Todos de pé: chegou a hora da banalização do hino nacional brasileiro

Começou como uma lei estadual em São Paulo, chegou ao Paraná, atingiu outros estados brasileiros e, em 2010, o Rio Grande do Sul. Falo da obrigatoriedade de execução do hino nacional antes de eventos esportivos. No caso gaúcho, trata-se de um projeto aprovado pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que exige os hinos brasileiro e gaúcho antes de partidas nacionais e internacionais. O Gauchão está fora disso, portanto. Ou, ao menos, deveria estar. Mas a Federação Gaúcha de Futebol não perdeu a chance de pôr em prática a medida, mesmo sem obrigatoriedade. Porém, bastaram 15 dias após o primeiro jogo em que vi isso presencialmente, no estádio, para chegar à conclusão de que se trata de um absurdo.

O Hino Nacional Brasileiro, um dos mais bonitos do mundo, é executado em cerimônias solenes pelo país afora. Marca, portanto, grandes momentos da vida das pessoas: formaturas, posse de governantes, abertura de eventos relevantes, entre tantos outros. No esporte, seria cabível, sinal de respeito, em caso de grandes finais ou partidas internacionais importantíssimas, como as de Copa do Mundo. No entanto, daqui a algumas horas, Votoraty e Grêmio se defrontarão pela quase insignificante segunda fase da Copa do Brasil, que conta com 11 times que nem nas Séries A e B estão. E será tocado o hino nacional antes de a bola rolar, assim como nos não menos obscuros duelos do tricolor contra o Porto Alegre e o Inter/SM.

Pergunto: em qual país desenvolvido isso acontece? Nos Estados Unidos, que das nações adiantadas é a mais nacionalista de todas, o hino só é executado no Super Bowl, final do futebol americano, principal evento esportivo do país. Alguém lembra de algum campeonato europeu, e até mesmo sul-americano, no qual o hino do país é tocado antes de a bola rolar? Não, pois não é a exaustão do hino que tornará as pessoas mais cívicas ou cidadãs.

No Rio Grande do Sul, a insanidade da medida chega ao extremo. O hino nacional foi executado no Estádio Olímpico nestes jogos anteriormente referidos sem que houvesse uma única bandeira brasileira hasteada. E ainda há requintes de crueldade: o volume com que é tocado é baixo demais para ser ouvido, o que configura um desrespeito ao próprio símbolo. A seguir, mais constrangimento: o hino rio-grandense seguiu a cerimônia. Quem frequenta o Olímpico (não sei se o caso se aplica ao Beira-Rio) sabe o quanto a torcida do Grêmio é bairrista – há setores dela, inclusive, abertamente separatistas. Não é preciso ser gênio para adivinhar o óbvio: enquanto o hino do Brasil foi quase ignorado, o hino do Rio Grande do Sul foi cantado em uníssono, com todos de pé, a plenos pulmões. Joaquim Osório Duque Estrada poderia ter ficado sem essa.

Após este verdadeiro pisoteamento público dos símbolos nacionais, o jogo começa mais de dez minutos após o horário previsto – o que configura outro desrespeito, desta vez com o público: tanto aquele que comparece ao estádio como o que assiste pela televisão. Aliás, a TV, que tanto interfere nos horários das partidas, poderia se fazer presente agora. Se não para revogar a lei que obriga os hinos, já que não tem esse poder, ao menos exigir que o horário fosse cumprido. Isso obrigaria os times a entrarem pelo menos dez minutos antes em campo.

Por tudo isso, sugiro às autoridades competentes, seja Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados ou Senado que restrinjam a execução do Hino Nacional a eventos realmente relevantes. Isso sim é ter um mínimo de respeito pela Pátria. Nada é mais triste que ver um dos mais belos hinos do mundo ser motivo de desprezo e estorvo para seus próprios cidadãos.

Comentários

Gustavo disse…
4 palavras sobre isso:
Ba
Ba
Qui
Ce
Lourenço disse…
Ótimo assunto para ser trazido. E concordo com tuas colocações. Fiquei constrangido quando todos que estavam sentados a minha volta durante o hino brasileiro levantaram para o hino estadual.

