A cara do Grêmio, a cara do Santos

Poucas vezes o Santos foi tão Santos no primeiro tempo. Poucas vezes o Grêmio foi tão Grêmio no segundo. Poucas vezes o Estádio Olímpico viu um jogo tão sensacional. Um partidaço que tragicamente chegou a vitimar um conselheiro gremista do coração, fora outras tantas pessoas país afora. E que está longe de ter sido uma definição para a vaga à final da Copa do Brasil – afinal, se o tricolor mostrou coração e raça de campeão, o Peixe mostrou futebol de campeão.

O Santos deu uma aula no primeiro tempo. Há muito tempo um time não colocava o Grêmio na roda dentro do Olímpico como fez o Peixe nos 45 minutos iniciais. A torcida gremista, na ânsia desesperada por culpados, xingava Douglas, Willian Magrão, Edilson, até Victor, que falhou de novo e tem errado como em nenhum momento seu na Azenha antes. Mas foi um grande erro. O culpado por toda aquela frustração não era ninguém senão o Santos. Um time que tinha em Marquinhos um classudo meia lançador e articulador; que tinha em Ganso um jogador de poucos toques na bola, mas sempre geniais, como os grandes craques da camisa 10; que tinha em André um centroavante que lembrou Henry nos tempos de Arsenal no segundo gol – nem dominou a bola, só enquadrou o corpo na corrida e bateu com frieza no canto. Todos esses marcam, e muito, a saída de bola do adversário. Um time quase perfeito. Quase porque a defesa é falha, tanto no miolo como nas laterais. Mas aí Felipe vinha em jornada histórica. Estava perfeito, portanto.

Silas tinha muito o que fazer no intervalo. O esquema inicial, um 3-5-2, foi desfeito após o 2 a 0. Edilson foi então para a lateral-esquerda e Mário Fernandes voltava à direita. A segunda metade ainda foi de chances para o Santos, mas a buraqueira do meio sumia. Mas, como o problema não era o Grêmio, e sim o time paulista, manteve todos os jogadores. Havia peças para retirar ou colocar capazes de alterar a partida? Não.

Mas o fato é que, mais uma vez, o Grêmio voltou outro do vestiário. Fez o que deveria desde o início: atacou o Santos, e não ficou assistindo o time da Vila desfilar seu exuberante futebol. Pressionou, reagiu. Silas não fez alterações táticas, apenas agiu no motivacional. E nisso ele parece ser realmente um técnico diferenciado. A postura de todos foi outra. Adilson, por exemplo, foi monstruoso – foi ala, volante, meia, foi tudo. O contra-golpe santista era morto lá atrás – um dos pecados do primeiro tempo foi o tricolor ter tentado sempre o desarme, quando as faltas táticas eram mais necessárias (o segundo gol poderia ter sido evitado assim). Douglas entrou no jogo, Jonas atuou com mais confiança após perder o pênalti, Borges nunca esteve mal, mas mesmo assim cresceu. Edilson e Hugo fizeram um bom lado esquerdo também. Rodrigo foi firme, Mário sempre esteve bem. E veio a incrível reação, uma das maiores já vistas no Olímpico.

Em meio à euforia incrédula que tomava conta do estádio, o Grêmio poderia ter feito o quinto, se a bola de Douglas entrasse, de fora da área. Seria o fim do confronto. Mas Robinho é quem descontou, um gol que complica o enfrentamento de volta, mas que, para os 38 mil gremistas que viam seu time ser desclassificado já na ida (e temendo goleada histórica com Neymar quarta que vem), foi o de menos. O Grêmio renasce das cinzas através de um segundo tempo histórico, numa reação que normalmente precede (ou explica) suas grandes conquistas. Está muito vivo na Copa do Brasil, desde que ignore a vantagem mínima que tem. Jogando atrás, pelo regulamento, o tricolor será goleado em Santos; atacando, explorando os pontos frágeis do Peixe, pode até ganhar o jogo. O Santos é um time tão incomum que é mais seguro se atirar para cima dele que tentar pará-lo. Respeitar um time assim, o próprio Grêmio provou no primeiro tempo, é suicídio.

Foto: Borges, o herói da noite da histórica virada gremista (Lucas Uebel/Preview.com/Gazeta Press).

