Começando de fato

Muitos costumam dizer que o ano no Brasil só começa na Quarta-Feira de Cinzas. Penso que esta verdade nunca esteve tão perto da realidade do Carta na Manga quanto em 2010. Mesmo que não tenhamos interrompido as atividades por aqui de forma total nestes 45 dias iniciais do ano, é justamente hoje que retomaremos o ritmo normal que perdurará até o final de dezembro.

E para o futebol gaúcho, se o ano já iniciou e até Gre-Nal já tivemos, pelo menos as decisões começam também na quarta pós-Carnaval. A Taça Fernando Carvalho começa hoje a definir seus semifinalistas, em jogos únicos, sem volta.

Hoje será a vez do Grêmio tentar, pela primeira vez no ano, não levar gols, diante do Veranópolis. Adversário, aliás, que impôs grandes dificuldades à equipe de Silas na terceira rodada deste Gauchão, num suadíssimo empate de 1 a 1 no Olímpico. Portanto, para os que rumarão à Azenha pensando em classificação fácil, é bom irem se preparando para uma possibilidade não tão irreal assim de eliminação. Imaginaram o Veranópolis segurando um empate que seja, o que levaria a uma decisão de pênaltis? Não é tão absurdo assim.

Quanto ao Inter, terá pela frente um ex-rival, um velho conhecido que, hoje em dia, nem cócegas faz. O Juventude levou 5 a 0 do colorado há poucas semanas. Amanhã pode ser diferente, afinal, não é jogo mais da tabela classificatória, e sim uma decisão por vaga. Mas é um cenário bem mais improvável uma tragédia no Beira-Rio que no Olímpico neste meio de semana – muito embora, e que fique bem claro, aposto na classificação de ambos os grandes da Capital.

As datas

Quando a coisa é mal planejada, tudo sai errado. Em 2009, a Federação Gaúcha de Futebol prejudicou o andamento da campanha do Grêmio no seu campeonato por não aceitar adiantar ou transferir jogos importantes do Gauchão quando o clube pediu, quando ficavam a menos de três dias de partidas da Libertadores. Em dois Gre-Nais, ambos decisivos, foi assim. Agora, é a vez do Inter se complicar. Terá de jogar quinta e sábado para atuar terça que vem contra o Emelec pela competição continental – jogo que, por sorte, será em Porto Alegre.

Enquanto a FGF não determinar que o(s) clube(s) que disputa a Libertadores tenha a preferência nas datas para não sair prejudicado nem numa competição nem noutra, será sempre assim. Inter x Juventude deveria ser quarta, a semifinal colorada deveria ser sábado. Simples. Fazer uma tabela estanque e imutável é um duplo gol contra: Grêmio e Inter, atores principais do Gauchão, têm de desprezá-lo em nome de uma competição maior, o que enfraquece o estadual; e a FGF complica a vida de um representante seu no maior torneio da América do Sul.

Vale lembrar que não foi só em 2009 que ocorreu algo parecido. Em 2006, a primeira partida da final do Gauchão seria domingo, mas, como o Inter tinha jogo terça em Montevidéu pela Libertadores, o Grêmio foi cortês e aceitou adiantar o jogo para sábado. Como não houve reciprocidade colorada três anos depois, o tricolor enfaticamente não aceitou transferir seu duelo com o Veranópolis para a quinta, o que facilitaria a vida do rival este ano. Se a FGF tivesse mais inteligência na elaboração do calendário, colorados não dependeriam da boa vontade dos tricolores, e vice-versa.

Abbondanzieri

Não sei como anda, mas aos 37 anos já não é mais titular do Boca Juniors. Comparações com Clemer, campeão da América com esta idade, são o pensamento mágico. Já com Tavarelli, é a pura secação: um goleiro estrangeiro, campeão continental, mas já em decadência. São coincidências que serão utilizadas pelos que torcem e pelos que secam. Desconfio desta contratação, mas não sei onde o Inter iria achar um goleiro melhor.

Rodrigo

Bom zagueiro nas duas passagens pelo São Paulo, mas nunca foi um líder da defesa: antes foi Lugano, depois Miranda. Por sua experiência e qualidade, poderia assumir o posto no Grêmio e ajudar a resolver os problemas defensivos que andam atormentando os gremistas. Meira agiu rápido na reposição de Réver. Ponto para ele. Se dará certo ou não, o tempo dirá, como sempre. Mas não se pense que os problemas da defesa do Grêmio se resumem ao miolo de zaga.