No entanto, cabe ressaltar que a cena dos jogadores perfilados é legal de ser vista ao vivo. O próximo passo é todos entrarem juntos com o hino da FIFA tocando.
Vicente Fonseca disse…
É legal, sem dúvida. Mas acho que seria melhor ainda se só ocorresse em decisões. Fazer isso na final da Taça Fernando Carvalho é o limite. Tocando o hino da FIFA seria maravilhoso.

Apenas um aviso ao Joel e demais leitores: infelizmente, será impossível realizar o minuto a minuto de Votoraty x Grêmio hoje, 15:30, pela Copa do Brasil. Não terei computador à minha disposição na hora da peleja. Peço a compreensão de todos, e que fique para uma próxima - afinal, é algo sempre divertido, e que já fizemos outras tantas vezes por aqui.
Igor Natusch disse…
Eu sempre detestei patriotadas. Uma coisa é a demonstração legítima de sentimento cívico - que ela mesma não me agrada tanto assim, mas enfim. Outra é querer brincar de patriota e aplicar o apreço pela pátria como uma imposição - medida que só esvazia os símbolos, em última análise. E esse ponto é de fato interessante: pelo que eu lembro das aulas de Moral e Cívica (sim, sou velho), o hino deve ser executado na presença da bandeira nacional. Como aliás, vi ser seguido à risca em partidas aqui no estado de SP. No RS teve gente matando aula adoidado, pelo visto...
Chico disse…
Logo se nota que o Poder Legislativo está com muito trabalho.
Podem me xingar ou não gostarem da minha opinião, mas acho que essa medida banaliza até o hino rio-grandense. Já achava um saco quando o entoavam por qualquer motivo dentro do Olímpico, ou quando servia como grito de guerra por qualquer coisinha. Com essa aí, agora, vou começar a sentar e só me levantar quando o jogo começar. Ou quando tocar Metallica nos auto-falantes do Olímpico.
Vicente Fonseca disse…
Isso o tempo dirá, Fred. Mas eu já não me animei em me levantar pra cantar hino algum - até porque nunca se sabe se poderei ou não ver o jogo sentado.
Pati Benvenuti disse…
É essa mania também de achar que tudo que começa em São Paulo é maravilhoso e "moderno".
Chico disse…
Só cantarei o hino brasileiro se for interpretado pela Vanusa.
luís felipe disse…
sensacional, Policarpo.

gostaria de saber quem foi o autor dessa bobagem.
Marcelo disse…
"Ou quando tocar Metallica nos auto-falantes do Olímpico"
Isso já aconteceu... lá por 2005 tinha música no intervalo e seguido tocava Metallica ou AC-DC.

E essa lei dos hinos é um exagero. Teve jogos do gauchão com nível de várzea e cerimonial de copa do mundo.
Vicente Fonseca disse…
Bah, POLICARPO. Quanta honra.

Marcelo, em lembro dessa gloriosa época. Guns tocava direto também.
Anônimo disse…
VAMOS SEMPRE CANTAR O HINO DO RS, MESMO QUE NAO TENHA HINO NENHUM TOCANDO, PORQUE NOS AMAMOS O RS, VOCES NAO NASCERAM NO RS PRA SABER O QUE É O BRASIL INTEIRO NOS "JULGAR" E NOS SEMPRE SE IMPOR A VOCES E SEMPRE PERDEREM PRA NOS HAHAHAHA, VOCES SAO PRECONCEITUOSOS CHAMANDO NOS DE GAYS ONDE A MAIOR PARADA GAY EH EM SP, JAMAIS VAMOS PARAR DE CANTAR O HINO DO RS
Vicente Fonseca disse…
Não perde teu tempo, cara. Somos todos aqui gaúchos. Eu canto o hino do Rio Grande do Sul com amor também. Só critico cantar o hino gaúcho sobre o brasileiro, pois é, SIM, falta de respeito.

Calma.