As cinco maiores defesas da história do Grêmio
Em semana de Gre-Nal, o Carta na Manga lança uma minissérie diferente para recuperar grandes momentos dos dois maiores clubes do futebol gaúcho. Em vez de relembrarmos clássicos históricos, como já tem sido praxe desde a época em que se amarrava cachorro com linguiça, lançamos aqui, com boa dose de atrevimento, aquelas que entendemos ser as cinco maiores defesas de goleiros que fizeram a história de Grêmio e Internacional. Já vimos brilhantes retrospectivas a respeito dos maiores jogos, gols mais importantes e maiores fiascos da dupla e de outros clubes. Pois chegou a hora de fazermos justiça aos goleiros que ajudaram a construir a história do tricolor e do colorado.
Evidentemente que as escolhas são da opinião particular dos autores dos textos, nem devem ser encaradas como decretos absolutistas. Levamos em conta aspectos como a dificuldade da defesa, a importância dela e do jogo em questão, a plasticidade ou, simplesmente, a importância e significado que ela tem para o autor do texto. Hoje, iniciamos a série com as cinco principais defesas de goleiros gremistas na minha opinião, e amanhã pela manhã a concluiremos, com as cinco maiores defesas de arqueiros colorados na visão de Felipe Prestes.
5- Eduardo Martini (Grêmio 2 x 2 Atlético-MG, 18/10/2003): defesas de Leão na final de 1981 são mais importantes, de Victor em 2008 e 2009 são mais difíceis. Mas esta entra pelo quesito "marcou minha memória". Eu estava naquela tarde abafada de outubro no Olímpico, no nervoso ano de 2003. O Grêmio, então lanterna disparado do primeiro Brasileirão de pontos corridos, vinha em reação. Estava há 3 jogos invicto e vencera, uma semana antes, um improvável Gre-Nal no Beira-Rio. O jogo contra o bom time do Galo começava promissor, com um gol de Christian logo no início. Duas pichotadas do panamenho Baloy, porém, botaram o time de Minas em vantagem, mas o capitão Roger empatou de cabeça, no segundo tempo. No finzinho, pênalti para o Atlético-MG, cometido pelo mesmo Baloy, dado pelo mesmo Seneme de 2009, do mesmo Galo x Grêmio, também no finzinho. Derrota em casa, num Olímpico lotado, equivaleria a um banho de água fria, uma verdadeira tragédia. Martini, contestado pela torcida, substituía o grande ídolo Danrlei, preterido pelo técnico Adílson Batista por suas más atuações. Pois Martini, a 41 do segundo tempo, defendeu a cobrança de Fábio Júnior, espalmando-a maravilhosamente para escanteio. Defesa decisiva, que levou o Olímpico ao delírio, e valeu-me a alegria do fim de semana, apesar do tropeço em casa, ajudando a evitar o fiasco de um rebaixamento no ano do centenário do clube.
4- Lara (Grêmio 2 x 0 Internacional, 22/09/1935): não se trata aqui de uma defesa específica, nem há como vê-las em vídeo. Baseio-me em diversos textos históricos que recordam este episódio. Jogando com graves problemas de saúde, Lara, então com 37 anos, praticou defesas difíceis, fechou o gol e garantiu um empate em 0 a 0 num Gre-Nal onde o Inter era tido como melhor time tecnicamente. Defesas que ficavam ainda mais improváveis dadas suas precárias condições físicas. O final da história todos já sabem: o Grêmio fez dois gols no fim, venceu o Campeonato Farroupilha por 2 a 0 e comemora, anualmente, um jantar na data para festejar o troféu - algo que só acabará em 2035, quando o título fizer 100 anos. Lara saiu do campo no intervalo, foi diretamente para o hospital e faleceu pouco mais de um mês depois. Foi seu último jogo. Virou lenda, entrou no hino do clube. E recebe, com esta história, a homenagem de entrar nesta lista mesmo que seja dificílimo hoje em dia ter acesso em vídeo às proezas de que era capaz no início do século passado.
3- Danrlei (Grêmio 2 x 0 Portuguesa, 15/12/1996): na final do Campeonato Brasileiro, o Grêmio precisava devolver os dois gols de diferença que havia sofrido para a Lusa no primeiro jogo. Após abrir o placar, o tricolor pressionava, mas os contra-golpes assustavam. Ainda no primeiro tempo, Danrlei repôs a bola errado, dando-a nos pés de Caio, pegando a zaga toda desprevenida. O restante foi uma síntese do que era aquele time: a recuperação diante de um erro, com base na excelência técnica ou, se preciso, da gana e da presença de espírito nos momentos decisivos. Caio desferiu um chute potente, alto, fortíssimo, no ângulo, da entrada da área. Danrlei se esticou todo e salvou aquilo que seria um desastroso empate. Abaixo, o vídeo, com a defesa aparecendo a 0'36".