Comentários

Lique disse…
jogão sensacional. não entendi por que o juiz não expulsou o durval no penalti. clara e manifesta situação de gol, quase dentro da pequena área, carrinho por trás. que mais precisa? heh.

parecia que ia ser uma tragédia, aquele goleirinho deles resolveu fazer a partida da vida dele no primeiro tempo, que foi tão movimentado que não deu pra colocar todas chances de gol nos melhores momentos. bola na trave linda e apavorante do ganso, gol feito que o marquinhos perdeu, bela bomba do edilson na falta e depois rebote desperdiçado pelo borges, ainda aquela bola do borges na cara do gol.

parecia que não ia dar, mas no segundo tempo ninguém perdeu gols. rodrigo salvou uma na cara, de carrinho, contra o robinho, depois outro do ganso que vinha chegando perto do gol pela direita perigosamente.

um jogão, agora é corinthians no olimpico e peixe na vila. que semana!
Unknown disse…
humberlito? NÃO, TRÊSBERLITO BORGES!!
Ducker disse…
Bela análise!!!
Marcelo disse…
Bah, que jogo. Tipo de coisa que da liga ao time.

Silas é um baita motivador, puta merda.
vine disse…
Se o professor ainda desse nota aos jogadores, qual seria a do Rodrigo Mancha? E haveria de colocar colchetes, pois ele já havia sido uma substituição e teríamos parênteses entre seu nome...

uhaehuehueauhaehuaehuaehuaehu

Bem o que eu comentei: esse gol do Robinho pode vir a ser fatal. Mas nada que uma marcação forte do meio pra frente pare esse time.
Prestes disse…
O resultado acabou sendo fantástico e ruim pro Grêmio ao mesmo tempo.

Criticar a substituição do Dorival depois do acontecido seria oportunismo. Não critico colocar o Mancha. Mas porque ráios tirar o Marquinhos??
Lourenço disse…
Primeiramente, que jogo!

Nem considero que o Grêmio jogou mal o primeiro tempo. Na verdade, o Santos simplesmente patrolou o Grêmio e, sinceramente, questionava-se se algum time seria capaz de fazer o primeiro tempo do Santos. Pensei que talvez o Barcelona. Em 17 anos de Olímpico, nunca tinha visto um time jogar tão bem. Além de toda a vantagem técnica, tática e tal, tudo estava dando certo. O nosso goleiro falha, o deles pegava tudo.

No intervalo, o único jogo que confortava os gremistas era Corinthians x Grêmio, em 2001, quando o Corinthians abriu 2 a 0.

No segundo tempo, o Grêmio viu que não tinha nada a perder e jogou como louco. Deu certo. Para ganhar do Santos, não dá para impor o seu estilo de jogo. Tem que entrar no jogo louco deles e trocar gols. O Santos é um time totalmente atípico. Ele simplesmente não consegue se fechar e simplesmente não para de atacar. A única alteração serena do Dorival (botar um volante no lugar do meia para segurar resultado) estragou o time. Não dá nem para lamentar o golaço do Robinho (se desmarca, mata no peito e chuta com frieza no gol - é um firulento, pouco objetivo mesmo), o Grêmio estava totalmente morto e agora tem chances.
André Kruse disse…
Eu também não entendo como o juiz nao expulsou o Durval. Não entendo como nao se fala nisso. Juca Kfouri vem falar de um penalti no Robinho e ignora esse lance e aquele outro do Mancha jogando volei na área.

Só discordo de uma coisa no texto. Silas desfez o 3-5-2 ainda no primeiro tempo. Ele chamou o Edilson depois do 2º gol (ou na hora do penalti)
Lourenço disse…
"O esquema inicial, um 3-5-2, foi desfeito após o 2 a 0. Edilson foi então para a lateral-esquerda e Mário Fernandes voltava à direita. A segunda metade ainda foi de chances para o Santos, mas a buraqueira do meio sumia."

Acho que o texto está nesse sentido, André Kruse. A "segunda metade" é a segunda metade do primeiro tempo. Pelo menos eu entendi assim.
Vicente Fonseca disse…
André, eu coloquei o Silas desfez o esquema após o 2 a 0. Logo que sofreu o segundo, Edilson já foi pra esquerda.

