Não é o presente que derrubou Eduardo Baptista do Palmeiras: é o medo do futuro
O filho de Nelsinho nunca empolgou: não tem a grife de treinadores consagrados, ainda mais para assumir a responsabilidade de dirigir um time campeão brasileiro que se colocou numa auto-obrigação de ganhar a Libertadores. Mas um campeão em transformação: entraram Guerra, Borja, Felipe Melo, todos para serem titulares, nem todos com o rendimento que se deseja. Todos vieram do exterior, o que normalmente demanda certo tempo de adaptação. O time com nomes menos chamativos, como Moisés e Roger Guedes, funcionava perfeitinho. E saiu Gabriel Jesus, claro. Ninguém perde o centroavante da seleção brasileira sem alguma perda, mesmo que seja para o destaque da conquista da Libertadores do ano anterior pelo Atlético Nacional.
É por essas e outras que caiu Eduardo Baptista: não tem a grife suficiente para lhe manter no cargo apesar da queda de rendimento da equipe. Não conseguiu ainda encaixar estas peças tão qualificadas e transformá-las numa engrenagem vencedora. Mas será que já precisava? O ano começou há três meses. O seu Palmeiras só jogou 21 vezes na temporada. Perdeu cinco, o que é muito, mas já iniciou o ano melhor que o de 2016, por exemplo - quando Marcelo Oliveira não fez a melhor campanha do estadual e entregou o time quase eliminado na Libertadores nas mãos de Cuca. Se bem que Marcelo caiu também.
A ideia de trazer Cuca é forte, e pode ser confirmada. O treinador campeão nacional é o favorito para reassumir o Palmeiras. Alegou questões particulares para deixar o clube em dezembro, mas agora, cinco meses após a conquista do Brasileirão, pode voltar. Sua sombra no mercado ajudou a derrubar Eduardo Baptista também. Seu conhecimento do grupo, por mais mudado que ele esteja (ainda que teoricamente mudado para melhor), igualmente. Se voltar, deverá mesmo ser um ganho para o Palmeiras. No fim das contas, algo positivo. Mas não invalida dois erros: o de ter trazido para o clube um treinador muito diferente do antecessor e o de tê-lo demitido tão cedo.
A questão que fica é que o Palmeiras, apesar do título nacional, em nada parece ter mudado seu modo de gerir o futebol. O clube se obriga a vencer de forma quase que compulsiva: contrata muitos jogadores (cada vez melhores, é verdade), mas, se o treinador não consegue conquistar vitórias o tempo todo, em curto prazo, fica na berlinda. Não é só o presente que derrubou Baptista: é o medo de que ele, no futuro, não retire desta equipe o que ela tem de melhor, ainda que ele tenha feito isso no Sport e na Ponte Preta, onde as exigências eram menores, mas onde o tempo para trabalhar foi sempre maior. Num ano alongado, com a Libertadores estourando lá no segundo semestre, o Palmeiras poderia ter esperado um pouco mais.
Foto: César Greco/Palmeiras.
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