Para pensar e repensar

O empate contra o Santos na abertura do Brasileiro foi um resultado ruim e frustrante, porque a vitória vinha até 40 minutos do segundo tempo. Mas ao contrário de ser uma daquelas partidas para o Grêmio esquecer, o tricolor tem algumas lições a tirar deste jogo, e lembrar dele na construção de ideia de time para os confrontos mais difíceis pela Libertadores, que virão nas fases finais.

Estou me referindo principalmente à ideia de meio-campo da equipe, a qual funcionou muito bem contra equipes de menor expressão técnica, mas que necessitava de um teste contra um time de nível parecido com o do Grêmio. E antes de Rospide agir com correção após a primeira metade da etapa inicial, adiantando a marcação para pressionar a saída de bola santista, o time foi dominado no setor mais importante do campo pela equipe de Mancini.

Tcheco tem rendido abaixo do que pode como meia, mas vem contribuindo bastante como um volante mais adiantado. Entretanto, contra um time rápido e de jogadores habilidosos como o Santos, não conseguiu cumprir a função com a mesma facilidade de outros jogos. Não é jogador para correr atrás de um marcador o jogo todo, grudar nele. Como Ruy e Fábio Santos não marcavam, pois o Santos atuavam com dois pontas, seguidamente viam-se quatro jogadores paulistas no mano a mano contra Adílson e os três zagueiros do Grêmio. Madson causou sérios transtornos nos primeiros minutos, e só não fez mais porque Réver fez grande partida.

O jogo todo foi equilibrado. O Santos dava a impressão de que marcaria seu gol a qualquer infiltrada na etapa inicial, mas o tricolor, mesmo que sem tanto volume, também levava perigo. O segundo tempo foi, de certa forma, parecido. Rospide viu as dificuldades no meio-campo ressurgirem e apostou em Túlio, retirando Jonas e adiantando Souza. Não era para ser um 3-6-1, e Souza começou de atacante aberto pela esquerda, mas seu cacoete o fazia retornar a toda hora para buscar a bola no meio, deixando Alex Mineiro, que substituiu Maxi López, entre os zagueiros. Mesmo errando passes, Túlio deu nova consistência à meia-cancha, e o Grêmio voltou a reequilibrar o meio. Quando Tcheco saía para a entrada de Douglas Costa, veio o gol de Réver. Vitória muito perto.

Mas um chute maravilhoso de Molina em cobrança de falta disse melhor o que foi este ótimo jogo, apesar da melhora defensiva dos gaúchos nos minutos finais. Colocar dois avantes velozes foi um antídoto interessante que Vagner Mancini achou para anular os alas e envolver o Grêmio. A retirada de um dos três zagueiros é a saída natural para a entrada de outro volante, o que liberaria Tcheco para dar a contribuição que sabe mais à frente. O problema é que justamente a zaga não foi problema hoje, nem tem sido. São questões a serem pensadas por Rospide e Autuori, ainda que o jogo da quarta, diante do San Martín, deve ser de poucos problemas e confirmação de classificação.

Campeonato Brasileiro 2009 - 1ª rodada
10/maio/2009
GRÊMIO 1 x SANTOS 1
Local: Olímpico Monumental, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Alício Pena Júnior (MG)
Público: 44.548
Renda:R$ 487.644,00
Gols: Réver 31 e Molina 40 do 2º
Cartão amarelo: Rafael Marques, Réver, Ruy, Alex Mineiro, Luizinho, Fabão, Paulo Henrique e Neymar
GRÊMIO: Victor (6), Léo (6), Rafael Marques (5,5) e Réver (7); Ruy (5,5), Adílson (6), Tcheco (5) (Douglas Costa, 29 do 2º - 5), Souza (5,5) e Fábio Santos (4,5); Jonas (4,5) (Túlio, 18 do 2º - 5) e Maxi López (5,5) (Alex Mineiro, 21 do 2º - 5). Técnico: Marcelo Rospide (5)
SANTOS: Douglas (6), Luizinho (5,5), Fabão (6), Fabiano Eller (5,5) e Triguinho (5) (Pará, 28 do 1º - 5,5); Roberto Brum (5,5), Germano (5) e Paulo Henrique (4,5) (Maikon Leite, 33 do 2º - sem nota); Madson (6), Kléber Pereira (4) e Neymar (4,5) (Molina, 16 do 2º - 6,5). Técnico: Vagner Mancini (6)

Foto: Lucas Uebel/Gazeta Press

Comentários

Lourenço disse…
1)No Grêmio (pouquíssima amostragem), Vitória e Santos, os times de Mancini têm a mesma cara. Leves, rápidos, insinuantes, mas a defesa é permeável demais. Se corrigir esse último defeito e agregar um pouco mais de pegada aos seus plantéis, será um treinador de ponta.

