Ainda líderes

Depois do jogaço há duas semanas atrás, a expectativa que recaía sobre San Siro era imensa. Milan e Real Madrid não repetiram a partida extraordinária do turno, mas mesmo assim protagonizaram um duelo interessante, cheio de confrontos táticos, jogadas individuais e emoção.

O Real Madrid foi sempre mais intenso. Teve a bola por mais tempo e criou mais chances de gol. Fez um primeiro tempo melhor que os italianos. Pellegrini corrigiu os problemas do primeiro duelo escalando Arbeloa como um lateral defensivo, o que limitou os movimentos de Pato - que, mesmo assim, fez boa partida e deu muito trabalho. Na frente, Marcelo foi meia-esquerda, ajudando Kaká na criação, de modo que Benzema e Higuaín não ficassem isolados. Foi numa jogada envolvendo os dois brasileiros e o francês que saiu o gol madrilenho, em rebote dado pelo inseguro Dida (que, no final, se redimiu fazendo duas grandes defesas e salvando o time da derrota).

Porém, o Milan chegou ao empate seis minutos depois, em pênalti no mínimo discutível de Pepe. Ronaldinho bateu com perfeição, e o jogo passou a ser equilibrado dali em diante. Os espanhóis tinham ainda mais posse de bola, mas os donos da casa passaram a contra-golpear com perigo, normalmente em lançamentos de Seedorf, sempre com categoria, para a velocidade e técnica de Pato.

Talvez Leonardo esteja formando de maneira equivocada a composição do meio-campo milanista. Pirlo tem sido primeiro homem, com Ambrosini formando uma segunda linha ao lado de Seedorf. Invertendo Pirlo com Ambrosini, o time teria uma criação muito mais qualificada e, no mínimo, a mesma combatividade à frente da área. Ambrosini é limitado, e só sabe dar resposta se jogar recuado. Já Pirlo tem na enfiada de bola em longa distância uma de suas qualidades. Limitado a tarefas defensivas, longe do gol, perde quase toda a sua razão de existir no time.

Destaque para a emocionante ovação a Kaká após o jogo. A torcida do Milan não o esquece. Interessante notar que Ronaldinho parece, aos poucos, mostrar lampejos daquilo que sabe fazer. Ainda está longe daquela forma dos tempos de Barcelona, talvez nunca mais a recupere. Mas se apresenta um pouco mais para o jogo, exibe mais confiança que nos tempos sombrios. Se conseguir dar metade da contribuição que dava em seus áureos anos, o Milan ganha um grande reforço para, enfim, brigar de fato pelo título.

Dentro do Grupo C, ambos ficam com 7 pontos, contra 6 do Olympique. A diferença é que tanto Milan como Real Madrid terão o fraco Zurich pela frente, enquanto os franceses só enfrentam os bichos-papões. São, portanto, ainda os favoritos a passar, mesmo que a chave esteja equilibrada.

Em tempo:
- Chelsea e Porto são os primeiros classificados aos mata-matas.

Copa dos Campeões da Europa 2009/10 - Fase de Grupos - Grupo C - 4ª rodada
3/novembro/2009
MILAN 1 x REAL MADRID 1
Local: San Siro, Milão (ITA)
Árbitro: Felix Brych (ALE)
Público: não divulgado
Gols: Benzema 28 e Ronaldinho (pênalti) 34 do 1º
Cartão amarelo: Marcelo, Arbeloa, Pepe e Pato
MILAN: Dida (6), Oddo (4,5), Nesta (5,5), Thiago Silva (6) e Zambrotta (5,5); Pirlo (5,5), Ambrosini (4,5) e Seedorf (6,5); Pato (6), Borriello (5) (Inzaghi, 33 do 2º - 4,5) e Ronaldinho (6). Técnico: Leonardo (5)
REAL MADRID: Casillas (5,5), Sérgio Ramos (6), Albiol (5,5), Pepe (5,5) e Arbeloa (5,5); Diarra (5,5), Xabi Alonso (5), Kaká (6) e Marcelo (5,5); Benzema (6) (Nistelrooy, 36 do 2º - sem nota) e Higuaín (4,5) (Raúl, 29 do 2º - 5,5). Técnico: Manuel Pellegrini (5,5)

Foto: Kaká é marcado pelo ex-companheiro Ambrosini no empate que mantém Milan e Real Madrid na liderança do Grupo C da Champions (Reuters).

