Em vez da taça, um fiasco

O Internacional precisava superar uma série de desafios para sair de Quito com o seu segundo título da Recopa. Não conseguiu passar por nenhum deles. Em mais uma atuação pífia, o colorado foi goleado até com relativa facilidade pela LDU, que não tem nada a ver com a crise técnica do time de Tite e levantou sua segunda taça internacional em um ano.

O começo parecia até alvissareiro. Kleber bateu falta com perigo, mostrando que os gaúchos estavam dispostos a reverter a desvantagem da derrota no Beira-Rio. Eram 6 minutos. Um minuto depois, foi Nilmar quem perdeu. Mas a esperança durou pouco. Aos 9, erro de posicionamento da defesa e Espínola subiu mais que Danny Morais e cabeceou da entrada da área após escanteio. A bola passou por todo mundo e entrou.

O Internacional sentiu o gol, e a LDU controlou as ações até os 35 minutos. Lara movimentava-se bastante e criava opções, mesmo que sua efetividade ofensiva tenha sido pouca. Reasco também subia com qualidade, enquanto Ambrosi ficava mais preso pela esquerda. Vera era o centro criador das ações ofensivas quando se soltava. Atrás, o trio de zagueiros e a dupla de volantes composta por De La Cruz e Urrutia impedia o colorado de atacar através de uma marcação forte.

No Inter, nada funcionava. Havia sérios problemas nos três setores. A zaga batia cabeça e vazava, mesmo que os dois laterais fossem muito mais zagueiros que qualquer outra coisa. No meio, Glaydson era envolvido. Guiñazu corria bastante, mas ele e Magrão não encostavam no trio de frente como sempre fizeram nos bons momentos deste time no ano. D'Alessandro errava tudo, Taison teve atuação apática. Só Nilmar ia bem. Por cinco minutos, a partir dos 35, ele começou a jogar praticamente sozinho - e devido à sua imensa qualidade individual, quase conseguiu o empate. Mas novamente a esperança era cortada por um gol equatoriano. Danny Morais novamente foi batido por cima, agora por Bieler. 2 a 0, título quase impossível.

A declaração atravessada de Tite na volta para o segundo tempo - "eles não têm que falar nada, quem manda no vestiário sou eu!" - dava o tom de como foi a conversa intramuros no Casa Blanca. Na prática, veio a mudança de Glaydson por Andrezinho. Aos 7, saiu Taison e entrou Alecsandro. Um minuto depois, o gol de Vera, em desvio de Danny Morais - novamente ele. Este jogador tem me desmentido e decepcionando a torcida colorada: o clamor por sua entrada no time no lugar de Álvaro vem sendo calado por atuações muito fracas, bem longe do tom de promessa que ele sempre levou consigo. Hoje, teve atuação desastrosa.

Dali em diante, o jogo morreu. Só a entrada de Cevallos e sua saliente barriga é digna de registro. O Internacional tem muito a corrigir, em todos os setores do time. Diante de tamanha ruindade, nem a desculpa da altitude serviria para explicar. Não é possível que só a ausência de Sandro explique a queda do time nos últimos 40 dias. Há jogadores em crise técnica evidente. Kleber, por exemplo, ainda não desembarcou em Porto Alegre. Não teve uma única atuação que sequer lembrasse os tempos de Corinthians e Santos. Joga com um descompromisso irritante. É hora de Tite usar o grupo que tem e repensar algumas de suas opções. Isso se ele permanecer, já que a pressão por sua saída tende a aumentar cada vez mais.

Recopa Sul-Americana 2009 - Final - 2º Jogo
9/julho/2009
LDU 3 x INTERNACIONAL 0
Local: Casa Blanca, Quito (EQU)
Árbitro: Carlos Chandía (CHI)
Público: não divulgado
Gols: Espínola 9 e Bieler 39 do 1º; Vera 8 do 2º
Cartão amarelo: Espínola e Norberto Araújo
LDU: Domínguez (6) (Cevallos, 18 do 2º - 5,5), Campos (6), Norberto Araújo (6) e Espínola (7); Reasco (6,5), De La Cruz (6), Vera (7) (William Araújo, 36 do 2º - sem nota), Urrutia (6), Lara (6) (Graf, 31 do 2º - 5) e Ambrosi (5,5); Bieler (7,5). Técnico: Jorge Fossatti (8)
INTERNACIONAL: Lauro (5), Danilo Silva (4), Índio (5), Danny Morais (2,5) e Kleber (4); Glaydson (4,5) (Andrezinho, intervalo - 5), Guiñazu (5,5), Magrão (4) e D'Alessandro (4) (Bolaños, 27 do 2º - 4,5); Taison (4) (Alecsandro, 7 do 2º - 5) e Nilmar (5,5). Técnico: Tite (3)