2- Galatto (Náutico 0 x 1 Grêmio, 26/11/2005): herói da chamada Batalha dos Aflitos, Galatto fez defesas difíceis o jogo todo. Mas o pênalti batido por Ademar faltando dez minutos, com 0 a 0 no placar e o time com quatro homens a menos foi a maior e mais importante de todas. Enfrentar toda aquela hostilidade de torcedores, do clube adversário e da polícia pernambucana - fora o fato de ser o momento seguramente mais dramático e nervoso de toda a história centenária do tricolor - não foram suficientes para abalar a frieza do goleiro do Grêmio, que ainda desejou boa sorte ao cobrador antes da batida. Após o milagre, sequer comemorou sua defesa com os joelhos, com os quais rebateu a bola para escanteio e calou o Estádio dos Aflitos.
1- Mazaropi (Grêmio 2 x 1 América de Cáli, 06/07/1983): como bem descreveu Igor Natusch, o Grêmio disputava o triangular final da Libertadores. Após vencer o Estudiantes no Olímpico e perder para o América na Colômbia, derrotar o time de Cáli no Olímpico era obrigação para viajar a La Plata ainda com chances de classificação à final. Em jogo terrivelmente encardido, com gramado enlameado, o tricolor abriu vantagem, sofreu o empate, mas fez o segundo gol. Aos 23 do segundo tempo, pênalti para o América. Buscar a vantagem pela terceira vez seria muito difícil. Mazaropi, recém contratado, era a esperança de salvação. Ortiz não bateu mal. Colocou a pelota da meia altura para cima, no canto direito do goleiro, com razoável força e colocação. Mas Mazaropi, demonstrando incrível reflexo e vocação para o heroísmo, a defendeu com a mão trocada. Talvez a maior defesa de pênalti que já vi. Não apenas por ser importantíssima, mas por ser de rara dificuldade e de plasticidade maravilhosa. O Grêmio segurou o 2 a 1. Conseguiu ir à final. E nela, começou sua linda história de conquistas continentais contra o Peñarol, que alcançaria o planeta inteiro em dezembro daquele ano contra os alemães do Hamburgo - com mais algumas grandes defesas de Mazaropi em Tóquio, claro.
Evidentemente que as escolhas são da opinião particular dos autores dos textos, nem devem ser encaradas como decretos absolutistas. Levamos em conta aspectos como a dificuldade da defesa, a importância dela e do jogo em questão, a plasticidade ou, simplesmente, a importância e significado que ela tem para o autor do texto. Hoje, iniciamos a série com as cinco principais defesas de goleiros gremistas na minha opinião, e amanhã pela manhã a concluiremos, com as cinco maiores defesas de arqueiros colorados na visão de Felipe Prestes.
5- Eduardo Martini (Grêmio 2 x 2 Atlético-MG, 18/10/2003): defesas de Leão na final de 1981 são mais importantes, de Victor em 2008 e 2009 são mais difíceis. Mas esta entra pelo quesito "marcou minha memória". Eu estava naquela tarde abafada de outubro no Olímpico, no nervoso ano de 2003. O Grêmio, então lanterna disparado do primeiro Brasileirão de pontos corridos, vinha em reação. Estava há 3 jogos invicto e vencera, uma semana antes, um improvável Gre-Nal no Beira-Rio. O jogo contra o bom time do Galo começava promissor, com um gol de Christian logo no início. Duas pichotadas do panamenho Baloy, porém, botaram o time de Minas em vantagem, mas o capitão Roger empatou de cabeça, no segundo tempo. No finzinho, pênalti para o Atlético-MG, cometido pelo mesmo Baloy, dado pelo mesmo Seneme de 2009, do mesmo Galo x Grêmio, também no finzinho. Derrota em casa, num Olímpico lotado, equivaleria a um banho de água fria, uma verdadeira tragédia. Martini, contestado pela torcida, substituía o grande ídolo Danrlei, preterido pelo técnico Adílson Batista por suas más atuações. Pois Martini, a 41 do segundo tempo, defendeu a cobrança de Fábio Júnior, espalmando-a maravilhosamente para escanteio. Defesa decisiva, que levou o Olímpico ao delírio, e valeu-me a alegria do fim de semana, apesar do tropeço em casa, ajudando a evitar o fiasco de um rebaixamento no ano do centenário do clube.
4- Lara (Grêmio 2 x 0 Internacional, 22/09/1935): não se trata aqui de uma defesa específica, nem há como vê-las em vídeo. Baseio-me em diversos textos históricos que recordam este episódio. Jogando com graves problemas de saúde, Lara, então com 37 anos, praticou defesas difíceis, fechou o gol e garantiu um empate em 0 a 0 num Gre-Nal onde o Inter era tido como melhor time tecnicamente. Defesas que ficavam ainda mais improváveis dadas suas precárias condições físicas. O final da história todos já sabem: o Grêmio fez dois gols no fim, venceu o Campeonato Farroupilha por 2 a 0 e comemora, anualmente, um jantar na data para festejar o troféu - algo que só acabará em 2035, quando o título fizer 100 anos. Lara saiu do campo no intervalo, foi diretamente para o hospital e faleceu pouco mais de um mês depois. Foi seu último jogo. Virou lenda, entrou no hino do clube. E recebe, com esta história, a homenagem de entrar nesta lista mesmo que seja dificílimo hoje em dia ter acesso em vídeo às proezas de que era capaz no início do século passado.