Comentários

Anônimo disse…
uma pena o gol anulado do pato. foi um golaço que coraria as atuações de craque dele nas duas partidas.

sobre o pênalti, achei que foi. o pepe dá o carrinho trazendo o bração aberto junto.
Vicente Fonseca disse…
Por isso eu coloco "discutível", Henrique. Acho que não foi pênalti porque não vi intenção do Pepe, mas entendo interpretações contrárias.

Também torci pelo gol do Pato. Aliás, não sei pra quem torci. Só queria um grande jogo. Não foi excelente como o outro, mas saí satisfeito.
Prestes disse…
Interessante essa tua colocação sobre o Pirlo, mas, se não me engano, no Milan ele joga ali há bastante tempo já.

Acho que ele gosta de jogar ali e os italianos gostam de ter um cara técnico ali atrás, já tinham o Baresi antes, a figura do líbero e tal. Mas eu concordo contigo, acho que o Pirlo adiantado jogaria mais.
Vicente Fonseca disse…
O Pirlo fazia normalmente a segunda linha do meio com o Ambrosini, enquanto o Gattuso era o cabeça de área. Aquele time campeão do mundo em 2007 era assim, com Kaká e Seedorf mais à frente, servindo o Inzaghi.
Prestes disse…
Eu acho que era uma linha de três ali, com o Pirlo pelo meio, o Gattuso pela direita e o Ambrosini pela esquerda.

Mas de qualquer maneira, o Pirlo sempre me deu essa mesma impressão que tu tiveste agora, a de que ele joga sempre mais recuado do deveria.
Vicente Fonseca disse…
Com o Gattuso, ele até tinha mais liberdade para sair. Mas é isso aí. Fez uma grande Copa em 2006 jogando mais solto, mais perto do gol. Vários dos gols da Itália surgiram dos pés dele.
Prestes disse…
Um jogador que chuta como ele, p. ex., aparentemente deveria jogar bem mais perto do gol.

Mas também não sei se daria certo, ele começou a carreira mais à frente e só foi estourar mais recuado. Talvez seja a lentidão dele o problema.
Vicente Fonseca disse…
Exato. E não só pelos chutes, mas também pelas assistências. Aquele primeiro gol da Itália contra a Alemanha na prorrogação das semifinais da Copa, do Grosso, foi um passe genial dele encontrando o único espaço possível dentro da defesa.
Prestes disse…
Baita jogo aquele.

Mas buenas, vou dormir, hushudasshadushadusaduhashu
Anônimo disse…
ambrosini não tem lugar no time do milan, especialmente com a braçadeira de capitão. pra mim, ele é o equivalente do GUTI, do real. lixo.

eu botava o gatucho no lugar dele. e o inzaghi no lugar do borriello, com certeza.
Lourenço disse…
Um amigo meu, que tá começando na carreira de técnico, diz que costuma colocar o seu melhor jogador, aquele que pensa o jogo, na primeira função do meio campo. Na sua frente, dois jogadores mais marcadores, combativos, protegendo esse jogador. De modo que a bola do adversário já chega mais mastigada para ele, isso quando não é roubada antes. Ou seja, jogando atrás, sua função defensiva é menor. Com mais visão de campo, vindo de trás, sua função de articulação também é melhor.
Achei estranho e perguntei um exemplo disso. Ele me disse que, naquele Milan, o Gattuso jogava na frente do Pirlo, ainda que o Pirlo fosse de armação e o Gattuso de marcação. Não conferi se ele tinha razão, mas pelo teu relato de ontem, talvez seja essa a explicação e ele, enfim, tenha razão.
Vicente Fonseca disse…
Essa teoria é interessantíssima, Lourenço. Só me pergunto se vale a pena aplicá-la quando teu articulador sabe chutar de fora da área como poucos, pois fica mais longe do gol.

Também não gosto do Ambrosini, Henrique. Não para um time que pretende ganhar tudo, como o Milan. É do nível do Túlio, só que mais alto.
Prestes disse…
Acho o Ambrosini bom jogador. Muito combativo, cancheiro, marca muito, faz o simples, se apresenta pra cabecear na área adversária. Me servia.
Vicente Fonseca disse…
Ele é útil, no máximo. Erra muito passe. Acho que pro Milan deveria ser alguém um pouco melhor tecnicamente naquela posição. Não que não me sirva, mas é no máximo um reserva.
Chico disse…
Jogo onde as defesas foram superiores aos ataques. Borriello e Higuaín não viram a pelota.