Foto: Taison foi anulado pela marcação da LDU (AP)

Comentários

Gustavo disse…
A batatinha do Tite tá no forno. Provavelmente a cabeça dele vai rolar. Uma pena.
Vine disse…
Incrível como o Sorondo ainda não está jogando na sua própria vaga. Daqui a pouco ele se machuca de novo e o buraco na zaga vai continuar. Tem que aproveitar o cara.

E o Muricy tá pedindo passagem.
Little Potato disse…
Pra mim, o Inter precisa tentar alguma coisa nova. Apenas a eterna substituição do Glaydson(Sandro) pelo Andrezinho e do Taison pelo Alecsandro não bastam.

Acho que ao menos o Tite devia tentar o 3-5-2, com o Andrezinho no lugar do Magrão pela direita (e liberando o Kléber), e o Sorondo na zaga, com o Índio e o Bolívar. Mesmo que dê tudo errado, não tentar nada novo me irrita. O Tite me lembra cada vez mais o... Parreira.

Bolívar, Sorondo e Índio; Andrezinho, Sandro, Guiñazu, D'Alessandro (quando acordar!) e Kléber; Nilmar e Alecsandro (O Taison tá precisando de um banco).
No Playstation funciona. :P
Little Potato disse…
Ah, sim. Eu aposto que se vier o Muricy, será esse o esquema de jogo, com pequenas variações...
Vicente Fonseca disse…
Ah, se for o Muricy não duvido mesmo disso. Mas conhecendo sua precaução, aposto no Glaydson em vez do Andrezinho na ala direita. Sério.
Prestes disse…
Vicente, tu exemplificou o jogador errado. O Kléber desembarcou sim em Porto Alegre. Contra o Náutico, por exemplo, foi o melhor jogador. Fez várias ótimas partidas.

Quem tá mal mesmo é o Dalessandro, o jogador mais fácil de desarmar no País. Vou torcer pela suspensão dele, uhsuhdsuhdsuhdsdauh

Danny Morais é um guri cagado. Sem mais.
Vicente Fonseca disse…
Prestes, obrigado pela contribuição a respeito do Kleber. Falo só o que vi. Não assisti ao jogo contra o Náutico, nem qualquer partida que ele tenha feito que me lembrasse aquele jogador perigoso, manhoso, driblador, que colocava a bola onde queria dos tempos de futebol paulista. E não é implicância, pois sempre o achei um ótimo jogador, o defendi na seleção em 2006 e 2007. Mas simplesmente me passa a ideia que não está afim, dos jogos que eu vi dele - não foram poucos, mas não foram todos.
Lourenço disse…
Bah, para mim o Kléber não é nem sombra do que era, jogador insinuante, perigoso. Hoje é um burocrata, tanto é que sua maior diferença em relação ao Cordeiro é que ele faz o feijão com arroz na cobertura e não compromete. Não comprometer é muito pouco para o Kleber que conhecíamos.

Tite tirou o Álvaro. Tudo bem, não vinha bem. Mas também nunca defendi sua saída, visto que ninguém pede passagem. Danny Morais nunca confirmou. Sorondo, me desculpem, ainda é uma lenda. No caso de Magrão e D'Alessandro, Andrezinho está aí. Com Taison, também não há ainda um reserva que vista a camisa 7. Deve ficar.

Sobre ontem, só vi a partir do meio do segundo tempo, quando tudo já tinha acontecido.

Sobre o Tite, há os que sempre criticaram, mesmo quando o Inter ganhava todos os jogos, a maioria das vezes por goleada. Sempre considerei isso uma superestimação do plantel, que para mim era muito bom, mas não capaz de fazer 110% de aproveitamento. Agora, pegando times melhores, sem Tite alterar nada, o Inter perde. Interpretem como quiserem, mas acho que eu é que estava certo nessa aí.
Chico disse…
Toda semana uma alegria!
Chico disse…
Não ganha nem do DMLU.
Chico disse…
Semana que vem tem jogo marcado contra o DMAE?
Chico disse…
No clássico dos azarões em Libertadores...agora nós já sabemos quem é o menos pior.
Prestes disse…
Sobre o Kléber:

1) É fato que já não está no auge da carreira.

