Virada na tendência

Desta vez, além do bom futebol, veio o resultado. Pela primeira vez no ano, o Grêmio aliou uma boa atuação em Gre-Nal com a vitória. Hoje fez por merecer o triunfo sobre o Internacional, especialmente pelo segundo tempo. Placar que simboliza o fim de um período de hegemonia colorada no clássico, além de colocar o tricolor definitivamente na briga pelas primeiras posições.

Foi um ótimo Gre-Nal. Raras vezes se viu um clássico tão jogado, sem times truncados. O primeiro tempo foi de extremo equilíbrio, mas dentro de um tipo de jogo que favorecia o Inter. Havia um buraco imenso no meio-campo gremista quando o time perdia a bola, entre os volantes e os meias. Por ali, o time de Tite organizou seus contra-ataques. Talvez fosse um excesso de zelo: era importante ter muitos jogadores em caso de contra-golpe. Porém, era justamente esta falha de posicionamento que fez o Inter levar perigo nos 45 iniciais. A cada jogada errada de ataque gremista, o rebote era normalmente colorado. Mas mesmo com esta vitória de meio-campo, o Inter não chegou nunca a dominar o Gre-Nal, por parte da insistência e abnegação dos donos da casa. Mas havia a possibilidade de contra-golpear, e isso era muito mais interessante ao Inter que ao Grêmio.

O gol colorado só poderia surgir assim: Andrezinho pegou mais um rebote e iniciou a jogada que terminou em falha de Souza e conclusão perfeita de Nilmar. O Grêmio ficou nervoso e jogou seus piores 10 minutos, envolvido pelo toque de bola adversário. Até que Souza redimiu-se do erro no gol do rival e fez, de falta, uma pintura. Empatar antes do intervalo era importantíssimo.

O segundo tempo, por outro lado, foi todo do Grêmio. Paulo Autuori corrigiu o problema, compactou a meia-cancha e seu time dominou o Internacional. Adiantando Túlio e Adílson, o tricolor forçava erros do adversário e mantinha-se quase sempre no campo de ataque. A posse de bola rubra era estéril: servia apenas para o time retomar o gás. Com saídas perigosas de Mário Fernandes pela direita, ou em jogadas construídas por um Souza novamente inspirado, o Grêmio era bem mais perigoso. O gol de Maxi López, na pressão, foi a concretização da superioridade.

Depois disso, Tite fez a troca de praxe, retirando Taison e colocando Alecsandro. Não adiantou, pois a bola nunca lhe chegou em condições de concluir. As entradas de Giuliano e Danilo Silva nos lugares de Andrezinho e Bolívar, como sempre, não acrescentaram nada. Os 20 minutos posteriores ao gol da vitória tricolor estiveram muito mais perto de presenciar o terceiro gol do Grêmio que o empate do Inter. Mesmo que o contra-ataque não seja uma das virtudes gremistas. Sabidamente, a lentidão da saída da defesa para o ataque ainda é um problema que Autuori tem a corrigir. Hoje conseguiu amenizá-lo com uma postura de jogo agressiva no segundo tempo.

A vitória do Grêmio passa por Autuori: apostou em Mário Fernandes, que deve seguir no time, pelo que jogou. Tímido no começo, estava orientado a guardar posição para Fábio Santos. Como o lado esquerdo de ataque estava muito marcado, foi obrigado a se soltar na etapa final, e esteve bem. Inclusive na marcação, onde ganhou a maioria das divididas. Outro mérito do comandante tricolor foi corrigir o buraco presente no primeiro tempo. Preenchendo aquele espaço, o Grêmio virou o duelo pela meia-cancha. Túlio e Adílson se destacaram na marcação, Souza ganhou companhia. Tcheco, mesmo longe dos seus melhores dias, foi quem piorou o desempenho do primeiro tempo. Destaque para Réver, que foi soberano, e teve em Rafael Marques um exímio companheiro.