Vine, acho que 1 ou 2 seria a nota cara, hdhssdsdsd.

Também não entendi a não expulsão do Durval.

Prestes, é claro que o terceiro gol do Santos deixou aquela sensação de frustração na hora, mas, devido o 2 a 0 inicial, não dá pra reclamar mesmo.

Agradeço os elogios, Ducker.
Marcelo disse…
Que jogo! O 3º gol do Santos é um mero detalhe. Ou o Grêmio passeia lá fora (que nem em 2001 contra o Corinthians) ou perde de 5x4, os outros resultado são pouco prováveis.

E hoje quando acordei fui pra internet para ter certeza que eu estava vivo e que não tinha sido sonho.
Vicente Fonseca disse…
Eu também não acreditava no que estava vendo, Marcelo. Tô com a garganta extremamente prejudicada. É jogo pra entrar na série Jogos para Sempre, do Sportv, daqui uns poucos anos.
Marcelo disse…
O melhor jogo do ano.
Depois dessa, por mim, podiam terminar a copa do brasil, entregar a taça pro Grêmio e esquecer do futebol até 2011.
Igor Natusch disse…
Que jogo incrível, daqueles que dá uma ducha de adrenalina e paixão futebolística em qualquer um. Fazia tempos que não se via um desses envolvendo o Grêmio, de arrepiar mesmo.

Silas errou na escalação inicial, e foi contra seu maior acerto desde a chegada, que era manter um esquema tático sólido independente das peças utilizadas. Por mais fragilizado que o plantel estivesse, mudar para 3-5-2 em uma partida decisiva contra o Santos jamais será a mais inteligente das ideias. Dito isso, ele de fato corrigiu com muita eficiência o erro cometido, e cada vez mais se mostra um motivador de atletas como poucos no país. Isso sem contar a comemoração do terceiro gol, socando o ar e apontando para o céu - os ateus que me perdoem, mas foi simplesmente ARREPIANTE. Virei fã.

Borges, Jonas e Douglas MONSTRUOSOS no segundo tempo. A defesa do Santos não achou eles NUNCA. Sinal indelével de que o Lourenço está certo: contra um time como o Santos, que ataca sem parar porque é simplesmente incapaz de jogar de outro modo, a resposta é enfrentar de frente, sem medo e expondo de forma inteligente todas as fraquezas do sistema defensivo do Peixe. Acho que cautela é muito importante, mas o Grêmio vai bem para o segundo jogo. Tomará gol, com certeza - mas tenho certeza quase absoluta de que também os fará. Basta achar o equilíbrio e estaremos da final. Mais imortais do que nunca.
Vicente Fonseca disse…
Fico pensando qual o problema do Silas com o Bruno Collaço. Ok, não é nada de mais, mas também não é um jogador tão horrível assim pra alterar todo o esquema em um jogo tão importante, quando o mais simples era apenas colocá-lo ali com a camisa 6.

Completamente arrepiantes as comemorações do Silas. Tenho lesões nas cordas vocais e nas veias da testa. Mas, cada vez que dói, me lembro que valeu a pena se estropiar todo. Que jogo.
Prestes disse…
O mais bizarro do erro do Silas, foi que antes do jogo, já no campo, ele falou que colocava três zagueiros para botar o Rodrigo na sobra e evitar sua suspensão.

Com dez minutos de jogo, o Rodrigo vai atacar o Ganso lá na intermediária e leva o amarelo.
Igor Natusch disse…
Tentei me controlar no primeiro gol gremista, em nome do respeito aos hospedeiros e vizinhos. No segundo, gritei, mas logo me contive. No GOLAÇO do Jonas, porém, sem chance: levantei aos gritos, ameacei chutar os móveis mais próximos, festejei insanamente a virada espetacular. Não dá, simplesmente não existe autocontrole possível nessas horas.

Santos diz que Robinho joga segunda partida, que houve um mal-entendido e a Fifa fez apenas a "recomendação" de "repouso". Fraquíssima, essa. Estou para ver "recomendação" com exceções, como no caso da final da Liga dos Campeões - ainda mais usando termos como "mandatory rest" e "shall apply", como se pode ver no link:

http://www.fifa.com/mm/document/tournament/competition/01/20/86/87/provisional1305.pdf

Se querem driblar as normas da FIFA, vão precisar caprichar mais na argumentação. E olha que essa história pode respingar em algumas aves aquáticas por aí, hein?...
Chico disse…
GRÊMIO, o time que nunca desiste. Pelejador até o fim.

