Mais um tratado sobre a seleção

Em tempos onde se diz que o profissionalismo já suplantou qualquer tipo de passionalidade, é bonito ver uma atitude com a que Kaká tomou: ligou reiteradas vezes para Dunga, explicando que já estava curado de sua lesão sofrida no Milan e que, sim, poderá reforçar o Brasil nos jogos contra Equador e Peru, pelas Eliminatórias. Certo, trata-se de um jogador completamente diferenciado em termos de instrução e cultura. Mas é uma atitude altamente louvável, ainda mais para quem o criticou (eu, inclusive) quando não quis jogar a Copa América de 2007.

Dois pontos, porém, ainda não se explicam no que diz respeito à formação do time de Dunga. O primeiro deles é a aposta em Ronaldinho, que não vem jogando absolutamente nada na seleção e pouquíssimo no Milan. Entendo que seja um jogador que, se estiver perto de sua plena forma física e técnica, é capaz de decidir jogos, se bem amparado. Mas é justamente por tratá-lo como um guri mimado, que tem lugar cativo na equipe canarinho, que Ronaldinho não vê qualquer motivo para se empenhar. "Se dando esse migué eu consigo, para que deveria me esforçar", deve pensar - e com razão - o ex-craque.

O ideal seria deixá-lo fora das convocações por um tempo, ainda mais que nomes como Keirrison andam pedindo passagem. Pato é outro que deveria estar sempre no grupo, mesmo que não esteja destruindo como se pensava. A qualquer hora estourará de vez na seleção, é preciso lhe dar maturidade. E, sim, contraponho Ronaldinho com estes dois porque entendo que, se é para apostar nele, que seja no ataque, de preferência aberto, pela esquerda, ou com liberdade para se deslocar também pela direita. No meio, com Kaká, Robinho e mais um centroavante, é repetir o fracasso de 2006, que as Eliminatórias Sul-Americanas infelizmente encobrem.

Outro ponto importante é a não-convocação de Ramires, melhor volante brasileiro no mundo neste momento. Não há explicação que o retire inclusive das convocações em favor de nomes como Josué, Gilberto Silva e Mineiro, que estão longe dos seus melhores tempos. É possível formar uma meia-cancha com Lucas na primeira função, Ramires e Júlio Baptista (nome fundamental para dar porte físico ao setor), além de Kaká. Elano, que é versátil, dinâmico e sempre cai bem com a camisa amarela, é talvez o único que justifique a saída do cruzeirense da equipe titular, ao lado do hábil são-paulino Hernanes. Defesa, lateral-direita e zaga não parece que haja muito o que mudar. Na lateral canhota, Fábio Aurélio pede passagem sobre jogadores que não parecem ter ambição na seleção.

O Brasil tem mesmo este poder. Por mais que muitos vejam os jogos sem se importarem muito com o resultado, todos escalam seu time ideal e criticam o selecionador de plantão. Aí está seu encanto, muitas vezes maior que os próprios jogos que ela disputa.

Comentários

Anônimo disse…
Concordo com quase tudo. A única questão que eu dissonaria seria em relação a Josué. Também não defendo a convocação dele. Mas para mim não é questão de má fase, pois pelo que vi está muito bem no seu time que também está muito bem. Só não acho que ele é um grande jogador para estar na seleção. Mas, friso, não sei se seria questão de boa ou má fase.
Vicente Fonseca disse…
Justiça seja feita: o Josué, desses que têm entrado, é o melhor volante, o que vem jogando melhor. Entretanto, há outros mais jovens e mais talentosos pedindo passagem, e aí vai minha crítica à sua titularidade.
Anônimo disse…
Impossível tirar Ronaldinho - dizendo que a seleção deve considerar os melhores no momento - e convocar o Lucas, que é um jogador secundário, para grupo, do Liverpool.
Vicente Fonseca disse…
A diferença é que o Lucas ainda é novo e passa por um mau momento. O Ronaldinho há dois anos não se exibe bem. Além disso, são posições diferentes. O nível de exigência para o lugar em campo do Ronaldinho é bem maior.
Anônimo disse…
O Lucas tá numa situação meio complicada lá. Com o que andam jogando Hernanes e Ramires então, acho que o guri não merece chance no momento.

No mais, concordo em absoluto que a solução pro Ronaldinho é tomar um gelo - não desses que ele toma na noite, asuhduhasdh.
Vicente Fonseca disse…
hdshjsdhj

A minha dúvida, Prestes, é se o Hernanes ou o Ramires rendem o que o Lucas sabidamente rende ali na primeira função.
Anônimo disse…
Pois é, mas eu tb não acho que o Lucas seja um típico 5. Vou concordar com o Faraon que ainda não tiraria o Gilberto Silva.

Um jogador que ainda não é brilhante, mas é um baita camisa 5 é esse Jean do SP.
Vicente Fonseca disse…
É, o Jean é uma opção. O Lucas não é 5, mas fez algumas partidas assim no Grêmio em 2006, com o Sandro Goiano de segundo volante, numa época em que o Jeovânio se machucou. Foram grandes atuações, ainda que, naquela fase, ele estivesse destruindo, ao contrário de agora.

Gilberto Silva não é mau jogador, fui fã da Copa que ele fez em 2002. Mas acho que, apesar de não comprometer, ele já não acrescenta muito. Há mais jovens que podem render mais por ali.
Anônimo disse…
Sim, acho o Lucas um selecionável em potencial. Mas, usando como um dos requisitos estar jogando bem, fica inconvocável. Ele mesmo parece reconhecer isso e busca alternativas, pelo que consta.