O poder do pragmatismo

Mais uma vez uma Alemanha que chegou sob a desconfiança de todos supera barreiras difíceis e chega longe. Se a qualidade dos jogadores não chega a ser uma unanimidade mundial, o peso da camisa germânica ainda conta muito nestas horas decisivas. Hoje, nesta grande vitória de 3 a 2 sobre Portugal, o time de Joachim Löw conseguiu dar a prova definitiva aos mais céticos de que tem, sim, condições de ganhar a Eurocopa.

E a valorização desta vitória passa pelo adversário. A equipe de Luiz Felipe Scolari atuou com postura de time grande, marcando a saída de bola dos pouco habilidosos zagueiros germânicos. Mas a robustez do sistema defensivo impedia chegadas mais perigosas dos portugueses, com um jogo bastante estudado e corrido nos primeiros minutos. Portugal tomava a iniciativa, mas errava muitos passes - e aí surgiam os espaços que a Alemanha poderia aproveitar.

Foi numa jogada trabalhada por Ballack e Podolski que surgiu o golo de Schweinsteiger. O atacante chegou à linha de fundo e cruzou, Schwein se antecipou a Paulo Ferreira e fez, aos 21. Portugal tonteou. A Alemanha esmagou os lusitanos no campo de defesa por mais cinco minutos. Numa bola aérea, principal jogada alemã no jogo, Klose - um dos melhores cabeceadores do mundo - subiu sozinho, errou e deu de ombro, mas fez o segundo.

Portugal só passou a ameaçar passado o trauma do 2 a 0 e com as entradas reais de Deco e Cristiano Ronaldo na partida. Numa escapada do futuro melhor do mundo de 2008, sai o primeiro golo: lançado pela esquerda, invadiu a área, mas perdeu, cara a cara com Lehmann; na sobra, o até então nulo Nuno Gomes descontou, colocando fogo na partida.

O segundo tempo prometia pressão, mas ela nunca aconteceu de fato. Portugal tinha mais a bola, mas jogava pouco. O bloqueio alemão se corrigiu, e impedia que a bola chegasse aos pés de Cristiano Ronaldo e Deco, o que anulava por completo o ataque. A saída eram esquálidos chutes de longe, quase sempre mal sucedidos. Os poucos que iam em direção ao golo, Lehmann segurava sem dar rebote. Era jogo para a bola parada, mesmo que por cima Metzelder e Mertesacker fossem igualmente eficazes.

E foi através de uma delas que saiu o golo. Mas da Alemanha, aos 15, com Ballack dando um leve empurrãozito no zagueiro e contando com uma saída atrapalhada de Ricardo. 3 a 1, colocando água fria na chama da reação portuguesa. E o jogo prosseguiu igual: Portugal com troca de passes estéril, sem poder de criação diante de uma marcação organizada e eficiente da Alemanha, que saía com perigo nos contra-golpes puxados pelos velozes Podolski e Schweinsteiger. Só aos 27 Felipão fez o que poderia: lançar mão de seu talismã Postiga e erguer bolas para a área.

O golo saiu assim, aos 41, em grande jogada e excelente cruzamento de Nani, que encontrou Postiga bem posicionado. Mas o raio não cairia duas vezes no mesmo lugar. A Alemanha passa com a marca do pragmatismo que sempre lhe foi característico. Impediu que a bola chegasse aos pés de Cristiano Ronaldo e Deco, isolando os atacantes. Cortou o mal pela raiz. Quem tinha liberdade para criar eram Petit, Bosingwa, Raul Meireles e Paulo Ferreira. Bem mais complicado.

Em tempo:
- Fim da Família Scolari portuguesa.

Eurocopa 2008 - Quartas-de-final
19/junho/2008
PORTUGAL 2 x ALEMANHA 3
Local: Saint-Jakob Park, Basiléia (SUI)
Árbitro: Peter Pröjdfeldt (SUE)
Público: não divulgado
Golos: Schweinsteiger 21, Klose 25 e Nuno Gomes 39 do 1º; Ballack 15 e Postiga 41 do 2º
Cartão amarelo: Petit, Pepe, Postiga, Friedrich e Lahm
PORTUGAL: Ricardo (4), Bosingwa (5), Pepe (5), Ricardo Carvalho (5) e Paulo Ferreira (4,5); Petit (5) (Postiga, 27 do 2º - 5,5), João Moutinho (4,5) (Raul Meireles, 30 do 1º - 4,5), Deco (5,5), Cristiano Ronaldo (5,5) e Simão Sabrosa (4,5); Nuno Gomes (5,5) (Nani, 21 do 2º - 6). Treinador: Luiz Felipe Scolari (5)
ALEMANHA: Lehmann (6,5), Friedrich (5), Mertesacker (5,5), Metzelder (6) e Lahm (6); Rolfes (6), Ballack (7), Schweinsteiger (7,5) (Fritz, 37 do 2º - sem nota) e Hitzlsperger (5,5) (Borowski, 27 do 2º - 5); Podolski (7) e Klose (6,5) (Jansen, 43 do 2º - sem nota). Treinador: Hans-Dieter Flick (interino - 7)