3- Danrlei (Grêmio 2 x 0 Portuguesa, 15/12/1996): na final do Campeonato Brasileiro, o Grêmio precisava devolver os dois gols de diferença que havia sofrido para a Lusa no primeiro jogo. Após abrir o placar, o tricolor pressionava, mas os contra-golpes assustavam. Ainda no primeiro tempo, Danrlei repôs a bola errado, dando-a nos pés de Caio, pegando a zaga toda desprevenida. O restante foi uma síntese do que era aquele time: a recuperação diante de um erro, com base na excelência técnica ou, se preciso, da gana e da presença de espírito nos momentos decisivos. Caio desferiu um chute potente, alto, fortíssimo, no ângulo, da entrada da área. Danrlei se esticou todo e salvou aquilo que seria um desastroso empate. Abaixo, o vídeo, com a defesa aparecendo a 0'36".
2- Galatto (Náutico 0 x 1 Grêmio, 26/11/2005): herói da chamada Batalha dos Aflitos, Galatto fez defesas difíceis o jogo todo. Mas o pênalti batido por Ademar faltando dez minutos, com 0 a 0 no placar e o time com quatro homens a menos foi a maior e mais importante de todas. Enfrentar toda aquela hostilidade de torcedores, do clube adversário e da polícia pernambucana - fora o fato de ser o momento seguramente mais dramático e nervoso de toda a história centenária do tricolor - não foram suficientes para abalar a frieza do goleiro do Grêmio, que ainda desejou boa sorte ao cobrador antes da batida. Após o milagre, sequer comemorou sua defesa com os joelhos, com os quais rebateu a bola para escanteio e calou o Estádio dos Aflitos.
1- Mazaropi (Grêmio 2 x 1 América de Cáli, 06/07/1983): como bem descreveu Igor Natusch, o Grêmio disputava o triangular final da Libertadores. Após vencer o Estudiantes no Olímpico e perder para o América na Colômbia, derrotar o time de Cáli no Olímpico era obrigação para viajar a La Plata ainda com chances de classificação à final. Em jogo terrivelmente encardido, com gramado enlameado, o tricolor abriu vantagem, sofreu o empate, mas fez o segundo gol. Aos 23 do segundo tempo, pênalti para o América. Buscar a vantagem pela terceira vez seria muito difícil. Mazaropi, recém contratado, era a esperança de salvação. Ortiz não bateu mal. Colocou a pelota da meia altura para cima, no canto direito do goleiro, com razoável força e colocação. Mas Mazaropi, demonstrando incrível reflexo e vocação para o heroísmo, a defendeu com a mão trocada. Talvez a maior defesa de pênalti que já vi. Não apenas por ser importantíssima, mas por ser de rara dificuldade e de plasticidade maravilhosa. O Grêmio segurou o 2 a 1. Conseguiu ir à final. E nela, começou sua linda história de conquistas continentais contra o Peñarol, que alcançaria o planeta inteiro em dezembro daquele ano contra os alemães do Hamburgo - com mais algumas grandes defesas de Mazaropi em Tóquio, claro.
Comentários
Se fosse citar a maior atuação de um goleiro tricolor, seria Danrlei NAQUELE GRE-nal, o que mereceu a melhor manchete da ZH de todos os tempos: "Inter 0x0 Danrlei". Atuação igual aquela eu acho que nunca vi, embora o Victor ande se esforçando...
Pensei em botar uma defesa do Danrlei que ele buscou uma falta batida pelo Daniel Carvalho lá no ângulo naquele Gre-Nal de 2003 a que tu te referes. Procurei homenagear cada grande goleiro tricolor na lista, ainda que outros tenham ficado de fora - e apesar de que o Martini não tenha sido um goleiro histórico ou até mesmo confiável, digamos.
Me arrepiei vendo os vídeos.
O Maza era baixinho mas era muito decisivo. A defesa de pênalti dele foi linda, mas a do Galatto, pra mim, foi muito mais foda por tudo que a envolveu.
Santos x Victor em 2008 também teve algumas memoráveis. Mas nem tanto quanto essas.
Claro que, para mim, a do Galatto marcou mais que a do Mazaropi - afinal, eu tinha 22 anos na do Galatto e três meses na do Maza. Pensei em inverter a ordem, mas achei melhor priorizar a de 1983 mesmo.
Pensei em colocar aquela do Victor com o pé, na Vila. Ou aquela contra o Vitória, pra mim a melhor de todas. Uma pena ele não entrar na lista mesmo.
"Em semana de Gre-Nal, o Carta na Manga lança uma minissérie diferente para recuperar grandes momentos dos dois maiores clubes do futebol gaúcho"
Não vejo a hora do post colocando as cinco maiores defesas do Juventude, será que tem alguma do 0x4 de 1999?
Acharemos um juventudista, então. Certamente terá algumas do glorioso ISOTON.