Demissão de Rogério Ceni era inevitável, mas está longe de resolver os problemas do São Paulo

Do jeito que a coisa andava, Rogério Ceni provavelmente levaria o seu amado São Paulo para a segunda divisão. Sua demissão era inevitável: o time não rende em campo, não comprou seu discurso e em nada evoluiu de janeiro para cá - muito pelo contrário. Mas não adianta nada trazer Dorival Júnior, nome mais cotado para assumir o comando técnico do clube, ou quem quer que seja: os problemas do Tricolor são muito mais graves e vão bem além da mudança na casamata.

Apostar em Rogério em si foi um enorme erro, e desde o início se sabia deste risco. Sua contratação foi eleitoreira e precipitada. Arrogante, deveria ter a humildade de colegas de profissão, como Roger Machado, que passou anos entre a base e o profissional atuando como auxiliar de diversos treinadores no Grêmio antes de peregrinar por alguns clubes de menor expressão, até estar realmente preparado para alçar voo maior no próprio Tricolor Gaúcho, em 2015, quando estourou no cenário nacional. Em vez disso, o são-paulino arrotou sua formação na Europa como enorme currículo, entrou de cara num dos maiores clubes do país sem estar devidamente preparado e quebrou a cara. Não preservou nem a si, nem ao clube.

A boa vontade de quase todos com ele foi enorme no começo. Vencer o Torneio da Flórida (mesmo que dois empates em 0 a 0 e vitórias nos pênaltis) foi "um começo positivo" para muitos. A vitória por 3 a 1 sobre o Santos no Paulistão o encheu de elogios antes da hora. Aos poucos, porém, a realidade foi se impondo. E o São Paulo, que há anos não mete medo como num passado não tão distante, foi sofrendo os tropeços naturais de um time ainda em construção e cujo elenco, que já não era um primor no início da temporada, vem se enfraquecendo semana após semana. Uma equipe em formação com um grupo em deformação.

E aí reside aquilo que inocenta Rogério de boa parte da culpa pelo péssimo momento do time: a incompetência da direção são-paulina vem arruinando com o clube há alguns anos. Deu a um treinador novato um grupo só médio, que hoje já é fraco. Se Rogério já exibia dificuldades naturais para achar uma formação confiável, com as perdas semanais de jogadores isso se tornou tarefa praticamente impossível. Sua falta de autocrítica (ele conseguiu ver bom desempenho de seu time até no vexame da eliminação em casa para o inexpressivo Defensa y Justicia) e a dificuldade em reconhecer seus erros e limitações só atrasou ainda mais o processo.

Por isso, sua saída foi acertada. O treinador que chegar ao Morumbi precisa ser experiente o bastante para saber em que chão está pisando: o de um clube em profunda crise institucional, com enormes dificuldades financeiras e de relacionamento com seu torcedor, longe dos dias de glória e, sim, com perigo real de rebaixamento, por mais cedo que seja. Um nome que tire o máximo de jogadores no máximo médios, sob pressão, e num curto prazo de tempo. Não é tarefa para Rogério Ceni, mas para alguém com cacife maior, com tarimba maior.

Ainda assim, este nome será apenas um apagador de incêndio. O São Paulo, ao contrário de outros clubes que passaram por situação semelhante, não está vivendo uma fase calculadamente difícil, de reconstrução, de abrir mão de títulos num curto prazo para se tornar sustentável: está, sim, é pagando por uma sequência de péssimas administrações, tendo de se virar do jeito que é possível com a escassez de recursos. Busca neste novo treinador um homem capaz de minimizar em campo os estragos deste momento complicado. Momento que, aliás, é impensável para quem viu a pujança de tantos títulos conquistados na última década, tendo em Rogério Ceni, o goleiro, seu maior protagonista.

Foto: Rubens Chiri/São Paulo.

Comentários

Vine disse…
Pois eu acho que é ano pra mais um invicto em rebaixamentos cair. Nem sabia que a situação institucional era tão ruim, e sabemos como ela influencia no campo. A chance de não cair é pelo número de times piores (Vitória, Avaí, Atléico-GO,...)