No Inter, a estratégia era fechar-se atrás para buscar os contra-golpes. No primeiro tempo isso foi possível. Andrezinho e D'Alessandro assessoravam Nilmar com qualidade. Taison foi o pior jogador do clássico: mesmo que tenha tido importância em bloquear Fábio Santos, não pode pautar sua atuação em simplesmente impedir o lateral do Grêmio de jogar. Precisa ir para cima, fazer mais. Esteve apagado e irritadiço. Guiñazu, dentro do que sabe, também esteve abaixo. Já Sandro foi o melhor jogador colorado em campo, e um dos melhores do clássico. Não consigo enxergar uma única razão que seja capaz de tirá-lo do time titular. Joga muito mais que Magrão, por exemplo.

Resultado que pode balizar as próximas rodadas. O Grêmio confirma seu momento ascendente, vencendo o clássico com autoridade, e sobe posições. Terá Avaí e Santo André neste semana, dois adversários que vêm crescendo, mas são 6 pontos que não podem ser desperdiçados. Se confirmados, o time chegará no G-4. Paulo Autuori agora terá ainda mais tranquilidade para seguir seu trabalho de remontagem do time, que já é visível - mas faltava a prova do Gre-Nal. Para o Inter, uma derrota que significa a queda para o 3º lugar. Mas isto ainda é o que o time tem de melhor. Os desempenhos recentes seguem preocupantes. A dependência de Nilmar também não é saudável, ainda mais que não se sabe até quando ele fica. Tite tem cada vez menos tempo e mais pressão para recolocar o time nos eixos. Hoje jogou o time que muita gente defende como o melhor do Inter - eu, inclusive - e o resultado foi uma derrota com atuação de mediana para baixo. Isto, claro, se Tite for mantido. O último Gre-Nal (agora penúltimo) derrubou o treinador que perdeu de virada.

Em tempo:
- O grande duelo do clássico foi Sorondo contra Maxi López. O uruguaio foi bem na maior parte das vezes, mas Maxi deu trabalho. Pelo seu porte físico, ganhou muitas disputas no jogo de corpo. Muito bonito ver como um e outro desdobrava-se para superar o adversário. Aliás, o gol de Maxi foi o 500º do tricolor em Gre-Nais.

- Victor e Réver, apesar do enorme sucesso que fazem pelo Grêmio, venceram apenas seu primeiro Gre-Nal.

- Bom público, 40 mil. Achei que tinha menos gente, pela quantidade de espaços vazios.

Campeonato Brasileiro 2009 - 12ª rodada
19/julho/2009
GRÊMIO 2 x INTERNACIONAL 1
Local: Olímpico Monumental, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Leonardo Gaciba (RS)
Público: 40.020
Renda: R$ 790.721,50
Gols: Nilmar 24 e Souza 35 do 1º; Maxi López 24 do 2º
Cartão amarelo: Tcheco, Guiñazu e Taison
GRÊMIO: Victor (6), Mário Fernandes (6,5) (Makelele, 39 do 2º - sem nota), Rafael Marques (6), Réver (7,5) e Fábio Santos (6); Túlio (6), Adílson (6,5), Tcheco (5) e Souza (7,5); Herrera (6) (Jonas, 39 do 2º - sem nota) e Maxi López (7). Técnico: Paulo Autuori (7)
INTERNACIONAL: Lauro (6), Bolívar (5) (Danilo Silva, 36 do 2º - sem nota), Índio (5,5), Sorondo (6) e Kleber (5); Sandro (7), Guiñazu (5,5), Andrezinho (5,5) (Giuliano, 36 do 2º - sem nota) e D'Alessandro (5,5); Taison (4) (Alecsandro, 27 do 2º - 5) e Nilmar (6). Técnico: Tite (4,5)

Foto: Maxi López comemora o gol da vitória do Grêmio (Edu Andrade/Futura Press)

