Um dia, Sealand vai sair campeã
Todos que assistiram a final da 2010 VIVA World Cup confirmam: foi uma disputa cheia de emoção, apesar do 1 a 0 no placar final. As duas seleções que se enfrentaram no último dia 05 de junho foram valentes e, apesar de alguns lances ríspidos, o futebol saiu engrandecido da disputa. O gol do título foi marcado por Mosti aos 24mins do primeiro tempo, levando a festa para a torcida presente no Gozo Stadium de Xewkija, principal cidade do Bispado de Gozo. O Kurdistão buscou a reação, mas a maior qualidade técnica da Padânia acabou prevalecendo.
Com o terceiro título consecutivo, a seleção da Padania já é a maior campeã da história, e torna-se definitivamente a nação do futebol. Para alguns o parágrafo acima pode parecer uma obra de fantasia, relacionada com alguma trilogia medieval ou qualquer coisa do tipo. Mas não só a decisão entre Padânia e Kurdistão realmente aconteceu, como ela é resultado de um campeonato organizado por uma federação internacional e que reúne nações que (em sua maioria, pelo menos) de fato existem e buscam afirmação ou independência.
A VIVA World Cup é organizada pela New Federation Board, uma ONG sediada na Bélgica e surgida para agregar seleções nacionais que, por diferentes motivos, não são aceitas pela FIFA. A entidade presidida por Joseph Blatter adota como política aceitar apenas países constituídos em seus quadros – exceção ao Reino Unido, cujas quatro nações constituintes (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) estão representadas individualmente. Isso acaba deixando de fora muitos territórios e nações – que, tão interessados em jogar futebol quanto qualquer outro, encontram na NF Board uma chance de disputar algumas partidas e reafirmar sua individualidade.
Seis seleções disputaram a quarta edição da VIVA World Cup. A estreante da vez foi o Reino das Duas Sicílias, que defende a identidade regional do que antigamente era o maior estado italiano antes da unificação. A campanha da novata foi não mais do que razoável, perdendo três jogos, ganhando um e ficando na quarta colocação. A tricampeã Padânia defende basicamente a independência da metade norte da Itália, ideia representada por uma coligação política chamada Lega Nord. A ilha-sede Gozo é parte de Malta, que se declara politicamente autônoma e vive um regime administrativo de caráter religioso semelhante ao do Vaticano. Completando o quadro de participantes, temos o Kurdistão (nação que se espalha por alguns países do Oriente Médio), Provença (condado ao sul da França) e Occitânia, um projeto de nação unindo cidadãos da França, Espanha e Itália que falam o dialeto medieval Oc.
A previsão inicial era de contar com um número entre nove e onze participantes. Várias equipes, porém, foram forçadas a declinar. Tibet e Lapônia, por ex, não tiveram condições financeiras para a viagem, enquanto a tribo Sami, presente nas primeiras três edições do torneio, desistiu da disputa devido a um desentendimento entre os representantes suecos e noruegueses que a constituem. Esse tipo de problema não é inédito: em uma edição anterior, a nação de Camarões do Sul não pôde participar por não ter obtido passaportes válidos para a viagem.
A NF Board conta no momento com trinta territórios ou nações associadas, e acaba sendo um retrato dos movimentos nacionalistas ao redor do globo. A Groenlândia, Saara Ocidental e a Chechênia, por exemplo, não são aceitas pela FIFA por ainda serem consideradas como território de outros países. O Kurdistão, mesmo conquistando parte da área do Iraque e sendo considerado território autônomo, teve seu pedido de filiação à FIFA recusado. Mônaco e Kiribati, por sua vez, são países reconhecidos pela ONU, mas a ausência de campeonatos locais é um impeditivo legal para sua aceitação nos quadros da FIFA. A Padânia e o Chipre do Norte são dois exemplos de territórios em busca (ou não) de independência.