2)Salvo raras exceções, o Olímpico funciona melhor com 35 mil pessoas do que de 40 para cima. Nesses jogos, vão os torcedores mais de ocasião, geralmente com outro espírito. O Olímpico fica mais "chato".

3)Não sei se é possível mas, em tese, precisamos de um lateral-esquerdo. Forçando um pouco a barra, diria que temos um ex-jogador e um que nunca foi jogador disputando a posição.

4) Concordo com a idéia do texto. Dói tirar Rafael Marques do time, mas tenho medo de ver o Grêmio com esse meio de campo em jogos mais difíceis. Vamos ver como o meio-campo vai se comportar nos próximos jogos do Brasileiro.
natusch disse…
Antes de nada, achei um bom jogo de futebol, bastante movimentado e cheio de emoções. E pode sim ser útil, se for feita uma boa leitura dos problemas que o time teve hoje.

Reforçou-se a minha impressão de que o 4-4-2 é uma alternativa que precisa ser pensada nesse momento. Tcheco sofreu muito hoje: fez de tudo para carregar o piano como nos outros jogos, mas enfrentando jogadores mais velozes e qualificados foi simplesmente incapaz de fazer a função que estava desempenhando. Adílson sobrecarregou-se, Souza ficou sem quem o municiasse e o meio de campo gremista quase sucumbiu. Não fosse Réver estar numa partida exuberante, tanto marcando quanto no apoio, e teríamos tido muito mais problemas. Acho que estão pegando no pé do Ruy, mas Fábio Santos de novo foi inútil, impossível continuar nessas condições. Sem efetividade nas laterais, tudo se complica mais ainda, pois só Souza cria jogadas de fato. Para mim, o nó é dar um jeito de libertar Tcheco para encostar em Souza, ou achar outro jogador que faça isso - e só colocando um volante no lugar de um zagueiro e revertendo para o 4-4-2 acho isso possível, no momento. E sim, um lateral esquerdo seria uma boa também - mesmo porque Jadílson num 4-4-2 ia criar tantos problemas como Fábio Santos em qualquer esquema, pelo visto. E pensar que esse cara teve grandes momentos no São Paulo...

Rospide mexeu MUITO mal hoje. Tirar Jonas para colocar Túlio foi um erro, e deixar Alex Mineiro isolado na frente foi repetir o mesmo erro de Roth nos tempos do 3-6-1, sem tirar nem pôr. Péssimas SUBSPtituiçoes, como quase diria o VdeP. Fábio Santos terminar a partida também não se explica. Autuori tem que chegar logo.

E bem, o gol de Nilmar praticamente ESGOTOU o campeonato brasileiro, convenhamos. Incrível que aqui em SP o lance parece ter sido recebido timidamente, algo do tipo "e um lindo gol de Nilmar para o Internacional de Porto Alegre". Se fosse o Ronaldo a fazer um desses, seria melhor fugir daqui...
Lique disse…
victor e réver excelentes. ruy e fábio santos SOFRÍVEIS. alguém ensina o fábio santos a chutar, por favor, o cara tem tantas oportunidades. aquele chute HORRENDO do ruy que sobrou pro fabio santos que bateu de chapa terrivelmente. vão dormir. se o grêmio conseguir ganhar a libertadores, vai ser muito na raça e na sorte.
Gustavo Zanuz disse…
O Santos ontem foi muito atrevido, não se contentou em ficar se defendendo.

Aquele lance do Kleber Pereira, no primeiro tempo, me chamou a atenção pela velocidade absurda do contra-ataque. Literalmente foi lance de video-game. Em três toques e uns 5 segundos, a bola passou da área santista para a gremista (e um medo monumental).

Foi o típico jogo que qualquer um dos dois times poderia ter sido vencedor com justiça. E foi um belo espetáculo, especialmente no primeiro tempo. Acredito que as mexidas de ROTHspide desequilibraram, em vez de ajudar. O fato do gol gremista ter passado pelos pés de Tulio e Alex Mineiro foi apenas coincidência. E Douglas Costa foi o culpado pelo gol de empate, ao cometer uma falta IDIOTA na entrada da área. Vai ficar mais uns 20 meses no banco, desse jeito.