2) Sempre foi um jogador calado, tímido e sem vibração, nisso apenas continua sendo.

3) Os cruzamentos certeiros, uma de suas principais qualidades, não tem como acontecer no Inter, já que o time joga mais pelo meio, e não tem um centroavante típico.

4) Mas também é verdade que é um jogador que ainda hoje raramente erra um passe. Também é a válvula de escape do time. Com ele em campo, a necessidade de chutões se reduz demais, por que os zagueiros tocam pra ele e ele sempre consegue ligar com alguém passando a bola.

5) Jogando com liberdade contra o Náutico, protagonizou todas as ações do time. Entrou pelo meio e deu muita qualidade as tabelas, uma vez que, repito, raramente erra um passe.

6) Não é totalmente seguro, mas marca como pouquíssimos laterais brasileiros.
Vicente Fonseca disse…
Concordo que ele sempre foi um jogador meio frio, mas o fato é que ele me parece frio DEMAIS desde que não se acertou com o futebol europeu. Não é só aqui no Inter, desde o Santos ele vem assim. Ontem, por exemplo, time levando 2 a 0 e ele saía para o jogo com a pressa de quem parecia estar ganhando. Me irritaria muito se fosse um jogador do meu time.

Talvez seja culpa do Tite, então. Não dá para desperdiçar um jogador desta qualidade transformando-o numa espécie de zagueiro aberto pela esquerda, como era o Marcão na Sula-08. Vejo ele errar poucos passes, mas normalmente passes para o lado. Não chega uma vez sequer à linha de fundo, e nem sua bola parada me parece perigosa como antes. Enfim, eu tenho o visto bastante abaixo do que eu esperava quando chegou aqui.

Não seria o caso de tentar colocá-lo na meia-cancha, já que D'Alessandro vive crise técnica? Seria uma cara nova na criação. Talvez ele volte aos bons tempos por ali, hein? Um de seus melhores períodos no Santos foi na meia.
Prestes disse…
Eu acho que ele sempre foi assim, e não é uma questão de frieza, mas de timidez - o que obviamente também é prejudicial para um jogador.

Atribuo a isso o fato de ele nunca ter dado certo na seleção. Os jogadores tímidos, em geral, não dão certo na seleção, por que é um ambiente que exige rápida adaptação. O Alex, do Fenerbache, sofre do mesmo mal.

No mais, o que tu relataste, de não chegar ao fundo, é um questão de função mesmo, de treinador. Claro que se ele fosse mais destemido poderia ir mais ao fundo, o Tite deve orientá-lo a só ir na boa e aí ele nunca vai.
Vicente Fonseca disse…
Olha, eu acho que todos concordamos que o Inter precisa dar uma mexida na sua forma de jogar, repensar algumas coisas. Já me parece um time que ficou de certa forma "manjado", o qual os adversários sabem como controlar - às vezes não conseguem pela qualidade individual do elenco, mas que perdeu em produtividade.

Usar mais o Kleber no apoio ao ataque seria uma maneira de mudar a cara do Inter e renová-lo a ponto de crescer novamente. Acho que não é o caso de deixá-lo no banco ou mandá-lo embora, mas aumentar sua importância. Assim, de coadjuvante, ele deixa de ser uma arma que o time pode ter pelos lados. Jogar muito pelo meio tem sido um dos problemas deste time. Ele ainda pode ser muito útil, mas é preciso repensar as estratégias.
Vicente Fonseca disse…
Até porque o time joga com três zagueiros, um deles como lateral, e outros três volantes. Pra que jogar com mais um zagueiro na lateral pelo outro lado? Quanto mais homens ficam atrás, maior é a dependência de uma boa jornada dos homens de frente. É preciso equilibrar esta conta - e usar mais os lados pode ser o início de zerar este BALANCETE.
Lourenço disse…
Importante lembrar que o Kleber se recusou a jogar no meio de campo do Santos, justamente porque isso lhe atrapalharia na Seleção, já que dificilmente o Dunga chamará um lateral que está jogando no meio em seu time. Isso continua valendo agora, cada vez mais perto da Copa.
Vicente Fonseca disse…
Ah, pois é. Tem isso.
Prestes disse…
Concordo contigo, Vicente. Ou sai um volante, ou os laterais saem mais. Contra times fracos o Inter até consegue se soltar mais. Mas contra bons times, fica acuado.