Três países solicitaram recentemente sua inscrição, e no momento são membros provisórios. Entre eles está Sealand, base militar no Canal da Mancha declarada independente em 1967, com cidadãos espalhados pelo planeta todo e que organiza para breve seus primeiros amistosos internacionais. Trata-se, obviamente, do futebol sendo utilizado com objetivos políticos. Reafirmar a identidade regional de povos sem Estado, legitimar movimentos separatistas, reforçar países pequenos ainda em busca de maior estabilidade e inserção internacional. Em resposta, a NF Board alega que o aspecto político não é o norte da organização. Segundo eles, o futebol é para todos e não há intenção competir com a FIFA, e sim de ser uma espécie de “sala de espera” para quem ainda não ganhou espaço na maior instituição do futebol mundial. A edição anterior da competição foi um sucesso, tendo até transmissão da final pela emissora italiana RAI e cobertura de alguns veículos internacionais. A edição de 2010, porém, esvaziou-se consideravelmente, com público quase inexistente e nenhuma cobertura de mídia. Parte do problema está nas dificuldades de chegar a Gozo, cujo maior campo de futebol abriga quatro mil pessoas. Mas a ideia é crescer: o campeonato, antes anual, agora será de dois em dois anos, e já começou a busca por patrocinadores que financiem as viagens e hospedagens das seleções. Articulações estão sendo feitas para agregar times do Campeonato Internacional de Ilhas, que ocorrerá em 2011 na Ilha de Wight. Nações ainda ausentes como Quebec e Catalunha também estão sendo convidadas a participar. Abaixo, a tabela completa da 2010 VIVA World Cup:
PRIMEIRA FASE
GRUPO A (sede: Gozo Stadium, em Xewkija)
Gozo 1x2 Padânia
Occitânia 0x1 Padânia
Gozo 0x5 Occitânia
GRUPO B (sede: Sannat Ground, Sannat)
Kurdistão 4x1 Duas Sicílias
Provença 0x1 Duas Sicílias
Provença 2x3 Kurdistão
SEMIFINAIS
Kurdistão 2x1 Occitânia
Padânia 2x0 Duas Sicílias
DECISÃO 5° LUGAR
Gozo 2x1 Provença
DECISÃO 3° LUGAR
Occitânia 2x1 Duas Sicílas
FINAL Padânia 1x0 Kurdistão
Fotos: Provença (de branco) e Duas Sicílias se enfrentam pela edição 2010 da VIVA World Cup (Wall Street Journal); e a Padânia festeja o título de 2009 (Confabuliamo.it).
Com o terceiro título consecutivo, a seleção da Padania já é a maior campeã da história, e torna-se definitivamente a nação do futebol. Para alguns o parágrafo acima pode parecer uma obra de fantasia, relacionada com alguma trilogia medieval ou qualquer coisa do tipo. Mas não só a decisão entre Padânia e Kurdistão realmente aconteceu, como ela é resultado de um campeonato organizado por uma federação internacional e que reúne nações que (em sua maioria, pelo menos) de fato existem e buscam afirmação ou independência.
A VIVA World Cup é organizada pela New Federation Board, uma ONG sediada na Bélgica e surgida para agregar seleções nacionais que, por diferentes motivos, não são aceitas pela FIFA. A entidade presidida por Joseph Blatter adota como política aceitar apenas países constituídos em seus quadros – exceção ao Reino Unido, cujas quatro nações constituintes (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) estão representadas individualmente. Isso acaba deixando de fora muitos territórios e nações – que, tão interessados em jogar futebol quanto qualquer outro, encontram na NF Board uma chance de disputar algumas partidas e reafirmar sua individualidade.
Seis seleções disputaram a quarta edição da VIVA World Cup. A estreante da vez foi o Reino das Duas Sicílias, que defende a identidade regional do que antigamente era o maior estado italiano antes da unificação. A campanha da novata foi não mais do que razoável, perdendo três jogos, ganhando um e ficando na quarta colocação. A tricampeã Padânia defende basicamente a independência da metade norte da Itália, ideia representada por uma coligação política chamada Lega Nord. A ilha-sede Gozo é parte de Malta, que se declara politicamente autônoma e vive um regime administrativo de caráter religioso semelhante ao do Vaticano. Completando o quadro de participantes, temos o Kurdistão (nação que se espalha por alguns países do Oriente Médio), Provença (condado ao sul da França) e Occitânia, um projeto de nação unindo cidadãos da França, Espanha e Itália que falam o dialeto medieval Oc.
