Locomotiva


Boas tabelas curtas, ótimas inversões de jogo, jogadas de ultrapassagem pelos lados do campo, cruzamentos, chutes de média e longa distância. A LDU tem apresentado vasto repertório ofensivo nas partidas que pude acompanhar da equipe nesta Sul-Americana. Na defesa, surpreende a capacidade de antecipação que todos os atletas têm apresentado. O time mescla jogadores campeões da Libertadores em 2008, com a equipe que era base da seleção equatoriana que foi à Copa do Mundo, em 2006, formando talvez (a amostra é pequena) um conjunto ainda mais forte.

Edison Mendez é dessa leva antiga, e é hoje o motor da locomotiva que atropela quem vai a Quito. Após passagem pela Europa, voltou mais maduro e é o dono da bola. Cadencia o jogo, dá velocidade. Arma e finaliza. É um jogador completo, possui todos os fundamentos necessários para atuar onde atua. Outro da turma de 2006, o capitão Reasco, prejudicado por séria lesão no São Paulo, volta a desenvolver seu futebol vigoroso, atuando nos jogos em casa praticamente como ponta.

Dos campeões da Libertadores, quem desponta cada vez mais é Bieler. No ano passado, o argentino era dado como centro-avante tosco, mas esforçado. Mas era principalmente o esquema de Bauza que muitas vezes o deixava isolado. Com parceria, demonstra ser jogador inteligente e com alguma qualidade técnica, não muita é verdade. Além dele, me agrada muito o zagueiro Nolberto Araújo, ótimo jogador.
Além das duas gerações de sucesso, despontam novos nomes, como Miller Bolaños, meio-campista de vigor físico e boa qualidade técnica para chegar à frente. O goleiro Domingues foi muito bem na goleada de ontem, apesar de ter se mostrado inseguro em certos momentos no duelo contra o River uruguaio. Por outro lado, há os tripulantes antiqüíssimos da locomotiva equatoriana. O velho De La Cruz, por incrível que pareça, está em uma das melhores fases de sua carreira.

Atropelado, o Fluminense demonstrou despreparo. É natural que a equipe tenha tido pouquíssimo tempo para pensar na partida, dada a epopéia que vem realizando. Por falta de estratégia e/ou inexperiência dos atletas, a equipe brasileira não soube encarar a altitude, jogando muito pouco compactada. Um time que não joga bem próximo sofre na altura por diversos aspectos: dá espaço para as conclusões de fora da área, cansa mais e não consegue criar – visto que é difícil acertar passes mais longos para quem não está habituado.

Foi notória ainda a falta de adaptação individual, especialmente no goleiro Rafael, que nunca conseguiu acompanhar a velocidade dos arremates. Fred também foi quem mais demonstrou inexperiência em suas diversas tentativas de chutes a gol. Batia embaixo da bola, quando era necessário bater em cima dela. Além disso, houve falhas de concentração inaceitáveis para uma decisão de campeonato, como no primeiro e no terceiro gols de Mendez, e no tento marcado por Salas.

O Fluminense não pode se dar ao luxo do abatimento. Vencer o rubro-negro baiano deve ser foco único. Mas uma derrota como a de ontem é difícil de ser esquecida. É torcer para que a cacetada cause amnésia.


Foto: Mendez é o dono da bola em Quito (AFP)

Comentários

Lourenço disse…
Concordo com tudo, mas acho que os exemplos de Bolaños (do Inter)e Reasco são suficientes para mostrar que trazer jogadores da LDU sempre é um grande risco.

Incrível a evolução da LDU libertadores-recopa-sula, ainda que os adversários sejam um pouco mais fracos.
Prestes disse…
Verdade. Eu não contrataria jogadores de lá também.

É verdade que o Mendez teve passagem razoável pelo PSV.
natusch disse…
LDU amassou o Flu o jogo todo. A atuação do pó de arroz foi uma EJACULAÇÃO PRECOCE futebolística: durou 22 segundos. Depois, só deu LDU, e com total imposição. O placar foi justíssimo - e a partida tava tão decidida que eu e Vicente ficamos batendo papo, só prestávamos atenção mesmo quando o Luciano do Valle (abraço, Globo) gritava um "gol" desconsolado...
Lourenço disse…
O importante é que o Flu fez o gol fora de casa.
Chico disse…
Eu já sabia.

Deixando a brincadeira de lado, alguém viu a transmissão pela Globo? Foi uma vergonha. Galvão Bueno passou o jogo todo derramando um rosário de lágrimas ao invés de narrar a partida.
natusch disse…
Em SP passou um FILME na Globo. Eu e Vicente tivemos que assistir pela Band. É sério, perguntem para ele.
Vicente Fonseca disse…
Bah, liguei a TV na Globo e fiquei em PÂNICO ao ver que estava dando filme. Felizmente a Band passou. Depois descobri que a TV tinha Sportv também, mas os cinco minutos de Renata Fan pós jogo compensam com sobras os 90 de comentários do Godoy.

Boa análise da Liga, Prestes. De fato surpreende ver a redenção de nomes como Reasco e De La Cruz. E esse Mendez tá jogando muito mesmo. LDU de agora, 12 a 1 em Flu e River-URU, nem parece a do começo do ano.

E mesmo que estejam jogando muito os equatorianos, mesmo com o cansaço, mesmo com a altitude, fiquei extremamente decepcionado com o Fluminense. Fez o gol a 20 segundos e pareceu querer administrar a vantagem pelos outros 89 minutos e 40 segundos.