Bobby Charlton (1958/62/66/70)
Sir Robert Charlton hoje tem 72 anos, mas poderia nem existir, muito menos ter tido a fama que teve. Em fevereiro de 1958, ele fez parte da conhecida tragédia aérea em Munique, que vitimou oito colegas de Manchester United, clube então mediano, mas bicampeão nacional por força de uma geração esplendorosa que surgia. Sem ele, muito provavelmente, o United não seria o United, e o English Team não teria sido campeão do mundo.
Desde cedo, Charlton acostumou-se a superar adversidades. Após a quase morte com 20 anos de idade, participou do reerguimento do seu Manchester, que meses após o acidente já estava decidindo a FA Cup com o Bolton. Entre 1954 e 1973, disputou 758 (recorde só batido por Ryan Giggs em 2008) jogos e marcou 249 gols pelo clube. Mais que isso: em junho daquele mesmo ano, sem demonstrar qualquer receio com o ocorrido, foi de avião à Suécia disputar a Copa do Mundo. Começava ali sua trajetória mais brilhante, já que em Old Trafford os verdadeiros grandes momentos responderam pelo timaço desmontado após o acidente e alguns bons momentos nos anos 60, ao lado de outra lenda, George Best.
Suécia, 1958
Naquela Copa, Bobby não atuou. E a Inglaterra fez participação discreta. O único orgulho inglês foi não ter perdido para o campeão Brasil (empate de 0 a 0, o primeiro jogo sem gols na história dos mundiais), algo que nenhuma outra seleção conseguiu. Mesmo assim, após empatar três partidas, o English Team fez um duelo desempate com a União Soviética, para decidir quem ficava com a segunda vaga do grupo. Os russos ganharam, por 1 a 0.
Chile, 1962
Para sua segunda Copa, Bobby Charlton já chegava noutro status. Seus dribles em velocidade e chutes potentes de longe já amedrontavam os zagueiros em seu país. Titular do ataque do time que se desenhava para o Mundial seguinte, que seria disputado na própria Inglaterra, atuou nas quatro partidas da seleção no Chile e marcou um gol, na vitória de 3 a 1 sobre a Argentina, ainda na primeira fase. A eliminação inglesa viria nas quartas, com um 3 a 1 sofrido para o Brasil de Garrincha. O vídeo acima mostra lances desta partida.
Inglaterra, 1966
O grande momento da carreira de Bobby Charlton. Sobre os ombros dos inventores do futebol estava toda a responsabilidade de, finalmente, fazerem jus à alcunha e vencerem pela primeira vez uma Copa do Mundo, ainda mais que seria realizada em casa. A pressão era tão grande que o condicionamento parecia chegar também às arbitragens. Antes mesmo da polêmica final contra a Alemanha Ocidental, a Inglaterra vencera a Argentina nas quartas por 1 a 0, com arbitragem ainda mais problemática e expulsão discutível do meio-campista Rattín. Uma rivalidade que começava muito antes da Guerra das Malvinas (vídeo acima).
Mesmo assim, a trajetória da Inglaterra foi sólida, provando, que apesar dos erros de arbitragem que lhe favoreceram e de jogar em casa, tinha, sim, um grande time. E Bobby Charlton, comandante deste esquadrão, não deixava mentir. Ao lado de seu irmão, o zagueiro Jackie Charlton, jogou todas as seis partidas deste Mundial, anotando três gols: o primeiro da seleção na Copa, na segunda partida, 2 a 0 contra o México (vídeo acima); e outros dois nas semifinais, na vitória por 2 a 1 sobre Portugal (vídeo abaixo).
Na final, contra a Alemanha Ocidental, o título escapou no último minuto do tempo normal, mas viria na prorrogação, com aquele contestável lance que nenhuma câmera, nestes 44 anos, mostrou a bola ter entrado por inteiro. Em 1996, 30 anos depois, a seleção alemã jogaria a Eurocopa na Inglaterra com uniforme exatamente igual ao daquela Copa do Mundo, em protesto. Incontestável , mesmo, só o merecimento do título para Bobby Charlton, que, diante da Rainha, levantou a Taça Jules Rimet em Wembley (vídeo abaixo).
México, 1970
A Copa do México marcaria o duelo da grande Inglaterra campeã do torneio anterior (e, segundo muitos sustentam até hoje, ainda melhor que em 1966) e o Brasil de Pelé, tricampeão do mundo na ocasião. Deu Brasil, 1 a 0. Os ingleses parariam nas quartas, diante da mesma Alemanha que perdera a final de 1966 de forma duvidosa. Bobby, já com 32 anos, atuou quatro vezes, mas não marcou gols.
Em 106 partidas pela seleção da Inglaterra, Bobby Charlton anotou 49 gols. Foram quatro Copas do Mundo, 14 jogos disputados e três gols marcados. Uma rica história. O único inglês até hoje eleito Bola de Ouro de uma Copa. O homem que liderou um grupo de jogadores pressionados a vencerem uma Copa do Mundo em seu próprio país. O homem que ajudou a transformar o mediano Manchester United em um dos mais respeitados e vitoriosos clubes do planeta. Bandeirinhas à parte, para quem sobreviveu a um desastre aéreo, os desafios até que não parecem tão descomunais assim.
Sexta que vem: Johann Cruyff, o maior craque da constelação holandesa que mudou o futebol para sempre em 1974.
Comentários
Jogava demais, o Bobby. Não é à toa que virou sinônimo de futebol inglês. E a história do acidente em Munique é incrível - especialmente pela atuação incrível do goleiro irlandês Harry Gregg, que saiu ileso e, praticamente sozinho, salvou Charlton e várias outras pessoas. Ele até jogou a copa de 1958 pela Irlanda do Norte...
E essa roubalheira contra a Argentina é ainda mais vergonhosa que a bola que não entrou na final. Haja cara de pau =P