Tripleta histórica de Borges.

Silas inventou no início do jogo, mas depois soube arrumar.

Falhas de Victor, Douglas e Joílson nos golos do Santos.
Prestes disse…
Natusch, aceito o Estudiantes sem Verón, Sosa e Clemente Rodriguez!!!
Vicente Fonseca disse…
Essa história aí é uma grande palhaçada. Que bagunça, e vinda da FIFA.
André Kruse disse…
Desculpa Vicente, li "Silas tinha muito o que fazer no intervalo" antes da frase e concluí errado.

Também acho estranho que o Collaço tenha cáido tanto de conceito com a troca da comissão técnica
Igor Natusch disse…
Merda que esqueceram de incluir os times que enfrentam o Inter na lista de exceções da norma, huahauha =P

Mas é aquela coisa. Recomendação é o que a minha mãe faz quando está frio e vou sair para a rua sem casaco. A FIFA baixou uma NORMA - um DESCANSO OBRIGATÓRIO ("mandatory rest")que DEVERÁ SER APLICADO ("shall apply") nas datas previstas pela regra. Engraçado alguém ler "obrigatório" e dizer que é só uma "recomendação"... Vai ver os assessores do Santos manjam mais de inglês do que a FIFA =P
Vicente Fonseca disse…
O texto tá meio dúbio e permite a tua interpretação, André.
Unknown disse…
A sorte do Grêmio foi ter feito gol antes da entrada do Maylson, que foi chamado pelo Silas logo antes do primeiro gol depois de mais um erro do Douglas. A torcida, de maneira incompreensível, gritava "Maylson, Maylson" como já gritou "Éverton, Éverton" naquela final de Libertadores perdida contra o Boca.

A entrada do Maylson naquela hora teria sido absurda, como se ele fosse um craque capaz de resolver alguma coisa.

A lindeza dos 20 minutos seguintes fez o Silvas mandar o guri de volta pra trás da goleira. Me ajoelhei no cimento das sociais a cada gol feito. Dale.
Faraon disse…
Silas cagou.

Jonas cagou.

Bendita seja a roleta-russa.
André Kruse disse…
Enquanto isso, na segundona gaúcha, a TVcom anunciou a exibiçao de um jogo por rodada.

Começou hoje com Cruzeiro X Guarany de Bagé. Por enquanto, 2x0 para o Cruzeiro
Vicente Fonseca disse…
Grande notícia.

Que suba o Lajeadense!
Joel disse…
O mais engraçado do dia foi ver alguns colorados despeitados tentando desmerecer a vitória tricolor. Os 23 anos de fila foram cruéis para muitos.

Jogo épico, tô sem voz, sem grana, podre de sono e com as pernas doloridas: MAS FARIA TUDO DE NOVO, SEM NENHUMA DÚVIDA! O título do texto poderia ser: espírito 95 resgatado!
Seguinte, podemos ser eliminados na próxima quarta-feira, mas que joguemos como no 2º tempo. Q jogo, quanta emoção, q orgulho ver o Grêmio em meio a um embate épico como esse.

Sobre falhas técnicas e táticas: Grêmio entrou com medo do Santos. Dando mto espaço pros jogadores. Santos fez 2 e poderia ter feito mais. Ganso é gênio.

Agora, no 2º tempo, sei lá o que o silas faz no vestiário, mas to pensando em começar a chegar no olímpico só pra segunda etapa. Muda a cara, muda o gás, os caras alucinam e fazem o que fizeram. Tomamos conta do jogo, todo mundo apareceu pra jogar, e a torcida, meus amigos, a torcida....

Enfim, podemos nos classificar, podemos mesmo!
Na boa, se eu continuar indo no Olímpico e tiver que assistir uma partida como essa a cada ano, precisarei de safena em breve.

Me fogem as palavras para descrever o que vi ontem. Os companheiros já falaram tudo o que deveria ser falado. E tenham fé: se vimos ontem o "impossível acontecer", não duvidem do que possamos fazer na Vila.

Semana que vem coparemos novamente.