Georghe Hagi (1990/94/98)
Georghe Hagi foi um dos maiores jogadores da história do leste europeu, e seguramente o mais importante de todos os tempos na Romênia. Seu talento, sua visão de jogo incomum e sua precisão com a perna canhota o levaram à seleção nacional aos 18 anos, em 1983. Figurante na seleção que disputou a Euro do ano seguinte, disputou sua primeira Copa na Itália, em 1990.
Transferido do Steaua Bucurest para o Real Madrid, Hagi chegara como uma das grandes estrelas daquele time que ainda tinha, entre outros nomes, Lacatus e Raducioiu, sinalizando o início da fase da melhor geração romena em todos os tempos. O desafio era complicado: logo na primeira fase, a seleção treinada por Emerich Jenei teria pela frente a União Soviética, os indomáveis leões de Camarões e a atual campeã Argentina.
Hagi não participou da vitória sobre a União Soviética, na estreia, por 2 a 0. Na segunda partida, já utilizava a camisa 10, mas sua atuação discreta acabou aos 10 minutos do segundo tempo, para a entrada de Dumitrescu – outro destaque da Copa de quatro anos depois. O placar marcava 0 a 0, mas a Romênia perderia por 2 a 1, e só um empate diante da campeã Argentina os manteria vivos. O 1 a 1 no San Paolo de Nápoles não só os classificou (feito até então inédito na história romena) como garantiu o segundo lugar do grupo, só atrás dos Camarões, e à frente de Maradona, Caniggia e companhia. Hagi teve ótima atuação neste confronto. Foi seu primeiro jogo completo em Copas.
Contra a Irlanda, nas oitavas, nova boa partida de Gica Hagi, mas o 0 a 0 e a derrota nos pênaltis foram frustrantes. Ficava claro que ele poderia mais do que aquela Copa discreta. Os Estados Unidos provariam isso.
1994 foi o grande ano da Romênia e de Hagi. Aos 29 anos, saíra do Real Madrid, fora ao Brescia e estava de malas prontas para o Camp Nou após a Copa, onde jogaria por duas temporadas até a transferência para o Galatasaray, onde encerraria a carreira em 2001, aos 36 anos. Estava no auge de sua forma.
Novamente a Romênia caía num grupo complicado: a Colômbia, adversária de estreia, era a maior sensação do planeta, e vinha de um inesquecível 5 a 0 sobre a Argentina em Buenos Aires ; a Suíça vencera a Itália nas Eliminatórias, deixando a Squadra Azzurra em segundo lugar no seu grupo; já os Estados Unidos eram os anfitriões e defrontariam o time de Hagi e Raducioiu num Rose Bowl, em Los Angeles , com seguramente 90 mil espectadores a lhe apoiarem. Dureza.
Logo de cara, então, veio a Colômbia, numa tarde de muito sol em Los Angeles. O vídeo abaixo é definitivo. Trata-se de uma das maiores atuações que vi alguém fazer em 20 anos acompanhando futebol. Aproveitem estes quase quatro minutos de pura genialidade do Maradona dos Cárpatos.
Notem que, além de deitar e rolar o tempo inteiro, Hagi fez um golaço e deu passe para outros dois. A dupla entre Gica e Florin Raducioiu, reserva no grande Milan da época, começava a encantar o mundo.
Após destruir a favorita Colômbia, Hagi e sua Romênia defrontariam a Suíça no estádio coberto de Detroit. O Pontiac Silverdome viu um golaço de fora da área do craque romeno (vídeo abaixo), mas aquele dia foi suíço: 4 a 1, em show de Sutter e Chapuisat. Na rodada final, a Romênia precisaria vencer os Estados Unidos para não depender de outros resultados e seguir adiante. Com gol de Petrescu, ganhou e chegou às oitavas. Pelos cruzamentos, pegaria a Argentina, rival de 1990, e despedaçada após o doping de Maradona.
Considerado o maior jogo da história do futebol romeno, a seleção comandada dentro de campo por Gica Hagi superou os argentinos por 3 a 2, naquele que é tido como o melhor jogo daquele mundial. Ele marcou o terceiro gol e comandou a seleção às quartas de final com toques envolventes e puro oportunismo. Era o auge daquela geração dourada da Romênia.
Contra a Suécia, nas quartas, a classificação esteve muito perto. Após um arrastado 0 a 0, Brolin colocou os suecos na frente aos 35 do segundo tempo, mas Raducioiu empatou aos 44 (após cobrança de falta de Hagi), forçando a prorrogação. Nela, aos 11 do primeiro tempo, novamente Florin anotou o segundo (Gica começou a jogada), mas Kennet Andersson empatou a cinco minutos do fim, em falha terrível do goleiro Prunea. Na decisão de pênaltis, brilhou a estrela do experiente Ravelli, que pegou duas penalidades. Hagi fez o seu, mas não foi o suficiente. A Romênia deixava a Copa de 1994 com um mais que honroso sexto lugar, atrás apenas dos quatro finalistas e da Alemanha na classificação final. Dos 10 gols anotados, Hagi marcou três e participou de outros quatro.
Poucos se lembram, mas Hagi ainda jogou a Copa de 1998, na França, já com 33 anos. Em ritmo claramente mais baixo, participou da vitória de sua seleção sobre a freguesa Colômbia na estreia (1 a 0), nos 2 a 1 sobre a Inglaterra (vídeo abaixo), no 1 a 1 com a Tunísia (onde todos jogaram com os cabelos descoloridos, em comemoração pela classificação às oitavas) e na derrota para a Croácia nas oitavas, por 1 a 0. Gica só atuou por todos os 90 minutos contra os tunisianos. Mesmo tendo sua participação mais discreta em mundiais, fica evidente sua importância: nas três Copas que disputou, Hagi sempre levou a Romênia a passar de fase. Em nenhuma das outras três participações (1930, 1938 e 1970), a seleção havia conseguido tal feito. E desde que se aposentou, nunca mais voltou a disputar uma Copa do Mundo.
Para quem teve o privilégio de vê-lo jogar, ficam seguramente lembranças inesquecíveis daqueles tempos onde Hagi fazia filas, chutava de longe com precisão, dava assistências açucaradas e marcava golaços com a naturalidade dos grandes gênios da bola. Falar da Romênia é falar de Hagi, e estes dois conceitos são inseparáveis e de indestrutível relação.
Comentários
Pode-se dizer que a Romênia em Copas é praticamente HAGI.
Vi agora, nos vídeos, que em 90 o demônio era veloz! Os zagueiros não achavam ele.
Mas em 94, era bem mais inteligente e acertava mais o pé nos passes e chutes. Foi o auge dele.
Pra mim, nos 3 a 1 sobre a Colômbia, fez sua melhor atuação. O primeiro gol começa com um drible de corpo maravilhoso ainda no campo de defesa; no terceiro, viu o Raducioiu e bateu a falta rápido. Só pelo olhar, o centroavante já correu pra se desmarcar. Muito entrosamento.
E aquele passe pro segundo gol contra a Argentina é outra jogada genial.
Bom cofatrago, amigos ;D
E tô com o Natusch: uniforme da Romênia tem de ser AMARELO. Imagina se alguém inventasse de trocar as cores da camisa do Brasil, de amarelo para azul? Sou gremista e adoro azul, mas Brasil é AMARELO.