Uma copa democrática
Raras competições em nosso continente foram tão democráticas quanto esta Copa Sul-Americana de 2009. Nas semifinais, teremos quatro times de quatro países, ao contrário do que preconizavam muitos que queriam uma semifinal de brasileiros e outra de argentinos. A competição continua sendo uma espécie de Copa Conmebol do terceiro milênio. Dos quatro semifinalistas, apenas a LDU segue disputando com chances seu campeonato nacional. O Fluminense está na zona de rebaixamento do Brasileirão, o River é oitavo no Uruguaio e o Cerro Porteño é antepenúltimo no Clausura do Paraguai.
Entretanto, se não podemos cobrar grande nível dos competidores, é inegável o interesse e alguma dose de dramaticidade que a Sul-Americana adquire nestas fases finais, notadamente das quartas de final em diante. Todos estes quatro clubes tiveram de passar por algumas provações até chegar aonde estão. Ontem, o Fluminense jogou melhor quase o tempo inteiro e derrotou La U em plena Santiago com autoridade, suportando a pressão da torcida chilena. O tricolor poderá ser um caso raro de time que cairá à Série B jogando muito bem, ou, até, de salvação estupenda; não deve ser dado como morto. Repete o Grêmio de 2003, último caso de time considerado degolado que se salvou no quarto final do Brasileirão. Fred vem desequilibrando, Maicon tem sido um grande parceiro de ataque, Cuca ajeitou a defesa.
Já a LDU passou pelo Vélez, campeão argentino, vencendo de virada em Quito. Repete os passos do Internacional. Depois de ganhar a Libertadores e a Recopa, busca firmar definitivamente seu nome no cenário continental com a conquista da Sul-Americana. O River passou pelo San Lorenzo em Buenos Aires nos pênaltis, após perder em Montevidéu. E o Cerro suportou a pressão do Botafogo no Rio de Janeiro e ainda venceu por dois gols de diferença.
Podem não ser os quatro melhores times da América do Sul, longe disso. Mas que serão seis jogos interessantes daqui até o final, não resta dúvida. Difícil apontar favoritismo, até porque vi só um jogo do River e nenhum do Cerro. Mas pelo cartel e pelos resultados, talvez Fluminense e LDU possam repetir, um ano depois, a final da Libertadores de 2008. Seria uma revanche interessantíssima para os cariocas vingarem parcialmente aquela perda traumática, da qual o clube até hoje parece não ter se recuperado.
Se tivesse de botar meu dinheiro, colocaria-o na Liga de Quito. Meu favorito era o Vélez, seguido pelo time equatoriano. Passado o desafio de Liniers, ganha força.
Em tempo:
- Desde que a Libertadores não força mais o cruzamento de times de mesmo país nas quartas-de-final, mudança ocorrida de 2000 para cá, somente em 2008 tivemos quatro países diferentes representados nas semifinais: América, do México; Boca Juniors, da Argentina; e, curiosamente, LDU e Fluminense, dois dos semifinalistas desta edição da Sul-Americana. Nesta competição, que chega à sua sétima edição, este fato não ocorria desde 2004.
- Além de 2003, outra analogia que se pode fazer do Flu com o Grêmio é no caso de o time ser rebaixado e disputar uma final de Copa quase que simultaneamente. Em 1991, 10 dias após a queda à Série B, o tricolor gaúcho decidiu a Copa do Brasil com o Criciúma.
Foto: Fred comemora o gol que classifica o Fluminense às semifinais da Sul-Americana, num dos finais de ano mais curiosos de um clube na história do futebol brasileiro.
Entretanto, se não podemos cobrar grande nível dos competidores, é inegável o interesse e alguma dose de dramaticidade que a Sul-Americana adquire nestas fases finais, notadamente das quartas de final em diante. Todos estes quatro clubes tiveram de passar por algumas provações até chegar aonde estão. Ontem, o Fluminense jogou melhor quase o tempo inteiro e derrotou La U em plena Santiago com autoridade, suportando a pressão da torcida chilena. O tricolor poderá ser um caso raro de time que cairá à Série B jogando muito bem, ou, até, de salvação estupenda; não deve ser dado como morto. Repete o Grêmio de 2003, último caso de time considerado degolado que se salvou no quarto final do Brasileirão. Fred vem desequilibrando, Maicon tem sido um grande parceiro de ataque, Cuca ajeitou a defesa.