Perfeita a análise de que um 4-4-2 cairia bem no Grêmio, Vicente. Eu estou muito convencido disso.

Quarta venceremos e todos cantaremos STIER it up.
Vicente Fonseca disse…
Acho que o acerto do Rospide foi ter adiantado a marcação no primeiro tempo. Assim o Grêmio fez seus melhores jogos na Libertadores e no Brasileiro de 2008. Assim se joga com um 3-5-2. Dar a chance de o adversário propor o jogo a todo instante, ainda mais com dois pontas jogando nas costas dos alas e ficando no mano-a-mano com os zagueiros, é que foi o grande erro do primeiro tempo. O Fábio Santos ficava parado na linha central com as mãos nas costas nos primeiros 30 minutos de jogo enquanto o Madson infernizava às suas costas e dava trabalho ao Réver. O Ruy foi mal ofensivamente, mas notem que o Neymar não fez nada ali pelo seu lado.

As mexidas não foram as melhores mesmo, mas há que se considerar o jogo da quarta. Acho que tirar o Maxi nem foi problema, já que ele alegou desconforto. O pior foi mesmo ter voltado ao 3-6-1, mesmo que não intencionalmente, já que a ideia era botar o Souza de segundo atacante. Não deu certo.

E é verdade, Gustavo. Revi o lance e foi falta besta do Douglas Costa. Por isso o Tcheco tem importância. Fosse ele a marcar, jamais faria aquilo. E nem dá pra culpar o guri, já que marcar não é a dele, mesmo.
Vicente Fonseca disse…
Finalizando, há alternativas de troca de esquema, caso o 3-5-2 de marcação adiantada exija muito fisicamente dos jogadores. Uma é adiantar o Réver e fazer um 4-4-2 com este time mesmo. O Ruy não teria o apoio prejudicado, porque o Fábio Santos fica mais preso e ajuda a zaga.

Outra é botar outro volante no meio e passar o Réver pra lateral-esquerda. Por que não? Na prática, ele faz muito isso. Daria chance pro Ruy sair, ficaria quase um 3-5-2, mas com mais gente no meio e sem riscos de 3-6-1.

O Jadílson merece chance no time, mas é difícil encaixá-lo, pois marca muito pouco. Se o time já foi vulnerável no primeiro tempo de ontem sem ele, imaginem com ele. Mas o Maxi sofreu com a falta de bolas aéreas. Questão complicada.
André Kruse disse…
O problema é que justamente a zaga não foi problema hoje, nem tem sido.Para mim o problema é o Adílson sobrecarregado na marcação no meio campo. Quando os alas vão bem (e ontem não foram) isto acaba sendo compensado.


Salvo raras exceções, o Olímpico funciona melhor com 35 mil pessoas do que de 40 para cima. Nesses jogos, vão os torcedores mais de ocasião, geralmente com outro espírito. O Olímpico fica mais "chato".Sem falar que fica bastante "desconfortavel".
Vicente Fonseca disse…
Exato, o funcionamento deste esquema depende muito dos alas. Quando eles ajudam a exercer a marcação lá no campo adversário, não sobrecarrega tanto o Adílson, nem o Tcheco.

Talvez ontem o Grêmio tenha achado melhor não adotar esta postura mais agressiva na marcação por conta do jogo de quarta, para não criar um desgaste físico excessivo. Só que o Santos é um adversário bom, que exige bastante. Diminuir a pressão foi quase fatal.
Gustavo disse…
Em jogos de mais de 40 mil, nem sempre todos ficam "socados" no anel inferior. Ontem foi exceção, já que quase todo o público se espremeu na inferior, enquanto que se via muitos espaços nas cadeiras.
Vicente Fonseca disse…
Até não achei ontem que ficou todo mundo socado. Pelo menos não na parte em que eu fiquei na Social, na linha da grande área da goleira onde o Réver fez o gol. A final da Libertadores, contra o Boca, é que tava insuportável.

Não vi as cadeiras locadas, mas achei a central e a lateral bem cheias, até.
Prestes disse…
Que fase do Kleber Pereira hein? Puta madre, começo a acreditar na tese de que está com a cabeça no Parmera.