Um pote de ouro, lá no fundo do horizonte

O futebol masculino do Brasil ainda não foi devidamente testado nesta Olimpíada. Há também uma grande desconfiança, com razão, sobre o trabalho de Dunga e em relação à resposta que poderá dar Ronaldinho. Há adversário fortes, como Itália e Argentina, e também o fantasma africano no caminho, Camarões. São três atenuantes. Porém, estou tendo uma boa impressão sobre a seleção brasileira que está em Pequim, e considero que há chances reais de que, finalmente, venha o primeiro ouro olímpico da história.

Primeiro, pelo grupo de jogadores, reconhecidamente qualificado. Dunga convocou muito bem a seleção, ao contrário do que vem fazendo nas Eliminatórias. Isso não é garantia de nada, afinal, as equipes brasileiras sempre chegam às Olimpíadas com jogadores de ótima qualidade. Porém, e aí já entro em outro aspecto interessante, não há uma badalação sobre o Brasil desta vez. Há aquele favoritismo de sempre, atribuído por todos, mas dividido com as equipes que já citei. Mas não existe aquela coisa de filmar treino, tietes beijando jogadores durante os trabalhos, etc. Talvez porque os Jogos Olímpicos naturalmente dividem a atenção do futebol com dezenas de outras modalidades. Talvez. Mas, mesmo assim, sinto uma seleção mais discreta e focada. Um indício são os muitos jogadores que peitaram seus clubes na Europa para disputarem o torneio. A desconfiança com o trabalho de Dunga retira aquele otimismo ufanista e exagerado que normalmente tomam conta dos ambientes de seleções brasileiras perdedoras. E os times vencedores do Brasil, normalmente, chegam desacreditados.

Outro ponto favorável é que Dunga tem encontrado alternativas interessantes em meio à competição, caso de Thiago Neves, Rafael Sobis e Ramires. Fruto de uma convocação bem feita mas também de um time que, aos poucos, vai se organizando. Enfrentar adversários fracos na primeira fase (à exceção da Bélgica, time mediano) ajudou a entrosar a equipe sem colocar em risco a classificação, e ainda dando possibilidade de testes ao treinador.

O jogo contra os Camarões é às 07:00 deste sábado. Quem quiser ver, terá de acordar cedo. É uma seleção de triste memória para os canarinhos em torneios olímpicos, que já disse que não vem para temer o Brasil. O time de Dunga, se estiver realmente concentrado como eu imagino, passará às semifinais. Ou então pode perder e fazer deste meu texto um grande engano.