Foto: AP

Comentários

Anônimo disse…
Não concordei com o título do post, acho que a Alemanha jogou bem mais futebol que Portugal. O primeiro gol foi uma tabela primorosa. A verdade é que o quarteto Schweinsteiger, Ballack, Podolski e Klose é um grande quarteto. E a zaga de Portugal pareceu desentrosado na bola parada. Uns faziam linha de impedimento, outros não, o goleiro não sabia se saía, ou não.
Vicente Fonseca disse…
Claro, Prestes. Não quis dizer que a Alemanha se limitou apenas a anular Portugal; só considero que a vitória começou por aí. O time alemão é bom, melhor do meio para a frente que atrás. Ser pragmático é uma forma de jogar futebol. A Alemanha primeiro não deixou o adversário jogar, depois jogou.
Lique disse…
acho que o deco merecia melhor nota. dos pés dele começaram os dois gols de portugal, lá atrás, com muita qualidade. se portugal, mesmo jogando pior, conseguisse o empate, ele teria sido o genio da partida.
Vicente Fonseca disse…
Deco foi um dos melhores de Portugal, tem muita qualidade, mas não teve participação tão decisiva nos golos para que eu mude a nota. Geralmente faço isso quando deixo de notar alguma assistência. Mas a discordância está registrada, meu caro.

Sobre o quadrado da Alemanha a que o Prestes se referiu, acho que as notas deixam bem claro aquilo que penso deles. Sou fã deste time da Alemanha desde quando ninguém acreditava neles na Copa e eu dizia que sairiam campeões. Foi por pouco (hdjsdjkdsjkdjk). Acho que alia aquele pragmatismo que falei com esta qualidade e velocidade do meio para a frente. E olha que o Frings, outro belo jogador, não atuou hoje...
Anônimo disse…
assisti ao jogo no meio de alemaes bebados. e nao adiantou torcer descaradamente pelos nossos colonizadores. vi o segundo tempo, em que a alemanha foi bem superior, muito mais por meritos seus que por demerito luso. nao obstante achei o gol do ballack ilegal; o empurrao que ele deu, se fosse dado, numa cobranca de escanteio com 15 jogadores na area, seria certamente visto. e o segundo gol du portugal foi do ronaldo, nao?

bueno, agora e torcer pelos laranjas.
Anônimo disse…
alias, um jornal alemao, antes do jogo, fez uma comparacao entre POR e ALE atraves de seus craques, e disse, com acerto, que nisso a alemanha e superior, visto que ballack, embora menos habilidoso, e muito mais lider em campo que ronaldo. deu no que deu.
luís felipe disse…
primeira passagem do Scolari por um time sem conquistar nenhuma taça, em cinco anos.
Anônimo disse…
mas nem que BIG PHIL ficasse mil anos em lisboa - o pá, com essa selecinha lusa ele não ia ganhar nada... o time só tem firuleiro...

aheuaehuae
Anônimo disse…
O Panzer é impressionante. Há 40 anos que escuto que a Alemanha não joga nada; entretanto, sempre chega.

Portugal viveu dias de sonhos com Felipão. vai sentir muita falta.
Vicente Fonseca disse…
Acho que o Felipão levou Portugal ao limite de onde podia na Copa de 2006. Na Euro 2004, foi mais longe do que se pensava, mas perdeu a final para a Grécia, deixando aquele gosto amargo. Nesta Euro, achei que iria mais longe. Mesmo que o time fosse inferior ao da Copa, tinha Cristiano Ronaldo em fase esplendorosa. Mas quero ver até onde Portugal vai com um próximo treinador.

Chico: não entendo como tem gente que ainda cai nesse papo de que a Alemanha não joga nada. Aquela entressafra braba entre 1998 e 2000 já passou há muito tempo.
Anônimo disse…
Valeu, Felipão. A nação lusitana jamais te esquecerá. Não há motivo para se envergonhar. Fomos valentes até o fim. Às armas, heróis do mar.