Morre Hélio Dourado, o maior gremista que esse mundo já viu
Ninguém é, foi ou dificilmente será mais gremista que Hélio Volkmer Dourado. O homem que faleceu na madrugada de ontem, aos 87 anos, era provavelmente o sócio mais antigo a contribuir com o Grêmio. Dourado chegou a Porto Alegre, vindo de sua Santa Cruz do Sul, aos 10 anos, em 1940. Aos 11, já era sócio do clube que tanto ajudou a engrandecer. Foram 76 anos de dedicação quase que exclusiva ao Tricolor.
Dourado só fez uma opção que excluiu o Grêmio em toda sua vida: quando abandonou a ideia de se profissionalizar como jogador de futebol e virou médico. Voltaria ao clube anos depois, como conselheiro, diretor e presidente. Mas não um presidente qualquer: o presidente. Aquele que acabou com a hegemonia aparentemente interminável do Internacional em meados dos anos 70, que ampliou o Estádio Olímpico e lhe deu um anel superior repleto de cadeiras, que tornou o clube campeão brasileiro. O brilhantismo de sua gestão, entre janeiro de 1976 e dezembro de 1981, pavimentou o caminho para as conquistas da América e do Mundo, que viriam um ano e meio após o fim de sua gestão, já com Fábio Koff no comando.
Mas como isso tudo já não fosse o bastante, Hélio Dourado deu outras tantas provas incondicionais de amor ao Grêmio. Em 2004, era ele o vice de futebol na campanha que culminaria com a queda para Série B. Ninguém fala disso ao lembrar do enorme currículo de Dourado, por julgar que ele não merece tal constrangimento no currículo. Mas esta passagem melancólica em nada deve diminuir a admiração de ninguém por sua trajetória. Ao contrário: naquele momento, ele assumiu um cargo que nenhum outro dirigente quis. Superou suas diferenças com o então presidente Flávio Obino e encarou um desafio cujo sucesso era absolutamente improvável por puro amor ao clube do coração. Uma prova indesmentível de adoração ao Grêmio, entre tantas que daria em toda sua vida.
Outro momento que mostra a absoluta grandeza dele está na questão da troca do Olímpico pela Arena. Dourado reconhecia que era preciso modernizar o patrimônio do clube, mas jurava que era possível reformar o estádio do bairro da Azenha em vez da mudança para o outro lado da cidade. Talvez sua ideia (a de ampliar o Olímpico) não fosse realmente a melhor, mas o cuidado que ele teve com o patrimônio gremista, bradando quase sempre contra tudo e todos que se deslumbravam com a construção da Arena, foi digno de nota. E sua preocupação com o contrato assinado por Paulo Odone em 2012, viu-se anos depois, era mais do que procedente.
Apaixonado incorrigível e sanguíneo, jurou que jamais pisaria na Arena, magoado que estava com a mudança. Já como patrono do clube, mudou de ideia e visitou o estádio novo em 2015 e 2016, comemorando a conquista da Copa do Brasil. Gesto de uma grandeza que só homens de seu nível poderiam assumir. Seu abraço no presidente Romildo Bolzan Jr. após o apito final sensibilizou gremistas de todos os lugares. Durante a final, sua presença na tribuna de honra do estádio foi um atrativo à parte. Sua primeira ida à Arena, em comemoração ao aniversário do clube, em 2015, foi um verdadeiro acontecimento. Chorou de emoção ao ver o sucessor do seu tão estimado Olímpico. Um abraço do Grêmio com sua história - tanto a já construída como a que estava em construção.
Por tudo isso, e centenas de motivos mais, provavelmente nunca haverá um gremista mais identificado com o que é o Grêmio do que Hélio Dourado. Um homem tão grande, tão brilhante, tão notavelmente apaixonado pelo clube, que tem sua história de vida confundida com a dele, de seu antigo estádio, e vice-versa. Nascido para o clube na Baixada, criado no Olímpico que ajudou a construir buscando tijolos e cimento por todo o Rio Grande do Sul e velado ontem na Arena que, ainda bem, ele em vida também soube reconhecer e se reconciliar. Um verdadeiro patrimônio do esporte gaúcho. Merece todas as reverências.
Foto: Grêmio/Divulgação.
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