Comentários

Lourenço disse…
Em síntese, primeiro tempo parecido com os outros grenais do ano, e o Grêmio teve a "sorte" de marcar o gol de empate logo em seguida. No segundo tempo, o Grêmio mostrou as virtudes e o Inter os defeitos dos últimos jogos, ou seja, Grêmio com posse de bola e um Inter preguiçoso, jogando todas as esperanças em Nilmar, isolado. Primeiro tempo equilibrado, segundo tempo do Grêmio, e o placar foi por isso justo.
Mário Fernandes foi bem na improvisação, mas não pode virar uma tendência isso. Ficou claro que o guri não tem o cacoete de lateral. Não tentou cruzar uma bola sequer.

Já defendi isso há algum tempo, e fiquei até feliz em ver o Chiquinho falar o mesmo num post passado: Rafael Marques tem que ser titular. É o zagueiro mais maduro e frio do Grêmio.

E que baita técnico é o Autuori. Se o time continuar se arrumando dessa forma e manter nomes importantes, dá pra sonhar seriamente com título de expressão. Não agora, mas ano que vem, certamente.
Chico disse…
O Monumental pulsou e o Tricolor buscou uma vitória de virada na raça.
Chico disse…
Como há cem anos atrás quem ofereceu o baile foi o GRÊMIO.
Chico disse…
Sem o celso burroth fica mais difícil pro interrado!
Vicente Fonseca disse…
Fred, acho que é viável colocar o Mário Fernandes ali. A ideia é manter um dos laterais mais preso pro Fábio Santos subir do outro lado - subindo ele cresce, já deu pra ver. Ele foi melhor que o Thiego, por exemplo. Não tem o cacoete de subir e cruzar, é verdade; mas cumpre bem por ali, marca firme e dá segurança. E ele até tem umas boas arriscadas ao ataque (recuso-me a falar "escapadas").

No mais, Chico é o REI DA VUVUZELLA. Grande figura.
Vicente Fonseca disse…
Ah, e amanhã haverá Carta na Mesa normalmente. Só esqueci de botar o post que anuncia a gravação. Mas haverá, no horário normal e tudo mais.
natusch disse…
Minha tendência é de concordar com o Fred quanto ao Mário Fernandes. Jogou bem, foi até um dos destaques, mas para mim tem que ser priorizado seu uso como zagueiro mesmo, do tipo que ajuda no apoio, mais ou menos como o Réver. Como opção tudo bem, mas acho legal investirmos em alguma aposta que seja da posição mesmo - digo aposta porque, sinceramente, não vejo NINGUÉM disponível no mercado...

Partidas excepcionais de Adilson, Souza e da dupla de zaga (lamento, Chiquinho, hehehe). Máxi é infernal, não deixa a defesa adversária em paz, fez um gol decisivo e ainda armou na raça a chance de mais um, que o Herrera meteu na trave. Pena que não deve ficar no fim do ano, tem potencial para ser um belo HOMEM GRE-nal. Já o Inter jogou pouco, de novo: muito engessado, sem iniciativa, esperando sempre o Grêmio propor as ações. Tudo bem jogar assim quando tava ganhando, mas saiu o 2-1 e continuou na mesma. E Taison hoje foi não menos do que patético.

No fim das contas, ganhou quem jogou melhor. O que, convenhamos, não pode ser dito de todos os clássicos desse ano...
Vicente Fonseca disse…
Quanto a isso, eu concordo. Ele não pode ser uma solução definitiva para aquele lugar, porque pode ser um excelente zagueiro, em breve. Mas dentro do que temos visto no Olímpico, é o que deu melhor resposta. Por enquanto, por mim, fica.
LF disse…
provavelmente eu vou amanhã. Espero o Lourenço com um FACÃO.

excelente lembrança do duelo Sorondo-Maxi. Dois jogadores muito parecidos, fisicamente, e que tiveram grande atuação. Não fosse o Guiñazu fazer a assistência de futevôlei para o Maxi, teria sido um honroso empate.
Vicente Fonseca disse…
Bah, grande presença.

