O Inter chega

Fossati errou ao escalar o Inter num 3-6-1. Este é o primeiro ponto da noite. Mais uma vez, Walter foi preterido por Alecsandro, mesmo vivendo fase bem superior. O técnico colorado abriu de uma sistema que vinha se consolidando, não quis apostar no atacante que vem jogando melhor dentro de seu elenco. Pôs a classificação quase a perder com tudo isso, após 25 minutos onde seu time foi completamente dominado e inofensivo.

Mas Sabella errou ainda mais. A questão física é um problema de tempos do Estudiantes, e era normal que o time diminuísse um pouco o ritmo após o 2 a 0. Entretanto, além de baixar a velocidade, o time argentino abdicou do jogo após o intervalo. A substituição de González, atacante que fazia bom jogo, por Angeleri, trouxe seu time para um 5-4-1 que foi problema no Beira-Rio, e não solução. Quase deu certo, pois o Inter não fez um bom segundo tempo e teve poucas chances. Mas deu errado, muito errado. E muito, a maior parte, quase a totalidade, em função desta alteração, que modificou a postura destemida do primeiro tempo em uma covardia longa e imensa, algo que raramente dá certo.

E isto tudo se torna ainda mais inexplicável na medida em que o Estudiantes mostrou que tem mais time que o Inter. Não havia motivos para tanto medo.O início, especialmente, foi um primor. Verón, como sempre, foi o maestro da meia-cancha, com lançamento primoroso no primeiro gol. González era perigoso, Pérez e Sánchez muito corretos e Sosa o melhor de todos: brigador, habilidoso, simplesmente impossível – o maior ganho do Estudiantes 2009 em relação à sua versão 2010, que é melhorada, diga-se. Sosa foi um dos poucos que se salvou no segundo tempo medroso de sua equipe. O motivo da queda brusca não pode ser explicado apenas pela falta de preparo físico. Se for só isso, há times no interior gaúcho nitidamente superiores neste aspecto ao atual campeão continental.

Méritos para o time mais copeiro da história colorada, que elimina pela segunda vez seguida um argentino pelo saldo qualificado. O Internacional impõe respeito pelo nome que conseguiu conquistar, o qual assusta os adversários estrangeiros, muitas vezes pouco sabedores de eventuais problemas da equipe. Apesar das deficiências recorrentes, o Inter mais uma vez se superou. Andrezinho fez um belo segundo tempo: além de ótima cobrança de falta defendida por Orión, deu assistência excelente a Walter, além da que resultou no gol de Giuliano. Um gol emblemático, histórico, com o peso de um título.

O cenário é mais que animador. Mesmo que ainda não tenha um time totalmente confiável, o Inter ultrapassa dois ossos duríssimos de roer e vê rivais como Vélez, Cruzeiro, Corinthians, Flamengo e Estudiantes ficarem de fora. Para agosto, após a Copa do Mundo, já deverá ter Tinga. Durante o Mundial, disporá de tempo de sobra para corrigir seus defeitos. Defeitos que, embora não sejam poucos, não têm sido suficientes para tirar deste time a cara de campeão da Libertadores. O São Paulo tem a chance da revanche de 2006. É uma das últimas possibilidades de interromper esta história que, parece, está destinada à glória, como aquela de quatro anos atrás.

Universidad de Chile 1 x 2 Flamengo

Caminho ainda mais aberto para o Inter. La U é um time certinho, com conjunto, mas com valores individuais inferiores aos cariocas, que poderiam fazer muito mais frente ao time de Fossati. U. de Chile x Chivas farão um duelo pouco esperado e badalado, mas nem por isso imerecido. A exemplo das semifinais da Copa do Brasil, é difícil não considerar São Paulo x Inter como uma final antecipada.

Ontem, o Flamengo fez uma bela partida. Mandou no jogo a maior parte do tempo e teve em Adriano, Vagner Love e Léo Moura três grandes nomes. Mas os chilenos tinham Montillo em momento sublime, marcando o mais lindo gol desta edição da Libertadores. É um time organizado e sólido, mas será muita surpresa se conseguir vencer um dos brasileiros numa possível final. Como o Chivas não pode ir a Dubai via América do Sul, a chance do Brasil voltar ao Mundial Interclubes é muito considerável.

Em tempo:

- Torcedores que acendem sinalizadores atrás da baliza de seu próprio goleiro numa partida decisiva de Libertadores, aos 42 do segundo tempo, em plena pressão do adversário, merecem pagar sua burrice com a desclassificação.

- Promoção muito digna.

Foto: Giuliano, criticado no começo da Libertadores, foi o herói da vaga em Quilmes (AFP).