 2014.
Triste.
as pessoas esquecem que essa hlandatá sem perder há uns 30 jogos...
os oportunistas e todos que odiavam o dunga (toda globo e mais um pouco), vão fazer a festa agora, fazer todas piadas possíveis. mas uma coisa não se pode negar: essa seleção é fraca psicologicamente. muito nervosismo, muita gente perdendo a cabeça sem motivo, a começar pelo técnico. até o KAKÁ virou bad boy.
felipe melo arruinou tudo quando ainda tinha 20 minutos pra buscar o jogo. bola pra frente, caralho, tomar gol é normal, vamos buscar.
mas enfim, copa é isso, é fatal, não perdoa, não tem outra chance, só daqui quatro anos. mas acho que o brasil saiu de cabeça erguida, pelo belo primeiro tempo que fez, quando poderia ter feito mais um ou dois.
Aliás, que Holanda sul-americana essa hein? Muito catimbeira. Na copa passada foi um pouco assim tb, naquele jogo contra Portugal. E esse Van Bommel é mto bandido.
Pena ele ser destemperado, joga muita bola.
Acho q mta gente tá preferindo uma seleção comprometida. Essa eliminação dói pq estávamos fazendo certo as coisas. A outra nem doeu, foi mais vergonha mesmo, sensação de impotência.
2010 é meu 1982. dshshdshd
Quando o trabalho é sério o talento sobressai. O Brasil "jogou bonito" nessa Copa.
Concordo, Prestes. Muito mais bonito, no sentido técnico mesmo, que em 2006, onde a "arte" era "privilegiada".
Acho que Nilmar seguirá sendo chamado, mas não sei se para titular. Merece mais chances. Mas o Robinho fez uma boa Copa, menos firulento e mais objetivo. Até isso o Dunga acertou. Pena mesmo que não deu.
Contra a Dinamarca, abriram o placar com uma falha bisonha. Contra o Japão, uma falha do goleiro. Parece o Boca ou SP esse time, carajoo.
E o repórter disse: treinaram muito escanteio no primeiro pau.
No mais: muito lamentável pensar q o Lúcio pode nunca levantar aquela taça.
Mas se pegar só qm ganhou Copa do Mundo acho q o melhor é o Lucio mesmo. Se bem q o Mauro ganhou duas e era do grande Santos, não?
Neymar é um PROTÓTIPO de ANDERSON PICO (abraço, Lourenço), some antes da Copa 2014. Não tem cabeça, é muito estrela e sem a MALADRAGI de um Romário, por ex. Ganso sim, acho nome forte para 2014. A bobagem que eu digo é achar que a não-convocação dele foi decisiva nessa eliminação. Não esteve nem perto de fazer qualquer diferença, aliás.
Maicon não tem concorrentes, seguirá sendo chamado. Kaká, Robinho, Nilmar, esses seguem por enquanto mas não sei quanto FÔLEGO terão. E o cargo de treinador é mesmo uma incógnita, já que ZAGALLO não tem mais saúde para comandar a seleção...
— Achei que, no primeiro tempo, iríamos, golear. Estávamos muito bem, fizemos uma grande etapa inicial — disse o atacante. — Infelizmente, uma Copa do Mundo é decidida nos detalhes. pecamos por falta de atenção na etapa final.
PICOT
resposta: o futebol foi maliciosa, maldosa, talvez cruelmente futebolesco com o brasil. toda essência desse esporte antieuclidiano resolveu se manifestar na mais pura forma para nossa seleção. um lance, um centímetro, uma decisão errada, um vento errado: todas as pequenas coisas que podem dar "errado" deram - mas são elas que fazem o futebol ser um prazer tão "certo"
jogaço, jogaço da holanda. torcerei por eles.
...
menos, claro, se for contra o uruguay