No mais, é como eu tava comentando com o Zeh: o Guiñazu deu o passe de peito para o Maxi, mas estava IMPEDIDO! Mas, como em jogada bonita não vale impedimento (Casagrande, W. São Paulo: Globo, 2007), o gol foi legal.
henrique disse…
réver foi MAGISTRAL, não deixou o rafa marques tocar na bola. cobriu os dois lados. e quase entregou várias vezes, mas sempre acabou se superando.

já o mario fernandes começou PREOCUPANTE, depois foi muito bem. grande grenal, e que alívio essa vitória.
Anônimo disse…
e concordo: rafa marques é mais zagueiro que o léo. léo é hype.
André Kruse disse…
Também vi esse "buraco" no primeiro tempo. Andrézinho jogando solto.

Grêmio melhorou no segundo tempo, mordeu mais.

Achei baixa tua nota pro Tcheco (acho que jogou mais que o Herrera e o F.Santos).

Cláudio Cabral deu nota 4 pro Mário Fujão.
Gustavo disse…
Concordo com a nota baixa pro Tcheco, se tivesse jogado bem a vitória do Grêmio teria sido muito mais fácil.

De fato, Mário Fernandes é melhor do que o Thiego para a lateral. Porém um lateral de verdade deve ser melhor do que os dois. Mário jogou bem, se soltou no segundo tempo, mas não apoiava com muita qualidade. Sua virtude é defensiva e ele pode mostrá-la jogando na zaga.

Victor pouco trabalhou. Mas quando precisou, ele estava lá. Como é bom ter segurança no arco.
Vicente Fonseca disse…
Mário Fernandes começou claramente orientado a não apoiar. Era irritante ver Tcheco e Souza com a bola, olhando pra ele, um latifúndio à sua frente, e ele parado. Vai aprender, e quando aprender poderá ser um grande jogador.

André, achei o Tcheco até razoável no primeiro tempo, mas com muitos erros de passe. Acho ele longe dos bons tempos. No ano passado, por exemplo, fazia a diferença. Mas confio que melhorará. Ao menos o Souza gastou a bola e compensou, mas respeito bastante a tua opinião.
Vicente Fonseca disse…
Tinha comigo que o Grêmio havia marcado 498 gols em Gre-Nais, mas vejo agora que o do Souza foi o 500º, e não o do Maxi. Correção, portanto.
augusto g. disse…
o autuôri tem que ficar esperto. logo mais esse lance de soltar o lado esquerdo e prender o direito fica manjado e facilmente anulável. tem que pensar alternativas.

qnto à mario doril fernandes: como no fim do ano certamente a direção venderá alguém para pagar as contas, espero que sejam espertos e vendam o réver, pois esse já tem substituto.
augusto g. disse…
aqui comemoramos com parabéns e bolinho de chocolate: http://twitpic.com/b18ol
quando o tite vai embora, afinal?!
começo a perder as esperanças.
ass.: muricy
Amengual disse…
Bah,fui citado em dois comentários. Não sabia que vocês levavam o que eu escrevo aqui em consideração. Bom, sou crítico da defesa do Grêmio sim, mas sempre frisei que o principal problema era o Léo. que estava fazendo o Réver ficar meio perdido. O Léo estava sendo o furo. Deu pra ele. Tá muito lento, chega sempre atrasado por baixo e por cima. Rafa Marques e Réver é a melhor dupla possível hoje. Ah, e que venha o Gavilán de uma vez. Saudades do índio guarani. Se a vinda dele só significar a dispensa do Orteman, por excesso de estrangeiros, já é uma baita contratação. Hasta luego.
Vicente Fonseca disse…
Bah, GAVILÁN. Não sei como anda ele, mas teve bela passagem no Olímpico, sem dúvida.

Sempre levamos em conta o que tu fala, rapaz. Hasta.