A previsão inicial era de contar com um número entre nove e onze participantes. Várias equipes, porém, foram forçadas a declinar. Tibet e Lapônia, por ex, não tiveram condições financeiras para a viagem, enquanto a tribo Sami, presente nas primeiras três edições do torneio, desistiu da disputa devido a um desentendimento entre os representantes suecos e noruegueses que a constituem. Esse tipo de problema não é inédito: em uma edição anterior, a nação de Camarões do Sul não pôde participar por não ter obtido passaportes válidos para a viagem.
A NF Board conta no momento com trinta territórios ou nações associadas, e acaba sendo um retrato dos movimentos nacionalistas ao redor do globo. A Groenlândia, Saara Ocidental e a Chechênia, por exemplo, não são aceitas pela FIFA por ainda serem consideradas como território de outros países. O Kurdistão, mesmo conquistando parte da área do Iraque e sendo considerado território autônomo, teve seu pedido de filiação à FIFA recusado. Mônaco e Kiribati, por sua vez, são países reconhecidos pela ONU, mas a ausência de campeonatos locais é um impeditivo legal para sua aceitação nos quadros da FIFA. A Padânia e o Chipre do Norte são dois exemplos de territórios em busca (ou não) de independência.
Três países solicitaram recentemente sua inscrição, e no momento são membros provisórios. Entre eles está Sealand, base militar no Canal da Mancha declarada independente em 1967, com cidadãos espalhados pelo planeta todo e que organiza para breve seus primeiros amistosos internacionais. Trata-se, obviamente, do futebol sendo utilizado com objetivos políticos. Reafirmar a identidade regional de povos sem Estado, legitimar movimentos separatistas, reforçar países pequenos ainda em busca de maior estabilidade e inserção internacional. Em resposta, a NF Board alega que o aspecto político não é o norte da organização. Segundo eles, o futebol é para todos e não há intenção competir com a FIFA, e sim de ser uma espécie de “sala de espera” para quem ainda não ganhou espaço na maior instituição do futebol mundial. A edição anterior da competição foi um sucesso, tendo até transmissão da final pela emissora italiana RAI e cobertura de alguns veículos internacionais. A edição de 2010, porém, esvaziou-se consideravelmente, com público quase inexistente e nenhuma cobertura de mídia. Parte do problema está nas dificuldades de chegar a Gozo, cujo maior campo de futebol abriga quatro mil pessoas. Mas a ideia é crescer: o campeonato, antes anual, agora será de dois em dois anos, e já começou a busca por patrocinadores que financiem as viagens e hospedagens das seleções. Articulações estão sendo feitas para agregar times do Campeonato Internacional de Ilhas, que ocorrerá em 2011 na Ilha de Wight. Nações ainda ausentes como Quebec e Catalunha também estão sendo convidadas a participar. Abaixo, a tabela completa da 2010 VIVA World Cup:
PRIMEIRA FASE
GRUPO A (sede: Gozo Stadium, em Xewkija)
Gozo 1x2 Padânia
Occitânia 0x1 Padânia
Gozo 0x5 Occitânia
GRUPO B (sede: Sannat Ground, Sannat)
Kurdistão 4x1 Duas Sicílias
Provença 0x1 Duas Sicílias
Provença 2x3 Kurdistão
SEMIFINAIS
Kurdistão 2x1 Occitânia
Padânia 2x0 Duas Sicílias
DECISÃO 5° LUGAR
Gozo 2x1 Provença
DECISÃO 3° LUGAR
Occitânia 2x1 Duas Sicílas
FINAL Padânia 1x0 Kurdistão
Fotos: Provença (de branco) e Duas Sicílias se enfrentam pela edição 2010 da VIVA World Cup (Wall Street Journal); e a Padânia festeja o título de 2009 (Confabuliamo.it).
Comentários
uhdsahudsahudas
Aí tu já inventou, hein Igor??
siduhfudsfhd
Sensacional! Foda é essa Padânia ganhar!
Em casa lerei!
Já tá na hora de montarmos a nossa seleção! :D