Já a LDU passou pelo Vélez, campeão argentino, vencendo de virada em Quito. Repete os passos do Internacional. Depois de ganhar a Libertadores e a Recopa, busca firmar definitivamente seu nome no cenário continental com a conquista da Sul-Americana. O River passou pelo San Lorenzo em Buenos Aires nos pênaltis, após perder em Montevidéu. E o Cerro suportou a pressão do Botafogo no Rio de Janeiro e ainda venceu por dois gols de diferença.
Podem não ser os quatro melhores times da América do Sul, longe disso. Mas que serão seis jogos interessantes daqui até o final, não resta dúvida. Difícil apontar favoritismo, até porque vi só um jogo do River e nenhum do Cerro. Mas pelo cartel e pelos resultados, talvez Fluminense e LDU possam repetir, um ano depois, a final da Libertadores de 2008. Seria uma revanche interessantíssima para os cariocas vingarem parcialmente aquela perda traumática, da qual o clube até hoje parece não ter se recuperado.
Se tivesse de botar meu dinheiro, colocaria-o na Liga de Quito. Meu favorito era o Vélez, seguido pelo time equatoriano. Passado o desafio de Liniers, ganha força.
Em tempo:
- Desde que a Libertadores não força mais o cruzamento de times de mesmo país nas quartas-de-final, mudança ocorrida de 2000 para cá, somente em 2008 tivemos quatro países diferentes representados nas semifinais: América, do México; Boca Juniors, da Argentina; e, curiosamente, LDU e Fluminense, dois dos semifinalistas desta edição da Sul-Americana. Nesta competição, que chega à sua sétima edição, este fato não ocorria desde 2004.
- Além de 2003, outra analogia que se pode fazer do Flu com o Grêmio é no caso de o time ser rebaixado e disputar uma final de Copa quase que simultaneamente. Em 1991, 10 dias após a queda à Série B, o tricolor gaúcho decidiu a Copa do Brasil com o Criciúma.
Foto: Fred comemora o gol que classifica o Fluminense às semifinais da Sul-Americana, num dos finais de ano mais curiosos de um clube na história do futebol brasileiro.
Comentários
Boa lembrança do Grêmio de 2003, de fato há inúmeros paralelos com o Flu deste ano. Acho que o Flu ainda é um pouco melhor, mas enfim. De repente isso rende um artigo, dependendo de como for a rodada - também não quero virar um colunista do Fluminense, né =P
Mas olha: aquele time que fechou o Brasileiro não tinha Fred nem Conca, mas tinha Danrlei, Roger, Christian, Tinga e Gilberto. Individualmente era bem melhor que esse Flu, na minha opinião. Brabo é contar com esses nas 12 rodadas finais e jogar outros 20 e tantos jogos com Marcos Paulo, Jorge Mutt, Eduardo Marques, Flávio Dias, Renato, João Roberto...
Bem, eu ainda não parei para analisar a fundo a coisa, mas a minha primeira impressão é que o Grêmio era um time mais, digamos, desigual do que o Flu de hoje. Tinha bons nomes, mas os que não eram tão bons geralmente eram uma desgraça completa. Além disso, a lembrança da primeira metade daquele campeonato me provoca arrepios na espinha até hoje - e pensar que no ano seguinte conseguiram montar um Grêmio PIOR que aquele da primeira fase de 2003...
Para ilustrar:
Escalação do Grêmio na derrota de 0x1 para o Fluminense, 27/04/2003:
Danrlei; Anderson Lima, Anderson Polga, Roberto (Élton) e Roger; Amaral, Emerson (Bruno), Rodrigo Fabri e Gilberto; Luis Mário e Christian (Caio).
Escalação do Grêmio no empate em 0x0 contra o São Caetano, 23/08/2003:
Danrlei (Marcelo Pitol); Ânderson Lima, Claudiomiro (Adriano), Baloy e Roger; Leanderson, Marcos Paulo, Tinga, Élton e Gilberto (Eduardo Marques); Christian.
