O papado de Emiliano

Há tempos não conseguia assistir a uma partida do Campeonato Argentino. Hoje tive a chance, e não desperdicei. Mesmo com todos os milionários campeonatos europeus, considero o torneio platino o de melhores jogos dentre os campeonatos nacionais estrangeiros televisionados para o Brasil. E a partida de hoje à tarde, entre River Plate e Vélez Sarsfield confirmou minhas expectativas. Não que tenha sido um primor técnico, nada disso; aliás, aonde se vê primor técnico hoje em dia (se é que um dia já se viu)?

Foi uma partida aguerrida, peleada, com torcidas empurrando, bom público e entre dois clubes grandes, campeões do mundo e rivais. Talvez essa seja uma razão para eu apreciar tanto o Campeonato Argentino: ao lado do Brasileiro, é o que mais tem times grandes, todos com chances reais de título. Hoje, o que vi foi o atual campeão caindo diante de um adversário remodelado e candidato, e em casa.

O River Plate precisava vencer para sair da sua incômoda situação de ter apenas 6 pontos em 5 jogos. Mas a atuação do time de Diego Simeone em nada lembrou os bons momentos do título do Clausura e das belas partidas que fez na Libertadores, ambos no primeiro semestre. Abreu e Ortega fazem falta. A equipe veio com Rosales e Falcão García no ataque, com Buonanotte logo atrás mas, na prática, atuando como um terceiro homem de frente. Entretanto, a saída da defesa para o ataque era lenta: os laterais Ferrari e Quiroga estavam ocupados marcando o meias Cabrera e Martínez; Abelairas e Ponzio eram volantes lentos, e Ríos estava bem anulado por Somoza. O time da casa carecia de criação. Para piorar tudo, Falcão se machucou aos 22 e foi substituído por Flores.

O Vélez, como bom visitante, postou-se atrás anulando o River humildemente e especulando. Martínez tinha boa movimentação e encostava constantemente em Cristaldo, rápido e jovem finalizador. Ele, que havia provocado os millonarios durante a semana ("fiz vários gols contra o River jogando na base"), fez o tento de abertura, em boa trama que possibilitou o cruzamento de Emiliano Papa para ele subir livre, aos 37.

Depois do primeiro tempo truncado, o jogo ganhou em emoção no segundo, com o River vindo para frente em busca do empate a qualquer custo. As entradas de Fernández e Salcedo trouxeram velocidade às ações de ataque, e a pressão crescia. Cristaldo teve de sair aos 7 minutos, lesionado, para a entrada do uruguaio Lopez. Vinte minutos depois, veio o empate chorado, com Ríos pegando rebote após boa jogada de Buonanotte sobre Zapata.

O empate não mudou em nada o jogo. Os donos da casa se atiraram em busca da virada, enquanto os visitantes seguiam esperando a chance de contra-golpear. Aos 36, grande arrancada de Emiliano Papa, que tabelou com Martínez, que devolveu a Papa. O lateral tentou encobrir Ojeda com categoria, mas a bola deu no travessão. Na sobra, Lopez fez 2 a 1. Mas meio gol deve ser creditado a Papa, melhor em campo, autor intelectual dos dois gols do Vélez.

O River segue com apenas 6 pontos, o Vélez vai a 11. Simeone começa a ser contestado. Não falta elenco ao time de Nuñez, parece faltar encaixar o esquema. Este 4-3-3 desparelho de hoje não deverá ser mantido. Simeone prometera um time até a sexta rodada, e não conseguiu cumprir com a palavra. O título do Apertura já parece distante, mas é possível voltar ao equilíbrio, acumular pontos e buscar o Clausura ou, no mínimo, uma vaga na Libertadores. O Vélez tem um time mais jovem, que parece bem postado e com condições de fazer uma boa campanha. Parece ainda pouco para pensar na conquista, mas deve ficar entre os primeiros colocados.

Campeonato Argentino 2008/09 - Torneio Apertura - 6ª rodada
17/setembro/2008
RIVER PLATE 1 x VÉLEZ SARSFIELD 2
Local: Monumental de Nuñez, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Juan Pablo Pompei
Público: não divulgado
Golos: Cristaldo 37 do 1º; Ríos 27 e López 36 do 2º
Cartão amarelo: Quiroga, Rosales, Cristaldo, Ponce e Díaz
RIVER PLATE: Ojeda (6), Ferrari (4,5) (Fernández, intervalo - 5), Tuzzio (5), Villagra (5,5) e Quiroga (5) (Salcedo, intervalo - 5,5); Ponzio (4,5), Abelairas (5), Ríos (5,5) e Rosales (5,5); Buonanotte (5) e Falcão García (5) (Flores, 30 do 1º - 4,5). Treinador: Diego Simeone (4,5)
VÉLEZ SARSFIELD: Montoya (5,5), Díaz (6), Ponce (5,5), Uglessich (6) e Emiliano Papa (7,5); Somoza (5,5), Zapata (6), Cubero (5,5) e Cabrera (6) (Tobio, 45 do 2º - sem nota); Martínez (6) (Velázquez, 42 do 2º - sem nota) e Cristaldo (7) (López, 7 do 2º - 6,5). Treinador: Hugo Tocalli (6)

Foto: Olé

Comentários

Anônimo disse…
Eu não sou adepto do futebol europeu, pelo mercantilismo e coisas afins.

O futebol argentino é muito interessante de se acompanhar. Apesar da pequena representatividade do interior, que pra mim é prejudicial em um campeonato nacional (o Uruguai é campeão nisso), como bem tu disseste, são vários times grandes com reais chances de título, assim como no Brasil.

Na Europa, acho que o campeonato italiano tem um pouco esta característica, de ser parelho e relativamente imprevisível. Os demais grandes campeonatos europeus são um pé no saco. Na Espanha e na Inglaterra, tu tem duas três super potências e uma infinidade de times que perderiam pro Esportivo de Bento.
Vicente Fonseca disse…
Acho o Italiano o mais representativo dos campeonatos europeus. Mesmo assim, só vejo jogos que tenham duas equipes boas. Milan x Reggina, Manchester x Wigan, Real Madrid x Numancia, este tipo de jogo, é muito charo. De resto, gosto de ver a Liga dos Campeões justamente por isso. No Argentino, ao contrário, sempre tem um ou dois jogos bons (no sentido de duas equipes grandes se enfrentando) por rodada.
Anônimo disse…
Concordo plenamente com os amigos, o Argentino é um dos campeonatos mais agradáveis que existe para se assistir. Pena que não é comum eu ter a oportunidade de ver, mas esses dias assisti River x Estudiantes e foi um jogaço. O alemão é meio feio, mas rende bons jogos de vez em quando. O espanhol, por ex, eu nem me disponho a assistir.

Mas o melhor campionatul do mundo é o romanesc, isso ninguém que entenda de fotbal há de discutir =PPPP