Escalação do Grêmio na vitória de 3x0 sobre o Corinthians, 14/12/2003:
Eduardo Martini; George Lucas (Ânderson Lima), Adriano, Renato e Roger; Gavião, Marcos Paulo, Bruno e Gilberto; Cláudio Pitbull (Marcelinho) e Christian.
É uma oscilação considerável, convenhamos. E nem apareceu aí nomes de "destaque" tipo Jorge Mutt e Flávio Dias...
Discordo, a Conmebol era a terceira competição da América. A Sula Miranda é a segunda, tem muito mais visibilidade.
Mas ainda assim é fraca, demora a engrenar. Com mudanças pontuais poderia ser bem mais interessante.
No entanto, é como o André disse. Com algumas pequenas modificações, pode ficar ainda mais interessante. A cada ano cresce o meu interesse nela, sinceramente, mesmo que ainda tenha muitos problemas já discutidos exaustivamente por nós.
Cada vez que o Fred decide um jogo, eu não sei se o torcedor do Fluminense gosta ou fica com mais raiva do cara.
Eu lembro de grandes finais, de grandes times, mas nunca de grandes campanhas. No máximo o Independiente em 1994, com muito YouTube.
Tenho dúvidas também sobre a superioridade técnica, muitas equipes escalavam reservas ou times mistos naquela época. Lembro que o Palmeiras enfiou um 7x0 no Racing em Avellaneda com o estádio completamente vazio e o Racing jogando com juvenis + jogadores voltando de lesão.
hsdhdfs
Mas é verdade, a Supercopa foi morrendo aos poucos. A vantagem era a de ser um torneio que reunia a nata da grife clubística sul-americana e era tiro-curto, apenas quatro fases de mata-mata, mas o nível não era tão alto, não.
Aí poderemos entrar na discussão da Sul-Americana, se já não valeria a pena começar desde o início com confrontos internacionais, etc. Ou enxugá-la, diminui-la para 32 participantes, por exemplo.
Curiosamente eu tenho mais lembranças de finais da Conmebol mesmo. São Paulo x Peñarol em 1994 (6 a 1 e 0 a 3), Atlético-MG x Rosário Central em 1995 (4 a 0 para o Galo num jogo, 4 a 0 canallas no outro e vitória argentina nos pênaltis), Atlético-MG x Lanús com muita briga em 1997. A Mercosul, sim, me parecia uma competição de maior nível.
Claro, sem convites e sem fase preliminar nacional, entram 4, 5 brasileiros e deu.
No geral, o número de ótimos confrontos era maior que o da Sula, ou da Conmebol, mas a falta de um critério técnico, de novas equipes ano a ano, vai minando o campeonato, e banalizando até mesmo os grandes confrontos. Afinal de contas, se tu não ganha num ano, tu ganha no próximo.
Esse até é um problema da Sula para os brasileiros. Se fosse mais difícil chegar nela, com certeza seria mais valorizada.
Só uma consideração: lá por 1994 o número de campeões sul-americanos superou as 16 vagas previstas pela Conmebol para o torneio. Em 1997, fizeram uma Supercopa com 4 grupos de 4 clubes com o rebaixamento do lanterna de cada um, que deixaria de participar na edição seguinte. Foi o último ano do torneio, já que o sistema de grupos foi um fracasso - e aí vai um pouco da minha resistência à fórmula que o Lourenço propôs, apesar de eu considerá-la boa.
Na Europa tu acaba pegando potências nacionais como o Steaua, o Levski Sofia, AEK e clubes médios em nível mundial, como Roma, Tottenham. E aí sai uns grupos legais. Na Sul-Americana talvez ficasse uma encheção de linguiça. Porque tem poucos países então tu, em vez de pegar potencias nacionais, como Bolivar e Caracas, pega equipes quase varzeanas desses países muitas vezes.
De repente, dando uma chance pros terceiros de cada grupo da Libertadores, se tornaria mais interessante, para ambas as competições.
Mas isso tudo é um mero exercício de imaginação.